sexta-feira, 17 de março de 2023

SEGUNDO ROUND: ARÁBIA SAUDITA

Pista de rua em Jeddah recebe o segundo GP da temporada 2023 da F-1.

            Hoje começam os treinos oficiais para a segunda prova da temporada 2023 da Fórmula 1, com muitas expectativas pra muitos, depois do que vimos na etapa inaugural da competição duas semanas atrás, no Bahrein. Se na pista de Sakhir todo mundo queria ver a real força de todo mundo, aqui em Jeddah, a questão é: o que continuará igual, e o que irá mudar? No panorama da primeira corrida, o campeonato não parece muito animador, com uma Red Bull dificil de ser confrontada, e muito menos superada. No texto da semana passada, a pergunta era óbvia: Max Verstappen já poderia comemorar o tricampeonato, mesmo com apenas uma prova disputada, de uma temporada com 23 corridas previstas? Muitos alegaram que fui precipitado no julgamento, mas lembro que aquilo era apenas a expectativa gerada pelo que tínhamos visto na primeira prova, e que poderíamos ter mudanças, não sendo um juízo inequívoco de que o campeonato já era.

            E aqui na Arábia Saudita, teremos a chance de ver o que pode mudar nestas expectativas. A pista de Jeddah é de rua, mas extremamente veloz, e possui um asfalto muito menos abrasivo do que a pista de Sakhir. por tabela, os acertos dos carros terão de ser muito diferentes dos adotados no circuito barenita. Mas há outras circunstâncias que jogam a favor de mais incerteza na pista árabe. Primeiro, é o menor tempo de pista. A F-1 fez sua pré-temporada na pista do Bahrein, uma semana antes, e depois, foi lá a primeira corrida, de modo que todos os times já tinham um conhecimento bem fresco do que esperar da pista, mesmo com todas as peculiaridades que poderiam ocorrer. Aqui, em Jeddah, pelo contrário, é hoje nos treinos que todo mundo irá ver como seus carros se comportam, e terão apenas os treinos livres para isso. é menos tempo de pista, e isso pode confundir alguns acertos das escuderias.

         Outro ponto importante é que todo mundo saiu de Sakhir com muitas informações do comportamento do carro em corrida, e todos os dados foram analisados ao máximo para já tentar evoluir e modificar certos comportamentos dos bólidos que as escuderias acharam inconvenientes. Embora o consenso seja de que novidades de monta só devam aparecer mesmo na prova de Baku, no Azerbaijão, mês que vem, os times tentarão levar para a pista as novidades que puderem ser viabilizadas, na esperança de dar alento e maior esperança nas chances de competição. O único ponto em comum nas duas corridas é que ambas são disputadas à noite, então alguns parâmetros se mantém. Resta esperar que as características que diferenciam os circuitos sejam o suficiente para conseguir embaralhar o panorama visto no Bahrein, e oferecer um leque mais flexível de opções. E isso vale para todos, até mesmo para a favorita Red Bull, que espera ter maior oposição em Jeddah. Jogando as expectativas para os rivais, ou blefe? Talvez ambos.

            Um carro bem nascido, como demonstrou ser o RB19 concebido por Adrian Newey tem tendência a se dar bem em todo tipo de pista. Seria ilógico supor que eles tenham dificuldades neste novo circuito. Eles devem vir fortes, a dúvida é como os rivais irão se sair. Na Ferrari, o time rosso já entra baleado antes mesmo dos treinos começarem: Charles LeClerc terá de usar a terceira central eletrônica do motor, o que o fará perder 10 posições no grid, em mais uma demonstração de quão estúpida é a regra de limites de certos componentes adotada pela categoria máxima do automobilismo, que teima em não aplicar limites mais razoáveis em uma temporada tão longa e desgastante. Isso vai obrigar o monegasco a vir lá de trás, já tendo de fazer uma prova de recuperação, com a punição em tempo recorde deste regulamento cretino, com um piloto já sendo punido na 2ª corrida, que maravilha isso é... A Ferrari tem esperanças de poder se valer de sua grande velocidade de reta, graças à potência de seu motor. E espera também ter menos problemas com a degradação dos pneus, já que o SF-23 não foi muito dócil com eles no asfalto barenita. A pista árabe tem um piso menos abrasivo, o que em tese deve penalizar menos o carro vermelho, se a escuderia conseguir também acertar o monoposto de maneira que ele preserve os compostos.

Red Bull venceu tranquilamente no Bahrein e é favorita na Arábia Saudita, mas espera ter mais oposição. Será?

        Na Mercedes, o time corre contra o tempo para apresentar uma versão “B” do modelo W14, prometendo já trazer algumas mudanças neste fim de semana. Pode dar certo, e pode não dar certo. Há consenso de que o porpoising mascarou os reais problemas de falta de desempenho do modelo do ano passado, de forma que agora, sem o problema dos quiques, o time caiu na real de que tem uma batata quente nas mãos, e precisa saber o que fazer com ela. A diferença para a Red Bull se mostrou ainda maior do que do ano passado, feitas as comparações na corrida barenita, com um agravante, que foi o consumo de pneus maior do que o esperado, obrigando Lewis Hamilton e George Russell a terem de abrandar parte do ritmo para não comprometer a estratégia de duas paradas. O piso menos abrasivo de Jeddah deve facilitar um pouco para a Mercedes neste quesito, a exemplo da Ferrari, mas quanto? Nem eles mesmos sabem, e precisam descobrir o quanto antes. No momento, o time trabalha em contenção de danos, esperando ganhar tempo para aprontar uma versão revisada do W14, que sabem não ter garantias de recolocar o time no jogo. Na última semana, aliás, pipocaram vários boatos, sobre já desistir de 2023 e se concentrar em 2024, e de até entregar as melhores unidades de potência para a Aston Martin, a fim de pelo menos favorecer um time cliente da marca, contra os rivais. Muita conversa para pouca ação, se é que alguma delas era de fato séria.

        E a Aston Martin, sensação dos treinos da pré-temporada, e da corrida do Bahrein? O time, que surpreendeu ao obter um pódio com Fernando Alonso pelo 3º lugar já na estréia do bicampeão em sua nova escuderia vive um misto de fantasia e realidade. Sabe que tem potencial para ser a grande surpresa da temporada, mas ao mesmo tempo, não se pode permitir deixar de ter os pés no chão. O novo AMR23 mostrou potencial, e tem tudo para fazer o time esmeralda brigar com Ferrari e Mercedes pela posição de segunda força. Alonso diz que o carro ainda tem muito potencial a ser explorado, mesmo assim, e é aí que temos o ponto central: como o time fará esse desenvolvimento? desde que o projeto de tornar a Aston Martin uma escuderia de ponta teve início, é a primeira vez que o time demonstra real potencial para brigar, se não por vitórias, pelo pódio, se considerarmos que a Red Bull pode monopolizar os triunfos na temporada. Fernando Alonso, mesmo sendo o pilot mais velho do grid, mostrou que ainda tem lenha para queimar, e Lance Stroll teve um desempenho guerreiro ao disputar a corrida ainda fora das condições ideais de seu pulso operado, mostrando que eles sabem o que tem nas mãos, e querem aproveitar para capitalizar o bom momento, enquanto podem. Mas todos conhecemos a capacidade técnica do time de Milton Keynes, que sabe como ninguém evoluir seu carro durante uma temporada, graças ao trabalho bem coordenado por Newey. E a Aston Martin? Nos tempos de Force India, a escuderia conseguia fazer alguns milagres com um orçamento apertado, obtendo resultados que não deveria estar ao seu alcance, num exemplo de grande eficiência do time. Agora, recursos não são problema, e embora a nova fábrica ainda não esteja operando a pleno vapor, os resultados esperados para 2024 parecem já estar surgindo agora, e o time, ao mesmo tempo em que não pode se iludir, também não pode perder a chance de aproveitar o salto conquistado. Vai ser um duelo dos setores técnicos de cada time para vermos quem leva a taça do vice-campeonato de escuderias. Embora não tenha disputado o título, a Mercedes, apesar do momento complicado vivido no ano passado, conseguiu progressos extraordinários na melhoria de seu carro. Já a Ferrari, por outro lado, se perdeu no meio do campeonato, permitindo à Red Bull disparar na frente, e ainda por cima, deixando-se ser ameaçada até na briga pelo vice-campeonato pela Mercedes.

            Vai ser um duelo renhido entre estes três times, e quem der mancada, ou for menos eficiente, vai ficar para trás. E todos sabem que, em algum momento, a Red Bull poderá ter algum problema, afinal, ninguém é infalível, e quando isso surgir, quem estiver no local certo, na hora certa, poderá capitalizar com o azar dos favoritos. Mas só conseguirá isso se trabalhar direito e cometer menos erros. Pelo início da competição, Ferrari e Mercedes tem que recuperar o tempo perdido para ontem, enquanto a Aston Martin parece ter fôlego para ser um pouco mais audaciosa do que pensava poder ser. Jeddah deve mostrar quem pode ter as melhores cartas neste jogo, lembrando que a etapa seguinte, em Melbourne, Austrália, tem outro circuito de rua, no Albert Park, que também é bem diferente deste aqui de Jeddah, onde tudo pode ficar diferente novamente, ajudando a embaralhar as opções, ou confirmá-las, dependendo de como todos se saírem.

Três equipes, três objetivos diferentes, uma meta. Quem será a segunda força do grid na Arábia Saudita? Aston Martin, Ferrari, ou Mercedes? Quem leva?

            E o restante do grid? Bem, todo mundo quer saber, até eles mesmos. na prova de Sakhir, todo mundo teve algum momento positivo, apesar dos negativos, de modo que os demais times sabem que podem render mais, mas quanto? Eles querem saber a resposta, de forma a poderem coordenar melhor seus trabalhos de desenvolvimento dos carros. A Alpine, por exemplo, teve uma performance desastrosa com Esteban Ocón, e outra redentora com Pierre Gasly. O time não impressionou na pré-temporada, mas alardeou um potencial para brigar pela 4ª força no ano, o que parece sonhar alto demais, dadas as performances dos times já citados acima. O máximo seria ambicionar a 5ª posição, e para isso, será preciso combinar com os adversários, em especial a Alfa Romeo, que conseguiu ter um desempenho geral melhor do que o time francês. A Haas teve um treino brilhante com Nico Hulkenberg, que infelizmente deu azar em um toque logo no início da corrida, enquanto Kevin Magnussen não empolgou. A Alpha Tauri pareceu perdida, mas chegou perto dos pontos, apesar de tudo. A McLaren pareceu ainda mais complicada, mas teve um treino razoável com Lando Norris, que até conseguiu mostrar um ritmo interessante, apesar dos percalços técnicos enfrentados pela escuderia. E a Williams, quem diria? Não é a carroça que se esperava, e sua dupla de pilotos parece capaz de surpreender, mas também não é nenhuma Brastemp. O time conseguiu um ponto já no Bahrein, com um desempenho honesto de sua dupla de pilotos, mas vai precisar confirmar esse desempenho quando os rivais não tiverem seus problemas.

            Enquanto isso, a pista de Jeddah terá novidades para este ano. Devido aos problemas verificados no ano passado, e levando em conta as altas velocidades atingidas pelos carros da F-1, que estão ainda mais velozes este ano, algumas mudanças foram feitas, em especial para melhorar a segurança da competição. Algumas curvas da pista, por exemplo, não ofereciam boa visibilidade, o que poderia comprometer a segurança dos carros em disputa. Assim, a organização da prova, em conjunto com a FIA, decidiram diminuir os pontos cegos do circuito, assim como modificar algumas zebras. As curvas 3, 14, 19, 20 e 21 receberam zebras mais suaves, para impactar menos no contato com os carros, o que poderia fazer com que alguém perdesse o controle, dependendo de como atacasse o ponto. Além destas, outras zebras, como as de metal, acabaram sendo substituídas por modelos chanfrados nas curvas 4, 8, 10, 11, 17 e 23 da pista. Já no que se refere à visibilidade, os muros de proteção das curvas 8, 10, 14 e 20 foram recuados em 7,5 e 5 metros, respectivamente. A mudança mais efetiva foi em relação a velocidade, com o muro das curvas 22 e 23 reposicionados, para reduzir a velocidade média em 50km/h. Outra alteração feita foi no ponto de detecção da última zona de DRS da pista, que passa da freada da última curva para alguns metros depois dela, com o objetivo de dificultar que os pilotos tentem usar o ponto de detecção para usar a asa móvel em seu favor no trecho de reta. Os pilotos elogiaram as mudanças feitas nos muros e nas zebras, melhorando a visão que eles têm do setor, tornando a passagem pelos trechos menos arriscadas, já que em caso de algum imprevisto, eles teriam muita dificuldade em evitar algum acidente, que poderia vir a ser vultoso, dadas as altas velocidades que os carros atingiam nos pontos citados.

            De fato, percalços são esperados na corrida, já que ainda é uma pista de rua, e mesmo com o reposicionamento dos muros, eles ainda estão muito próximos da pista, e podem ser necessárias entradas do Safety Car durante a prova, algo que os times precisam saber lidar no que tange às suas estratégias. Nas duas edições da corrida, o carro de segurança precisou ser acionado, então...

            Aliás, a pista de Jeddah, que inicialmente deveria ser provisória, já que o governo saudita tem planos de criar um megacircuito perto da capital do país, Riad, deverá ficar bem mais tempo no calendário da F-1, muito provavelmente até 2027, já que as obras estão bem atrasadas.

            Então, hora de acompanhar a segunda corrida da temporada, e ver se Jeddah nos oferecerá maiores esperanças de um campeonato mais disputado, ou se a situação vista em Sakhir se manterá. Não será um veredicto definitivo, pois ainda poderemos esperar por mudanças na etapa seguinte, na Austrália. Mas um panorama similar ao do Bahrein não será lá muito agradável para as expectativas da competição. Torçamos pelo melhor, claro, e que a disputa apresente uma evolução em relação à primeira corrida.

 

 

E a Formula-E está chegando ao Brasil. O ePrix de São Paulo acontece no próximo final de semana, mas a pista já está montada na área próxima ao Pavilhão do Anhembi e ao Sambódromo, onde os carros irão acelerar fundo em sua prova de estréia em terras tupiniquins. Lucas Di Grassi e Sérgio Sette Câmara, pilotos brasileiros na categoria, já andaram pela pista, e estão empolgados em finalmente disputar uma etapa da F-E em seu país. Os dois também participaram do evento oficial de lançamento da corrida, realizado semana passada. A pista montada nas ruas da zona norte de São Paulo proporcionarão a maior reta da temporada para os carros da F-E acelerarem fundo. Além disso, a chicane que teria na entrada do trecho do Sambódromo foi retirada, de modo que os pilotos poderão acelerar ainda mais no setor, para delírio dos torcedores, que poderão ver pela primeira vez ao vivo os carros de competição elétricos mais velozes do planeta.

 

 

Hoje temos a largada do Mundial de Endurance (WEC), com a disputa das 1.000 Milhas de Sebring, no Estado da Flórida, Estados Unidos. E com uma surpresa: a Ferrari, que volta a uma competição de endurance com um time oficial de fábrica, e logo na categoria principal, a dos Hypercars, abocanhou a pole-position da prova, com seu novíssimo modelo 499P de Nº 50 pilotada por Antonio Fuoco, que marcou o tempo de 1min45s067, desbancando a até então favorita Toyota, que colocou seus dois carros GR010 Hybrid nas posições 2 e 3 do grid, com o carro campeão do ano passado, o Nº 8, partindo na primeira fila do grid, enquanto o carro Nº 7 abre a segunda fila. O time japonês, aliás, ficou acuado pela Ferrari, já que a equipe de Maranello garantiu também a 4ª posição no grid, com seu carro Nº 51 marcando o tempo de 1min45s874 com Alessandro Pier Guidi. A prova terá largada às13 horas, pelo horário oficial de Brasília, e teremos 36 carros na competição, sendo 11 na classe Hypercars, 12 na LMP2, e 13 na classe LMGTE. Três brasileiros participarão da prova. Pietro Fitipaldi defende a equipe Jota, e seu carro largará em 13º, com a segunda melhor marca na classe LMP2. André Negrão, correndo pela Alpine, sai em 23º. E Daniel Serra, pela Kessel Racing, parte em 30º, na classe LMGTE.

A Ferrari chegou chegando nos Hypercars no WEC 2023: pole nas 1.000 Milhas de Sebring, superando a dupla da Toyota.

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