quarta-feira, 9 de novembro de 2022

ARQUIVO PISTA & BOX – DEZEMBRO DE 1999 – 03.12.1999

            Trazendo novamente um de meus antigos textos, esta coluna foi publicada no dia 03 de dezembro de 1999, e fazia um pequeno apanhado do desempenho de nossos pilotos na temporada daquele ano na F-CART, a F-Indy original. Tínhamos na época um grande número de representantes no certame dos Estados Unidos, mas faltava sorte, e alguma competência, para termos os resultados que a torcida esperava, ainda ávida por um renascimento do nosso sucesso no automobilismo mundial após a morte de Ayrton Senna na F-1 em 1994. Não dá para negar que, comparado com a F-1, a F-Indy dava maiores esperanças, e até tinha resultados melhores. O jeito era ter perseverança, porque uma hora a coisa daria certo, e isso viria a acontecer no ano seguinte, onde alguns passos foram dados pela performance de nossos corredores nesta temporada de 1999, que teve bons, e maus momentos também, sendo que um deles acabou por influenciar o futuro de um de nossos representantes no automobilismo norte-americano. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...

O ANO BRASILEIRO NA F-CART

 

            Terminando o campeonato deste ano da F-CART, o que se pode dizer é que, se não foi um ano tão ruim quanto os anteriores, também não foi muito melhor, no que tange à participação de nossos pilotos no certame. Voltamos a vencer corridas, é verdade, encerrando um jejum que estava ficando incômodo, mas a melhora de performance ficou em apenas 3 vitórias verde-amarelas na temporada, curiosamente conquistadas por 3 pilotos diferentes. Conquistamos também 5 pole-positions, e foi só. Infelizmente, passamos longe da disputa do título neste ano, e não faltaram motivos para nossos representantes não terem conseguido resultados melhores do que os obtidos.

            Gil de Ferran e Christian Fittipaldi foram nossos melhores homens no campeonato, pelas condições técnicas que possuíam. Gil tinha o time da Walker todo voltado para si, e com um segundo piloto, a idéia era reunir mais dados que pudessem ajudar a desenvolver melhor o equipamento. O plano não deu os resultados esperados, e embora Gil tenha conquistado uma vitória magistral em Portland, esta foi obtida mais à custa dos esforços pessoais do brasileiro do que propriamente pela qualidade técnica de seu equipamento, que poucas vezes na temporada lhe deu chances de desafiar plenamente a concorrência, para não falar de erros cometidos pelo seu time na estratégia de corrida e em pit stops. Outro grande problema, senão o maior deles, foram as performances por vezes erráticas dos compostos da Goodyear, que nunca conseguiram igualar a performance dos Firestone. E igualado no restante do equipamento, com chassi Reynard e motor Honda, restava a Gil tentar tirar a diferença do braço. Ele até tentou, mas a fiabilidade de seu monoposto, quando não acabou tendo incidentes pelo caminho, a maioria alheia a seu controle, acabou por minar seus esforços e tirá-lo da luta pelo título. Foram 9 abandonos no ano, que mostraram-se fatais para qualquer pretensão de figurar em posições mais cimeiras na classificação, terminando por ficar apenas em 8º lugar, com 108 pontos, tendo 1 vitória e 2 poles como momentos mais dignificantes. A paciência de Gil com a Walker se esgotou, e o brasileiro irá começar vida nova na Penske no próximo ano, esperando encerrar a fase de azares na categoria.

            Christian Fittipaldi, assim como Michael Andretti, padeceu com a falta de competitividade do chassi Swift em várias corridas. E, ao mesmo tempo, o sobrinho de Émerson teve mais uma vez parte de seu ano estragado por um acidente. Um forte acidente sofrido pelo piloto durante treinos particulares na pista de Madison o deixou de fora de 5 corridas, em momento crucial para tentar deslanchar na competição. Christian retornou nas últimas 3 corridas do ano, obtendo apenas um 3º lugar em Fontana, e tendo como consolação o fato de ter sido o melhor piloto brasileiro no certame, ficando na 7ª posição, com 121 pontos. De positivo, o jovem Fittipaldi finalmente desencantou, vencendo a etapa de Road America. Christian também teve seu momento de glória ao conquistar a pole na prova do Brasil, onde terminou em 3º lugar após uma corrida combativa. No resto, 4 pódios em 3º lugar foram seus melhores resultados.

            Tony Kanaan, em seu segundo ano na categoria, teve melhora de performance em relação a 1998, mas não conseguiu “decolar” na competição como esperava. Se por um lado seu time não teve problemas financeiros, por outro lado, a associação da Tasman com a Forsythe não rendeu todos os dividendos esperados. Um dos motivos provavelmente terá sido a diferença de motores: enquanto a Forsythe usava os Mercedes, a Tasman corria com Honda. De qualquer maneira, tanto a Tasman como a Forsythe não foram muito bem neste ano, frustrando não apenas Tony Kanaan como Greg Moore. O canadense, entretanto, morreu em um violento acidente em Fontana, quando se preparava para assumir um novo desafio na carreira, guiando para a Penske no próximo ano.

            A fatalidade de Moore foi a salvação para outro brasileiro: Hélio Castro Neves terminou a temporada 99 praticamente a pé, uma vez que seu time, a Hogan, fechou as portas ao fim do campeonato, devido ao fato de não ter conseguido arrumar patrocinadores fortes nos últimos tempos, estando com seu orçamento para o próximo ano praticamente zerado. Carl Hogan resolveu fechar o time, e como isso aconteceu de ser comunicado na última corrida, Helinho praticamente não teria onde arrumar lugar, uma vez que todas as vagas relevantes já haviam sido acertadas. Com a morte de Greg, Roger Penske precisou encontrar um substituto para o falecido canadense, e Hélio deu sorte de ser o escolhido. Desta forma, a Penske irá contar com uma dupla totalmente brasileira em 2000, contando com Hélio Castro Neves e Gil de Ferran. O ponto alto de Castro Neves foi o 2º lugar em Madison, além de uma pole em Milwaukee, o que ajudou a convencer a Penske do potencial do brasileiro.

            Quem também teve um ano melhor que o esperado foi Roberto Moreno. A princípio sem carro para disputar o campeonato, devido à falta de patrocinador, Roberto tirou a sorte grande quando a PacWest precisou substituir o inglês Mark Blundell, que havia se acidentado. Moreno estreou na temporada justo no GP do Brasil, pontuando com um 11º lugar, e na prova seguinte, em Madison, já mostrava ao time de Bruce McCaw a escolha certeira que fizeram: foi 4º colocado, conseguindo a melhor posição do time até então no ano. De suas 8 provas pela PacWest, marcou pontos em 6 delas, andando com frequência muito melhor do que Maurício Gugelmim, e mostrando muito mais desempenho do que Blundell. Com o retorno do inglês, Moreno ganhou nova chance na Newmann-Hass, onde substituiu outro piloto acidentado: Christian Fittipaldi. E novamente mostrou serviço, terminando seu ano em Laguna Seca com um belo 2º lugar, e mostrando que merece um lugar competitivo e em tempo integral na categoria.

            Maurício Gugelmim teve um ano abaixo da expectativa na PacWest. Não foi apenas a má forma do time, que parece não conseguir mais reencontrar a forma exibida em 1997, a limitar a capacidade de se obter bons resultados. Gugelmim mesmo não conseguiu andar bem. O fato de Roberto Moreno ter conseguido melhores resultados nas corridas em que correu pelo time demonstrou que o problema também era do piloto, que não conseguiu achar as melhores soluções. Um 4º lugar em Vancouver foi o melhor resultado de Maurício, mas foi nitidamente mais um ano em que a PacWest mostrou-se desencontrada consigo mesma. A equipe ainda tem potencial, mas parece não conseguir coordenar seus esforços para reencontrar o rumo de crescimento. Talvez no próximo ano...

            Os demais pilotos brasileiros apenas fizeram figuração. Guálter Salles e Tarso Marques batalharam em todas as provas que disputaram com carros problemáticos e pouco competitivos. Raul Boesel correu apenas 3 provas, substituindo pilotos titulares, dando prioridade ao campeonato da Indy Racing League, e Luiz Garcia Jr. também andou no pelotão de trás quando participou.

            E nem é preciso dizer que transmissão da categoria para o Brasil foi a pior em vários anos. Sílvio Santos apenas cumpriu contrato para transmitir as provas, no ingrato horário do fim de domingo, e apesar dos pesares, o horário fixo ainda conseguiu se traduzir em um pequeno aumento de audiência, o que deve servir de justificativa para a manutenção do esquema, que foi reduzido ao mínimo possível: transmissão em VT e com apenas um narrador contratado. Um retrocesso considerável, levando-se em conta de que antes todas as provas, com raras exceções, eram transmitidas direto do local das corridas, com equipe completa: narrador, comentarista, e repórter. Podem criticar a TV Globo, mas nestes anos de vacas magras dos pilotos brasileiros na categoria máxima do automobilismo, a emissora pelo menos ainda mantém o seu padrão de transmissão estável e com alguma dedicação. Já a vontade de Sílvio Santos para com as atrações que seu canal transmite depende mais do seu bom-humor do momento do que do profissionalismo exatamente, em que pese seu carisma como apresentador e sucesso como empresário.

            Agora é esperar por novos ares no ano 2000. Deveremos ter melhores dias, espera-se, mas o problema é que esperar que o ano seguinte seja melhor é o que sempre todos fazem ao fim de cada ano, em especial se este ano não foi tão bom como prometia ou poderia ser. Mas o número “2000” tem uma mítica toda especial, anunciando uma nova era, e quem sabe isso ajude a mudar o panorama dos acontecimentos. Quem viver verá... 

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