sexta-feira, 16 de setembro de 2022

WILL POWER BICAMPEÃO, ENFIM

Oito anos depois do primeiro título, Will Power enfim conseguiu repetir o feito, e se tornar bicampeão da Indycar, levando a Penske a mais um título na categoria.

             Terminou a temporada 2022 da Indycar, e Will Power enfim, conquistou seu segundo título na competição. O piloto australiano chegou ao Laguna Seca Raceway, na Califórnia, com uma vantagem de 20 pontos para seus mais próximos adversários, o que lhe dava uma certa margem de segurança para administrar a corrida, e evitar manobras mais arriscadas na disputa de posições, mas mesmo assim, tudo ainda poderia acontecer no final de semana. Até porque, em outras três oportunidades, o piloto australiano chegara à última etapa para decisão do título como o principal favorito, e sofreu reviravoltas no último instante, perdendo a disputa e amargando o vice-campeonato, o que ocorreu em 2010 (superado por Dario Franchitti por 5 pontos), 2011 (de novo derrotado por Franchitti, agora por 18 pontos); e 2012 (vencido por Ryan Hunter-Reay por 3 pontos). Em todas estas ocasiões, Power teve um azar incrível na corrida, enquanto os adversários conseguiram os resultados necessários para levar a taça.

            O resultado foram três vice-campeonatos que pareciam fazer crer que Power seria um novo Stirling Moss do automobilismo mundial: fazia campeonatos incríveis, mas acabava derrotado no último momento. Será que a confiança de Roger Penske depositada no piloto nascido em Toowoomba, Queensland, na Austrália, seria retribuída? Afinal, Power estreara no automobilismo norte-americano em 2005, na antiga F-Indy, chamada à época de Champ Car, disputando duas corridas pela equipe Walker, que ficou impressionada com seu desempenho, apesar de novato na categoria, e o efetivou para o ano seguinte, onde disputou todo o campeonato, onde terminou em 6º lugar. Em 2007, ele venceria duas corridas pelo time, finalizando o ano em 4º lugar. Ele ainda venceria a derradeira corrida da Champ Car, em Long Beach, em 2008, defendendo agora a equipe KV, pela qual estreou na Indy Racing League, disputando a maior parte do campeonato daquele ano. Em 2009, acabou resgatado por Roger Penske para substituir o brasileiro Hélio Castro Neves na sua escuderia, quando Helinho estava enfrentando um processo por sonegação fiscal na justiça dos Estados Unidos, disputando as duas primeiras corridas do ano, e subindo ao pódio novamente em Long Beach, com um 2º lugar.

            Com a absolvição de Helinho, Power acabaria sua participação por ali, mas Roger viu nele muito potencial, e Will ainda disputou mais algumas corridas no ano, em um terceiro carro do time, onde conseguiu uma vitória, em Edmonton, no Canadá. Foi a senha para Penske efetivá-lo em definitivo a partir do ano seguinte, com o time da Penske passando a competir com 3 carros. A aposta do “capitão” se justificou, com Power assombrando os rivais nas pistas, sendo um dos pilotos mais vitoriosos no campeonato. Mas, sempre batendo na trave, e por três anos consecutivos. Será que a Penske estava amaldiçoada? Afinal, seu outro grande piloto, Hélio Castro Neves, também havia batido na trave em alguns anos, nunca conseguindo conquistar o título da categoria pela equipe mais poderosa do automobilismo dos Estados Unidos. O consolo do brasileiro eram seus triunfos nas 500 Milhas de Indianápolis, onde já vencera 3 vezes e já fazia parte dos grandes vencedores da história da Brickyard, enquanto Power nem isso conseguia, apesar de tocar o terror nos rivais nas pistas mistas e urbanas, sendo sempre um competidor duríssimo de vencer.

            Mas, quem espera sempre alcança, e Will Power viu seus esforços recompensados em 2014, depois de ter sido o 4º colocado na temporada anterior, com o australiano conseguindo enfim o título da agora Indycar. Parecia que ele enfim havia desencantado, e já estava na hora. Dali em diante as coisas deveriam se encaixar melhor. Mais ou menos. Na temporada de 2015, ele foi 3º colocado no campeonato, vencendo apenas uma corrida. Ressaca do título anterior? Talvez, porque em 2016, ele foi novamente vice-campeão, e se dessa vez não perdeu o título na última etapa, por outro lado, ele acabou derrotado por Simon Pagenaud, novo companheiro de equipe que em sua segunda temporada na Penske já se sagrava campeão pelo time, colocando Power e Helinho em xeque dentro da escuderia.

Em 2005, a estréia na antiga F-Indy, com a equipe Walker.

            Situação que só se complicaria no ano seguinte, com a chegada de Josef Newgarden, que logo de cara se tornou a sensação dentro da Penske, faturando o título logo em seu primeiro ano no time, com Power terminando o ano em 5º lugar, a pior posição dos pilotos da Penske na classificação do certame naquele ano. Power reagiria em 2018, em um ano onde a Penske claudicou em parte da temporada, e chegou às últimas etapas sem chance de discutir o título. Will foi o 3º colocado, deixando seus colegas de time para trás, mostrando que ainda podia ser o ás do time. De quebra, o australiano ainda venceria as 500 Milhas de Indianápolis, escrevendo seu nome no rol dos vencedores da famosa corrida. Não estava tão ruim. Mas as temporadas de 2019 e 2020 não seriam tão satisfatórias. Vencendo duas provas em cada ano, ele terminou ambos os certames em 5º lugar, vendo Josef Newgarden ser novamente campeão em 2019 e vice em 2020. Situação que piorou em 2021, com uma série de azares e entreveros que fizeram com que tivesse sua pior temporada na Penske desde que passou a defender o time, terminando o ano com apenas 1 vitória, e terminando a temporada em 9º lugar. Por mais que a Penske tenha tido um ano complicado, o australiano não conseguiu forças para reagir, tendo de ver Newgarden mais uma vez liderar o time, conquistando um heróico vice-campeonato na temporada passada. Com a saída de Simon Pagenaud do time da Penske, e a dispensa de Hélio Castro Neves, e a contratação de Scott McLaughlin, nova “aposta” de Roger Penske para seu time, será que o tempo de Power na escuderia estaria com os dias contados?

            Afinal, já ia longe os anos em que Power vencia várias corridas por temporada, e não parecia mais tão temível quanto antes. O australiano parecia seguir o mesmo destino de Hélio Castro Neves, que sem conseguir conquistar o título, acabou realocado por Penske para o campeonato estadunidense de endurance, onde ficou por três anos, até ser dispensado com o fim da participação da Penske na categoria. Com a saída de Pagenaud, Power ganhou uma sobrevida no time, mas até quando? Por mais que o piloto se esforçasse, nada parecia se encaixar, e os resultados potenciais não vingavam. E, nesse meio tempo, Roger Penske começava a olhar para novas estrelas em ascenção, como Alexander Rossi, e até Colton Herta, que foram bem amarrados por Michael Andretti a seu time para evitar a cobiça alheia.

Em 2009, no seu primeiro ano na Penske, vitória em Edmonton, no Canadá.

            Mas, uma hora a má fase precisa acabar, e neste ano, Will Power começou a temporada mais focado do que nunca, concentrando-se em obter resultados, e claro, torcendo para o azar não dar as caras novamente. E, para sua sorte, a Penske pareceu ter espantado a zica de vez, com seus pilotos vencendo as três primeiras corridas do ano. Menos Power. Só que enquanto seus companheiros de equipe e concorrentes tinham altos e baixos na temporada, o australiano estava sempre ali, entre os primeiros, mantendo uma constância que seria crucial para leva-lo à disputa do título. Mas vencer sempre é bom, e Power deu seu show numa vitória incontestável em Detroit, lançando-se definitivamente na luta pelo campeonato. E o fez com muita competência: de 17 provas, ele terminou 12 dentro do TOP-4. Ficou de fora do TOP-10 em apenas 4, e terminou uma corrida em 6º lugar. Na corrida de Portland, deu o passo decisivo para conquistar o título, terminando em 2º, e abrindo novamente vantagem sobre os rivais que se vinham se aproximando, ganhando uma relativa folga para minimizar os riscos na etapa final, domingo passado, em Laguna Seca.

Em 2014, depois de bater na trave por três anos consecutivos, a conquista do primeiro título, para orgulho do piloto e de Roger Penske (abaixo).


            Mas, nada melhor que o ataque à defesa, não? O australiano resolveu acelerar fundo, e conquistou na pista de Monterrey a pole-position, ganhando mais um ponto, e colocando os rivais sob pressão. Foi sua 5ª pole-position no ano, o que o fez superar o recorde anterior das categorias Indy, ninguém menos do que Mario Andretti, que parabenizou o piloto da Penske por sua conquista, a 68ª pole na carreira. Largando na frente, e com os rivais, em especial Newgarden e Dixon largando lá atrás, bastava chegar na frente e ir para a festa da conquista do título. Uma recuperação dos rivais apenas não lhes bastaria para conquistar o título: seria preciso que Power voltasse novamente a ter azar, como acontecera entre 2010 e 2012. Mas, ciente disso, Will tratou de minimizar os riscos ao máximo. Apesar de ter largado na pole, acabou superado algum tempo depois, mas tratou de se manter ali, entre os primeiros, enquanto os rivais tentavam reagir. Com chances apenas matemáticas, Scott McLaughlin e Marcus Ericsson nunca ameaçaram de fato o piloto australiano na corrida.

            Scott Dixon, com retrospecto favorável em promover reviravoltas na última corrida, desta vez não estava conseguindo dar o bote necessário para surpreender novamente. Assim, na 28ª volta, Power não precisou forçar para defender a liderança de Álex Palou, que já estava de fora da briga pelo título, e tentava pelo menos não terminar o ano em branco. Terminar no pódio já garantiria o título, qualquer que fosse o resultado de Dixon e Newgarden na prova. Mas, se o neozelandês não se mostrava capaz de tentar o seu 7º título, Newgarden vinha numa recuperação assombrosa, depois de largar na última fila. O bicampeão, ávido para tentar o tricampeonato, chegou nas primeiras posições, e superou Power, que mais uma vez não arriscou dividir a disputa de posição com o colega de time, sabendo que o 3º lugar lhe bastava, mesmo que Josef ganhasse a corrida. Ele só precisava se garantir que ninguém mais chegasse nele. E assim o fez, apesar de em alguns momentos ele ter sofrido pressão de alguns outros pilotos, que no entanto, não conseguiram superar o australiano na pista, que se manteve em ritmo forte e constante, e acima de tudo, evitando os riscos potenciais, tomando cuidado na hora de dobrar retardatários, mas sabendo ser agressivo nos momentos certos para não perder o controle a situação.

            E não deu outra: Newgarden não conseguiu superar Palou na disputa pela vitória, com o espanhol redimindo a Ganassi na prova final do ano, e com seu 3º lugar, Will Power enfim conquistou merecidamente o seu bicampeonato, reocupando e reafirmando seu devido lugar entre as grandes estrelas da Indycar. Depois de anos sendo marcado como um piloto agressivo e por vezes arrojado demais na pista, o ano da consagração veio com um estilo de pilotagem marcado pela consistência e paciência nas corridas, sabendo galgar posições na hora certa, mesmo largando lá de trás, e sabendo realizar boas estratégias para alcançar resultados talvez improváveis para o velho estilo do australiano. Em um campeonato onde cada resultado conta, isso foi decisivo. Josef Newgarden, por exemplo, ficou com o vice-campeonato mesmo vencendo 5 corridas no ano, mas a irregularidade em certas provas pesou no momento decisivo, quando precisava não apenas de seu próprio esforço, mas do azar do companheiro de equipe para sair vitorioso. Power soube aproveitar o potencial da Penske para conseguir superar definitivamente a maré de azar recente, e batalhar pelo melhor resultado possível do momento, contando às vezes com a sorte que faltou aos principais rivais, conseguindo escapar de acidentes e confusões durante quase todo o ano. Seus piores momentos foram nas 500 Milhas de Indianápolis, onde a Penske passou em branco; e em Road América, onde foi atropelado por Devlin DeFrancesco; além de Toronto, onde não teve um bom desempenho na prova.

            Com contrato renovado para 2023, e a moral restaurada pelo bicampeonato, Will Power dá a volta por cima, e mostra a Roger Penske que ainda pode contar com ele para vencer por seu time. Talvez não com o mesmo estilo espetacular de antigamente, mas certamente com uma pilotagem mais constante e focada em resultados, procurando não desperdiçar oportunidades, e sendo um piloto mais cerebral e paciente na pista. Num momento onde a Indycar se vê às voltas com vários talentos da nova geração, o veterano piloto mostra que ele, e outros nomes como Scott Dixon, ainda tem muita lenha para queimar na pista, e que a aposentadoria ainda está longe de seus planos mais próximos. Vida longa ao novo bicampeão da Indycar, e com todos os méritos...

 

 

A vitória na etapa final da temporada 2022 da Indycar parece ter pacificado Álex Palou, que até então vinha tendo uma temporada meio apagada na equipe da Ganassi, para não mencionar o imbróglio arrumado pelo piloto em sua situação para a temporada de 2023. E, numa virada inesperada, eis que Palou e Chip Ganassi se entenderam, e o espanhol resolveu ficar onde está, quebrando o acordo firmado com a McLaren para o próximo ano. Foi o suficiente para a McLaren também se pronunciar, e declarar a manutenção do sueco Felix Rosenqvist no time para 2023, quando a escuderia passará a competir com três carros a tempo integral no campeonato, tendo já confirmado os nomes de Patricio O’Ward e a contratação de Alexander Rossi. Com isso, as duas equipes fecham seus pilotos titulares para a próxima temporada da Indycar, para alívio de Palou e principalmente de Rosenqvist, que estava ameaçado de perder sua vaga na escuderia, e até mesmo na categoria; e decepção de pilotos que tentavam se mostrar como opção para o cobiçado carro do espanhol na Ganassi.

 

 

A rigor, a escolha de Palou foi a mais óbvia, e também a melhor. O espanhol havia feito o acordo com a McLaren visando a chance de ir para a F-1, onde poderia ocupar o lugar de Daniel Ricciardo no time na categoria máxima do automobilismo. Mas, como se viu depois, a McLaren, em outro acordo cheio de controvérsias, já tinha assinado com Oscar Piastri, de modo que a vaga sonhada por Palou já não existia de fato. E, sem a chance de competir pela F-1, a opção de defender o time da McLaren na Indycar, apesar de não parecer ruim, poderia ser desvantajosa em termos de competitividade. Não que a McLaren seja um mau time. Desde que retornou à Indycar, assumindo as operações da equipe Schmidt/Peterson, a escuderia tem se mostrado um dos times mais fortes da categoria, vencendo corridas, subindo ao pódio, e até ameaçando disputar o título, como vimos com Patricio O’Ward nos últimos dois anos. Mas, no comparativo geral de forças, a Ganassi está um degrau acima da McLaren, que este ano não conseguiu ir para a etapa final ainda com chances de ser campeã com o mexicano, enquanto a Ganassi tinha Scott Dixon firme na briga, e até com Marcus Ericsson em chances matemáticas. Pode ter perdido a disputa para a Penske, o time mais poderoso da categoria, mas teve um desempenho melhor do que a McLaren. Por mais que Palou tenha tido um ano abaixo do que demonstrou em 2021, quando foi campeão, as perspectivas da Ganassi continuar forte e voltar a disputar o título no próximo ano são altas, e a McLaren ainda precisa crescer na competição para chegar de vez na luta pelo título. Mais ainda: ao permanecer na Ganassi, Palou honra o seu contrato com o time, e tem a chance de recuperar parte do respeito da escuderia para com seu piloto, que havia ficado abalado pela negociação atravessada que ele fez com a McLaren, sem ter dado satisfações à sua equipe atual, algo que nenhum time gosta de ver seus pilotos fazerem, o que gera uma quebra de confiança que, num certame disputado e equilibrado como costuma ser a Indycar, pode comprometer as chances de vitória, e até de lutar pelo título. Campeão em 2021, surpreendendo em sua segunda temporada completa na categoria, Palou tem a chance de ser uma das estrelas da competição, e firmar ainda mais seu nome na Indycar, ao lado de pilotos já consagrados como seu companheiro Scott Dixon, e de feras como Josef Newgarden, Will Power, Colton Herta e outros. Que aproveite para voltar a brilhar com tudo, depois deste percalço, e mostre porque a Ganassi não estava a fim de perdê-lo para a concorrência...

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