sexta-feira, 9 de setembro de 2022

DECISÃO EM LAGUNA SECA

O circuito de Laguna Seca fecha a temporada 2022 da Indycar, e com a decisão do título da competição.

            A Indycar fecha sua temporada neste domingo, e com uma situação invejável: tem nada menos do que cinco pilotos com condições matemáticas de chegar ao título da competição, número pouco comum na maioria dos campeonatos do mundo do esporte a motor, em especial da Fórmula 1, que poucas vezes viu a decisão se estender à etapa final da temporada, e muito menos com tantos candidatos, em tempos recentes.

            A grosso modo, porém, a disputa está restrita a apenas três pilotos: Will Power, Josef Newgarden, e Scott Dixon, os dois primeiros da equipe Penske, e o último, da Ganassi. Power, que vem de um segundo lugar na etapa do último domingo, em Portland, é o líder do campeonato, com 523 pontos. Newgarden e Dixon estão logo atrás, com 503 pontos cada um, uma diferença de 20 pontos. Com cinco vitórias na temporada, Newgarden é o vice-líder, contra Dixon que venceu apenas duas vezes. Pode parecer uma vantagem confortável, mas quando lembramos que na Indycar a vitória rende 50 pontos, a distância do piloto australiano da Penske na dianteira não é tão confortável quanto pode parecer. Pior, pode até dar a sensação de alguma segurança, mas nada mais falso, até porque, mais do que uma categoria equilibrada, tudo pode acontecer durante uma corrida, e não se pode baixar a guarda em nenhum momento.

            Pior, quando lembramos do retrospecto do piloto em decisões anteriores de título na categoria, onde Power foi campeão apenas uma vez, em 2014. Will Power chegou para decidir o título em outras três etapas, em 2010, 2011, e 2012, e em todas elas, apesar de favorito destacado, acabou sofrendo uma reviravolta e perdendo a disputa. Um fantasma que ele precisa exorcizar mais uma vez neste momento. Com apenas uma vitória na temporada, Power é o piloto que menos venceu na equipe Penske no ano, mas tem feito uma temporada extremamente constante, e na prova de Portland, domingo passado, Will procurou ser prudente, e evitar qualquer tipo de encrenca, algo até temerário no circuito da capital do Oregon, que por ter uma curva em cotovelo logo após a largada, é palco carimbado para acidentes e confusões. O australiano conseguiu não se envolver em nenhum incidente a corrida inteira, e só não conseguiu mesmo foi superar seu companheiro de equipe Scott McLaughlin. E conseguiu o que precisava, que era chegar na frente dos rivais, e aumentar sua diferença para eles, já que ao fim da prova de Gateway, a vantagem de apenas 3 pontos não oferecia nenhuma garantia. Calejado das ocasiões anteriores, quando era o favorito e caiu do cavalo, Power agora está com uma atitude mais prudente, e com certeza vai tentar administrar o resultado na pista de Laguna Seca, dependendo das circunstâncias. Não só as derrotas anteriores pesam nessa decisão, mas também azares em temporadas recentes, onde Will perdeu vários bons resultados por conta do azar. A ordem é tentar manter a cabeça no lugar, e não dar chance de nada dar errado. Se tiver condições de atacar, ele vai para o ataque, mas sem ter o ímpeto descontrolado de outros tempos, onde era tudo ou nada na pista. Mais do que nunca, ele precisa analisar as circunstâncias do momento da corrida e aproveitar as oportunidades, procurando pelo menos ficar na frente, ou o mais próximo possível dos rivais, a fim de não lhes permitir tirar sua vantagem de pontos. E cabeça fria será essencial para derrotar os dois rivais que são as ameaças de fato ao bicampeonato do piloto australiano, que acima de tudo, quer manter uma postura de cautela, sem comemorar por antecipação. E ele não pode dar a conquista antes da hora.

Will Power (acima) lidera o campeonato, em busca do bicampeonato, mas a Penske também corre pelo título com Josef Newgarden (abaixo) em busca do tricampeonato. Quem leva a taça?


            Em busca do tricampeonato, Josef Newgarden tem uma temporada com alguns altos e baixos. É o piloto com mais vitórias no ano, com cinco triunfos, mas tem momentos em que as coisas não se encaixam como ele gostaria. E a corrida de Portland foi um destes momentos. Josef tinha tudo para largar em melhor posição, mas uma troca de motor o fez ser penalizado, tendo de largar um pouco mais atrás, e na corrida, acabou ficando à sombra de seus companheiros de time durante boa parte da competição, tendo de lutar muito para superar outros pilotos e chegar mais à frente. Até estava conseguindo, mas na parte final da corrida, ao sair com pneus duros, ele acabou ficando em desvantagem contra alguns rivais que, ajudados por uma bandeira amarela, estavam calçados com pneus macios, mais velozes. Daí que ao invés de atacar, Newgarden é que acabou atacado, e o 8º lugar não foi o melhor dos resultados, quando podia ter saído da corrida bem mais próximo de Power na pontuação. Para a prova de Laguna Seca, a tática é somente uma: atacar desde o início. Se conseguir sair na frente, tem condições de rumar para a vitória, mas terá de torcer por um resultado mediano de Power. E também para não dar azar. Assim como Power, ele terá de manter a cabeça fria para efetuar sua estratégia de corrida, e procurar não se envolver em confusões desnecessárias.

            Scott Dixon, por sua vez, pode ser o adversário mais perigoso neste final de semana. O neozelandês costuma chegar aos poucos, e dar o bote justamente quanto parece ser o azarão na disputa. Com seis títulos no currículo, ninguém pode subestimar o piloto da Ganassi, que sabe fazer corridas cerebrais como ninguém, e domingo passado saiu lá da 16ª posição para terminar no 3ª lugar, fechando o pódio da corrida em Portland, e mantendo firmes suas chances de chegar ao sétimo título. Dixon foi subindo posições na corrida aproveitando as oportunidades e vacilos dos concorrentes, e não será surpresa alguma se ele repetir a dose no circuito de Monterrey. Até porque a Ganassi usou um de seus dias de testes para treinar justamente em Laguna Seca, da mesma maneira que a Penske fez o mesmo em Portland, visando a corrida de domingo passado. E todos vimos o que ocorreu, com o time de Roger Penske fazendo a dobradinha com McLaughlin e Power, com poucas chances dos rivais aproveitarem para vir para cima. E se Dixon largar na frente na pista da Califórnia, pior ainda para os rivais, já que o circuito de Laguna Seca é de difícil ultrapassagem, com retas curtas e uma pista estreita. Se no ano passado Dixon teve um campeonato meio apagado, tendo ficado à sombra de Álex Palou, o hexacampeão tratou de voltar ao estrelato no time a partir da vitória em Toronto, e foi se aproximando cada vez mais dos ponteiros. Já vimos esse roteiro antes, e não vai ser nenhuma surpresa se ele repetir as conquistas anteriores.

Na Ganassi, Scott Dixon (acima) luta pelo sétimo título, enquanto Álex Palou (abaixo) já ficou sem chances de tentar o bicampeonato.


            Quem ainda possui chances matemáticas de título são Marcus Ericsson e Scott McLaughlin. O piloto sueco não conseguiu reverter a contento sua péssima posição de largada domingo passado em Portland, e agora se encontra com 484 pontos, 39 a menos que Power. A menos que ocorra um desastre completo com o Will, Josef e Scott, ele ainda precisaria ter uma grande performance no domingo para chegar ao título. Da mesma forma, McLaughlin necessita do mesmo feito. O neozelandês venceu a corrida de Portland largando na pole e dominando a corrida de ponta a ponta com uma vitória firme e segura, mas mesmo que ele repita a performance no domingo, vai precisar que os rivais tenham vários azares para conquistar o título, já que está 41 pontos atrás do colega Power. Não é impossível de acontecer, mas é muito difícil.

            Álex Palou, campeão do ano passado, viu suas chances de repetir o título esvanecerem depois do resultado de Portland, onde acabou em 12º lugar. Por mais que sua tentativa atrapalhada de se mudar para a McLaren tenha complicado sua situação na Ganassi em momento crucial da temporada, a verdade é que o espanhol não conseguiu repetir este ano o mesmo brilho de 2021, quando surpreendeu em sua estréia no time de Chip e conquistou o título. Álex não conseguiu vencer nenhuma prova este ano, fator essencial para qualquer postulante ao título. Muito provavelmente ele deixa o time de Chip por baixo, além da imagem arranhada pela mudança de time sem dar as devidas satisfações à direção da Ganassi. Patricio O’Ward, mais uma vez se manteve na briga, mas a exemplo do ano passado, a McLaren, e o piloto, acabaram negando fogo para chegarem em melhores condições à decisão final. O mexicano teve parte de sua atenção comprometida no início do ano, antes de ter seu contrato renovado, e os resultados menores nas corridas daquele momento certamente pesaram agora, tirando-o da luta faltando uma corrida para o fim. O consolo é que a McLaren firma-se como um time forte na Indycar, precisando apenas aparar as arestas para vencer de fato a competição. E ano que vem disputará toda a temporada com três carros, mostrando que seu objetivo é entrar para lutar firme pelo título.

            Uma competição que ficou fora de questão para o time de Michael Andretti, que mais uma vez, fica à sombra de mais um duelo entre Penske e Ganassi pelo título. A equipe de Michael até conseguiu vencer uma corrida ou outra, mas não conseguiu manter a constância necessária para lutar pelo título. Sua grande estrela, Colton Herta, continuou encantando os torcedores com seu grande talento em algumas corridas, mas ficou devendo em outras provas, quando jogou resultados potenciais fora por excesso de vontade, para não mencionar que a própria Andretti marcou bobeira em vários momentos, fosse em estratégias de corrida, ou erros de pit stop, ou preparação deficiente dos carros. Não é de se admirar que tenha ficado de fora da luta neste momento. Até mesmo Romain Grosjean, a nova estrela do time, não conseguiu render este ano o mesmo que apresentou no ano passado, quando surpreendeu muita gente em seu noviciado na categoria, competindo pelo time da Dale Coyne. Não apenas o franco-suíço teve um ano abaixo de suas possibilidades por si próprio, como também teve momentos em que seu time também o deixou sem melhores condições de disputa.

Patricio O'Ward e a McLaren chegaram perto do título, mas novamente ficaram só "perto" não conta. Melhor sorte em 2023...

            Mesmo assim, a Andretti quer tentar terminar o ano com algum brilho, e nisso, seus pilotos podem se intrometer na briga dos postulantes ao título, e complicar a situação deles. Que, aliás, terão que se virar em caso de disputas alheias, afinal, cada um tem sua corrida, e na pista, é cada um por si, e Deus por todos. Não é porque alguns estão lutando pelo título que os demais pilotos irão facilitar nas brigas de posições. Tanto que, a própria Penske recusou-se a fazer jogo de equipe em Portland, numa inversão de posições entre Will Power e Scott Mclaughlin, que certamente deixaria o australiano mais confortável para conquistar o título da temporada, mas que não seria justo com a atuação irrepreensível de Scott durante toda a corrida. Isso sim é competição, e se algo der errado por causa disso, não vai ser o fim do mundo.

            Não dá para prever que tipo de corrida poderemos ter no domingo. A Indycar tem se pautado por corridas completamente inesperadas em termos de resultados. Pode até não acontecer nada fora do script esperado, mas também pode ocorrer o contrário. O circuito de Laguna Seca é desafiador, com trechos de descida e subida, além da curva do Saca-Rolha, exigindo braço para disputa de posição, até porque, como já mencionei, a pista não é muito larga, e quem quiser ir para a frente, terá de suar o macacão. Não se tem recompensa sem esforço, e o duelo será aberto entre todos. E que vença o melhor. Só não deveremos ter um novo campeão, pois os principais postulantes buscam todos eles mais um título ao seu currículo. Power vai atrás do bicampeonato; Newgarden, do tri; e Dixon, do hepta. Todos merecedores de uma nova conquista. Quem quer que venha a faturar a taça de campeão, o título estará em boas mãos. Que venha a bandeira verde no domingo, com transmissão ao vivo a partir das 16 horas, pela TV Cultura em sinal aberto, e pela ESPN4, além do serviço de streaming Star+...

 

 

A Penske segue com a mesma trinca titular em 2023. O time renovou o contrato de Scott Mclaughlin, e continuará com três carros em tempo integral no próximo ano. O piloto neozelandês, que foi uma aposta de Roger Penske, mostra-se mais um acerto pelo desempenho que vem mostrando nessa temporada, cada vez mais firme e forte no time. Depois de um ano meio errático em 2021, a Penske é o time com mais vitórias na temporada atual da Indycar, com nove triunfos, sendo cinco de Josef Newgarden; três de Mclaughlin; e 1 de Will Power. E mesmo assim, ainda tem o risco de não levar o título, caso Scott Dixon reverta mais uma vez as expectativas na corrida deste domingo.

 

 

A Formula 1 chegou a Monza para a disputa do Grande Prêmio da Itália, e pelo menos um piloto já terá o seu fim de semana complicado. Lewis Hamilton precisou trocar o propulsor de seu carro, e por conta disso, largará no fim do grid. Depois de um desempenho abaixo da expectativa no GP da Bélgica, a Mercedes teve melhor performance em Zandvoort, no domingo passado, e fica agora a expectativa do que o time alemão poderá render na pista mais veloz do calendário atual, onde uma boa configuração aerodinâmica mínima, e força total no motor, são cruciais para se vencer as grandes retas do circuito no menor tempo possível. A Mercedes ainda confia em poder vencer pelo menos uma corrida este ano. Será que pode acontecer aqui em Monza? Vale destacar que nos últimos tempos o circuito italiano tem sido agraciado com algumas vitórias inesperadas, como foi a de Pierre Gasly com a Alpha Tauri em 2021; e no ano passado com Daniel Ricciardo, levando a McLaren de novo ao degrau mais alto do pódio depois de quase uma década da última vitória da equipe de Woking. Está certo que não faz tanto tempo assim que a Mercedes venceu pela última vez, mas quem sabe o milagre que o time necessita apareça novamente em Monza... Sonhar ainda é válido, mas diante da posição de largada ruim de Hamilton, pode ser que então vejamos o primeiro triunfo de George Russell na F-1, que para muitos já está merecendo ter sua primeira vitória na categoria máxima do automobilismo.

 

 

A Ferrari chega para a disputa do GP da Itália precisando reagir no campeonato. Max Verstappen não apenas venceu as duas últimas corridas, como no domingo passado, para variar, a Ferrari cometeu mais uma vez tropeços inconfessáveis na corrida, e vendo o atual campeão se distanciar cada vez mais na liderança do campeonato. Já são 109 pontos de vantagem do holandês sobre Charles LeClerc, que precisaria vencer as próximas quatro corridas, e ainda torcer para Max abandonar todas, que ainda assim não recuperaria a liderança do campeonato. Uma nova derrota aqui em Monza seria a pá de cal definitiva para se desistir de vez da luta pelo título, que começou com a Ferrari mostrando muita força, mas que foi se perdendo conforme a temporada avançava, por azares diversos, além de erros crassos de estratégia, e trapalhadas na condução do time. Mattia Binotto fala que quem critica é fácil por estar do lado de fora, mas não há como negar que alguns percalços foram tão grotescos que não há como encontrar justificativas plausíveis para o que aconteceu. Nesse ritmo, o jejum de títulos da equipe de Maranello só tende a aumentar, e a pressão por mudanças na direção da escuderia rossa também vai ficar bem mais forte. A paciência dos tiffosi não costuma ser muito grande, e se vir o time cometendo suas barbeiragens novamente em pleno GP de casa, a casa tende a cair em cima, e não vai ser uma situação agradável...

 

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