quarta-feira, 14 de setembro de 2022

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1999 – 19.11.1999

            Voltando com um de meus antigos textos, trago hoje a coluna que foi publicada no dia 19 de novembro de 1999, cujo assunto era um balanço da temporada daquele ano do campeonato da Fórmula 1, que consagrara Mikka Hakkinen como mais novo bicampeão da categoria máxima do automobilismo, com a Ferrari amargando mais um ano de jejum quando tinha tudo para vencer, mas teve problemas com Michael Schumacher, acidentado a meio da temporada, além da inépcia em apoiar seu segundo piloto como deveria. Foi uma temporada melhor que a encomenda até, dadas as circunstâncias do momento. Curtam o texto, e boa leitura a todos...

UM ANO COM MAIOR EQUILÍBRIO

 

            O campeonato de Fórmula 1 deste ano, além de pela 4ª vez consecutiva ter conhecido seu campeão apenas na última etapa, mostrou-se muito mais equilibrado e disputado do que se imaginava. Na etapa inicial, em Melbourne, o massacre imposto pela McLaren nos treinos era tamanho que muitos imaginavam que o time de Ron Dennis poderia impor um domínio ainda maior do que o visto em 1998. Felizmente, as coisas não correram desta maneira...

            Muita coisa aconteceu este ano. A McLaren teve, sim, incontestavelmente, o melhor carro do ano, mas a fiabilidade e os azares, além dos erros de seus pilotos, acabaram por diminuir o real potencial da equipe inglesa, a ponto de ter perdido o campeonato de construtores para a Ferrari. David Coulthard teve mais um ano abaixo das expectativas e ficou devendo em várias corridas, além de cometer erros ridículos e por pouco não complicando a posição de Mika Hakkinen na briga pelo título. O piloto finlandês também teve uma temporada abaixo das expectativas, cometendo alguns erros até grosseiros, enquanto em outras provas teve uma exibição apática, como em Silverstone e Hockenhein, por exemplo.

            A Ferrari, por sua vez, sentiu o que é ficar na dependência de Michael Schumacher. Uma dependência que eu já havia criticado há tempos, desde que o alemão ainda corria na Benetton. A Ferrari teve de cair na real, depois do acidente do bicampeão em Silverstone, que o tirou de quase todo o restante da temporada e afastou-o da luta pelo título. A hesitação da escuderia italiana em apoiar Eddie Irvinne da maneira correta custou o título de pilotos, que mais uma vez passou raspando. Fica a lição de que não se pode lutar apenas com 1 piloto. Apesar do título de construtores conquistado por Maranello, o título de pilotos foi perdido porque a própria Ferrari não deu a devida importância a Irvinne, e quando precisou fazê-lo, já havia perdido tempo precioso com sua indefinição.

            Com erros e trapalhadas cometidas por ambos os times que lutaram pelo título, McLaren e Ferrari ainda assistiram à ascenção de outras escuderias na temporada, que também venceram corridas e proporcionaram excelentes duelos em diversas provas, para a alegria dos torcedores. Foi o caso da Jordan e da Stewart. A Jordan esteve muito bem no campeonato, especialmente Heinz-Harald Frentzen, que renasceu para a F-1 após sua passagem apagada pela equipe Williams. Frentzen venceu 2 corridas e ainda marcou pole-position, mostrando todo o talento que o consagrou na categoria Esporte-Protótipos da Mercedes. O carro da Jordan evoluiu progressivamente durante todo o ano, apoiado pelo motor Honda, cada vez lembrando mais o propulsor imbatível do início desta década. Pena que Damon Hill, em seu último ano na categoria, tenha feito uma temporada tão apática e abaixo da expectativa. Hill merecia uma despedida melhor, e seus torcedores também.

            A Stewart, em sua terceira temporada na F-1, chegou finalmente à vitória, no GP da Europa, em Nurburgring, que foi o GP mais maluco dos últimos tempos, graças à imprevisibilidade da chuva, que fez da prova a corrida mais emocionante da temporada, ocasionado pela incerteza dos acontecimentos que se sucediam a todo instante. Rubens Barrichello mostrou novamente o seu talento, deslumbrando muitos que já o consideravam acabado para a categoria. O ponto alto foi a pole-position em Magny-Cours, debaixo da forte chuva que caía na pista francesa, coroada por uma atuação de gala na corrida, desafiando os “imbatíveis” Michael Schumacher e Mika Hakkinen de igual para igual. Não fossem os problemas de fiabilidade na primeira metade da temporada, a Stewart poderia ter chegado bem mais longe no campeonato. Mesmo assim, o time de Jackie Stewart ainda superou a Williams, um time de grande tradição na categoria.

            Mas enquanto a Benetton despencou um pouco mais na F-1, o time de Frank Williams teve uma temporada até melhor do que se esperava, recuperando parte de sua competitividade, e brilhando em algumas corridas, andando perto do pódio e até sonhando, vez por outra, novamente com a vitória, que passou até perto do time. Ralf Schumacher mostrou grande evolução, mostrando ser mesmo um irmão do grande piloto Michael Schumacher. Ralf andou bem durante todo o ano, mostrando mais maturidade e deixando para trás a imagem de piloto afobado e trapalhão dos anos anteriores. A Williams só não foi mais longe no campeonato porque Alessandro Zanardi, a grande estrela do time e bicampeão da F-CART, foi uma negação durante mais de meia temporada, tentando se readaptar à F-1. Por outro lado, nem tudo foi culpa do piloto italiano, cujo carro quebrou praticamente durante todo o ano, impedindo Zanardi de lutar por melhores resultados. Com isso, Alessandro praticamente conseguiu um recorde negativo: não conquistou um único ponto durante todo o ano, e as chances de Zanardi ficar em 2000 são incertas. Curioso como só o carro do italiano quebrava tanto assim; Ralf não teve estes problemas de fiabilidade...

            Outros times tiveram desempenhos variados. A Prost evoluiu um pouco, mas ainda não conseguiu lembrar a excelente temporada de 1997, quando chegou a batalhar pelos pódios e freqüentava a zona de pontuação com regularidade. A Sauber, por sua vez, teve um ano bem pior do que o de 98, enfrentando diversos problemas técnicos. Já a Minardi e a Arrows saíram meio que no lucro, pois conseguiram pelo menos 1 ponto cada uma, o que pelos recursos disponíveis em cada time, pode ser considerado uma vitória. Como de costume, a Minardi lutou para sair do fundo do pelotão, mas não conseguiu. Já a Arrows foi o time de pior performance da temporada, pois correndo com um carro de 98 adaptado e equipado com o motor mais fraco do grid, ir mais longe seria mesmo pedir demais.

            Mas decepção mesmo foi a equipe BAR. O time chegou com toda pompa à F-1, assumindo a vaga que era da Tyrrel até 1998. A Reynard entrava na F-1 e a estrutura e orçamento eram de fazer inveja a muita gente. Mas, como dinheiro apenas não é sinônimo de sucesso, o resultado final da temporada, com a BAR ficando em último lugar na tabela de construtores, deve ser uma dura lição para todos na escuderia, especialmente Craig Pollock, que andou arrumando muita confusão no início do ano. É de se esperar que a equipe tenha um ano melhor em 2000, aproveitando melhor os vastos recursos de que dispõem, e sem fazer tanto alarde.

            Tivemos várias corridas emocionantes este ano, com destaque para os GPs da França e da Europa, não por coincidência as provas com chuva desta temporada. O dilúvio que desabou sobre as pistas francesa e alemã promoveu um festival de acontecimentos inusitados, com pilotos consagrados fazendo corridas pífias, enquanto o “pelotão secundário” dava show debaixo do temporal. Isso sem falar nos tradicionais bate-bocas de bastidores, desta vez alimentados em boa parte pelas declarações desbocadas de Eddie Irvinne, que fez a alegria da imprensa e a fúria de muitos outros, como seu agora ex-companheiro de equipe Michael Schumacher. Tivemos também um ponto negativo, que foi o papelão dos defletores da Ferrari em Kuala Lumpur, que resultou em uma bela disputa nos tribunais que felizmente se resolveu sem maiores complicações. Houve também alguns acidentes muito feios este ano, como os vistos com os pilotos da BAR na Bélgica, que felizmente não sofreram nada, além da capotagem de Pedro Paulo Diniz em Nurburgring, também sem maiores conseqüências para o piloto.

            Foi um bom ano, apesar de tudo, e espero que em 2000 tudo seja melhor ainda, pois o show da velocidade não pode parar..


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