sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

CONVERSAS PARA BOI DORMIR

Lewis Hamilton fica ou desiste da F-1? Tem surgido todo tipo de comentário sobre o heptacampeão, e muitos deles depreciativos a respeito do piloto e tudo o mais.

            Já estamos na segunda metade do mês de janeiro, e na falta de notícias mais interessantes, a Fórmula 1 parece levantar poeira para não cair no esquecimento do público em geral, mais daquela turma que só lembra da categoria quando tem corrida, ou pelo menos sabe que os carros têm quatro rodas e um piloto na direção. De vez em quando aparecem assuntos até legais, mas na maioria das vezes, as notícias não dizem muita coisa, e por vezes, o pessoal transforma pequenos casos em terremotos como se a ordem mundial tivesse virado de cabeça para baixo. Em alguns casos, vale tudo para chamar atenção, até mesmo o que nem atenção deveria merecer. Por vezes, é um sinal de impaciência, pois em poucas semanas começam os testes da pré-temporada, e aí sim vamos ver um pouco de ação, e ter algo para escrever, e comentar que possa de fato valer a pena.

            Um dos assuntos que teima em não sair do boca-a-boca no momento é sobre a situação de Lewis Hamilton. O heptacampeão, tirando duas aparições no pós-temporada, resolveu se isolar, e nem mesmo participa mais das redes sociais há mais de um mês, um território no qual ele sempre se mostrou ativo. Com isso, já dão até que ele vai abandonar a F-1, desgostoso com a derrota sofrida na volta final do GP de Abu Dhabi que infelizmente entrou para os anais da história do automobilismo pelo lado negativo como tudo foi conduzido, do que pelo mérito de Max Verstappen ter sido campeão. Ora, Hamilton tem todo o direito de se recolher, e repensar um pouco sua vida. Pessoalmente, não quero acreditar que esteja pensando em abandonar a F-1, onde ainda tem alguns anos para competir, ainda mais pelo desafio que esta temporada imporá com os novos carros com efeito-solo. E, mais do que tudo, até para mostrar a seus detratores, e eles não são poucos, de que derrotas sempre podem acontecer, mas não é o fim do mundo. Lewis voltando, tem o objetivo mais do que óbvio de lutar pelo octacampeonato, e dar a volta por cima. Chamá-lo de mau perdedor e outros adjetivos desabonadores por causa da derrota em Yas Marina é mote de imbecis que não tem mais o que fazer, como se ele devesse aceitar tudo conforme ocorreu. Se ele quer um pouco de sossego, ele tem todo o direito...

            Ou alguém lembra de como Ayrton Senna se comportou após o fim da temporada de 1989, depois da sua desclassificação no Grande Prêmio do Japão daquele ano, depois de ter sido fechado por Alain Prost? O piloto brasileiro era o maior adepto do ditado “o segundo colocado é o primeiro dos derrotados”, e também ficou uma zanga que não teve tamanho. Saiu disparando contra tudo e contra todos, o que fez a FIA, leia-se Jean-Marie Balestre, exigir um pedido de desculpas público do piloto, sob a ameaça de cassar sua superlicença, e bani-lo da F-1. Senna teve de ceder, a contragosto, e alguns anos depois, já tricampeão, soltou o verbo sobre a situação naquela época. O que na época era chamado pelos fãs de piloto com personalidade, e que não leva desaforo para casa, como seria encarado hoje? Os fãs dos rivais o chamariam de mimado, prepotente, e mau perdedor, curiosamente, os mesmos adjetivos que dirigem para denegrir Hamilton. Mas, para muitos, o raciocínio não vale, pois Ayrton é tratado quase como santidade do mundo do automobilismo... E é preciso lembrar que, por mais detestável que tenha sido o ocorrido naquele GP para o torcedor do piloto brasileiro, Senna não teria ganho o campeonato mesmo que não tivesse sido desclassificado. O brasileiro precisava vencer também a corrida da Austrália, e lá, debaixo de uma chuva torrencial, Ayrton, o “mestre da chuva”, acabou abandonando a prova, após abalroar a traseira de um retardatário, de modo que Alain Prost teria ficado com o título, mesmo com Senna tendo uma vitória a mais na competição daquele ano...

            Hamilton permanecer seria a melhor forma de responder a seus críticos, até porque, mesmo sem ter mais nada a provar para ninguém, retirar-se da competição depois do ocorrido na última etapa da temporada passada viraria uma tremenda justificativa para seus críticos malharem o inglês ainda mais do que nunca, tachando-o de “derrotado”, “mau perdedor”, prova de que é um embuste, entre outras ofensas das mais variadas, como se o inglês tivesse sempre vencido todos os campeonatos que disputou. Ele pode muito bem repetir o que fez após perder o duelo para Nico Rosberg em 2016, e voltar ainda mais decidido e focado para esta temporada. Seria um tira-teima com o novo campeão Max Verstappen, numa revanche que todos os fãs querem assistir, tal qual uma luta de box onde o derrotado sempre vai em busca de um novo duelo para mostrar do que é capaz.

Treinos de sexta-feira voltam a ter 90 minutos cada um, na mais extensa temporada da história da F-1.

            Aguardemos para ver o que acontecerá. Pelo lado da FIA, a entidade tenta sair do rolo armado pelas decisões de Michael Masi que, se não foram irregulares, certamente colocaram uma mancha no mais emocionante campeonato dos últimos tempos. Mais não deverá continuar no cargo, tanto que seu nome “sumiu” do organograma da entidade sediada na Place de La Concorde, em Paris. Mas Masi é apenas a ponta do iceberg de um problema muito maior que já vem de vários anos, que é o regulamento cheio de firulas que a F-1 tem de seguir, e que muitos pedem por normas mais objetivas e simplificadas, sob o argumento de que o público quer ver ação, e não burocracia, nos duelos da categoria máxima do automobilismo. Com um novo chefe, após mais de uma década da gestão de Jean Todt, vamos ver o que Mohammed Ben Sulayem fará na condução do órgão máximo do automobilismo mundial em sua gestão. Ele é o primeiro não-europeu a ocupar o cargo, e ninguém ainda sabe como ele irá comandar a FIA. Pode nos brindar com uma excelente gestão, ou apenas ser mais do mesmo. É preciso dar uma chance, mas ao mesmo tempo ficar atento ao que será feito. As investigações sobre o ocorrido no fim da etapa de Abu Dhabi prosseguem, e vamos ver o que será dito no veredicto final sobre o assunto. Alguns falam que uma “solução de consenso” poderia ser declarar tanto Max Verstappen como Lewis Hamilton campeões do mundo de 2021, mas não acho correto. Só pode, e deve, haver um campeão, e apesar das mazelas ocorridas, Verstappen não tem culpa do que foi feito fora da pista, e merece o título, não as polêmicas que se criaram a respeito, como se ele tivesse feito as lambanças do regulamento esportivo. Que desfrute do seu título como bem merece, e que se prepare para defender sua conquista este ano, quando certamente irá em busca do bicampeonato, se a Red Bull tiver um carro novamente capaz de fazê-lo campeão, como foi em 2021. E fim de papo!

            Enquanto isso, a FIA acerta uma no cravo, e outra na ferradura, mostrando que nossas esperanças de que a entidade tome jeito e seja mais clara e objetiva possa ser mais um esforço em vão. Os treinos livres de sexta-feira em 2022 voltam a ser de 90 minutos de duração, ao contrário do que foi feito no ano passado, quando os treinos tinham sido reduzidos para 60 minutos. Em um ano onde entra em cena um novo regulamento técnico, que muda de forma profunda a maneira de concepção dos bólidos, é uma medida mais do que bem-vinda, oferecendo às escuderias tempo útil muito valioso para que possam se inteirar melhor com seus carros para a corrida do fim de semana, já que a pré-temporada continua ínfima, ao menos tendo duas sessões de testes este ano, ao contrário dos ridículos três dias que vimos em 2021, até porque continuam com a regra esdrúxula de contarem com apenas um carro na pista por vez. Saudade dos tempos onde os pilotos podiam ir todos para a pista e rodavam o quanto era necessário para se chegar a bom termo com o desenvolvimento dos carros...

            Também cai a última “tradição” do Grande Prêmio de Mônaco, que eram os treinos livres às quintas-feiras. Agora, os mesmos serão feitos na sexta, como já ocorre em todos os outros GPs. O motivo é padronizar as ações, e claro, cortar gastos, com um dia a menos de permanência em Monte Carlo, local que já é caro, mas que por ocasião da prova de F-1, fica com os preços ainda mais nas alturas. Aliás, outra medida, esta, ridícula, baixada pela FIA, é acabar com as “atividades” de imprensa nas quintas-feiras do GPs, a título de “economizar” e diminuir o trabalho dos integrantes das equipes. A partir desse ano, o trabalho da imprensa para com times e pilotos, só a partir de sexta-feira, o que vai tornar o trabalho do pessoal mais corrido do que já é. A quinta-feira, quando equipes e pilotos ainda se preparam para a corrida, era um dia mais relaxado, onde o grosso do trabalho dos pilotos era mesmo atender a imprensa e participar de eventos de patrocinadores. Mas e os mecânicos e demais funcionários dos times? Para estes, nada muda, afinal, tudo tem que estar montado e pronto na sexta-feira de manhã, para as atividades do dia, e nem por sonho eles vão descansar justo na quinta-feira, esquecendo-se de que eles sempre são os primeiros a chegar, junto com o equipamento, e tem de colocar a mão na massa logo em seguida para montar os boxes, e toda a parafernália que viaja mundo afora para se disputar as corridas. É um esforço hercúleo mexer com tudo isso, e ainda mais com o teto de gastos, os times já tinham uma restrição de pessoal que viaja para as corridas, o que torna o peso do trabalho muito maior. Não é fácil dar conta do recado, e quem acha que essa turma está reclamando de barriga cheia e que se não dá conta, que procure outro emprego, não faz idéia do ritmo puxado que lhes é imposto. Só quer mesmo é ver os carros na pista, e com mais corridas, melhor ainda, esquecendo-se do trabalho que ocorre por trás das disputas, para se preparar os carros dos pilotos para promover esse show da velocidade. Mas para a turma que tem de carregar todo o serviço pesado, é uma decisão que não muda nada. E lembrando que este ano teremos 23 corridas, a maior carga de provas da história da categoria, se tudo correr conforme o esperado. Isso não é pouca coisa, especialmente porque parte do calendário não é prático em termos logísticos, aumentando sobremaneira os trabalhos de deslocamento de todos.

Atividades oficiais de imprensa das quintas-feiras foram eliminadas por questão de "custo": conversa com motivo mais do que ridículo para quem quiser acreditar...

            Enquanto isso, falando seriamente, todo mundo fica na expectativa de como será o duelo e a divisão de forças na F-1 para esta temporada, uma curiosidade mais do que natural. A mexida nas regras, a maior desde a temporada de 2009, pode promover uma bela reorganizada na relação de forças, ajudando a trazer para a briga outros times. Há quem aposte que Ferrari, McLaren, e até Alpine, cheguem na frente para engrossar o coro das disputas junto a Mercedes e Red Bull. Pode acontecer, mas também pode não mudar tanto. Só saberemos mesmo no primeiro treino livre no Bahrein, na segunda metade de março, a menos que alguém queira expor suas armas de fato já nos treinos da pré-temporada, algo muito difícil de acontecer, onde todo mundo esconde o quanto pode seus trunfos, para não entregar o ouro ao bandido. Surgem alguns indícios aqui e ali, mas quais são de fato reais, e mesmo que o sejam, quanto de verdade podemos ter? Da perspectiva inicial de os carros deste ano serem mais lentos do que os do ano passado, já passamos para a expectativa deles serem até mais rápidos. E quão mais rápidos poderão ser, se é que serão mesmo? Com o teto de gastos, porém, todos os times terão de dosar os trabalhos de evolução de seus carros, para não ultrapassar os limites orçamentários, o que deve fazer com que os monopostos evoluam em ritmo mais devagar do que até o ano retrasado, quando os gastos eram livres. Pelo lado da Red Bull, Helmut Marko apregoa que o novo carro já é superior em tudo ao do ano passado, mas tem havido rumores de que as unidades de potência produzidas pela Honda, agora sendo desenvolvidas pela própria Red Bull, com a saída oficial dos japoneses da F-1, perderam potência com a adoção do novo combustível com mais etanol em sua composição a partir deste ano, com vistas a tornar a categoria máxima do automobilismo mais “ecológica”. E enquanto isso, Mercedes e Ferrari, segundo informações, já teriam não apenas recuperado as perdas como até deixado suas unidades de potência mais fortes. Quem estará contando mais vantagem?

            Oficialmente, todo mundo tem expectativas otimistas sobre seus novos projetos, e isso já é prática mais do que antiga. Ficamos na comprovação de quem realmente evoluiu, e quem deixou a desejar. Estamos a praticamente dois meses do início da temporada 2022, e é justamente pela expectativa de termos novos e mais amplos duelos com o novo pacote técnico que todo mundo não vê a hora dos carros entrarem na pista e descobrirem o que poderemos ter neste ano. Claro, meu desejo é ver mais gente duelando pelas vitórias, e pelo título. Pena que o histórico recente da F-1 tenha desfeito muitas expectativas mais otimistas, já que quase sempre só tivemos um ou dois times batalhando a fundo pelo campeonato, com raros momentos de maior equilíbrio entre as escuderias. E, mais uma vez, torcemos para que desta vez a coisa engrene como se espera.

            Mas, enquanto os carros não entram na pista, acompanhemos as notícias que surgem, e que pelo menos apareçam assuntos que sejam de fato importantes, e não fofocas de quinta categoria. O mundo inteiro anda empesteado por este tipo de conversa, e já encheu, sobre os mais variados assuntos. Conversas para boi dormir, quero distância...

 

 

Faltando dois meses para o início da temporada 2022 da F-1, e com um calendário composto por 23 corridas para este ano, a grande dúvida que todos têm é se a competição conseguirá cumprir com o que foi planejado. E o motivo é a explosão de casos provocados pela variante ômicron da Covid-19, que tem feito países retrocederem em muitas medidas de abertura, tentando conter a circulação do vírus, enquanto procuram reforçar a aplicação das vacinas. A Austrália, que está há dois anos sem seu GP, pode ser um problema no início da temporada, após a etapa do Bahrein, se a situação da pandemia no país não ficar mais controlada até a data da corrida. E os australianos, depois do caso do tenista número 1 do mundo que tentou disputar o torneio do Aberto da Austrália sem tomar a vacina contra a Covid, mostram que não vão dar mole para ninguém, o que não estão errados. Felizmente, o pessoal da F-1 está vacinado, e os protocolos sanitários adotados pela categoria são extremamente rígidos, ainda que vez ou outra apareça alguém infectado. Mas se o número de casos extrapolar, podemos ver não apenas Melbourne ficar sem seu GP pelo terceiro ano seguido, como outras corridas, a depender da situação da pandemia, também acabarem canceladas, já que diante de um calendário tão inchado, a opção de adiar ou remarcar a data de uma corrida é praticamente impossível. E mesmo com a vacinação, a situação de determinados países é mais complicada do que outros, como vimos no ano passado. Talvez a situação esteja melhor este ano, mas enquanto o momento da nova variante do coronavírus não der sinais de volta à “normalidade”, pode ser prematuro fazer prognósticos mais otimistas. Esperemos que este momento difícil passe o quanto antes...

 

 

Estamos a praticamente um mês do início dos testes da pré-temporada, com a primeira sessão coletiva de testes marcada para os dias 24 a 26 de fevereiro, no já mais que conhecido circuito de Barcelona, na Espanha. E depois, nos dias 10 a 12 de março, a segunda e última sessão, já no circuito de Sakhir, no Bahrein. Por causa da pandemia, os dias de treinos na pista da Catalunha não terão público nas arquibancadas. Já no Bahrein, contudo, os fãs poderão estar presentes no circuito para acompanhar os dias da segunda sessão de testes da pré-temporada.

 

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