quarta-feira, 22 de setembro de 2021

ARQUIVO PISTA & BOX – JULHO DE 1999 – 16.07.1999

            Mais uma vez, trago um de meus antigos textos aqui no blog, e esta coluna foi publicada no dia 16 de julho de 1999, tendo como assunto principal a reviravolta sofrida pela Ferrari com o acidente sofrido por seu principal piloto, Michael Schumacher, durante o Grande Prêmio da Inglaterra daquele ano, no que foi o pior acidente sofrido pelo então bicampeão até o momento em sua carreira no automobilismo, uma vez que, em consequência do acidente, ele fraturou a perna, e com várias corridas ficando de fora, dava adeus às suas chances de disputar o título da F-1 naquela temporada. Restou à Ferrari apoiar Eddie Irvinne como seu principal piloto na luta pelo título, mas além do piloto irlandês não ter conseguido se impor quando deveria, a própria escuderia, “presa” ao seu esquema “dois carros, um piloto”, onde só tinha olhos para Michael Schumacher, e Irvinne era tratado como sobra, também fracassou porque não soube reagir como deveria à necessidade de tornar o irlandês o centro de suas atenções, o que fez com que o time desperdiçasse oportunidades que poderiam ter ajudado o time a ser campeão, o que quase aconteceu, já que a favorita McLaren, com Mika Hakkinen, desandou em algumas corridas, ao invés de rumar com ainda mais facilidade rumo ao título da competição.

            Schumacher voltou somente no final do ano, e a contragosto, bancou o “escudeiro” de Irvinne por apenas uma corrida, e escapou de ver o seu segundo piloto conquistar o título da F-1. E, logicamente, por querer ter mais espaço no time, e não ser tratado como reles segundo piloto, Eddie Irvinne perdeu seu lugar no time italiano, passando a ser considerado um estorvo pela escuderia, que só tinha olhos para Schumacher, e repetiria a dose nos anos que viriam com relação a Rubens Barrichello, novo companheiro do piloto alemão, que iniciaria, de 2000 a 2004, o maior período de glórias da Ferrari até os dias atuais. De resto, alguns tópicos rápidos com alguns dos acontecimentos da semana no mundo da velocidade. Uma boa leitura a todos, e em breve, continuo a trazer mais colunas antigas por aqui...

A CHANCE DE IRVINNE

 

            Michael Schumacher está fora de combate na luta pelo título da Fórmula 1 este ano. O acidente de domingo passado, em Silverstone, acabou com as chances do alemão tentar ser campeão nesta temporada. O bicampeão só deve voltar a competir nas últimas etapas do campeonato, e até lá, a possibilidade de Mika Hakkinen já ser campeão são grandes.

            A Ferrari é o segundo time a pagar pelo erro de concentrar os seus esforços em apenas um piloto em tempos recentes. O primeiro time a cometer erro tão crasso foi a Benetton, coincidentemente, também com Michael Schumacher. O bicampeão alemão tem uma infinidade de privilégios na escuderia, até com cláusulas contratuais impostas a Eddie Irvinne que, na prática, proíbem o irlandês de ultrapassar Michael na pista. Restava a Irvinne apenas colher as sobras do sucesso do alemão. No caso da Benetton, o erro maior foi, além de concentrar todos os esforços em Schumacher, ainda conceber um carro especificamente para o estilo de pilotagem do alemão, o que resultava no fato de que com os demais pilotos do time o carro nunca rendia o mesmo. Tanto Jirky Jarvi Letho como Jos Verstappen, Johnny Herbert, e Riccardo Patrese, que pilotaram carros do time multicolorido concebidos sob medida para Schumacher nunca se aproximaram da performance do alemão, pois não tinham como conduzir o carro nos limites. O resultado é que depois que Michael foi para a Ferrari, a Benetton ficou perdida no desenvolvimento de seus carros, e até hoje ainda não conseguiu se recuperar.

            A Ferrari não cometeu o mesmo erro da Benetton neste aspecto, mas ainda assim seguiu o mesmo esquema de concentrar esforços e ficar dependente do piloto alemão. Irvinne sempre foi tratado como segundo piloto a extremos. No início, o irlandês nem participava direito dos testes de desenvolvimento do carro, tamanho era o monopólio de atenções para Schumacher. Nos últimos tempos, a Ferrari veio dando uma atenção um pouco maior a Irvinne, especialmente pelo fato de a McLaren contar com dois pilotos igualmente fortes. Mesmo que Hakkinen tenha se sobressaído sobre Coulthard desde o ano passado, o tratamento dado ao escocês era e continua sendo igual ao do finlandês, enquanto na Ferrari só Schumacher podia se bater com os pilotos da McLaren e discutir as vitórias.

            Neste ano, Irvinne já estava demonstrando cansaço com esta posição de segundo piloto, e sua atitude “rebelde” começou a irritar Schumacher, afinal, o alemão é o “dono” exclusivo das atenções do time de Maranello. É claro que a excelente temporada de Eddie também ajudou a causar este descontentamento por parte do alemão, que apesar de não transparecer, deve ganhar maiores contornos porque Michael se acidentou após uma tentativa de ultrapassagem justamente sobre seu companheiro de equipe, que tinha largado melhor e estava à sua frente naquele momento da prova inglesa.

            Mas agora o panorama, pelo menos até o final da temporada, mudou radicalmente. Eddie Irvinne passou a ser a única esperança da Ferrari na luta pelo título, e como o campeonato deste ano está mais equilibrado do que muita gente esperava, o time italiano não tem outra alternativa, e o piloto irlandês tem a chance de sua vida para provar que merecia tratamento melhor do time de Maranello. Irvinne está empatado com Michael Schumacher na classificação do campeonato, com apenas 8 pontos de desvantagem para Mika Hakkinen, que lidera o certame. Como de praxe, a Ferrari assumiu publicamente seu total apoio ao piloto irlandês, mas até o momento, isso é coisa pra inglês ver.

            A chance caiu no colo de Irvinne, e resta saber se ele vai saber aproveitar a chance. A pressão sobre Eddie vai ser forte, e as cobranças do time, especialmente depois de tanta chiadeira do piloto, que chegou a acusar até alguns outros pilotos de incompetentes numa tentativa de se valorizar no mercado diante da possível dispensa do time italiano ao fim da temporada. Se Irvinne não corresponder, sua reputação pode ficar bem arranhada, com a pecha de falar de mais e guiar de menos. O irlandês que se prepare e vá à luta, pois possivelmente não terá outra chance igual na vida.

            A McLaren, por sua vez, vai atacar Irvinne em duas frentes: enquanto Hakkinen tem a missão de disparar na frente, Coulthard tem a obrigação de reagir no campeonato, de forma a pressionar Irvinne. O piloto escocês tem tido alguns azares este ano, como as diversas quebras de seu carro, mas a vitória em Silverstone pode ter posto fim à maré de azar que vem acometendo David. A diferença para Irvinne é de 10 pontos, então... Depois de perder a parada para a Ferrari nas primeiras provas européias, a McLaren parece ter reencontrado o rumo desde o GP da França, e a escuderia inglesa pode aumentar a vantagem agora que Michael Schumacher está fora da parada. É outra tarefa que Eddie Irvinne tem obrigação de impedir que aconteça.

            Ficam dúvidas e ponderações lógicas dos fatos: Michael Schumacher, que sempre foi monopolizador das atenções, irá aceitar a tarefa de ser “segundo” piloto de Irvinne quando retornar, se o irlandês estiver na luta pelo título? A Ferrari vai conseguir o título com o piloto irlandês? Irvinne dará conta do recado? E será que o time dará a Eddie realmente o mesmo apoio que dava a Schumacher ao irlandês neste momento de necessidade? Seja como for, o episódio deve servir de lição para o time italiano, que já anda pensando em mudar sua atitude para o ano que vem e adotar possivelmente uma postura de equipe mais igualitária entre seus pilotos. É a solução mais lógica para o time, pois o monstruoso salário de Michael Schumacher na escuderia, estimado em cerca de US$ 35 a 40 milhões por ano, ante os aproximadamente US$ 6 milhões que ganha Irvinne, deveria ser o suficiente para o alemão parar de querer manter todas as atenções do time, e preocupar-se apenas em pilotar o carro. Seu talento não é incontestável? Isso deveria bastar, pois ele é considerado o melhor da F-1 atual.

 

 

Christian Fittipaldi finalmente desencantou na F-CART: o sobrinho de Émerson Fittipaldi venceu o GP de Road America, no belo circuito de Elkhart Lake. Juan Pablo Montoya dominava a prova, mas teve problemas de câmbio nas voltas finais e abandonou a corrida. Christian assumiu a ponta e não a largou mais. Por pouco o Brasil não fez maioria no pódio, pois Gil de Ferran que também vinha fazendo uma excelente corrida, abandonou com o motor quebrado. Foi a primeira vitória de Christian em uma corrida desde o GP de Nogaro, na França de F-3000, em 1991, quando o piloto brasileiro derrotou na pista e no campeonato ninguém menos do que o italiano Alessandro Zanardi.

 

 

Hoje começam os treinos de mais uma etapa da F-CART: é o GP de Toronto, que será disputado no circuito urbano montado no Toronto Exhibition Place, no centro da metrópole canadense. E os brasileiros, especialmente Christian Fittipaldi e Gil de Ferran, estão confiantes em poder lutar pela vitória na prova. “Corrida de rua é especialidade da casa”, declara Christian, otimista. A prova vai ser transmitida, mais uma vez, pelo ridículo sistema de VT pela TVS/SBT, às 23 horas de domingo. Depois de 2 vitórias brasileiras no atual campeonato, o tratamento da emissora, que já era desrespeitoso aos telespectadores fãs da categoria, assume proporções ainda maiores de insulto e falta de apreço pelos fãs de automobilismo...

 

 

Mika Salo foi o escolhido para substituir Michael Schumacher durante as corridas de convalescência do piloto alemão. Salo foi o grande rival de Mika Hakkinen na F-3 Inglesa em 1990. Hakkinem venceu a parada, e na chegada à F-1, Salo não foi tão afortunado quanto o compatriota, mas agora ganha a chance de pilotar um carro de ponta, e assim como Irvinne, tem a chance de mostrar que pode ser um piloto vencedor e campeão como Schumacher, Salo tem a oportunidade de mostrar que merece um carro decente na F-1, ao contrário dos carros que teve nas mãos até agora, como o da Arrows, Tyrrel, e o carro problemático da BAR. Uma chance de ouro que o finlandês tem de saber aproveitar.

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