quarta-feira, 8 de setembro de 2021

ARQUIVO PISTA & BOX – JULHO DE 1999 – 02.07.1999

            E aqui vamos nós trazendo mais um antigo texto, desta vez a coluna publicada no dia 2 de julho de 1999, cujo assunto principal era o interesse dos principais times da Fórmula 1 sobre Rubens Barrichello, que vinha sendo uma das sensações do campeonato daquele ano, mais pelas performances do que pelos pontos acumulados até então. Contando com o melhor carro produzido pelo time de Jackie Stewart, então em sua terceira temporada na categoria, o piloto brasileiro havia recuperado o seu prestígio na categoria, apresentando excelentes performances na pista, ainda que os resultados ficassem um pouco a dever, pela confiabilidade do modelo SF-03 não ser das melhores. Mas a opinião era unânime: depois da dupla de duelistas ao título, Mika Hakkinen e Michael Schumacher, Barrichello era considerado o melhor piloto do grid, e com isso, os dois principais times, McLaren e Ferrari, estavam de olho nele.

            No texto, discorro sobre como o time inglês seria uma melhor opção, pela maior liberdade de ação que Rubens teria nas corridas, enquanto na Ferrari tudo era feito em prol de Schumacher, e nada mais. Como todos sabem, a Ferrari venceu a parada, e aconteceu o que se previa: Barrichello teve de se sujeitar a ser segundo piloto no time italiano, e isso o impediu de brilhar como poderia no time rosso, que de 2000 a 2004 seria a forma dominante na F-1, com cinco títulos consecutivos conquistados por Schumacher, e poucas vitórias obtidas pelo brasileiro, que infelizmente teve mais percalços do que apenas a política de pilotos do time italiano. E ganhou algumas manchas na reputação, entre a maioria dos fãs brasileiros, das quais nunca se livraria, infelizmente, e com culpa própria por isso.

            De quebra, vários tópicos rápidos com comentários sobre alguns dos acontecimentos recentes no mundo do automobilismo. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...

 

MCLAREN, STEWART, OU FERRARI?

 

            Rubens Barrichello é o nome do momento na Fórmula 1. Se já estava em evidência pelos desempenhos demonstrados desde o início da temporada, depois do show dado em Magny-Cours, o brasileiro agora é uma unanimidade: Rubinho, junto com Michael Schumacher e Mika Hakkinem, são os melhores pilotos da categoria no momento. Os duelos de Barrichello com ambos os campeões na pista francesa foram o melhor show da temporada até agora, em uma corrida que, graças à chuva, ofereceu o melhor espetáculo dos últimos anos,

            Pole-position do GP da França, e líder da corrida por 44 voltas, Barrichello agora tem o privilégio de ser disputado pelos principais times de ponta da F-1, McLaren e Ferrari. Mas não é tão fácil assim a situação do brasileiro, como alguns jornais andaram especulando durante esta semana, dando já como certa a contratação de Rubens por um time de ponta.

            No leque de probabilidades, a McLaren é a melhor opção a seguir no caso de uma oferta. David Coulthard anda em baixa na escuderia prateada, e não vem tendo sorte nesta temporada, estando muito atrás de Hakkinen na classificação e sem vencer uma única corrida. É quase certo que o escocês terá de arrumar outro time para 2000, o que deixa um lugar livre no melhor time da categoria. Uma vaga ambicionada por quase todos os pilotos. Mas apesar do interesse velado da McLaren, isso não garante que Barrichello será contratado pelo time de Woking. E o time inglês ainda tem Ricardo Zonta como piloto na retaguarda, e pode chamá-lo para ser piloto titular no ano que vem.

            A Ferrari é a pior hipótese para Rubinho. Basta ver o que anda acontecendo dentro da escuderia italiana nesta temporada. Se é o time mais carismático da F-1, e um forte concorrente ao título e às vitórias de qualquer GP, por outro lado é a escuderia que tem Michael Schumacher, e tudo no time atualmente é feito para privilegiar o bicampeão alemão, prioridade absoluta da equipe. Senão, vejamos as últimas corridas: Eddie Irvinne, oficialmente o segundo piloto do time, nas últimas provas tem andado muito “rebelde”, o que significa que está fazendo sua melhor temporada na F-1 e na própria Ferrari, tendo até vencido uma corrida, na estréia do campeonato. O ultimamente, o irlandês trouxe a público o que todo mundo já sabia: Michael Schumacher tem todas as preferências do time italiano, e cabe a ele, Irvinne, unicamente colaborar para que o alemão vença as corridas, e nada mais. Jackie Stewart comentou isso no paddock de Magny-Cours, e concordo totalmente com ele quando disse que ir para a Ferrari seria um tremendo mal negócio. E, confirmando estes temores, Gianni Agnelli, o todo-poderoso manda-chuva do Grupo Fiat, que por sua vez é proprietária da Ferrari, já disse que o segundo piloto tem como obrigação ser totalmente subordinado a Schumacher. Em outras palavras: tudo para o alemão, e mais alguma coisa; ao segundo piloto, apenas as sobras, e isso sem nenhuma garantia de haver sobras.

            Na McLaren, por outro lado, o jogo de equipe não é tão radical assim. Ele até existe, mas os pilotos estão livres para competirem entre si. Só a partir da segunda metade da temporada, e ainda assim dependendo das circunstâncias, é que são tomadas decisões a respeito de favorecer um ou outro piloto. Tanto Hakkinen como Coulthard tem liberdade para duelarem na pista até certa altura da competição. Esta liberdade é o que diferencia a McLaren da Ferrari. No time inglês ambos os pilotos podem aspirar ao título, e que vença o melhor; já no time italiano, desde a pré-temporada, é Schumacher quem tem todos os direitos, restando a Irvinne apenas colher os restos.

            Ferrari ou McLaren? Pelas condições e situações, a McLaren é a melhor opção. A Ferrari não seria uma boa escolha para Barrichello, que depois de tanta luta para se reafirmar na F-1, teria de se rebaixar para ser “segundo” piloto de Schumacher, o único que teria direito de ter sucesso no time italiano. E o próprio bicampeão confirma isso indiretamente: ano passado, quando Irvinne fazia tudo o que era pedido pela equipe, Schumacher dizia que Eddie era o melhor companheiro de equipe que já teve. Este ano, com a “rebeldia” de Irvinne, a opinião de Michael já andou mudando, e agora ele diz que Jean Alesi contaria muito mais para o time...

            Mas há outra boa proposta para Rubens: continuar na Stewart. A equipe, agora sob a batuta total da Ford, tem tudo para ser a nova potência da F-1 no próximo ano. A fábrica norte-americana está investindo alto para se reafirmar como a maior potência da categoria, como foi nos velhos tempos quando dominava com o motor Cosworth, e Rubinho é o pilar central de apoio ao programa da Ford na F-1: um piloto jovem e ao mesmo tempo experiente, arrojado e talentoso. São poucos os pilotos que preenchem estes requisitos. E a Ford pretende manter o piloto brasileiro em seu time, o que pode significar uma proposta de grande monta para Barrichello permanecer na Stewart-Ford no próximo ano.

            Qualquer que seja o rumo que Barrichello tomar, espero que seja a melhor decisão para ele. Se tomar a decisão correta, poderemos muito em breve encerrar o jejum de vitórias brasileiras na F-1, se bem que isso não está tão longe de acontecer já nesta temporada...

 

 

Heinz-Harald Frentzen não foi exatamente uma sensação durante o GP da França, mas graças à ousadia estratégica da equipe Jordan, faturou sua segunda vitória na F-1, depois do show de Rubens Barrichello, Michael Schumacher e Mika Hakkinen, quando os três duelaram pela liderança da corrida. Frentzen vem fazendo sua melhor temporada na F-1, tecnicamente. Depois de dois anos meio apagados na Williams, Heinz “renasceu” na categoria, e aos poucos a Jordan vai se firmando como nova força na F-1.

 

 

Alguma coisa anda esquisita na Williams: Ralf Schumacher consegue terminar as corridas e até marcar pontos com alguma regularidade, mas Alessandro Zanardi, bicampeão da F-CART, não conseguiu nenhum ponto até agora no campeonato, sem falar que seu carro tem enfrentado diversos problemas mecânicos. Isso sem contar que até agora o italiano não conseguiu reencontrar-se na F-1, nem lembrando o piloto arrojado que liquidou a concorrência na F-CART. Algo para se pensar...

 

 

E, falando na F-CART, Juan Pablo Montoya, com o carro que era de Alessandro Zanardi, venceu a corrida de Cleveland e reafirmou sua liderança no campeonato. Gil de Ferran fez mais uma prova combativa e terminou em 2º lugar, passando a ser o vice-líder do certame. Curiosamente, Jimmy Vasser, que deveria ser o líder da Chip Ganassi nesta temporada, ante a “inexperiência” de Montoya, já ficou na sobra do piloto colombiano. E, do jeito que Zanardi está se saindo na F-1, há quem especule, para terror da concorrência, que o italiano voltaria para a Ganassi no próximo ano, fazendo com Montoya uma dupla praticamente imbatível de pilotos na F-CART. Boato? Pode até ser, mas eu não ficaria surpreso se isso viesse a acontecer... Alguém lembra do fiasco que foi a passagem de Michael Andretti pela McLaren em 1993...?

 

 

Cristiano da Matta é o primeiro piloto brasileiro na F-CART com a situação já definida para o próximo campeonato. Preocupados com o excelente desempenho do piloto brasileiro, e sua conseqüente valorização no mercado de pilotos, Carl Wells e Frank Arciero foram rápidos no gatilho e já renovaram o contrato de Da Matta com o time até o fim de 2000. Com isso, eles garantiram a presença do piloto brasileiro por mais uma temporada. E Cristiano tem sido o foco de atenção de muitos chefes de equipe, impressionados com o seu desempenho, levando-se em conta o limitado motor Toyota e o carro pouco competitivo da equipe Arciero-Wells. Pra reafirmar isso, Da Matta está fazendo Scott Pruett, veterano de mais de 10 temporadas na categoria, comer poeira em todas as classificações e corridas este ano. Será que é preciso dizer mais alguma coisa sobre o talento do pequeno mineiro?

 

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