sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

REDENÇÃO NO DESERTO

Sergio Pérez aproveitou a oportunidade e conseguiu sua primeira vitória na F-1 (acima), vencendo o GP de Sakhir. George Russel impressionou substituindo Lewis Hamilton na Mercedes (abaixo), mas acabou vendo uma possível vitória escapar de suas mãos devido a um erro da Mercedes e ao azar de um pneu furado.


 

            Problemas decorrentes da pandemia da Covid-19 à parte, a Fórmula 1 conseguiu se recompor e apresentar um campeonato que conseguiu entregar até mais do que se esperava neste ano tão complicado. Hoje começam os treinos oficiais em Yas Marina, que certamente pouco ou nada acrescentará de melhoria à temporada deste ano, o que não é algo devido à pandemia. As corridas no circuito de Abu Dhabi não tem apresentado emoção condizente com o que se espera da categoria máxima do automobilismo, e só se mantém firme no calendário diante do caminhão de dólares que os árabes pagam para encerrar a temporada.

            Como a escrita deve se confirmar, a imagem que deve ficar do fim da temporada deste ano da F-1 deve ser a corrida do domingo passado, que foi cheia de alternativas. Na verdade, a segunda prova em solo barenita foi uma corrida de redenções. A primeira dela foi da própria corrida em Sakhir, que no domingo anterior, no traçado “convencional”, foi sem maiores atrativos, sendo lembrada mais pelo acidente pavoroso de Romain Grosjean do que por qualquer outro destaque na corrida, incluída aí uma capotagem de Lance Stroll no qual o canadense não teve culpa, ao ser tocado por Danill Kvyat. Em contrapartida, os temores de que a corrida no anel externo do autódromo de Sakhir pudesse ser “caótica” na visão de alguns pilotos e equipes, até que se confirmou, no bom sentido. Em um traçado nunca usado pela F-1 em tempos recentes, a corrida teve várias disputas, e uma situação insólita onde a Mercedes, o time por excelência quase à beira da perfeição, cometeu uma “cagada monumental”, nas palavras de Toto Wolf, com um pit stop que azarou com seus dois pilotos, e permitiu um pódio inédito no ano. Se já tínhamos tido excelentes provas nos circuitos “inéditos” da temporada, em Mugello e Portimão, e numa pista que sempre foi elogiada pelos pilotos, na Turquia, a corrida no anel externo de Sakhir, apelidado meio sem justificativa de “oval”, foi outra grata surpresa, com muita ação par fã nenhum botar defeito. Conseguiu ser a melhor corrida do ano até aqui, e olhe que já tínhamos tido outras excelentes provas até então. Mas boas surpresas nunca são demais, e a idéia de se usar traçados alternativos dos autódromos no futuro, como opção para sair do lugar comum, deve ser considerada, depois desta experiência bem-sucedida, ao contrário do experimento de um GP de apenas dois dias de atividades que não resultou numa boa corrida em Ímola. Sem querer “inventar demais”, o GP de Sakhir redime a intenção de se apostar em certas mudanças na F-1 para trazer mais emoção às corridas, desde que se pense direito nas idéias de como fazer isso.

            E, se é para falarmos de redenção, quem brilhou foi Sergio Pérez, que foi tocado na primeira volta, caiu para último, e veio se recuperando de forma espetacular, passando quem via à sua frente. É verdade que o safety car também ajudou, mas Pérez já havia se colocado em posição para, no mínimo, repetir o resultado que deveria ter tido uma semana antes, quando um estouro do seu motor Mercedes a poucas voltas do final o privou de um segundo pódio consecutivo na temporada. Desta vez, quando as Mercedes se complicaram sozinhas nos boxes, lá estava o piloto mexicano para agarrar a chance de liderar a corrida, e quem sabe conseguir sua primeira vitória na categoria. E ele chegou lá. Por mais que tenha tido também a sorte de George Russel ter tido um pneu furado, Sergio andou a fundo o tempo todo, com uma performance impecável, e mereceu o triunfo.

Charles LeClerc repetiu a barbeiragem do GP da Estíria e acertou Sergio Pérez na primeira volta (acima), indo parar fora da pista, e acabando por levar Max Verstappen junto (abaixo), pondo fim à prova de ambos. Mas Perez conseguiu voltar à prova, e ainda por cima, vencê-la.


            Foi também um GP de redenção para a Racing Point, que uma semana antes havia ficado completamente zerada em uma corrida este ano, e de repente lá estava com sua dupla de pilotos no pódio, com Pérez a dar à equipe que nasceu lá atrás como Jordan, a sua primeira vitória em sua atual encarnação na F-1, e obter com Stroll um belo 3º lugar, com o qual superaram a McLaren no Mundial de Construtores, e estão perto de terminar o ano na 3º posição, como os melhores do “resto” da F-1, depois da imbatível Mercedes e da forte Red Bull. Uma prévia do que podemos talvez esperar ano que vem, quando se chamará Aston Martin, e tem planos bem mais ambiciosos na competição? Pode ser. E quem também se redimiu foi Lance Stroll. O canadense vinha numa maré de baixo astral desde o pódio conquistado em Monza, e depois de fazer uma bela pole na Turquia, e liderar a maior parte da corrida, um pit stop o fez despencar lá para trás para terminar em um pífio 9º lugar, quando tinha chances de poder ter vencido, se tudo corresse bem. Mesmo que Lance ainda manifeste inconformismo com mais um 3º lugar, quando afirma que também poderia ter vencido, como ocorreu em Monza, porém, o canadense acabou sucumbindo em momentos-chave da prova, no caso de Sakhir, não conseguiu segurar Sergio Pérez atrás de si. O mexicano simplesmente chegou e passou sem a maior cerimônia, mostrando a diferença de quilate entre os dois pilotos. Mesmo assim, foi um resultado para espantar os azares das últimas corridas.

            Outro que saiu como vencedor, moral, da prova de Sakhir, foi George Russel. Chamado para guiar a Mercedes de Lewis Hamilton, que teve de cumprir quarentena e isolamento por ter dado resultado positivo para Covid-19 dias antes, o inglês simplesmente tirou a barriga da miséria, depois de dois anos penando com o carro pouco competitivo da Williams, e mostrando porque a Mercedes aposta nele para um futuro próximo. George não se intimidou com a responsabilidade de guiar o carro campeão, e não fosse o azar e as trapalhadas do time na parada de box, poderia muito bem ter saído do Bahrein com sua primeira vitória na carreira na F-1. Com o retorno de Hamilton aos treinos hoje, após apresentar resultado negativo para Covid-19, Russel volta ao carro da Williams, mas ciente de ter lembrado a todos do que é capaz. Com lugar firme no time de Grove em 2021, é a oportunidade para continuar lapidando o seu talento, em um time onde está livre de sofrer maiores pressões, para ganhar mais capacidade, e estar definitivamente pronto para quem sabe, ser titular da Mercedes em 2022, no lugar de Valtteri Bottas, ou talvez, até mesmo substituindo Lewis Hamilton.

            Russel mostrou personalidade, e não sentiu a pressão de defender o time campeão do mundo. Pode ter perdido a corrida, mas deu o seu recado, tanto que até mesmo a Red Bull, comenta-se, teria começado a ter interesse no rapaz, que poderia não ter a paciência para colher os frutos de seu trabalho na Williams, e poderia resolver migrar para o time do energéticos em busca de melhores oportunidades. Só que Russel agora já é tido como nome certo na Mercedes em 2022, enquanto a Red Bull ainda está na incerteza a respeito de qual propulsor usará depois do ano que vem, então, nada de arriscar neste momento. Ainda mais em um time onde o ambiente pode ser mais tóxico que o da Mercedes, no cômputo geral recente.

Pietro Fittipaldi (acima) fez sua estréia na F-1, e se não brilhou, também não comprometeu na corrida disputada no anel externo (abaixo) do circuito de Sakhir, que acabou sendo a melhor corrida do ano.


            Quem também saiu fortalecido em Sakhir foi Esteban Ocón, que conquistou o seu primeiro pódio na F-1, e fez sua melhor corrida na temporada, onde até então vinha ficando à sombra de Daniel Ricciardo, que estava ganhando de longe a disputa com o piloto francês. Tendo ficado um ano fora da competição, Ocón precisava mostrar que ainda era aquele piloto no qual a Mercedes tinha confiança um tempo atrás. Seu retorno estava sendo mais ou menos, com alguns resultados medianos, mas abaixo do que Ricciardo vinha conquistando com o mesmo carro. Subir ao pódio, logo em 2º lugar, deve dar uma renovada no estado de espírito de Esteban, até porque no próximo ano ele terá Fernando Alonso como companheiro de equipe, um piloto muito mais agressivo e feroz nas disputas, interna e externa do time, e que pode dar muito mais trabalho para superar, ou no mínimo conviver, do que com Daniel, um sujeito boa pinta e cuca fresca como poucos na F-1 atual. Ocon precisará estar plenamente recuperado para viver com o espanhol no box ao lado. E se Alonso voltar em ponto de bala, o francês que fique atento para não perder espaço no time...

            Quem também fez uma corrida determinada foi Carlos Sainz, que quase foi ao pódio, acossando Lance Stroll até o último momento na prova, e com o 4º lugar, superando Lando Norris na classificação do campeonato, onde sempre esteve atrás do companheiro desde o início, mas marcando uma recuperação forte, e com possibilidade de superar também Charles LeClerc na classificação final da temporada, mostrando presença, e justificando sua escolha para defender a Ferrari em 2021, ainda que o time italiano ainda esteja tentando reencontrar sua melhor forma.

            Mas a corrida também teve sua cota de decepções, e ninguém mais ficou devendo do que Valtteri Bottas, que tinha tudo para vencer até com certa tranquilidade, sem a presença de Lewis Hamilton no fim de semana, mas demonstrou fraqueza ao não conseguir lidar com George Russel na corrida, perdendo a vantagem da pole-position com mais um arranque falho onde chegou a ser superado por Carlos Sainz no início da prova. Por mais que fique prometendo duelar à altura com Lewis Hamilton, ficar atrás de um novato no time pegou mal, sem conseguir exercer a mesma liderança do piloto inglês na pista e no box, e a repetir tal desempenho no próximo ano, certamente verá Russel ocupar o seu lugar para 2022, e com cacife em baixa para ser considerado seriamente por outros times.

            Mas, e o que dizer de Alexander Albon? O tailandês viu Max Verstappen ficar fora de combate logo na primeira volta, e precisava marcar presença, já que o holandês tinha tudo para infernizar a dupla da Mercedes na corrida. Mas Albon acabou apenas em 6º lugar, e pior, viu Sergio Pérez, um piloto que é cotado para seu lugar na Red Bull, cair para último e ainda vencer a corrida. Sua posição está por um fio para 2021, e a Red Bull já tem uma boa visão do que o mexicano pode mostrar na pista, pelo que Pérez demonstrou nesta temporada. Mas como os dirigentes do time dos energéticos parecem ser também meio teimosos, fora suas soberbas, a ponto de recusarem rever o rebaixamento de Pierre Gasly, ninguém sabe exatamente como Albon vai terminar o ano.

            Tudo o que temos até o momento do fechamento deste texto é que este é o último GP de Sebastian Vettel pela Ferrari. Na Hass, Kevin Magnussen despede-se da F-1, enquanto Pietro Fittipaldi tem outra chance para mostrar o que sabe substituindo Romain Grosjean, que também está deixando a categoria máxima do automobilismo. E Sergio Pérez, o 4º colocado no campeonato, está desempregado para 2021. Podemos ver algumas novidades neste final de semana que encerra a temporada da F-1, e quem sabe algumas questões ainda em aberto possam ser respondidas. É o que nos resta para 2020, um ano onde o mundo virou de cabeça para baixo, e ainda está assim, mesmo com algumas tentativas de retorno controlado à normalidade. Esperemos por um ano de 2021 que seja muito menos complicado do que foi este. E aproveitemos também, por hora, a última corrida de F-1 que será transmitida pela Globo, já que até o presente momento não há confirmação de quem irá transmitir a categoria no próximo ano...

 

 

Cléber Machado irá narrar a última corrida do ano, e até o presente momento, a última prova da F-1 a ser transmitida pela Globo, até prova em contrário. A emissora está negociando os direitos com a Liberty Media, depois que foi rescindido o contrato com a Rio Motorsports, mas até o presente momento, nada de oficial foi dito a respeito da transmissão das corridas no ano que vem. A Globo transmitirá a corrida ao vivo neste domingo, a partir das 10:10 Hrs., pelo horário de Brasília. Pelo sim, pelo não, pode ser mesmo a despedida da emissora depois de praticamente 40 anos de transmissão ininterrupta da categoria na Globo... Esperemos poder continuar assistindo às corridas em 2021, então aguardemos notícias a respeito...

 

 

O ano brasileiro do esporte a motor infelizmente termina com uma baixa: o FoxSports encerrou seu programa especializado sobre automobilismo, o Fox Nitro, que era exibido semanalmente às segundas-feiras. A despedida aconteceu na edição da semana passada, e a emissora nem se deu o respeito de esperar terminar a competição da F-1 e da Stock Car para ao menos fechar as “temporadas automobilísticas” de 2020. Do time que fazia parte do programa, Rodrigo Mattar e Flávio Gomes tiveram a notícia de que não teriam seus contratos renovados, desfalcando o time da emissora, que está sendo praticamente desmantelada, em virtude do processo de fusão decorrente da compra da Fox pela Disney. Uma pena os fãs perderem esse programa, fazendo o espaço jornalístico do esporte a motor na TV brasileira encolher ainda mais. Que ambos os jornalistas possam encontrar novas oportunidades para se manterem ativos no mercado em 2021, apesar das dificuldades que o meio vem enfrentando. O Fox Nitro certamente deixará muitas saudades para todos que tiveram a oportunidade de acompanhar o programa nestes seus sete anos de existência...

 

 

Mas nem tudo são notícias ruins em relação ao automobilismo no Brasil neste final de ano. A Bandeirantes fechou contrato para exibir em TV aberta o campeonato da Stock Car, que ainda será visto no SporTV, em canal pago. Mas a emissora paulista já fará sua estréia neste final de semana, exibindo a prova de encerramento da atual temporada, em Interlagos, e com um reforço de peso na transmissão: Reginaldo Leme. Isso mesmo, praticamente um ano após se despedir das transmissões de TV, na mesma pista de Interlagos, onde esteve na exibição do GP do Brasil de F-1, o experiente jornalista faz o seu retorno, agora na principal categoria do automobilismo nacional, e de cara acompanhando a decisão do título. A Bandeirantes transmitirá a prova ao vivo, a partir das 12:30 hrs. deste domingo, oferecendo uma nova opção aos fãs da velocidade. A emissora também deve manter a transmissão da Indycar em 2021, o que deve ser muito comemorado pelos fãs. Ainda não está confirmado se Reginaldo também participará das transmissões da categoria norte-americana, mas sua presença seria muito bem-vinda, apesar de que a Bandeirantes até fez um trabalho competente neste ano, diante das dificuldades enfrentadas. Mas porque não melhorar ainda mais? Fiquemos na expectativa...

 

 

E a decisão da Stock Car promete pegar fogo neste domingo, já que matematicamente, 11 pilotos ainda tem chances de chegar ao título. Mas, mesmo com a pontuação dobrada, se tivermos uma expectativa mais realista, se metade deles brigar firme pelo caneco, já estará de bom tamanho. E quem será o vencedor? Só assistindo para ver, e todo mundo está pronto para a briga na pista...

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