quarta-feira, 8 de julho de 2020

ARQUIVO PISTA & BOX – FEVEREIRO DE 1999 – 26.02.1999


            Voltando a postar uma de minhas antigas colunas, esta aqui foi publicada no dia 26 de fevereiro de 1999, e o assunto principal era o embarque para a Austrália, onde o campeonato da F-1 daquele ano iria dar a sua largada. Muito parecido com hoje, a F-1 já começava com a maior viagem do ano, uma desvantagem para o pessoal do Brasil, claro. E hoje, pelo menos em tempos normais, são até mais viagens do que naquela época, já que o número de GPs aumentou, e deveríamos ter mais de vinte provas este ano, não fosse essa loucura toda da pandemia da Covid-19. De quebra, alguns tópicos rápidos de acontecimentos do mundo da velocidade, com alguns comentários rápidos, como de costume. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos...




HORA DO EMBARQUE

            A Fórmula 1 encerrou esta semana sua preparação básica para o campeonato deste ano, após testarem em Silverstone, onde as escuderias fizeram seu último teste antes do primeiro treino oficial do primeiro GP do campeonato. Na Itália, a Ferrari também deu por encerrada sua preparação para a primeira corrida do ano. Daqui a uma semana, os carros estarão na pista do Albert Park, em Melbourne, e as expectativas crescem a cada momento.
            E, de cara, a F-1 já parte para a maior viagem de seu calendário. Desde 1996 que a Austrália, antes prova de encerramento da competição, tem agora a honra de abrir o calendário. E, por estar situada do outro lado do mundo, isso obriga a uma cansativa viagem de avião até o Oriente. Todas as toneladas de equipamento da F-1 lota dois aviões Jumbo fretados pela FOA (antiga FOCA), para a longa viagem até Melbourne, no sudeste australiano. É uma viagem cansativa, e cara, também. Para diminuir as despesas das equipes, a FOA dá um crédito de transporte para os 10 melhores times de cada campeonato. Esses créditos incluem um número de passagens para os integrantes da equipe, mais uma tonelagem específica de embarque dos equipamentos que viajam nos aviões fretados. O que passar disso deve ser pago pela própria escuderia.
            Há alguns anos atrás, quando havia mais equipes pequenas na F-1, o cálculo do que se levar nesta cota da então FOCA era feito nos mínimos detalhes. O que não fosse indispensável ficava na Europa nas viagens para as etapas na América, África do Sul, e extremo Oriente. Havia até o caso de integrantes dos times levando parte dos equipamentos junto com suas bagagens particulares, para não ultrapassar a cota de transporte do time. Tinha até quem levasse parte do bico do carro junto com suas malas. Hoje, com a diminuição do número de escuderias (apenas a Minardi e a Arrows são times considerados pequenos), este tipo de cena não é mais vista com freqüência, embora ainda seja feita muita economia com as cotas de transporte que os times têm direito.
            E é já neste fim de semana que toda a F-1 embarca para o outro lado do planeta. Chegar com vários dias de antecedência ajuda a acertar o relógio biológico, e se acostumar com o fuso horário australiano. Para quem não está acostumado, acertar o ritmo a um horário tão diferente é uma experiência cansativa. Ayrton Senna tinha um método particular de adaptação de fuso horário: nem bem chegava no lugar da etapa, ele já procurava uma distração para se manter acordado até a hora local de se ir dormir. Segundo o tricampeão, era a maneira mais rápida de se entrar nos eixos do horário local.
            Mas um outro motivo para se chegar mais cedo à Austrália é por ser justamente a Austrália. Os australianos fazem uma bela promoção de sua corrida, com eventos que lotam toda a semana da prova. E os pilotos e demais integrantes das escuderias tratam de aproveitar, pois dali a pouco, estarão novamente imersos na tensão absurda que povoa os bastidores da F-1, em mais um campeonato que visa o título mundial, num ritmo pra lá de estressante. E as belas paisagens australianas são mais um convite ao turismo e divertimento. E afinal, ninguém é de ferro.
            Mas tome viagem: depois da prova australiana deste ano, uma outra viagem de volta à Europa, e depois, mais uma viagem transoceânica, uma vez que a etapa seguinte será aqui no Brasil. Depois disso, apenas mais 2 viagens fora da Europa: em junho, para a disputa do GP do Canadá; e no final do ano, para as provas do Japão e da Malásia. É viagem para ninguém botar defeito.
            Mas são viagens que valem a pena. Quebram a monotonia e servem para avivar o espírito de aventura dos participantes, mesmo com o cansaço. E torna a expectativa pelo início do campeonato ainda maior. A F-1 está chegando! Preparem suas torcidas!


As equipes de F-1 encerraram sua preparação básica para o Mundial da categoria, e depois da corrida australiana teremos um invervalo de 5 semanas até o GP do Brasil. Teríamos o GP da China, mas a etapa foi cancelada. Entrou o GP da Argentina no lugar, mas a prova portenha também dançou. As escuderias devem utilizar o período para completar sua preparação para o campeonato. A Ferrari, por exemplo, saiu favorecida, mas também prejudicada: favorecida porque terá mais tempo para melhorar sua preparação (que segundo alguns não foi feita a contento, pelo fato da escuderia não ter conseguido treinar na Itália devido ao frio intenso); prejudicada porque o circuito de Buenos Aires, travado, favorecia o time e Michael Schumacher, que lá ganhou no ano passado, ajudando o time a iniciar sua recuperação no campeonato. A etapa do Brasil, em Interlagos, não é teoricamente favorável à Ferrari. A última vitória de um carro vermelho aqui foi em 1990, com Alain Prost. E, diga-se de passagem, ele só venceu porque Satoru Nakajima entrou na frente de Ayrton Senna e quebrou o bico do McLaren do brasileiro, num ato de precipitação de Senna, que se tivesse esperado um pouco mais para ultrapassar o piloto japonês, teria vencido a prova facilmente.


Dizer que a Ferrari está esquentando o ambiente para o Mundial de F-1 deste ano não foi mera expressão de linguagem esta semana: o carro de Michael Schumacher pegou fogo durante os últimos testes da escuderia na Itália, o que deixou o piloto assustado no momento. Felizmente, tudo não passou de um enorme susto para Schumacher. É verdade que o time diz que está fazendo seu aquecimento para o campeonato, mas não é preciso exagerar assim...


Depois de alguns testes bem-sucedidos, a BAR voltou a enfrentar problemas esta semana em Silverstone, onde seus carros apresentaram diversos empecilhos que podem comprometer sua performance de estréia na F-1. Nem Jacques Villeneuve nem Ricardo Zonta conseguiram andar a contento com os carros. A BAR pode pensar grande e já ser grande em alguns aspectos, mas é preciso confirmar essa grandeza na pista, e por enquanto, só saberemos seu real potencial na primeira corrida. Anos de estréia na F-1 são dureza para qualquer um...


Voltando à BAR, já que a equipe teve vetada pela FIA a pintura de seus bólidos com cores diferentes, para promover duas marcas de cigarro de sua sócia-proprietária, o time resolveu juntar as duas pinturas num só carro. De um lado estão as cores da Lucky Strike, e do outro lado, da marca 555. Dá a sensação que o carro foi feito a partir da colagem de duas “metades”, pois apresenta duas metades pintadas de forma distinta. É interessante, pelo menos...


A pergunta da semana: com que carro a McLaren vai correr em Melbourne? Usará o velho MP4/13B de 1998, ou entra na pista com o novo MP4/14. Seja lá com qual carro for, será o time a ser batido no Albert Park. E, pelo andar dos testes, Mika Hakkinem já mostrou que está a fim de ser bicampeão...

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