quarta-feira, 13 de novembro de 2019

ARQUIVO PISTA & BOX – DEZEMBRO DE 1998 – 04.12.1998


            Voltando a trazer um de meus antigos textos, esta coluna foi publicada no dia 4 de dezembro de 1998, e fazia um pequeno balanço do que fora o campeonato da F-CART, a F-Indy original, naquele ano, que coroou o bicampeonato de Alessandro Zanardi. Foi talvez o momento do auge do italiano, que já de malas prontas para retornar à F-1 no ano seguinte, como piloto da Williams, nem imaginava o calvário que sua carreira teria a partir dali. Mais um que não tivera chances em carros competitivos na F-1 na primeira metade da década, Alessandro migrou para os EUA, e encontrou na categoria norte-americana de monopostos as condições ideais para mostrar do que era capaz, ao assumir um dos carros da equipe Ganassi, quando o time do velho Chip começaria a dar as cartas na competição. Com um bom carro nas mãos, ele deixou na sobra o piloto veterano do time, o estadunidense Jimmy Vasser, e passaria a ser o homem a ser batido no certame. O ano de 1998 tinha começado de forma um pouco mais equilibrada, mas a meio da temporada, Alessandro simplesmente desancou a concorrência, e rumou para o seu merecidíssimo bicampeonato. A F-CART estava com uma força e popularidade incríveis, e mesmo que nunca tenha ameaçado efetivamente a posição da F-1 como principal campeonato de monopostos do planeta, era uma opção muito viável para os amantes do automobilismo, mostrando boas disputas e muitos pilotos de talento na briga por posições na pista. Confiram o texto com mais alguns detalhes do que foi aquele ano na competição, e boa leitura a todos...


F-CART 98: SHOW DE ZANARDI

            Um passeio de Alessandro Zanardi. Assim podemos considerar o campeonato deste ano da Fórmula CART. Apesar de, ao longo do campeonato, nada dar tanta vista do domínio do piloto italiano, olhando-se para trás, é possível notar a supremacia da atuação de Zanardi, que fechou o ano com o mais novo recorde de pontos da categoria obtidos em uma única temporada, que poderia muito bem ter chegado à casa dos 300 pontos, não fossem alguns atropelos do italiano durante suas negociações com a Williams, ocasião em que suas performances na pista caíram momentaneamente.
            Méritos para a Chip Ganassi, que chega a seu terceiro título consecutivo. Se houvesse campeonato de construtores como o da Fórmula 1, seria também tricampeã consecutiva. Um verdadeiro show de competência, que desbancou equipes financeiramente mais poderosas e mais bem estruturadas, como a Penske e a Newmann-Hass, novamente derrotadas em seus objetivos de conquistar o título da categoria.
            A Penske se viu derrotada pelo seu novo chassi PC27, revolucionário e também cheio de problemas. Já a Newmann-Hass viu seu principal piloto, Michael Andretti, começar bem a temporada, vencendo em Homestead, e definhar na maior parte do resto do campeonato. Fora os azares que afligiram o time, em boa parte centrados em Christian Fittipaldi, em algumas ocasiões Andrettinho cometeu erros grosseiros devido ao seu excesso de ousadia ao volante, como em Long Beach, onde teve um pneu estourado que o jogou no muro, mesmo sabendo que o composto estava para ceder a qualquer momento. O chassi Swift mostrou sua classe nos circuitos ovais, mas nos mistos, ainda ficou devendo.
            Outro ponto a favor de Alessandro Zanardi foi o fato de que apenas o italiano conseguiu arrancar tudo o que podia render o excelente chassi Reynard 98R com motor Honda e pneus Firestone. Uma prova disso foi seu parceiro Jimmy Vasser, que só conseguiu conquistar o vice-campeonato na última etapa, em Fontana, depois de ficar totalmente obscurecido pelas performances do companheiro de equipe durante todo o campeonato. O ponto alto de Zanardi foram suas 4 vitórias consecutivas obtidas em Detroit, Portland, Cleveland e Toronto, ocasião em que Alex finalmente disparou no campeonato. Até então, a competição estava relativamente equilibrada, com muita disputa, e onde ninguém podia prever exatamente quem seria o campeão. E o show de Zanardi foi completo, com vitórias mescladas da mais pura garra de pilotagem à perfeita estratégia de corrida. No caso de estratégia temos o exemplo de Long Beach, onde Zanardi não era um dos pilotos de destaque da prova, até que a poucas voltas do final, lá estava ele entre os primeiros para disputar a vitória, graças à estratégia montada por seu time na corrida. Já em Cleveland assistimos ao maior show de arrojo da temporada, com Zanardi a arrancar uma vitória espetacular que parecia totalmente impossível de ser conseguida, dados os percalços enfrentados pelo italiano na prova.
            Enquanto o italiano deitava e rolava a cada vitória, os concorrentes se afundavam por conta própria, cada um enfrentando os mais diversos problemas. A Walker pecou muito na preparação de seu equipamento, a ponto de nem mesmo Gil de Ferran conseguir descontar no braço a diferença, como havia conseguido no ano passado. Penske e Newmann-Hass, como já mencionei, tiveram diversos desaires este ano. Na Forsythe, Greg Moore alterou bons momentos com bobagens monumentais, perdendo excelentes oportunidades. Na Patrick, Adrian Fernandez encobriu o experiente Scott Pruet, sendo a estrela inicial do campeonato, com uma vitória competente em Motegi, no Japão, onde travou um belo duelo com Al Unser Jr. Pruett ainda conseguiu recuperar terreno, mas terminou o ano atrás do piloto mexicano. E a Patrick também não conseguiu mostrar o mesmo grau de afinação exibido pela Ganassi na preparação de seus carros, razão pela qual não foi possível entrar com tudo na luta pelo título. Esta situação ficou ainda mais patente no final da temporada, quando as esperanças de conquistar pelo menos o vice-campeonato também se esvaíram.
            Equipe-revelação em 1997, a PacWest levou um sério tombo este ano. Com estratégias equivocadas no início e meio da temporada, onde o time tentou alguns vôos ousados na área técnica, as aspirações de disputa do primeiro título na categoria praticamente sumiram quase que imediatamente. Nem mesmo no final do campeonato o time parecia ter reencontrado o rumo para voltar a crescer. Em contrapartida, a equipe Green ocupou seu lugar como time-surpresa, embora os resultados só tenham começado a aparecer de forma patente na segunda metade do campeonato, com as vitórias de Dario Franchiti, que colocou Paul Tracy no vinagre. Tracy, aliás, não perdeu o velho estilo: poderia ter tido e dado muito mais resultados à sua equipe se não fosse tão encrenqueiro dentro da pista, onde arrumou briga com vários pilotos. Christian Fittipaldi foi um deles, tendo se enroscado com o piloto canadense em mais de uma ocasião.
            Tentando subir de produção, a Tasman teve um ano relativamente melhor do que em 97 ao nível de resultados, mas ainda está distante de tornar-se uma equipe de ponta. Como é de praxe, pretende mudar isso em 99, mas será que desta vez vai? A Bettenhausen manteve o nível de resultados, mas poderia ter brilhado um pouco mais, não fossem alguns erros da equipe e do piloto, o novato Hélio Castro Neves, em seu primeiro ano na F-CART.
            Quem conseguiu mostrar um pouco de serviço, ainda que tenha brilhado mais apenas em qualificações, foi a equipe Rahal, que conseguiu voltar a vencer, com Brian Herta finalmente a desencalhar na categoria em Laguna Seca, onde conseguiu se vingar de Alessandro Zanardi, vencendo o italiano numa luta e tanto, depois de apanhar do piloto da Ganassi em algumas corridas onde tinha a vitória praticamente à vista. Já o veterano Bobby Rahal, infelizmente, não conseguiu voltar a vencer, ainda mais neste que foi seu ano de despedida como piloto. A partir de agora, o tricampeão só vai administrar seu time de competição e tentar fazê-lo novamente campeão, como no ano de sua estréia como dono de equipe, em 1992.
            Ao nível de chassis, a Reynard reinou absoluta. A Penske debateu-se com inúmeros problemas. O chassi Swift mostrou bom desempenho apenas nas pistas ovais. Já a Lola, restrita à tímida equipe Davis, não teve como mostrar praticamente nada, mas a fábrica inglesa quer tentar dar a volta por cima n próximo ano. Se vai conseguir, é outra história.
            No campo dos motores, a Honda mostrou novamente possuir os melhores propulsores, apesar de, tecnologicamente, os Mercedes terem demonstrado muito mais potencial. O Ford também mostrou evolução, mas as qualidades de fiabilidade dos Honda falaram mais alto. O motor Toyota, que ainda faz figuração na categoria desde que estreou, promete um motor revolucionário para 99, especialmente para se livrar do estigma de ver sua maior concorrente nas pistas (Honda) ganhar campeonatos enquanto ela só arruma fiascos. Se um time melhor se dispor a utilizar o motor japonês, ajudaria muito também.
            E, para encerrar, pelo terceiro ano consecutivo a Goodyear foi nocauteada pela Firestone. O domínio da marca de propriedade da japonesa Bridgestone foi arrasador: de 19 corridas, venceu 18. À Goodyear, restou somente a vitória de Michael Andretti em Miami, e foi só. Com a retirada da Goodyear da F-1, é lógico imaginar que a fábrica passe a dedicar-se em tempo integral à F-CART. E, com o provável reforço adicional de fornecer pneus para todos os times da F-1 em 99, a Bridgestone/Firestone pode acabar ficando meio sobrecarregada, o que poderia comprometer a qualidade de seus compostos para a F-CART. São possibilidades que ajudam a colocar mais lenha na fogueira das expectativas para o próximo campeonato. A Chip Ganassi terá a dura tarefa de manter o seu domínio, mas sem contar com Alessandro Zanardi, que voltou para a F-1. E, mais do que nunca, adversários não faltam para a empreitada de acabar com o fim da escuderia que é campeã há 3 anos seguidos. Será que vão conseguir em 99? Vamos esperar que sim, do contrário, a categoria corre o risco de cair na vala da monotonia, tal como a F-1 em anos recentes...

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