quarta-feira, 18 de setembro de 2019

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1998 – 13.11.1998


            De volta com outra de minhas antigas colunas, trago hoje um texto que foi publicado num dia auspicioso para o assunto tratado no texto. A atuação de nossos pilotos na F-1 naquela temporada de 1998 foi mesmo de amargar, com muitos azares e pouca satisfação, e não é que o dia em que a coluna foi publicada acabou sendo uma sexta-feira, dia 13? Situação bem ruim, sem dúvida, mas não tanta quanto hoje, quando nem mais temos pilotos brasileiros na F-1. Já vamos em duas temporadas de ausência, e com tudo a ver para continuarmos a ver navios em 2020. Podemos dizer que era mesmo outra época, em 1998, e nem faz tanto tempo assim na verdade. Bem, curtam o texto, e façam bom proveito do que foi o resumo de nossos pilotos naquele campeonato.


UM ANO DE AMARGAR

            No que tange ao campeonato mundial de Fórmula 1 deste ano, 1998 foi sem dúvida o pior ano para o Brasil na categoria nos últimos tempos. Terminamos o ano com míseros 7 pontos (4 de Rubens Barrichello, e 3 de Pedro Paulo Diniz). Sem sombra de dúvidas, um ano para ser esquecido por nossos pilotos, que só acumularam frustrações e desilusões na categoria máxima do automobilismo nesta temporada.
            A última vez que tivemos um ano tão ruim assim foi em 1979, quando Nélson Piquet e Émerson Fittipaldi, nossos representantes da época na F-1, conseguiram juntos apenas 4 pontos em todo o campeonato. Émerson continuava comendo o pão que o Diabo amassou em sua escuderia Copersucar, e Piquet encarava um ano de transição na Brabham/Alfa Romeo. Dois talentos consagrados que não conseguiram superar a barreira imposta pelo fraco equipamento que dispunham naquele ano.
            A temporada de 1998 começou cheia de esperanças para nossos pilotos. Nada de poles ou vitórias nos planos, apenas esperanças de dias melhores do que os vividos em 1997. Mas, foi só começar a temporada, e nossos bravos representantes viram que o ano poderia ser um tremendo calvário. Infelizmente, os temores se concretizaram, e nossos pilotos viram que entraram numa tremenda fria. E foi um ano sofrível mesmo.
            Começando por Rubens Barrichello, tudo levava a crer que, depois do difícil ano de estréia da equipe Stewart, onde Rubinho brilhou apesar da falta de resultados, teria um ano menos complicado, mas a equipe, na verdade, ficou meio à deriva durante todo o ano. O projeto de um novo e complexo câmbio alijou o desenvolvimento da escuderia no início da temporada. Os esforços para recuperar o tempo perdido foram demasiados para a pouca estrutura do time, que só conseguiu retomar parte do caminho à altura do GP da Espanha, onde Barrichello voltou a mostrar o seu talento e ganhou uma briga com o campeão Jacques Villeneuve pelo 5º lugar na prova. No Canadá, mais uma vez Rubinho brilhou, conquistando outro 5º lugar, e parecia que o time conseguiria pelo menos manter uma direção de desenvolvimento de seu carro, possibilitando a conquista de pontos com alguma regularidade. Não conseguiram nem isso. A escuderia se debateu durante o resto do campeonato com problemas no câmbio, que não mostrou fiabilidade, assim como o restante do carro, que também apresentou diversos problemas mecânicos e de estabilidade, não repetindo nenhuma das performances apresentadas no ano passado.
            O maior ponto negativo foi a perda da vaga na Williams para Ralf Schumacher. Além da interferência de Michael Schumacher, Willi Webber e por parte da BMW, a alta multa contratual para Barrichello sair da Stewart sem dúvida alguma complicou muito as possibilidades da transação sair com o piloto brasileiro. Fica a esperança de um ano melhor em 99, especialmente agora que a Stewart aumentou sua estrutura e afirmou que não vai arriscar soluções complexas no carro do próximo ano.
            Para Pedro Paulo Diniz, o ano foi difícil e só não foi totalmente perdido porque o piloto conseguiu uma vaga na Sauber para a próxima temporada. A equipe TWR-Arrows, depois de padecer com o motor Yamaha em 1997 e de enfrentar vários problemas mecânicos, tinha tudo para melhorar em 98. Mas o pessoal da Yamaha pulou fora, e Tom Walkinshaw resolveu então adquirir a empresa de Brian Hart e construir seus próprios motores. A intenção era boa, mas bons resultados levam tempo, e o novo motor V-10 projetado por Brian Hart, cuja reputação é excelente na preparação de motores de competição, enfrentou durante todo o ano uma crônica falta de potência e falhas de fiabilidade, como convém a um projeto recém-nascido. A falta de potência foi patente nos circuitos mais velozes, onde os Arrows fizeram mera figuração. A melhor prova foi em Mônaco, onde a baixa velocidade do circuito monegasco ressaltou as excelentes qualidades do chassi desenhado por John Barnard, e ambos os pilotos do time terminaram a prova nos pontos. Depois disso, só houve os pontos do 5º lugar de Diniz na Bélgica, por obra da maior quantidade de abandonos ocorrida naquele GP na largada. Só que não foi apenas o motor a causar problemas. O chassi, com muitos sistemas complexos desenvolvidos por Barnard, também apresentou muitos problemas, aumentando o trabalho dos pilotos e sua desilusão por melhores resultados. Resta a Pedro Paulo esperar por um ano melhor na Sauber em 99, uma equipe comprovadamente melhor em estrutura e área técnica.
            Por último, Ricardo Rosset parece fadado a não ter sorte na F-1. Quando estreou na categoria, em 1996, embarcou numa equipe Arrows em transição para sua aquisição e fusão com a TWR, que estava adquirindo a escuderia. Para piorar, Rosset era negligenciado pelo time, que só dava atenção ao holandês Jos Verstappen. A equipe foi uma tremenda bomba naquele ano, tanto que Verstappen também saiu escaldado no fim da temporada, com apenas 1 ponto em todo o campeonato. Já no ano passado, Rosset acabou embarcando na aventura da Lola, que numa jogada audaciosa, voltava à F-1 depois de alguns anos de ausência. Haviam planos ambiciosos por parte da Lola e da Mastercad, que previam um ano de experiência em 97 e o ano de 98 como de início por luta de melhores posições entre os times médios da F-1. Tudo acabou indo para o brejo já na segunda corrida, e Rosset, assim como o italiano Vincenzo Sospiri, acabaram ficando a pé e sem nenhuma satisfação. Foi a maior furada dos últimos tempos na categoria.
            Este ano, a situação de Ricardo não foi muito melhor. Rosset acabou vencendo a briga com Jos Verstappen pela vaga restante na Tyrrel, mas o problema é que isso causou uma briga entre Ken Tyrrel e Craig Pollock, novo e futuro dirigente do time, que foi comprado para formar a nova equipe BAR, a estrear em 99. Com Tyrrel fora do comando, o time apenas cumpriu tabela no campeonato de 98, sem fazer praticamente nenhum desenvolvimento de monta no carro, o que deixou Toranosuke Takagi e Ricardo Rosset sem condições mínimas de competir de forma decente. Pior ainda, com Takagi como piloto principal, Ricardo foi novamente relegado a segundo plano, tendo condições de trabalho ainda inferiores aos do japonês, o que deixava seu carro ser sempre mais lento, e sem conseguir se classificar para várias provas. Apesar do orçamento de 98 ter sido o maior dos últimos tempos da Tyrrel, os desmandos ocorridos no início da temporada acabaram afundando o time naquele que foi seu último ano de existência. E tanto Takagi como Rosset ficaram condicionados às marés dos eventos. Para 99, a situação de Ricardo ainda é indefinida, enquanto Ricardo Zonta já assegurou um lugar na futura BAR. Rosset agora luta pela vaga que sobrou na Arrows com a saída de Pedro Paulo Diniz, juntamente com seu companheiro de equipe nesta temporada, o japonês Toranosuke Takagi. Se conseguir, Ricardo tem esperança de ver um ano melhor na próxima temporada, e quem sabe conseguir finalmente mostrar o seu talento na F-1.
            Mas, resumindo bem tudo o que se passou neste ano de 1998 para os brasileiros na categoria máxima do automobilismo, 98 já vai tarde. Que 1999 traga melhores dias e sorte para nossos pilotos...

Nenhum comentário: