sexta-feira, 31 de maio de 2019

A VOLTA POR CIMA DE PAGENAUD

Simon Pagenaud foi preciso na pista e nos boxes (acima), e venceu com categoria sua primeira Indy500, trazendo o piloto francês de volta à luta pelo título da Indycar (abaixo).

            Como de costume, as 500 Milhas de Indianápolis reservaram algumas surpresas para a sua 103ª edição. A maior delas, obviamente, foi o fracasso da tentativa de Fernando Alonso em se classificar para a corrida, obtendo apenas o 34º tempo, e ficando de fora do grid, em uma operação onde a McLaren, em uma associação com a equipe Carlin, cometeu diversos erros que fulminaram o sonho de Alonso em tentar a vitória na mais famosa corrida do continente americano. Outra surpresa, foi o vencedor da corrida, alguém que, nos últimos tempos, vinha tendo um desempenho apenas mediano, considerando-se pilotar para o mais poderoso time da Indycar, a Penske: Simon Pagenaud, que até chegar ao Indianapolis Motor Speedway este ano, vinha muito atrás de seus companheiros de time em termos de resultados na pista.
            Mas eis que o piloto francês da Penske, que largara em 8º lugar na prova disputado no circuito misto do famoso autódromo da capital do Estado de Indiana, faz uma bela corrida, supera os adversários, e vence a prova, um resultado que ele não obtinha desde a corrida de encerramento da temporada de 2017, na pista de Sonoma, na Califórnia. Sim, Pagenaud estava há praticamente um ano e meio sem vencer, enquanto seus companheiros de equipe venciam corridas, e obtinham melhores classificações no campeonato do ano passado. Pagenaud terminou a temporada de 2018 em 6º lugar, com 492 pontos, enquanto Will Power foi o 3º colocado, com 582 pontos; e Josef Newgarden o 5º, com 560.
            E, para completar, com a cereja do bolo, Pagenaud surpreende, e conquista a pole-position para a Indy500, algo que por si só já chama a atenção de todos, mostrando que teria o que demonstrar na corrida para calar seus críticos. Mas posição de largada, apesar de importante, é algo apenas relativo nas chances de vitória numa corrida de 500 milhas. Mas Simon mostrou que a forma exibida no treino de classificação não era mero fogo de palha: o piloto francês andou sempre nas primeiras colocações da corrida, e nas voltas finais, sofrendo o assédio de dois pilotos que já venceram a Indy500 recentemente, Alexander Rossi e Takuma Sato, mostrou categoria para não apenas refutar as investidas dos rivais, como sobrepuja-los, e vencer a corrida. Sato, apesar de chegar junto, nunca conseguiu ameaçar seriamente o francês da Penske, mas Rossi, mostrando um ritmo fortíssimo, partiu para o ataque, obrigando Pagenaud a adotar uma trajetória defensiva na entrada das retas, para impedir que Alexander embutisse no seu vácuo de forma a tentar uma ultrapassagem por dentro, obrigando-o a ir para o lado externo da pista, num caminho mais difícil de se obter êxito na manobra. Mesmo assim, Rossi conseguiu ir para a liderança, a poucas voltas do fim. Pagenaud, contudo, manteve a cabeça fria, e tratou de retomar a dianteira logo a seguir, partindo para o triunfo, o seu primeiro nas 500 Milhas de Indianápolis, e a 18ª vitória da Penske no Brickyard Line, recordista absoluta de vitórias na Indy500.
            E quem vence a Indy500 entra para a história. Mas o melhor também foi recolocar Pagenaud, que vinha até a corrida de Long Beach sem empolgar, na disputa pelo título. O francês é o novo líder do campeonato, com 250 pontos, contra 249 de seu companheiro de equipe Josef Newgarden, que era o principal favorito a chegar ao bicampeonato. Pois agora, Simon também está na luta pelo seu segundo título. Mas é cedo para ambos comemorarem: ainda temos 11 corridas no campeonato, e muita coisa pode acontecer. Depois de praticamente renascer, Pagenaud não pode voltar à rotina de resultados medianos que vinha tendo desde a temporada passada, sob o risco de perder o bonde na luta pelo título.
            Aconteça o que acontecer, Pagenaud já lucra por antecipação: Roger Penske já se adiantou em anunciar que o francês segue firme no seu time em 2020, a despeito das fofocas e boatos que até já o davam fora da escuderia para o próximo ano, quando poderia ser substituído por Alexander Rossi, atualmente na Andretti, mas cujo contrato vence ao final deste ano. Alguns chegaram até mesmo a especular uma troca nas equipes de Roger Penske, com o retorno de Hélio Castro Neves à Indycar em tempo integral, enquanto Pagenaud seria realocado para o IMSA Wheater Tech Sportscar. Penske, aliás, não gostou dos boatos envolvendo seu piloto para a próxima temporada, e criticou a forma como a mídia “inventou” essa situação toda. Mas, pode ser também que tenha ficado chateado pelo possível interesse em Alexander Rossi vir à tona, o que poderia complicar eventuais negociações com o piloto, que poderia usar de sua posição valorizada para garantir um contrato mais vantajoso financeiramente, fosse com a Penske, e principalmente, em uma renovação com o time de Michael Andretti. Afinal, foi dessa forma que tanto Pagenaud quanto Newgarden chegaram à Penske, mostrando grandes performances em times rivais, e sendo arregimentados para a esquadra de Roger, dono do mais poderoso e vencedor time da categoria. E quem recusaria?
            Simon Pagenaud teve estes bons momentos, nas temporadas de 2012, 2013, e 2014, defendendo o time de Sam Schmidt. O francês, na base da regularidade, foi o 5º colocado em 2012, com 387 pontos. Em 2013, venceu sua primeira corrida, em Detroit, e finalizou a temporada em 3º lugar, com 508 pontos. No ano seguinte, venceu mais uma corrida, no traçado misto de Indianápolis, e foi 5º colocado no final da temporada, com 565 pontos. E o grande prêmio de ser contratado para pilotar para a Penske na temporada de 2015. É verdade que seu primeiro ano na escuderia não foi lá essas coisas, tendo que se adaptar a uma nova escuderia, o que justifica ter terminado apenas em 11º lugar, com 384 pontos, ficando bem abaixo de seus novos companheiros de equipe. Mas era apenas questão de dar tempo ao tempo. E Simon mostrou a que veio na temporada de 2016, com a conquista do título, vencendo 5 corridas, em um duelo onde Will Power perdeu feio na tentativa de ser bicampeão. Mais uma vez, Roger Penske mostrou que seu faro para contratações andava afiado, e o “capitão” repetiria a dose com a contratação de Josef Newgarden, nova estrela em ascenção na Indycar, para a temporada de 2017.
O toque entre James Davison e Hélio Castro Neves (acima) arruinou as chances do brasileiro brilhar na Indy500 deste ano. Hélio acabou punido e ainda ficou com o carro danificado. Já Tony Kanaan (abaixo) brilhou para terminar em 9º, com um carro que ainda deixa muito a desejar na equipe Foyt.
          Newgarden chegou à Penske “chegando”, e deixando seus novos colegas de equipe comendo poeira, vencendo 4 corridas, e conquistando o título logo em seu primeiro ano no time. Mas Pagenaud deu luta ao novo parceiro de equipe, e mesmo vencendo apenas 2 provas, só foi perder o título na prova final, em Sonoma. A diferença foi apertada: Newgarden foi campeão com 642 pontos, enquanto Pagenaud, o vice, somou 629. O francês mostrava que o reinado de Newgarden na Penske não seria tão tranquilo como ele imaginava. Mas a temporada de 2018 mostrou um Simon Pagenaud menos eficiente, sendo suplantado até com certa facilidade por seus companheiros de time. Não se pode dizer que foi exatamente um mau ano, até porque a própria Penske ficou alijada da luta pelo título na reta final da competição, tendo de assistir de longe o duelo travado por Scott Dixon e Alexander Rossi, e vendo Will Power ter muito azar em algumas corridas, que deixaram o australiano como azarão na disputa. Mas o problema estava na performance do francês, que parecia meio acomodado, enquanto em outros momentos, as coisas não se encaixavam de modo que ele pudesse ter os resultados esperados. Mas, até aí, Hélio Castro Neves também teve alguns anos de resultados um pouco aquém do esperado na Penske, chegando a ficar mais de dois anos sem vencer uma única corrida, mesmo andando na frente.
            O problema é que a temporada de 2019 começou, e mais uma vez, Will Power e Josef Newgarden colocavam a faca entre os dentes e iam para a luta, enquanto Pagenaud ficava para trás, sendo superado por muitos pilotos os quais tinha obrigação de superar. Daí, o surgimento dos boatos que davam seu lugar na Penske estando em risco. Afinal, Roger costuma ser um bom patrão, mas exige dedicação e empenho de seus contratados, o que significa obter resultados. Não era nada difícil imaginar que Simon poderia correr risco, se permanecesse naquele ritmo de resultados. Mas toda fase, seja de bons, maus, ou médios resultados, uma hora acaba, com sorte, e Pagenaud conseguiu reverter as expectativas no melhor palco de todos, Indianápolis, tanto na prova da pista mista, como no circuito oval, com performances que chamaram a atenção de todos, não podendo ser creditadas apenas ao bom carro que tinha em mãos.
            Passada a euforia de Indianápolis, Pagenaud tem de mostrar que o momento mágico vivido neste mês de maio não foi apenas um acaso. Se quiser de fato lutar pelo bicampeonato, o francês terá de se aplicar a fundo, afinal, um dos maiores rivais é seu próprio companheiro de equipe Josef Newgarden, que vem mostrando performances sólidas e constantes na atual temporada. E não há tempo para descansar, pois hoje mesmo a turma toda da Indycar já está novamente na pista, para a rodada dupla de Detroit, com corridas neste sábado e no domingo, no horário das 16:30 horas, com transmissão ao vivo pelo canal pago Bandsports nos dois dias. E os duelos recomeçam com tudo. Pagenaud tem de aproveitar e partir para o ataque. Resta ver se os rivais vão ficar parados vendo o renascimento do piloto francês no campeonato...


A Indy500 de 2019 não foi das mais felizes para os pilotos brasileiros, mas um deles não tem muito o que reclamar: Tony Kanaan obteve um excelente 9º lugar na bandeirada, resultado considerado muito bom para as condições de seu time, a Foyt, que apesar da boa preparação para a corrida das 500 milhas, teve sua cota de problemas na prova, depois de ficar bem entusiasmada com o 1º lugar de Kanaan no Carburation Day, o treino de warm-up da prova, realizado na sexta-feira anterior à corrida. Matheus Leist também foi relativamente bem, diante das circunstâncias, terminando em 15º. Quem não teve o que comemorar foi Hélio Castro Neves, que acabou atingindo o carro de James Davison nos boxes, e acabou sofrendo uma punição por causa disso, além dos danos sofridos em seu carro, que o fizeram perder 2 voltas em relação aos líderes, e quaisquer chances de tentar sua 4ª vitória nas 500 milhas, uma vez que tinha um bom carro, e podia entrar na disputa pelos primeiros lugares. O sonho de uma nova vitória de Helinho fica para 2020. Já para a dupla brasileira da Foyt, agora é tentar evoluir no campeonato, algo que ainda deve ser bem difícil, uma vez que o carro demonstra ainda precisar de muito trabalho para melhorar a performance.


Se as 500 Milhas de Indianápolis tiveram bem mais emoção e disputas do que em 2018, o mesmo não se pode dizer do Grande Prêmio de Mônaco de F-1, que mais uma vez, mostrou aquela fila quase interminável de carros onde ninguém passava ninguém. Ou quase: Charles LeClerc, vítima de mais um erro da Ferrari, acabou tendo o desprazer de cair logo no Q1 do treino de classificação para a corrida em casa, e tendo de largar de 15º, a única alternativa mesmo era tentar ser agressivo na prova para tentar um melhor resultado. E Charles até foi à luta, conseguindo duas ultrapassagens, uma delas na Rascasse, muito bonita, sobre Romain Grosjean. Mas, ao tentar a mesma manobra sobre Nico Hulkenberg, o alemão não deu mole, e houve um toque entre os carros dos pilotos, resultando em um pneu traseiro furado para a Ferrari do monegasco, que apesar de ter ido ao box, trocado os compostos, e voltado à pista, os danos decorrentes do incidente em seu carro o fizeram abandonar a corrida. LeClerc acabou sendo o único piloto a abandonar a prova no Principado, um tremendo desalento para a torcida, que tinha nele seu grande destaque, já que Charles nasceu em Mônaco. A Ferrari pediu desculpas pelo erro tático na classificação que acabou complicando as chances de LeClerc na corrida, mas se a situação de erros persistir, as chances de o time de Maranello desgastar a motivação de seu jovem piloto podem crescer bastante, e para alguns, poderia significar “queimar” a carreira de Charles, e até incentivá-lo a procurar outro time para correr futuramente. Pode ser até um exagero, mas a Ferrari, de sonho de qualquer piloto, está mais virando pesadelo do que qualquer outra coisa...


Uma pole-position obtida com perfeição, e uma boa largada sacramentaram o triunfo de Lewis Hamilton na etapa de Mônaco. Mas não foi uma vitória exatamente fácil. Ao trocar os pneus do carro do inglês para compostos macios durante a bandeira amarela desencadeada para limpar a pista dos detritos do pneu furado de Charles LeClerc, a Mercedes apostava numa chuva que até apareceu, mas foi muito fraca para alterar o andamento da corrida. Como fazer uma nova troca significaria perder a liderança da corrida, e consequentemente, a vitória, Hamilton teve que guiar a maior parte da corrida com luva de pelica, moderando seu ritmo para não desgastar prematuramente seus pneus, enquanto seus perseguidores diretos, Max Verstappen e Sebastian Vettel, com compostos duros, tinham pneus em melhores condições. Mas a tarefa de segurar a liderança foi muito facilitada por ser a pista de Mônaco, onde ninguém passa ninguém, se o piloto que vai à frente não cometer um erro ou abrir sua defesa. E Hamilton, apesar da choradeira dramática pelo rádio com o time, não cometeu nenhuma falha durante todas as voltas em que teve Verstappen e Vettel atrás de si, o que não é pouca coisa, se lembrarmos que em Mônaco os guard-rails estão bem ali ao lado, e ao menor deslize com o carro, algo que pode ser potencializado pelo estado desgastado dos pneus, é batida na certa. E Lewis ainda deu sorte quando Max fez uma tentativa, já no finalzinho da corrida, que felizmente não resultou em problemas nos carros de ambos. Com isso, Lewis venceu sua 4ª prova no ano, e com o 3º lugar de seu companheiro Valtteri Bottas, abriu 17 pontos de vantagem para o finlandês. Para a concorrência, o único “consolo”, se é que pode se dizer isso, foi o fato de a Mercedes não ter conquistado sua 6ª dobradinha consecutiva, muito pouco para garantir a emoção do campeonato de 2019.


Lewis Hamilton e Sebastian Vettel homenagearam Niki Lauda, competindo com capacete com os desenhos usados pelo austríaco durante sua carreira. Hamilton usou o desenho de quando Lauda correu pela McLaren, e obviamente, dedicou sua vitória em Mônaco ao amigo, falecido na semana passada. Vettel usou o desenho de quando Lauda defendeu a Ferrari, e dedicou o resultado também ao ex-campeão, cujo velório foi feito nesta última quarta-feira, na Catedral de Santo Estevão, em Viena, na Áustria, com a presença de vários pilotos e ex-pilotos, que foram se despedir de Niki.
Alain Prost, Lewis Hamilton, Jean Alesi, Nélson Piquet, Gerhard Berger, Valtteri Bottas, entre outros, acompanharam o funeral de Niki Lauda em Viena.

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