sexta-feira, 18 de agosto de 2017

REJEIÇÃO NIPÔNICA



"Empurra que vai..." Pior que não foi... O dilema da temporada 2017 na McLaren-Honda...

            Definitivamente, os tempos atuais são outros. Na Fórmula 1, imaginem que, no início dos anos 1990, todo mundo queria uma lasca dos investimentos japoneses na categoria máxima do automobilismo. Vendo o sucesso alcançado pela Honda no fornecimento de motores às equipes Williams e depois McLaren, ter uma parceria com a turma da Terra do Sol Nascente virou uma das prioridades das escuderias. É verdade que nem tudo dava certo exatamente: a Yamaha, tradicional rival da Honda no mercado de motos, também resolveu se aventurar como fornecedora de motores, mas suas empreitadas estiveram longe de conseguir os mesmos resultados, fornecendo propulsores primeiro para a Zackspeed (1989), e depois para a Jordan (1992).
            Mas não era preciso ter uma parceria restrita ao setor técnico: os japoneses, com sua economia bombando (eram a segunda potência econômica do mundo, perdendo somente para os Estados Unidos), e sinônimo de tecnologia de ponta, várias empresas nipônicas de ramos variados resolveram também patrocinar times na categoria, que via também receber seus primeiros pilotos nipônicos no grid, Satoru Nakajima (desde 1987) e Aguri Suzuki (1990). Mas, de lá para cá, as coisas mudaram: a economia japonesa entrou em um período de estagnação (ao modo deles, claro), e o entusiasmo dos nipônicos pela F-1 também esmoreceu após a perda de Ayrton Senna, o piloto com quem mais eles se identificavam, personificando a determinação e a bravura do espírito japonês. Na verdade, o Japão nunca saiu da F-1, só acalmou os ânimos, e se tornou um parceiro como tantos outros de times e pilotos na categoria máxima. O período de oba-oba, movido pelo sucesso, e comemorado de forma entusiástica e até exagerada, nunca mais se repetiu.
            Os japoneses ainda amam a F-1, e ainda há empresas que seguem firmes como patrocinadores de times, como a Epson, gigante mundial de informática, que estampa seus logos nos carros da campeã Mercedes. Mas não é preciso mais ficar em um sorteio para ver se terá direito a comprar ingresso para poder assistir ao Grande Prêmio do Japão. Acreditem, houve época onde os fãs primeiro tinham que se cadastrar para poderem concorrer ao direito de comprar o ingresso para a corrida. Tudo porque mais de um milhão de pessoas queriam ver a corrida, mas impossíveis de serem acomodadas no autódromo de Suzuka. Portanto, a solução mais justa era sortear o direito de comprar o ingresso. Hoje, Suzuka ainda enche o autódromo nos fins de semana de GP, mas dentro de sua capacidade de lotação. A euforia daqueles tempos passou, embora a paixão pela velocidade continue firme.
            Mas nem tudo continuou exatamente em paz, e é aqui que debato novamente um assunto que todos concordam que já virou o maior mico da temporada atual na F-1: Sim, mais uma vez, é a Honda que está na berlinda em sua atual participação na categoria máxima do automobilismo. No dia 17 de março deste ano, eu já havia escrito uma coluna onde receava que a terceira temporada da associação McLaren-Honda poderia ter um outro ano de calvário, tão ou até pior do que os dois anos anteriores. A pré-temporada havia sido um desastre, e os japoneses pareciam mais perdidos do que cego em tiroteio. O ano não prometia muitas esperanças. Isso se confirmaria, ou veríamos alguma esperança em meio às trevas que se apresentaram?
            Bem, infelizmente, não veio nenhuma esperança... Pelo menos, as que fariam a felicidade dos envolvidos. A temporada começou do jeito como todos temiam: a McLaren novamente no fundo do grid, e lutando contra uma nova unidade de potência que não mostrava nem performance e nem confiabilidade. A situação chegou a um ponto onde o divórcio do acordo esteve próximo de ser anunciado, não fossem as negativas da McLaren em conseguir um novo propulsor para 2018, o que ainda estaria tentando conseguir.
            Completamente desnorteados, os japoneses começaram a procurar novos parceiros para a próxima temporada, procurando se prevenir de perder a parceria com a escuderia de Woking. Ainda lembro de 1987, em Monza, quando a Honda anunciou que estava deixando a Williams para se associar justamente à McLaren. O time de Frank teve que se virar e correr com motores Judd V-8 aspirados que só permitiram ao time marcar pontos esporadicamente, já que devia tanto potência quanto confiabilidade. No ano seguinte, seria a Lotus que ficaria de fora dos planos dos japoneses, mesmo tendo a presença de Nélson Piquet, o primeiro piloto a conquistar um título de campeão do mundo com os motores nipônicos. Pois é, a Honda largava sem dó nem piedade. Agora, é a fábrica japonesa que arrisca levar um pontapé nos fundilhos. Quem imaginaria uma rejeição dessas, mesmo no ano passado?
            A Honda conseguiu o que muitos imaginavam ser impensável: primeiro, fez um acordo para fornecer motores à Sauber teoricamente bem aceitável, ainda mais do ponto de vista financeiro, pois além dos motores a custo zero, a fábrica ainda colocaria dinheiro no time. Mas, a direção esportiva da escuderia suíça mudou de mãos, e com isso, o acordo com os japoneses foi literalmente jogado para escanteio, e o time de Hinwill preferiu continuar a ser impulsionado pelos propulsores da Ferrari a pagarem mico com as unidades nipônicas. Faz certo sentido: se com um carro que, quando conseguiu mostrar alguma performance, demonstrou ter boas qualidades técnicas, a McLaren ainda se arrastou em diversas corridas, mal conseguindo chegar na zona de pontuação, imaginem aquele que é considerado o chassi mais fraco do grid, com a pior unidade de potência... Em outros tempos, o aporte financeiro dos japoneses até compensaria, já que a Sauber vive dias financeiros delicados, mas pelo visto, o buraco se mostrou tão embaixo que nem eles quiseram arriscar e afundar ainda mais.
A Sauber desistiu de receber os propulsores da Honda em 2018. Quem imaginaria isso...?
            Então, a próxima cartada dos nipônicos ventilada no paddock passou a ser com a Toro Rosso, que seria até comprada pelos japoneses, e receberiam as unidades de potência. Mas não é que nesta semana acabaram de anunciar que este novo acordo também acabou de ir para o vinagre? Oficialmente, as justificativas foram de divergências financeiras. Bem, podem realmente ter sido, mas que ninguém duvide que, feito um balanço geral das possibilidades, a turma do time B dos energéticos se deu conta de que as possibilidades de sucesso com os nipônicos não pareciam tão promissoras quanto às com os franceses, que atualmente equipam os carros construídos pelo time de Faenza, que bem ou mal, até que tem feito um ano razoável, apesar dos problemas enfrentados.
            Em outras palavras, a Honda conseguiu ser rejeitada por ambos os times. Realmente, quem poderia pensarem tal situação há algum tempo atrás? E olha que alguns times, como a Red Bull ainda agradeceram de forma irônica a Ron Dennis por ele não ter permitido à Honda fornecer suas unidades de potência a mais nenhum time. Dennis queria que a McLaren fosse a única a desfrutar das benesses das unidades da Honda, mas o tiro saiu completamente pela culatra. E, no balanço da primeira metade da temporada, muitos davam como certo o fim da associação com a McLaren, que engoliria seu orgulho, e aceitaria correr com qualquer outra unidade de potência do grid. Mesmo com todos os prós e contras elencados no meu texto de 17 de março, que continuam plenamente válidos, era cada vez mais certo, conforme a temporada avançava, que o divórcio entre as partes seria sacramentado a qualquer momento. Mas, até então, a Honda vinha tentando estabelecer novas parcerias, como citado, primeiro com a Sauber, e depois com a Toro Rosso. Havia como evitar o pior, e pelo menos a Honda continuaria na F-1. Agora, depois desta rejeição por parte destas escuderias, a situação mudou radicalmente. Mas não foram só os japoneses que levaram negativas: a McLaren também não teria tido a resposta desejada da Mercedes, e teria tentado apelar até mesmo para a Ferrari, o que demonstra o desespero em que a situação chegou no time inglês.
Os franceses já levaram uma saraivada de críticas tanto da Red Bull quanto da Toro Rosso mas... Ruim com eles, pior ainda com a Honda, pelo menos para o time de Faenza...
            Realmente, a situação da Honda ficou bem complicada, e tanto os japoneses como a McLaren estão em uma sinuca de bico. A escuderia inglesa se aproxima de um momento crucial, onde tem de começar a decidir como será o bólido de 2018. Negativas de Mercedes e Ferrari (esta última mais do que óbvia), resta à escuderia de Woking como única opção possível a Renault, que mesmo não estando uma maravilha, são mais competitivos do que a Honda. Trocar as unidades japonesas pelas francesas significaria a saída da Honda, novamente, da F-1, mas, pior de tudo, a marca nipônica amargaria um fracasso sem precedentes na história recente da categoria, e um abalo em sua reputação que eles decididamente não querem carregar. Afinal, eles estão associados a um time com uma estrutura de campeã na F-1. O carro mostra qualidades, e eles ainda tem um piloto de talento inquestionável como Alonso, que vem dando o máximo de si na pista, levando o time literalmente nas costas. Tudo aponta para a Honda como culpada maior do fiasco do projeto, e não há como negar isso. Mais do que a reputação, é a honra da Honda e dos próprios japoneses que estão em jogo.
            Para tentar evitar isso a todo custo, Yusuke Hasegawa, chefe do projeto da marca japonesa, anunciou que eles tentarão promover novas atualizações extras ainda este ano na unidade, a fim de melhorarem sua performance. A ordem é conseguir convencer não apenas a McLaren, mas também Fernando Alonso, a permanecerem firmes e juntos na parceria em 2018. Pelo sim, pelo não, o espanhol já deu um tempo “extra” para definir o que fará de sua vida no próximo ano até o fim de outubro, quando antes o prazo era setembro. Fernando sabe que não tem opções mais viáveis à mesa, e outras categorias como a Indy ou o WEC, não são tão atrativas como poderiam ser. E perder o espanhol, mesmo mantendo a McLaren, seria um prejuízo considerável, pois Hasegawa entende perfeitamente que sem o asturiano, os resultados obtidos até agora pela parceria McLaren/Honda seriam ainda mais pífios.
Sem rumo para 2018? Fernando Alonso adiou o prazo de sua definição para o próximo ano. Opções na mesa ficaram escassas para o espanhol...
            Foi um erro crasso os japoneses abandonarem o projeto do motor que vinha sendo desenvolvido desde 2014, para apostar em uma arquitetura completamente nova nesta temporada. Até quem não estava envolvido no projeto já previa que os japoneses estariam dando um tiro no pé, o que se comprovou, e agora precisam recuperar o terreno a todo custo. Hasegawa inclusive afirmou que a performance atual do motor é o que todos esperavam de fato para o início da temporada. De fato, houve uma evolução, mas a confiabilidade continua pífia, e em um ano onde não há mais aquela limitação de tokens de desenvolvimento, utilizadas nos últimos anos, o ano da Honda, mesmo que tivesse começado a temporada com a performance atual da unidade de potência, continuaria decepcionante.
            Na melhor das hipóteses, a parceria deve se manter em 2018, pela única falta de opção para ambas as partes. A Renault, última esperança dos ingleses, não parece propensa a aumentar de três para quatro seu número de equipes associadas, e portanto, terá que se virar realmente com os japoneses na próxima temporada, que a rigor, seria realmente a última chance dos nipônicos se redimirem na categoria. Sair seria um desastre para a honra e a imagem da marca japonesa. Já a McLaren, por mais que deteste, no momento não pode prescindir do apoio financeiro dos japoneses ao time, que não conseguiu repor os patrocinadores perdidos nos últimos anos. É um abraço de afogados no momento, mas também é a única esperança de ambos se salvarem. Todos terão que ser pacientes por mais um ano, se quiserem se salvar, entre mortos e feridos. O problema é que nos últimos anos, a temporada seguinte sempre foi aguardada com muita ansiedade e expectativa de melhoras, no estilo “agora a coisa vai...”, mas dessa vez, o entusiasmo michou de vez, a ponto de unicamente se pensar em outro termo, o “tomara que não piore ainda mais...”. O que irá realmente ocorrer? Todo mundo está trabalhando duro para achar uma resposta, tanto em Woking, na Inglaterra, quanto em Sakura, no Japão. Ninguém está fazendo corpo mole.
            Resta saber se todo este esforço será finalmente recompensado em 2018. No momento, não dá para ter certeza de absolutamente nada...


O campeonato 2017 da Indycar entra em sua reta final, e neste final de semana os pilotos estarão na pista para outra prova de 500 milhas, desta vem no velocíssimo circuito trioval de Pocono, em Long Pond, Pensilvânia. Depois, os pilotos ainda terão a prova de Gateway, última etapa em circuito oval da temporada. As duas corridas finais, em Watkins Glen e Sonoma, ocorrem em circuitos mistos. Josef Newgarden lidera o campeonato por uma pequena margem, com apenas 7 pontos de vantagem para o brasileiro Hélio Castro Neves. Mas Helinho, por sua vez, está apenas 1 ponto à frente de Scott Dixon, e ter o neozelandês nos calcanhares não permite que se possa baixar a guarda. Simon Pagenaud, o atual campeão, vem 10 pontos atrás do brasileiro, e também é um oponente perigoso. Will Power, um pouco mais atrás, também não pode ser subestimado. Prova disso é que no ano passado o australiano foi o vencedor em Pocono, e está determinado a chegar junto de seus companheiros na Penske para a decisão do título. Hélio costuma andar bem nos superspeedways, e ele teve uma boa performance em Pocono em 2015, mas no ano passado sofreu um acidente bizarro nos boxes quando Alexander Rossi literalmente capotou em cima dele durante uma das paradas da prova, tirando os dois pilotos da competição. O brasileiro, aliás, que pode ser transferido para o IMSA Weather Tech Sportscar, onde a Penske também irá competir em 2018, quer mais do que nunca chegar ao título da Indycar, e com isso, continuar na categoria de monopostos dos Estados Unidos. Se for campeão, Roger Penske ficará em uma saia justa para colocá-lo para defender seu time em outro certame. Por enquanto, o destino do brasileiro ainda não foi oficialmente definido, mas Helinho tem obrigação moral, e para si próprio, de ser campeão pela Penske na Indycar, objetivo que vários de seus companheiros da escuderia já conquistaram desde que ele passou a pilotar para Roger Penske, de 2000 para cá, como Gil de Ferran, Sam Horsnish Jr., Will Power, e Simon Pagenaud. E agora ainda tem Josef Newgarden entusiasmado para deixar o brasileiro ainda na fila de espera. Se Hélio quer ser campeão, o momento é agora... Ou poderá ser nunca...
A pista de alta velocidade de Pocono sedia a segunda prova de 500 Milhas da temporada 2017 da Indycar.

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