sexta-feira, 21 de julho de 2017

BECOS SEM SAÍDA?



Fernando Alonso está procurando por um carro mais competitivo em 2018. Mas os times destes carros não parecem animados a ter o espanhol pilotando para eles...

            A temporada 2017 da Fórmula 1 encerrou sua primeira metade domingo passado, com o Grande Prêmio da Inglaterra, e prometendo um duelo onde a Mercedes parece estar recuperando todo o seu favoritismo, abalado pela Ferrari nestas primeiras 10 provas, com um Sebastian Vettel a dar novamente esperanças de uma luta efetiva pelo título, o que não ocorria com o time italiano desde 2013. Em breve, após o Grande Prêmio da Hungria, que será disputado no fim de semana que vem, a categoria máxima do automobilismo entrará em suas “férias” de meio do ano, voltando somente no fim de agosto, com o Grande Prêmio da Bélgica. Mas nem por isso a F-1 irá descansar. Muito pelo contrário.
            Se é verdade que nas fábricas o ritmo será diminuído, e até brevemente interrompido, dependendo do cronograma estabelecido por cada escuderia, e para atender as regras da FIA que impõe um descanso muito necessário aos funcionários, dada a carga de trabalho e o ritmo intenso vivido por uma escuderia de competição, fora das sedes, muita coisa deverá rolar, em especial sobre as negociações de pilotos para o próximo ano. E tem nomes graúdos que estarão disponíveis na lista para contratações. Mas isso não significa que estarão dando sopa assim. Na verdade, para alguns pilotos, o fim dos atuais contratos em vigor não oferece muitas opções e facilidades.
            Comecemos pelo nome, em tese, daquele que é considerado o piloto mais completo do grid: Fernando Alonso. O asturiano está em seu último ano de contrato com a McLaren, e os resultados obtidos em sua segunda passagem pelo time de Woking são realmente ridículos. E nem é culpa do espanhol, que vem carregando o time nas costas. A retomada da parceria Honda-McLaren, tao vitoriosa na virada dos anos 1980 para os anos 1990, se tornou um dos maiores fiascos da história da categoria, e aparentemente, não dá sinais positivos de melhoras. Domingo passado, em Silverstone, mesmo com a estréia de várias atualizações na unidade de potência, Fernando Alonso sofreu um novo abandono com problemas no propulsor, enquanto seu parceiro Stoffel Vandoorne não conseguiu chegar na zona de pontos. A paciência de Alonso com os maus resultados está no fim, e olha que, durante todo este tempo, o espanhol até que ficou quieto diante de tantas dificuldades e resultados ruins. Não que ele não tenha reclamado, o que ele fez em diversos momentos, mas considerando os chiliques que ele aprontava antigamente, pode-se dizer que ele teve uma paciência de monge aguentando ter de ficar confinado quase ao fim do grid, e longe de disputar as primeiras posições. Ele quer voltar a vencer, e ao que parece, será impossível que realize isso com a parceria McLaren/Honda. Tanto o time sabe disso que quer arrumar novamente motores da Mercedes para 2018. Os japoneses, então, se mandariam para a Sauber, o que parece incerto de ocorrer a esta altura, tendo inclusive surgido o rumor de que a Toro Rosso poderia receber as unidades nipônicas.
            Seria a única cartada da McLaren para tentar segurar Alonso, um nome de respeito em todo o grid, e que garante resultados. Um motor competitivo é o que falta para o espanhol voltar a disputar as primeiras posições na escuderia inglesa. A questão é se ele fica ou não... Só que o espanhol está em beco aparentemente sem saída. Ele quer um carro competitivo, mas onde encontrar um? Na Mercedes, Lewis Hamilton é terminantemente contra, e por motivos mais do que óbvios. E Valtteri Bottas, contratado para substituir o recém-aposentado Nico Rosberg este ano, vem fazendo um bom trabalho, e conseguindo resultados condizentes com o que se espera dele, podendo inclusive disputar o título da temporada, estando em ascenção no campeonato, e em condições de superar Vettel na classificação no curto prazo. Depois de lidar com os ânimos exaltados no time nas últimas temporadas no duelo entre Hamilton e Rosberg, o time germânico experimenta uma paz interna muito apreciada. Contratar Alonso seria semear tempestades e certeza de colher furacões. Com rivais potencialmente mais próximos, a última coisa que Toto Wolf e Niki Lauda querem é rachar a coesão do time, que vem se saindo bem neste ano, conseguindo aparentemente retomar a dianteira em termos de performance frente à Ferrari. Bottas vem sendo elogiado por Hamilton, e sendo considerado um bom parceiro. É verdade que Alonso aumentaria o poder de fogo do time alemão, mas os riscos de tumultuar o ambiente em Brackley parecem não compensar o evidente reforço que teriam na pista. Mesmo que Fernando atualmente pareça ser um piloto mais dedicado ao time onde pilota, e menos egocêntrico e centralizador, uma vez que nunca teve atritos com Jenson Button ou com Vandoorne nesta sua nova passagem por Woking, quem garante que seus velhos “hábitos” não retornem logo que estiver novamente em um carro competitivo? É fácil ser camarada quando não tem condições de vencer, por mais que dê tudo de si na pista. Mas, já com um carro vencedor, e potencial campeão em mãos... Lewis Hamilton e Nico Rosberg eram amigos de longa data até dividirem uma Mercedes em seu momento de supremacia na F-1, e todo mundo viu o que aconteceu depois...
Sebastian Vettel poderia entrar em parafuso com Fernando Alonso ao seu lado na Ferrari. Para sua sorte, a direção da escuderia também não quer o espanhol por lá... Em compensação, para onde Vettel iria se quisesse sair?
            Pelo mesmo motivo, a Ferrari também seria louca de trazer o espanhol de volta. Sebastian Vettel vem fazendo um trabalho excelente, e o espanhol poderia implodir a estabilidade do piloto alemão, que se já vem reclamando pelos cotovelos do que acontece na pista com pilotos de times rivais, imagine encarar Alonso na mesma garagem. Mas Alonso foi “saído” pelo time em 2014, em decisão tomada pela nova administração da escuderia italiana, que preferiu “cortar” as asinhas egocêntricas do piloto para contratar Vettel, que não demorou a se integrar ao time, sem causar o mesmo estresse que o espanhol causava. E Sergio Marchionne já falou que Alonso não volta a Maranello. Para ele, Vettel rende a mesma coisa, e está contente com Raikkonen como companheiro, certamente mais pelo fato de saber que pode domar o finlandês em condições normais, do que pelo desempenho de Kimi propriamente. O time italiano, por seu lado, fica numa saia justa: precisa de um segundo piloto que dê mais resultados na pista, mas ao mesmo tempo, não coloque a posição de Vettel em xeque. E em se tratando do tetracampeão alemão, a sua situação é bem similar à de Fernando. Seu contrato termina no fim deste ano, e o único caminho possível para ele é ficar onde está. E, neste momento, sair para quê? O time italiano pode até ter seus problemas, mas está competitivo, e tem recursos de sobra. O único lugar onde poderia ser mais competitivo seria justamente na Mercedes, mas o mesmo raciocínio aplicado a Alonso também vale para Vettel, que certamente não seria bem-vindo no time alemão por Hamilton, ainda mais depois das escaramuças vistas em Baku. Melhor confiar no desenvolvimento do trabalho que vem sendo feito pelo novo corpo técnico e torcer para tudo continuar indo bem.
            Outra opção seria tentar voltar à Red Bull, mas o time dos energéticos já tem sua atual dupla, formada por Daniel Ricciardo e Max Verstappen garantida em 2018, e além do mais, o time ainda sofre com a deficiência de potência das unidades de força da Renault, que impede o time de obter performance mais próxima de Ferrari e Mercedes. Então, à sua maneira, Sebastian não tem para onde ir em busca de melhores condições de competição. Aliás, é preciso que se diga que na busca por um nome para o lugar de Raikkonen, muitos dizem que Verstappen é altamente considerado por Maranello, mas isso também poderia ser verdadeiro tiro no pé. O holandês já mostrou que é abusado na pista, até demais para o gosto de Sebastian, que decididamente não gostou do duelo que travou com ele domingo passado, na Inglaterra, só conseguindo superar o piloto da Red Bull na parada de box. Tê-lo na mesma garagem seria encrenca certa na pista, porque Max já mostrou que não respeitaria nenhuma hierarquia na escuderia.
            O holandês, pelo seu lado, já anda pondo as manguinhas de fora, querendo arrumar um novo lugar mais competitivo para correr, mas a Red Bull não vai largá-lo assim tão fácil. O tão propalado programa de formação de pilotos da marca de energéticos parece ter perdido o rumo, e atualmente só dispõe de um nome na fila de espera, Pierre Gasly, e que não é lá de empolgar, tanto que Helmut Marko e Christian Horner estão sendo enfáticos com Carlos Sainz Jr., outro piloto com ares de rebeldia, que defende a Toro Rosso, e já adiantou que quer novos ares em 2018, ao que os dirigentes rubrotaurinos trataram de jogar um balde de água fria, dizendo que ele não vai a lugar algum, sem pagar uma considerável multa. E, assim como ocorre com Alonso, cujo temperamento difícil, e ego exacerbado marcaram suas passagens por Renault, McLaren (no passado), e Ferrari, com propensão a tumultuar o ambiente interno da escuderia, o que joga contra sua contratação, fora a concorrência interna, Verstappen só teria chance na Mercedes ou na Ferrari sem Hamilton ou Vettel por lá, pelo modo impetuoso como se comporta, tanto na pista quanto fora dela, não levando desaforo para casa sob quase nenhuma circunstância. Para os tiffosi, seria uma maravilha, pois o estilo agressivo e arrojado por vezes ao extremo faria do jovem holandês um legítimo sucessor de Gilles Villeneuve, até hoje reverenciado em Maranello por sua pilotagem destemida ao volante dos carros vermelhos.
Cara feia é fome? Max Verstappen já andou chiando que quer um carro mais competitivo. Abusado e arrojado, ele faria a festa dos torcedores do time de Maranello, mas viraria o pesadelo de Sebastian Vettel...
            E dependendo da situação, nem é preciso que o candidato a companheiro de equipe seja exaltado ou má companhia. É o caso de Daniel Ricciardo, que volta e meia é considerado como piloto ideal para a Ferrari. Impossível imaginar um piloto tão carismático e que seja ao mesmo tempo eficiente e integrado ao time, sem criar confusões ou celeumas internas. Só que em seu primeiro ano na Red Bull, ele massacrou Vettel na pista, e o alemão treme só na possibilidade disso ocorrer novamente, na Ferrari. Alguém duvida que o tetracampeão piraria novamente se fosse superado pelo australiano? Bastou aquela lavada em 2014 para ele se mudar para a Ferrari na temporada seguinte, depois de passar o primeiro ano desde 2007 sem vencer uma corrida sequer. Um nome muito mais plausível seria do mexicano Sergio Perez, que vem mostrando serviço na Force India nas últimas temporadas, e não teria, em tese, objeções por parte de Sebastian, pelo menos até o presente momento. O mexicano está disponível para 2018, enquanto Ricciardo só poderia pensar em uma transferência em 2019. Fica a dúvida se Raikkonen vai mostrar na segunda metade da temporada o que não mostrou na primeira, o que faria o time rosso renovar com ele por mais um ano, o que faria a alegria de Vettel, embora nem tanto a de Maurizio Arrivabene ou de Sergio Marchionne. Mas não seria a primeira vez: em 2015, Kimi também estava devendo, mas ganhou nova chance depois de algumas boas performances, e claro, à Vettel, o maior defensor da permanência do finlandês em Maranello.
            Enquanto isso, com contrato válido para 2018, Hamilton está tranquilo para a próxima temporada. E a tendência, a menos que acabe fazendo uma reviravolta igual à de Nico Rosberg, é seguir firme no time alemão. A escuderia é garantia de um carro competitivo, e mesmo que tivesse a chance de se transferir para outro time, a única opção viável seria a Ferrari. Mas dividir o time com Vettel, como já mencionei, seria loucura. E, mesmo que o alemão já não esteja por lá, qual a garantia de ter um equipamento melhor do que onde está?
Lewis Hamilton até topa dividir o espaço com Fernando Alonso, mas só nas entrevistas coletivas oficiais. O time da Mercedes já são outros quinhentos...
            Voltando a Fernando Alonso, especula-se que ele até poderia voltar para a Renault, mas o time da fábrica francesa no momento não tem condições de oferecer ao espanhol um carro vencedor, e muito menos de pagar o astronômico salário que ele exigiria. Parece muito mais tentador para os franceses apostar numa possível volta de Robert Kubica, cada vez mais apregoada nos bastidores após os testes feito pelo polonês com um carro de 2012 do time, ou pagando a multa exigida pela Red Bull para liberar Carlos Sainz Jr. E até mesmo a oportunidade de o espanhol ir para o Mundial de Endurance, deixando a F-1, ventilada há algum tempo atrás, pode nunca acontecer, depois dos rumores de que a Porsche pode deixar o WEC, o que faria da Toyota o único time de fábrica da classe LMP1, sem ter na prática com quem competir, colocando em xeque a principal e mais badalada categoria das provas de endurance. Já com relação a uma possível ida para a Indycar, o espanhol iria tomar uma verdadeira ducha de água fria: ele se entusiasmou com Indianápolis, mas a prova das 500 Milhas é uma corrida quase que à parte do resto do campeonato, normalmente não tão badalado e com provas bem mais “comuns”. Ele teve um carro competitivo e capaz de vencer a Indy500, na parceria da McLaren com o time de Michael Andretti. Só que no restante do campeonato, a Andretti não vem com a mesma pompa e capacidade que no oval de Indiana, muito pelo contrário...
            Como se pode ver, os nomes de destaque da F-1 não tem tantas opções de mudança de ares como se poderia esperar. Claro que os times podem surpreender, jogando a lógica e a calmaria interna pelos ares, buscando reforçar seu poderio, mesmo com os possíveis contras a mais que isso possa acarretar, e que poderia ser muito mais legal e empolgante para a F-1 como um todo. Mas já foram os tempos em que as escuderias eram muito mais arrojadas e audaciosas. Nos dias de hoje, muito provavelmente nunca veríamos em um mesmo time Alain Prost e Ayrton Senna, como ocorreu em 1988 e 1989, que gerou uma das maiores rivalidades de toda a história. Mas, quem sabe eu possa estar queimando a língua, e vir a ser surpreendido? Confesso que gostaria muito. E boa parcela dos torcedores amantes de corridas também... Bom, sonhar ainda é de graça... Quem sabe o que pode acontecer...?


A Stock Car está novamente em ação, depois de realizar a Corrida do Milhão, em Curitiba. O palco é a pista de Curvello, próxima 150 Km a Belo Horizonte em Minas Gerais. O canal pago SporTV3 transmite as duas corridas na pista domingo a partir das 13:00 Hrs. E espera-se que não achate a transmissão, a exemplo do que a Globo fez com a prova de Curitiba, no início do mês, em flagrante desrespeito aos torcedores e amantes da velocidade...

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