sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

BARRICHELLO CAMPEÃO


Barrichello chegou ao título da Stock Car pela equipe Full Time e comemorou efusivamente em Curitiba: "É Campeão!"
            Demorou, mas enfim ele chegou lá. Rubens Gonçalves Barrichello, aos 42 anos, novamente é campeão. Não da F-1 ou da IRL, mas da Stock Car nacional, onde o piloto passou a competir no final de 2012. E neste ano, com duas vitórias na competição, a primeira delas na Corrida do Milhão, no dia 3 de agosto, disputada em Goiânia. Depois, veio o segundo triunfo, no dia 17 do mesmo mês, em Cascavel. A partir dali, o recordista de GPS disputados na F-1 entrou firme na disputa pelo título da categoria, algo que só teve mesmo chance de fazer em uma única temporada na F-1, nos seus 19 anos em que permaneceu na categoria.
            O brasileiro assumiu a liderança na etapa de Tarumã, e não a largou mais, chegando para a prova final, domingo passado, no autódromo de Curitiba, com 14,5 pontos de vantagem na classificação. Mas, como a prova final tinha pontuação dobrada para os pilotos, Rubinho não podia cantar vitória antecipada, uma vez que o lance da pontuação dava chances matemáticas a nada menos do que 7 pilotos. Bastava ao piloto da Full Time um 4º lugar para liquidar a fatura não importasse quem chegasse à sua frente, mas o paulista começou o fim de semana com o pé direito no acelerador e conquistou a pole-position para a derradeira etapa. Bastaria pilotar com cuidado e evitar problemas que o título viria.
            De fato, Barrichello largou bem, deixando a confusão para os concorrentes, mas pegou um ponto escorregadio na curva 3, saindo da pista e perdendo a liderança, caindo para 4º, justamente a posição que não poderia perder. Mas Rubinho manteve-se calmo e ficou firme na corrida, e ainda teve a sorte de ver um dos postulantes, Thiago Camilo, abandonar a corrida. Firmando-se em 3º lugar na corrida, não precisava fazer mais nada, e assim foi até a bandeirada, que recebeu com 1s782 de diferença para Daniel Serra, o vencedor. Áthila Abreu bem que tentou, mas mesmo que vencesse a corrida, não conseguiria tirar o título de Rubens. Ficou mesmo em 2º lugar.
            A comemoração foi entusiasmada como poucas vezes se viu na categoria, com Barrichello comemorando enfim um título, com a companhia dos dois filhos e da mulher. Rubinho, aliás, subiu ao pódio com os garotos, que tomaram junto com o pai o banho de champanhe dos vencedores. Um título mais do que justo, e uma conquista para lavar a alma de Barrichello, que não comemorava algo assim desde o campeonato da F-3 inglesa, em 1991, quando derrotou na disputa da competição nomes como Gil de Ferran e David Couthard. Antes, Rubinho havia sido campeão apenas da F-Opel, em 1990. Em 1992, o piloto disputou a F-3000 Internacional, último passo para chegar à F-1, mas terminou apenas em 3º lugar no certame.
            As coisas andavam bem, e Barrichello já era considerado o sucessor das vitórias brasileiras na categoria máxima do automobilismo. Em 1993, o paulistano já estreava na Jordan, um time médio promissor, que dava a ele a chance de mostrar seu talento sem a cobrança imediata por resultados. Nem era preciso, afinal, Ayrton Senna estava no seu auge como piloto, e tinha tudo para assim permanecer ainda por várias temporadas, tempo que todos esperavam, daria a Rubinho a chance de mostrar seu talento, e ir para um time de ponta.
 
Estréia na F-1 pela Jordan, em 1993, dava esperanças aos torcedores de ser um novo campeão em potencial, mas as coisas não foram bem assim...
          
Só que o destino tinha outros planos. O trágico fim de semana de Ímola em 1994 jogou todo o planejamento e expectativas da torcida para o ar. Com a morte de Senna, Barrichello passava a concentrar toda a atenção da torcida, havida por um novo brasileiro campeão. Em 94, Barrichello fez uma excelente temporada com a Jordan, com direito até a uma pole-position que, apesar de fortuita, mostrava que o piloto tinha potencial para muito mais quando tivesse um carro decente. E aí começaram os problemas.
            Não surgiu um carro vencedor para Barrichello. Mas as expectativas da torcida, alimentadas pela TV Globo, que precisava mais do que nunca de um brasileiro vencedor na F-1, jogaram toda a cobrança nas costas de Rubinho. Christian Fittipaldi tinha partido para a F-Indy, então era carta fora do baralho. Para piorar a situação, na pré-temporada de 1995, o carro da Jordan parecia ter um desempenho surpreendente, que acreditava poder dar ao time a condição de vencer corridas. Tudo isso fez Barrichello aceitar o rótulo de “sucessor” de Ayrton Senna. Deu tudo errado.
            O carro da Jordan não era tão competitivo como se imaginava, e a pressão da torcida por vitórias, acabou por deixar o piloto em descrédito, e até a comprometer a continuidade de sua carreira na categoria. Ao fim de 1996, o piloto era forte candidato a ser mais um que não vingaria na F-1 por falta de resultados. E ainda tinha visto seu companheiro de equipe Eddie Irvinne ser contratado pela Ferrari. Foram precisas 3 temporadas competindo para Jackie Stewart para Rubens reconquistar sua estima e seu respeito pela F-1. Claro, para os brasileiros, continuava tudo do mesmo jeito: o “sucessor” de Senna ainda era um fracasso, em que pese o fato de muitos ignorarem que ele não tinha carro para corresponder às expectativas. Foi a pior conseqüência deter assumido o papel em 1995. E isso lhe faria carregar o estigma de “fracassado” por muito tempo ainda. E isso ainda iria piorar, quando o brasileiro, enfim, teria um carro vencedor nas mãos.
            Contratado pela Ferrari a partir de 2000, renasceram as esperanças de vitórias brasileiras e disputa de título na F-1, depois de praticamente quase uma década da última conquista de Senna, em 1991. Ledo engano: a Ferrari nunca permitiu que o brasileiro disputasse o título. Todas as atenções do time italiano eram concentradas em Michael Schumacher, e não raro foram as vezes que Barrichello teve de jogar a favor do alemão. E, curiosamente, o brasileiro nunca conseguiu iniciar bem a temporada, o que dava suspeitas de favorecimento mais do que explícito ao piloto alemão, que é bom ressaltar, sempre foi um talento muito maior do que Barrichello. Só não dá para se ter idéia de quão melhor era exatamente, em virtude da política da Ferrari de sempre olhar primeiro Schumacher, e depois, Barrichello, e isso se anda fosse conveniente.
            A pecha de “fracassado” ficou ainda mais forte em Rubinho, pelas derrotas freqüentes no confronto com Schumacher. Barrichello conseguiu apenas 9 vitórias e dois vice-campeonatos. Cresceu bastante como piloto, a ponto de ser o companheiro mais forte que Schumacher já teve em um time, mas também cometeu vários erros, especialmente quando voltou a prometer vitórias e até disputa de títulos quando se tornou piloto da Ferrari. De fato, Barrichello acreditava que sua chance no time chegaria. Em 2005, a paciência acabou, e Rubens resolveu procurar outros ares. Na Honda, o fracasso do time arrastou o brasileiro junto para o fundo do poço, e ele, assim como Jenson Button, só renasceram para a categoria com a Brawn GP, em 2009, que deu a ambos um carro vencedor. Foi a única vez em que Barrichello teve liberdade para disputar o título, ou pelo menos, uma liberdade que nunca teve na Ferrari. Mas, no fim, ele perdeu a parada para Jenson Button. Ficaram daquele ano as últimas vitórias e poles brasileiras na F-1 até hoje: Barrichello venceu em Valência e Monza, e foi pole no GP do Brasil, em Interlagos.
 
Na Brawn GP, Barrichello pôde enfim lutar pelo título, mas perdeu o duelo para Jenson Button.
          
Em 2010 e 2011, disputou suas últimas temporadas pela Williams, que o dispensou sem cerimônias no início de 2012 após muita enrolação por parte do time inglês, que preferiu os dólares de Bruno Senna. Após um teste com o carro da Indy Racing League, Barrichello ficou empolgado e foi para o certame americano, onde foi companheiro de equipe de seu grande amigo Tony Kanaan. Fez uma temporada apenas razoável, e mostrou potencial para crescer na categoria se lá permanecesse. Mas, diante das solicitações de levar patrocínio para correr, optou por voltar para o Brasil e disputar a Stock Car, onde receberia para competir. A princípio como convidado para as últimas corridas de 2012, Barrichello tomou gosto pelos carrões e desde o ano passado disputa regularmente ao campeonato. E chegou ao título ao fim de sua segunda temporada completa.
            Mais do que isso, o piloto está em fim em paz. Reencontrou a paz de espírito que tanto lhe faltou em grande parte das quase duas décadas de permanência na F-1. Com a oportunidade de competir na Stock, Barrichello viu a chance de enfim voltar a viver no Brasil, junto da família, permanecer competindo, e ser mais presente no crescimento dos dois filhos, e encerrar sua fase da vida de nômade, correndo o mundo inteiro para competir de algo. Como o calendário da Stock não tem provas a todo instante, e praticamente um quarentão, era mesmo hora de mudar de ares. E ele se deu bem com os carrões da categoria. Apanhou no princípio, como acontece com todos, mas era questão de tempo até se aclimatar e entrar no ritmo. E os resultados começaram a aparecer, especialmente neste ano.
            A Stock também ganhou com sua presença. Muito criticado por vários “torcedores” para os quais piloto bom só é piloto campeão, Rubinho atraiu uma parcela considerável de novos fãs para a Stock. E, mas importante, tornou-se o mais bem-sucedido ex-piloto brasileiro de F-1 a competir no certame nacional, onde já correm vários outros nomes que um dia estiveram presentes na F-1, como Luciano Burti, Antonio Pizzonia, e Ricardo Zonta. E todos eles até agora não conseguiram chegar ao título na Stock. Quem teve melhor sorte também na Stock foi Max Wilson, que não teve chance efetiva de pilotar na F-1, e acabou sendo campeão da categoria nacional em 2010. Diferenças de oportunidade e problemas variados, devidamente avaliadas, Barrichello mostra o quanto é um bom piloto. Sempre foi. Cometeu vários erros em sua longa carreira, mas hoje fala sem arrependimentos que não mudaria nada do que fez todos estes anos. E agora isso pouco importa. Claro que seus detratores continuarão a lhe tirar os méritos, mesmo desta conquista obtida. É verdade que, como categoria, a Stock não é nenhuma maravilha, mas é o que sobrou do automobilismo nacional, ao lado da F-Truck, como opção para nossos pilotos, em virtude da ineficiência da CBA, que há anos não passa de uma entidade decorativa que só sabe cobrar taxas das carteiras dos pilotos, e quase nada faz pelo automobilismo nacional.
            Mas o que importa é que Rubinho enfim voltou a ser campeão. E está feliz com isso. E seus fãs também. E quem sabe não vêm outros títulos nos próximos anos? Barrichello já tirou um grande peso das costas, e agora, mais leve e descompromissado, ainda pode continuar acelerando por um bom tempo. Parabéns, Rubens! Você merece.

Na Indy Racing League, Rubinho teve uma estréia razoável, mas as solicitações de patrocínio o levaram a voltar para o Brasil, e se dedicar à Stock Car. 
 

 
A Porshe retornou este ano às competições de Esporte-Protótipos no Mundial de Endurance, de onde andava ausente há um bom tempo, e encerrou o ano com vitória nas 6 Horas de São Paulo, mostrando que veio mesmo para ser novamente uma força neste tipo de competição. Mas por pouco o triunfo da marca alemã não vira uma tragédia no autódromo paulistano: Mark Webber, piloto de um dos carros da fábrica, e que largara na pole-position da corrida, sofreu um forte acidente na Curva do Café, após um toque com outro carro. O modelo 919 pilotado pelo australiano bateu forte, ficou parcialmente destruído, e houve até um princípio de incêndio, mas Webber foi retirado dos restos do carro aparentemente ileso, e levado ao centro médico de maca para os exames de praxe neste tipo de situação. Felizmente, tudo não passou de um forte susto, e Mark já recebeu alta. Curiosamente, o australiano sofreu um violento acidente nesse mesmo local em 2003, quando corria pela Jaguar, nas voltas finais do GP do Brasil de F-1 daquele ano. Como o local da corrida ficou cheio de destroços de carro, a prova foi interrompida antes do final, procedimento que também foi adotado na etapa final do Mundial de Endurance, depois de várias voltas com o Safety Car na pista para atendimento médico do piloto. Webber corria em parceria com os pilotos Brendon Hartley e Timo Bernhard. A Porshe venceu a corrida com seu outro carro, pilotado pelo trio Romain Dumas, Neel Jani, e Marc Lieb, ao fim de 249 voltas. A Toyota garantiu a 2ª posição com a dupla Anthony Davidson e Sébastien Buemi, enquanto a Audi, com o trio Loic Duval, Lucas Di Grassi, e Tom Kristensen, em sua última corrida na carreira, fecharam o pódio. Émerson Fittipaldi, que competiu pela equipe AF Course, com uma Ferrari F458 Italia, na categoria GTE-Am, ficou na 21ª posição geral, e 6º colocado na categoria.
 

Em sua terceira temporada na competição, a Toyota sagrou-se campeã do Mundial de Endurance. A escuderia nipônica já tinha garantido o título de pilotos, mas faltava definir o campeonato de construtores, o que veio a acontecer em Interlagos. A Audi, vencedora dos dois últimos campeonatos, terminou o ano na 2ª colocação, mas na pista, os modelos E-tron Quattro perderam até para os Porshe, que só não superaram a marca das 4 argolas por terem tido um péssimo começo de campeonato. A disputa para 2015 promete, com a Porshe vindo mais forte, e a Audi determinada a recuperar o seu trono, frente a uma Toyota que enfim comemora um campeonato que gostaria de ter conseguido na F-1 quando lá esteve, mas que agora não sente um pingo de saudade sequer. Que venha 2015...

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