sexta-feira, 26 de julho de 2013

CHARADA HÚNGARA



Circuito de Hungaroring: muitas curvas e um fortíssimo calor esperam os pilotos da F-1.

          Depois de 3 semanas, eis que a Fórmula 1 está de volta, e chegamos ao circuito de Hungaroring, nas cercanias de Budapeste, reconhecidamente a mais bela capital do leste europeu. Mas, se a cidade encanta pela sua beleza, o mesmo não se pode dizer do circuito que desde 1986 sedia a prova húngara: pista travada e sem maiores atrativos, as corridas por aqui raramente oferecem muita emoção, e mesmo atualmente se podendo contar com o sistema do DRS e o Kers, as possibilidades de ultrapassagens ainda ficam abaixo do que normalmente se gostaria que fossem.
            Por vezes, isso possibilita algumas corridas bem disputadas, como foi em 1990, quando Thierry Boutsen venceu aqui largando da pole e tendo de se virar com uma turma feroz logo atrás, que incluía nomes como Ayrton Senna e Nigel Mansell, que não tinham medo de partir para o ataque. Em outras ocasiões, o clima ajudou a deixar a corrida mais agitada, como foi em 2006, quando Jenson Button conquistou nesta pista sua primeira vitória na categoria. Mas, na maioria das vezes, a corrida tem sido monótona, e é preciso saber usar bem da estratégia para salvar um bom resultado na corrida, se tiver feito uma má classificação. Portanto, largar na frente sempre é fundamental nesta pista.
            Todos os times chegaram à Hungria com algumas novas dúvidas na cabeça. Se o teste feito em Silverstone semana passada ajudou a confirmar a maior durabilidade dos novos compostos disponibilizados pela Pirelli, o forte calor do verão europeu certamente vai dar mais trabalho do que todos imaginavam. E, por isso mesmo, apesar de saber que contarão com pneus que certamente não sofrerão as agruras vistas durante o GP da Inglaterra, as escuderias não sabem exatamente como os novos pneus irão reagir ao forte calor húngaro. Os compostos deste final de semana serão os macios e os médios, na prática os compostos intermediários do rol de opções da fábrica. O problema é que a temperatura está mesmo forte, e a previsão de tempo é que possa chegar perto dos 40 graus no domingo, e não estamos falando do calor no asfalto do circuito.
            Normalmente, um forte calor assim já torna o acerto aerodinâmico um pouco mais complicado: o ar quente é mais leve, e portanto exige acertos mais refinados no ajuste aerodinâmico. Nada exatamente complicado, mas na pista de Hungaroring os carros já usam praticamente todo o apoio aerodinâmico possível nas asas, devido ao excesso de curvas e a velocidade final não ser muito elevada. Tração é fundamental para sair bem nas curvas. O problema é acertar tudo de forma a não comprometer exageradamente a velocidade do carro na reta dos boxes, praticamente o único ponto favorável de ultrapassagens. A asa móvel traseira ajuda, mas se não conseguir entrar na reta bem próximo do adversário, o esforço pode ser inútil.
            O forte calor também preocupa os times pela necessidade de refrigeração dos sistemas. O ar quente faz os radiadores trabalharem a fundo, e por isso mesmo, todo ar mais fresco é bem-vindo. E, para isso, convém ficar o menos possível perto do adversário que vai à frente, pois a baforada de ar quente que os carros soltam não é nenhuma brisa. Só que, sem embutir no adversário, não se fazem ultrapassagens. Portanto, é preciso caprichar no acerto para que o carro receba todo o ar fresco possível.
            Mas os pneus ainda vão concentrar a maior atenção dos técnicos. Se por um lado os compostos não dêem possibilidade de furos ou estouros anormais como os vistos na Inglaterra, os times estão entrando hoje na pista quase que a zero no conhecimento dos novos compostos. Os treinos feitos em Silverstone semana passada já deram uma boa base para os times, mas Silverstone é Silverstone, e estamos em Hungaroring, com perfil de curvas, velocidade, e asfalto com características diferentes. E o forte calor ainda vem botar, literalmente, mais lenha na fogueira. Ninguém sabe exatamente qual vai ser a durabilidade “ideal” dos pneus, e saber tal informação é crucial para se planejar a estratégia de corrida. Embora não se espere o mesmo número elevado de pit stops vistos em Barcelona, ninguém pode afirmar que duas paradas bastarão para se chegar ao fim da corrida. É plausível afirmar que o número ideal será de 3 paradas, mas os carros que tratarem os pneus de forma mais suave talvez possam arriscar fazer apenas 2 trocas.
            Neste ponto, quem sai perdendo é a Mercedes, que não pôde treinar semana passada cumprindo pena pelo teste “secreto” da Espanha em maio. Todos os demais times já tem algumas idéias do que os novos pneus podem apresentar, e isso já lhes dá uma boa vantagem. Por outro lado, é preciso também considerar que a relação de forças vista até agora pode sofrer mudanças com os novos pneus. Ao mudar ligeiramente a construção dos compostos, e voltar a utilizar o kevlar e não o aço na cinta dos pneus, quem possuía carros com boa adaptação aos compostos desde o início do campeonato pode passar a não ter o mesmo comportamento a partir de agora. Ferrari, Lótus e Force Índia tinham chassis que sabiam lidar bem com os pneus. Isso irá se manter agora? Pelo seu lado, a Mercedes entra na pista hoje com câmeras de sensor térmico instaladas nos flaps de suas asas dianteiras, com o objetivo de vigiar os pneus dianteiros, e permitir ao pessoal do Box acompanhar em tempo real as condições dos compostos. E há quem tema que, por usar uma construção mais similar à do ano passado, a Red Bull, que já tem conseguido se distanciar com Sebastian Vettel na classificação, fique ainda mais poderosa, e que o campeonato perca parte de sua competitividade com isso. A conferir na pista hoje.
            Por todas as dúvidas apresentadas pelo calor e pelos novos pneus, os treinos livres de hoje deverão ser bem aproveitados. Todas as escuderias precisam ter noção mais exata do que os novos pneus poderão render no forte calor da Hungria, e ver se seus carros reagem aos novos pneus da forma como é esperada. Dos dados obtidos hoje deverá sair a resposta mais clara para se decifrar a charada húngara deste fim de semana. E o fim de semana deve ser mesmo de muito trabalho: depois de domingo, inicia-se o período de “férias” da F-1, que só voltará a se reunir praticamente daqui a um mês, em Spa-Francorchamps. Embora as fábricas das escuderias fechem em parte deste período, vai ser um mês cheio de estudos no restante do tempo, e para tal, toda a informação que puder ser obtida aqui no GP da Hungria será crucial para abastecer as planilhas e sistemas de estudos visando aprimorar o comportamento dos carros para a fase seguinte do campeonato, que terá a maioria de suas provas disputadas longe da Europa.
            Este é o momento mais importante para se colher dados que poderão significar continuar evoluindo no atual campeonato ou passar a ser figurante. E, complicando ainda mais o panorama, os times também precisam focar seus estudos para os projetos da próxima temporada. Dos times de ponta, a McLaren é quem já definiu que 2013 é um ano perdido, e passará a focar mais seu projeto de 2014. Mesmo assim, o time de Woking continuará promovendo melhorias nos carros, mas sem a mesma prioridade do projeto 2014. Para os demais times, em especial Ferrari, Lótus, Red Bull e Mercedes, a batalha com certeza continuará mais centrada ainda este ano, pelo menos por mais algumas semanas.
            Diante dos desafios que a prova da Hungria está apresentando, fica a dúvida: veremos uma boa prova no fim de semana, por conta dos novos pneus, ou será que teremos mais uma corrida sem grandes disputas? Acho que só saberemos mesmo no domingo, e espero que os novos pneus ajudem a deixar a competição mais agitada – no bom sentido, claro. E brigas na pista nunca são demais...


Avisando a quem ainda não sabe: a TV Globo rifou a corrida húngara de sua programação de domingo. A emissora carioca vai transmitir a missa do Papa Francisco, que está no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude. Quem quiser ver a corrida de F-1 precisará recorrer ao canal pago SporTV, que pelo menos mostrará a prova ao vivo.


Lewis Hamilton venceu a corrida da Hungria no ano passado. Hoje na Mercedes, o inglês demonstra não ter o mesmo entusiasmo de 2012, devido ao fato de não se sentir “confortável” o suficiente no carro. O inglês também não pode afirmar que lutará pela vitória, uma vez que a Mercedes não tem maiores informações de como seu carro reagirá aos novos pneus, mas certamente a situação mais adversa é da McLaren, que no ano passado venceu aqui com Hamilton, e neste ano se contentará se puder marcar pontos, devido ao péssimo rendimento do modelo 2013...

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