sábado, 1 de dezembro de 2012

UMA DECISÃO ELETRIZANTE


            O Grande Prêmio do Brasil, disputado domingo passado, fechou com chave de ouro um dos melhores campeonatos da história da Fórmula 1, e também premiou o público e os telespectadores com uma das melhores corridas da história do circuito, em uma decisão de campeonato dramática e, acima de tudo, eletrizante. Talvez apenas na decisão de 2008 a situação tenha sido ainda mais dramática que a deste ano, tendo se resolvido praticamente nos metros finais da última volta da corrida, em favor de Lewis Hamilton, que batalhava contra Felipe Massa pelo título daquele ano.
            Este ano, deu Sebastian Vettel, que tornou-se o terceiro piloto da história da categoria a conquistar 3 títulos consecutivos, repetindo o feito que já fora alcançado por Juan Manuel Fangio em 1954, 1955, e 1956; e Michael Schumacher em 2000, 2001, e 2003. Mas não foi uma conquista fácil: Fernando Alonso, que lutava também pelo tricampeonato contra o piloto da Red Bull, tentou tudo o que pôde, terminando a corrida em 2° lugar, e ficando apenas 3 pontos atrás de Vettel na classificação. E, pelo andar de como de desenrolou o GP em Interlagos, nada estava garantido, desde a largada, até a bandeirada final. Foi uma corrida cheia de incertezas e surpresas, o pior cenário possível para pilotos e escuderias, mas o melhor de todos para quem curte corridas totalmente imprevisíveis e delirantes.
            Começou logo na primeira volta, onde Bruno Senna foi fechado justamente por Vettel na curva do lago, com ambos a rodarem ali no meio dos carros. O piloto alemão deu sorte: o impacto no seu carro foi forte, mas não comprometeu gravemente o monoposto, ao passo que Bruno ainda acabou acertado por outro carro, danificando suspensão e dando adeus à corrida ali mesmo. Vettel caíra para as últimas posições, a forma de seu carro era dúbia, e Alonso parecia ter tudo para conquistar o título. Mas, a exemplo de Abu Dhabi, o piloto da Red Bull foi à luta, e começou a escalar o pelotão, mostrando que seu carro não tinha sido tão afetado. Quem também ficou logo por ali foi Romain Grossjean e Sérgio Perez. Mais adiante, Pastor Maldonado rodava sozinho, e também dava adeus à corrida, deixando a Williams a ver navios em Interlagos.
            Para aumentar a emoção, começou a chover no autódromo paulistano, e o pior tipo de chuva possível: aquela garoa do tipo chove-pára, que deixava a pista escorregadia, mas não exatamente molhada. O que era mais recomendável: trocar pneus slicks para intermediários, ou arriscar permanecer na pista? Equipes e pilotos se embananaram com as decisões, com alguns pilotos arriscando permanecer no traçado traiçoeiro, enquanto alguns procuraram a segurança dos compostos teoricamente mais adequados para piso molhado. As escolhas, contudo, se revelaram incertas em ambos os casos, pois o piso não era exatamente molhado o suficiente para os pneus de chuva fazerem a diferença, muito pelo contrário, começaram a se desgastar ou a ter desempenho inferior aos slicks. Em contrapartida, rodar com os pneus de seco era andar no fio da navalha, e não foram poucos os pilotos que andaram conhecendo a grama ou as áreas de escape de Interlagos, conseguindo retomar a corrida, mas com perdas de tempo.
            Conforme a corrida se desenvolvia, ninguém conseguia apontar em que direção a corrida seguiria. As batidas ocorridas entre os pilotos motivaram a entrada do Safety Car para limpar alguns detritos que ficaram em posições potencialmente perigosas para os pilotos, reunindo todos os competidores e anulando as diferenças entre eles, o que ajudou ainda mais a incendiar as disputas de posição. E o chuvisqueiro começava a engrossar paulatinamente. Fernando Alonso seguia entre os primeiros, mas já havia dado algumas escapadas. Sebastian Vettel havia recuperado posições suficientes para conquistar o título, e teve algumas paradas para trocar pneus nos momentos errados, caindo lá para trás e tendo de recuperar terreno novamente, o que conseguia fazer. Na dianteira, a McLaren era desafiada de forma implacável por Nico Hulkenberg, que pilotava como nunca no seu último GP pela Force Índia, e que em um bom pedaço da corrida, parecia que teríamos mais um vencedor diferente neste ano. Lewis Hamilton, porém, queria se despedir da McLaren por cima, e travou um belo duelo com o alemão, ganhando a liderança quando Nico escorregou numa curva. Mas Hamilton não teve sossego: Hulkenberg veio para cima, e numa tentativa de recuperar a liderança, acabou vítima do piso molhado, escorregando para cima da McLaren e tirando-o da corrida. Levou uma punição desmerecida dos comissários, pois não teve culpa na manobra.
            A chuva chegara com mais força, e quem ainda não tinha se enrolado na prova até então, teve que tomar mais cuidado ainda. Felipe Massa foi outro que teve uma parada em momento errado e precisou recuperar terreno em condições instáveis debaixo das interpéries, um piso que não é de seu agrado. O abandono de Hamilton e a punição de Hulkenberg levaram Jenson Button para a liderança, e as Ferraris de Massa e Alonso logo atrás, onde pouco tempo depois o time italiano fez o brasileiro ceder a posição, de modo que o espanhol seria alçado à segunda colocação. Alonso tentou partir para cima de Button, mas parecia ter chegado ao limite: além de não conseguir se aproximar do piloto da McLaren, forçar o ritmo ficava mais perigoso, pois poderia acabar rodando.
            Lá atrás, Vettel alcançava a 6ª posição, mais do que suficiente para vencer o campeonato. Mesmo com esta posição de pista entre os contendores da luta pelo título, não dava para nada ser dado como garantido: as condições de pista pioravam lentamente, e ninguém estava imune a dar uma escapada ou se envolver em algum enrosco em disputa de posição, ou mesmo se embananar sozinho. E foi o que vimos no final: Paul Di Resta escapou no início da reta dos boxes, acertando o guard-rail e motivando o fim da corrida com nova entrada do Safety Car para evitar que alguém atingisse o carro do escocês, que ficara em um ponto perigoso.
            Jenson Button venceu a prova, e a Ferrari conquistou o resto do pódio, com Alonso em 2° e um radiante Felipe Massa em 3° lugar, merecido pelo que andou na pista, e que só não obteve resultado melhor devido à necessidade de o time priorizar Alonso na luta pelo título. Vettel, com a 6ª posição, ficava com o título. E o público de Interlagos teve um show mais do que à altura do que foi o campeonato, podendo relaxar mesmo só depois da bandeirada final. E ninguém pode dizer que foi uma corrida sem emoção. Tivemos disputas em todo o pelotão, da frente à última posição, recuperações firmes e determinadas de vários pilotos, toques entre carros em disputa ferrenha de posição, ultrapassagens a rodo, pilotos escapando da pista. Entre os que saíram da pista, Kimmi Raikkonem achou até tempo para passear pela antiga Junção da pista original, e perdendo ainda mais tempo por dar de cara com um portão fechando o acesso da pista antiga à nova.
            Durante toda a semana o clima no autódromo estava tenso entre as escuderias que postulavam o título de pilotos. Como franco-atirador, Alonso e a Ferrari procuravam desestabilizar fosse como fosse a Red Bull e Sebastian Vettel. O clima instável do domingo era tudo o que Alonso queria, para desespero de Vettel e da Red Bull, que sabiam que naquelas condições não tinham como fazer valer o seu melhor carro. E, na loteria que a corrida poderia se tornar, tudo era possível. E, por alguns momentos, quase tiveram certeza de que o campeonato teria ido para as cucuias. Vettel deu sorte de seu carro não se danificar muito, o que gerou uma ansiedade permanente na escuderia, apesar da telemetria e da performance de Sebastian na pista afirmarem o contrário. Alonso, por sua vez, pilotou como nunca, tentando aproveitar a oportunidade.
            Mas, tal qual em 2008, venceu quem chegara na véspera com vantagem à prova brasileira. E, assim como naquele ano, o que teoricamente deveria ter sido uma decisão mais tranqüila e calma, assumiu ares de drama e tensão a níveis que ninguém esperava. E foi uma decisão das mais equilibradas: fosse Fernando Alonso o campeão, o título também teria sido dos mais merecidos, pelo que o espanhol conseguira fazer durante todo o ano, levando a disputa do título para a última corrida. Foi de fato, um campeonato cheio de disputas e emoções. Tivemos corridas empolgantes durante a maior parte do ano. E a de Interlagos, como a coroar um ano espetacular, brindou a todos com uma prova imprevisível do começo ao fim.
            Que venha agora 2013...e mais emoções. O ano de 2012, uma hora, tinha de acabar, e o fez de uma das melhores maneiras possíveis, para sorte de todos os amantes da velocidade, que tiveram uma prova épica de decisão.

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