sexta-feira, 31 de agosto de 2018

PRESSÃO VERMELHA

Sebastian Vettel comemora a vitória em Spa-Francorchamps. Piloto alemão superou Lewis Hamilton ainda na primeira volta (abaixo) e mostrou a força da Ferrari na luta contra a Mercedes, que sentiu o golpe.

            O campeonato de Fórmula 1 voltou das férias de verão europeu com o sinal vermelho dando o tom do que pode ser esta segunda metade da temporada, para desespero das hostes prateadas do time da Mercedes, que viu Sebastian Vettel vencer a corrida da Bélgica com grande facilidade, e sem dar chances a Lewis Hamilton de surpreendê-lo em algum momento, como ocorrera no treino de classificação, quando a chuva resolveu dar o seu tradicional ar da graça na região das Ardenhas, permitindo ao inglês marcar a pole-position.
            A Ferrari já tinha dado mostras de ter o melhor carro nas últimas provas antes da pausa de verão, e só não confirmou seu domínio em virtude de circunstancias e erros alheios. Vettel triunfou em Silverstone e deu o recado: a parada agora iria ser pautada pelo time italiano, e não pela escuderia alemã; Mas, quando tudo caminhava para novo triunfo na corrida seguinte, em Hockenhein, a chuva marota acabou fazendo Vettel cometer um erro grosseiro e abandonar a corrida, permitindo o triunfo de Hamilton. Na Hungria, mais uma vez São Pedro interviu, permitindo ao inglês marcar a pole e sair na frente no circuito magiar, que como todos sabem, é tremendamente difícil de se ultrapassar quem vai à frente, permitindo à Mercedes novo triunfo, e até colocando em xeque o favoritismo teórico que o time de Maranello havia conquistado com sua excelência técnica.
            O modelo SF71-H continuava a ser o melhor conjunto do grid, tanto em chassi quanto em motor, mas a Mercedes revidava com o piloto mais aguerrido do grid, e melhor aproveitamento das oportunidades de corrida. Com isso, a escuderia alemã partiu para as férias de verão europeu com alguma tranquilidade, enquanto a Ferrari poderia ficar batendo cabeça como já fez tantas vezes, quando tinha a faca e o queijo na mão, e se embananava sozinha. E a chance poderia ter sido irremediavelmente perdida, pois quem não garantia que a Mercedes poderia trabalhar no modelo W09, e conseguir evoluir seu carro e torna-lo mais forte que o da Ferrari? Se isso acontecesse, o baque seria ainda mais contundente em Maranello, que poderia ver outro campeonato em potencial ir parar nas mãos da rival prateada, e continuar mais um ano na fila.
            E o que vimos em Spa-Francorchamps foi uma Ferrari tinindo, que só não dominou mais ainda a prova belga porque, na confusão da largada, Kimi Raikkonen acabou atingido, e seu carro sofreu avarias que acabaram levando ao seu abandono, em uma pista onde o finlandês costuma andar muito rápido, e tinha boas chances de fazer dobradinha com Vettel, já que o time não permitiria que ele vencesse a corrida, já que está concentrado unicamente no piloto alemão para o título. Se a chuva aparecesse no domingo, como muitos esperavam, a briga com a Mercedes poderia ser mais complicada, e arriscada, pois Hamilton parece ter muito menos embaraço em pilotar no molhado que Sebastian atualmente. Mas, como nada de anormal aconteceu, salvo o incidente na largada entre Nico Hulkenberg, Fernando Alonso e Charles LeClerc, com consequências para alguns outros pilotos, Vettel resolveu partir para o ataque desde o apagar das luzes vermelhas, e na reta Kemmel, em um trecho de alta velocidade e aceleração plena, já deixou Hamilton para trás, mais cedo do que todos imaginavam. E a partir daí, o piloto alemão controlou a corrida como quis.
            Hamilton, após o pit stop, até encostou no rival, mas Sebastian acelerou fundo para mostrar que o inglês não deveria se entusiasmar muito, e abriu distância. Lewis, ciente de que não teria condições de forçar a disputa pela liderança sem comprometer seu equipamento, resolveu então acomodar-se no segundo lugar, e assim foi até receber a bandeirada 11s atrás do piloto da Ferrari, que chegou à sua 52ª vitória na F-1, superando Alain Prost, e ficando atrás apenas de seu conterrâneo Michael Schumacher e do rival Lewis Hamilton. E o sinal vermelho acendeu com força em Brackley, mostrando que as inovações que eles desenvolveram nas férias de verão não funcionaram como eles esperavam, e a Ferrari está mais forte do que nunca.
Atingido por trás por Nico Hulkenberg na largada, o McLaren de Fernando Alonso voou por cima do Sauber de Charles LeClerc. Felizmente, ninguém se feriu, mas sobrou problemas para vários pilotos, que acabaram abandonando a prova belga. 
            Era tudo o que os tiffosi queriam ouvir, até porque a corrida seguinte é aqui em Monza, palco do Grande Prêmio da Itália, e que deverá estar mais lotado do que nunca pelos torcedores ferraristas. E a escuderia de Maranello não pretende deixar brechas para o rival aprontar alguma. Maurizio Arrivabene, diretor da equipe italiana, já deu a ordem: manter pressão sobre a Mercedes, e de preferência, esmagar a rival na pista sem dó nem piedade. No ano passado, Hamilton havia ganho na Bélgica, e Vettel fez uma grande corrida, pressionando o rival, chegando em 2º lugar. Isso entusiasmou a torcida para a corrida em Monza, mas o que se viu aqui foi Hamilton partindo para uma vitória arrebatadora, e assumindo a dianteira no campeonato, que até então estava defendida bravamente por Vettel. Foi a virada decisiva para Hamilton marchar para o título de 2017, no que teve ajuda também de alguns azares da Ferrari nas corridas seguintes. Mas, no ano passado, ainda que pouca, a Mercedes tinha um carro melhor do que os italianos.
            Agora a situação é diferente: é a Mercedes que precisa correr atrás. E Arrivabene sabe que esse é o problema do time alemão, pois desde o início da nova era turbo híbrida, a escuderia prateada dominou as temporadas, com percalços apenas ocasionais, vendo sua dupla de pilotos duelar entre si pelo título. Só no ano passado a Ferrari conseguiu realmente ameaçar a supremacia da Mercedes, mas a equipe de Brackley conseguiu dar conta do recado, mantendo seu carro competitivo e forte, e errando bem menos que a escuderia italiana. Este ano, o buraco é bem mais embaixo: o modelo W09 não é fraco, e até começou bem o ano, mostrando-se eficiente, mas sem ostentar vantagem sobre o modelo SF71-H. Desde o início da temporada, já se via que Hamilton e Valtteri Bottas teriam dificuldades para sobrepujar os pilotos do time italiano. E apesar da boa performance do carro prateado, foi a Ferrari que começou melhor a temporada, aproveitando-se de percalços e acontecimentos inesperados que surgiram, surpreendendo os alemães, que só foram se reencontrar em Baku, na quarta prova, e obtendo uma surpreendente vitória em Barcelona. Parecia que o duelo seria equilibrado, sem favoritos destacados entre um time e outro. A batalha pelo título da temporada tinha tudo para ser renhida.
            Só que a partir do Canadá, quando a Ferrari estreou uma nova versão de sua unidade de potência, tudo ficou muito mais complicado para a Mercedes, que até conseguiu ir tocando a situação, aproveitando-se dos acontecimentos e circunstâncias para não apenas equilibrar a balança da disputa, como até se distanciar um pouco. Só que, em algum momento, tudo pararia de dar errado na Ferrari. E isso aconteceu com Vettel na Bélgica, onde a perda da pole em um circuito com vários pontos favoráveis a ultrapassagens foi um revés mínimo. E tudo indica que, se não houve nada de anormal, a tendência é que os carros vermelhos voem aqui nas retas do Parque de Monza.
            Monza é uma pista de potência bruta, onde os propulsores são exigidos a fundo, com 70% da volta feita em aceleração plena. Hamilton fala que deverá ter menos problemas aqui do que na Bélgica, apesar de Spa ser uma pista veloz e que exige também muito dos motores. Só que Spa também tem várias curvas, algumas delas bem fechadas, como a La Source, o que exige também equilíbrio do carro, e um acerto aerodinâmico que torne o monoposto ágil nestas curvas, e não penalize a velocidade de ponta nas retas. Monza tem poucas curvas, e a maioria é de alta velocidade, e as poucas chicanes também não exigem muito do equilíbrio dos carros. Todos os competidores usam o mínimo de asa nesta pista, o que demonstra o quão essencial é a velocidade bruta dos carros.
            Se o equilíbrio do monoposto não é tão exigido, essa pode ser a desculpa para a Mercedes ter mais chances contra a Ferrari aqui, mas o problema não se resume a isso: a unidade de potência do time italiano já conseguiu superar a da Mercedes, e com mais potência, Vettel e Raikkonen deverão voar ainda mais baixo nas retas de Monza. Sim, a Mercedes vai ter trabalho aqui para enfrentar sua rival vermelha, que vai fazer de tudo para continuar tirando o sono dos prateados durante todo o final de semana. Toto Wolf já acusou o golpe, e diz que o time precisa manter a cabeça fria e permanecer unido. Já se fala até em usar Bottas oficialmente como segundo piloto, oficializando uma condição que, na prática, já impuseram ao finlandês há várias corridas. Mesmo nos momentos mais complicados do ano passado, isso nunca foi discutido abertamente. Realmente, os tempos mudaram, e de favorita, a Mercedes agora virou a desafiante. E será que conseguirá reagir à altura nesta nova condição? Arrivabene aposta que não, e por isso mesmo, a ordem é atacar, de modo a desestabilizar de vez a rival, e não permitir um revide como ocorreu em 2017, quando foi o time italiano que desandou em momentos decisivos.
            Mas, pelo sim, pelo não, há outra ordem no time italiano, e diz respeito a não se empolgarem com o momento. Momento de superioridade técnica à parte, Hamilton e a Mercedes ainda lideram os campeonatos de pilotos e construtores, respectivamente, lembrando que erros precisam ser evitados a qualquer custo, sob pena de dar aos rivais oportunidades valiosas que lhes permitam virar novamente o jogo. E ele tem razão: se Hamilton, mesmo com a Ferrari tendo um carro bem melhor, for novamente campeão, terá um efeito catastrófico na escuderia de Maranello, pela perda de um campeonato que tinha praticamente tudo para vencer de lavada até. E Lewis já mostrou que pode ser bem perigoso aproveitando-se destes lapsos dos concorrentes. Portanto, nada de clima de “já ganhou”, mesmo estando aqui em Monza, onde a torcida certamente está esperando um novo triunfo dos carros vermelhos. E Vettel, igualmente tetracampeão como Lewis, ser superado pelo inglês em número de títulos? Não creio que Sebastian seja fraco para deixar que isso o desestabilize, mas outra derrota, e nestas condições, onde enfim tem novamente o favoritismo para ser campeão, pode fazer um estrago na autoestima do piloto. Mas o maior impacto será mesmo na Ferrari, que estará sendo cobrada pela torcida mais do que nunca, e que não perdoará uma derrota se esta for consequência de erros do time.
            Por isso mesmo, tanto a Ferrari quando a Mercedes estão bem pressionadas aqui em Monza. A Mercedes quer provar que o momento de superioridade dos rivais vermelhos não é tudo o que se viu em Spa, e que ainda pode lutar contra a Ferrari. Mas já sentindo o gosto de não ser mais a favorita dos últimos anos. E o time de Maranello tendo de tomar cuidado para que o bom momento não vire um pesadelo por algum acontecimento ou circunstância inesperada, e principalmente, não se permitir nenhum erro. Arrivabene definiu bem o tom ao falar que nos últimos anos a Mercedes infringiu derrotas dolorosas a eles, e que agora, é o momento de devolver-lhes essas derrotas. Seu otimismo decorre do fato de que eles já sabem o que é perder, mas a Mercedes não, e por isso, eles estão despreparados para encarar a dificuldade desta nova realidade. Blefe ou ameaça real?
            O desafio está lançado. Só espero que renda uma corrida mais disputada que a do último domingo, por que a prova belga não foi lá das mais empolgantes, em termos de disputas na pista...


A situação parece estar mesmo complicada para a Toro Rosso montar uma dupla titular no ano que vem. Praticamente não há nenhum nome disponível pronto para correr na F-1, depois que o programa de formação bancado pela Red Bull praticamente queimou a grande maioria de participantes do programa ao longo da última década. A mais nova fofoca do momento é que Danill Kvyat, que foi demitido da escuderia de Faenza, depois de ter sido “rebaixado” de volta ao time pela Red Bull em 2016, agora estaria sendo sondado para retornar a Faenza em 2019. Só que Kvyat agora é piloto de testes da Ferrari, tendo atuado nos simulares da equipe para ajudar no desenvolvimento do bólido de Maranello. A Ferrari iria liberá-lo para guiar para a Red Bull, ainda que na Toro Rosso? E depois de ter levado aquela rasteira da Red Bull há dois anos, o que o desestabilizou emocionalmente e comprometeu sua confiança como piloto, e por isso ter sido demitido da escuderia antes do fim da temporada do ano passado, será que ele aceitaria voltar a guiar para seu ex-time e ter de aguentar novamente Helmut Marko e Christian Horner fungando no seu cangote? Ambos irão precisar caprichar muito para convencer o russo a encarar esse convite, e não sei se ele vai estar a fim de levar desaforo novamente de ambos. Se for verdade a idéia de trazer Danill de volta, isso dá uma idéia de como a Red Bull “matou” seu programa de formação de pilotos com sua administração do mesmo nos últimos anos, conforme dissertei na coluna da semana passada... Tantos pilotos que poderiam ter tido seu potencial aproveitado e que foram dispensados, para não dizer descartados por eles, e agora tendo de arrumar pilotos... Nada como um dia depois do outro...
Danill Kvyat foi rifado pela Red Bull para promover Max Verstappen, e sem conseguir se recompor, acabou demitido. Aceitaria voltar para lá depois disso, e ainda para voltar à Toro Rosso? Que situação para a Red Bull chegar a isso...


Lance Stroll ainda corre pela Williams aqui em Monza, mas pode ser que já esteja na Force India em Cingapura, próxima etapa. Esteban Ocon deve dançar nesta troca de cadeiras, infelizmente, o que é uma pena. Stroll até reconhece isso, mas volta a afirmar que merece um lugar melhor na F-1, apesar de tudo. Tal declaração não vai fazer ele ganhar mais admiradores, mesmo admitindo a injustiça que será cometida com o piloto francês...


Depois de mais de uma década, após sediar sua última prova de uma categoria Indy, o circuito de Portland está pronto para retornar, fazendo sua estréia na atual Indycar, antiga IRL, neste final de semana. A pista mista da capital do Estado do Oregon entrou no lugar de Watkins Glen, outro circuito misto que novamente deixou o calendário da competição. Inaugurado em 1960, a pista de Portland sediou sua primeira corrida Indy em 1984, tendo Al Unser Jr. como primeiro vencedor. A pista permaneceu sediando corridas na antiga F-Indy até 2007, ano do último campeonato disputado pela categoria. Michael Andretti e Al Unser Jr. foram os pilotos que mais venceram a corrida, com 3 triunfos cada. Três brasileiros conseguiram vencer a corrida, todos com duas vitórias cada um: Émerson Fittipaldi, Gil de Ferran, e Cristiano da Matta. Do grid atual da Indycar, Scott Dixon, Tony Kanaan, Will Power, Simon Pagenaud, Graham Rahal e Sébastien Bourdais já correram em Portland, com Bordais tendo vencido a última corrida realizada por lá, em 2007, quando defendia a equipe Newmann/Hass/Lannigan. A corrida será transmitida ao vivo no canal pago Bandsports neste domingo a partir das 16 Hrs. pelo horário de Brasília.
Mais uma pista da velha F-Indy estréia na atual Indycar. Agora é a vez de Portland.

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