O campeonato de
Fórmula 1 voltou das férias de verão europeu com o sinal vermelho dando o tom
do que pode ser esta segunda metade da temporada, para desespero das hostes
prateadas do time da Mercedes, que viu Sebastian Vettel vencer a corrida da
Bélgica com grande facilidade, e sem dar chances a Lewis Hamilton de
surpreendê-lo em algum momento, como ocorrera no treino de classificação,
quando a chuva resolveu dar o seu tradicional ar da graça na região das Ardenhas,
permitindo ao inglês marcar a pole-position.
A Ferrari já tinha
dado mostras de ter o melhor carro nas últimas provas antes da pausa de verão,
e só não confirmou seu domínio em virtude de circunstancias e erros alheios.
Vettel triunfou em Silverstone e deu o recado: a parada agora iria ser pautada
pelo time italiano, e não pela escuderia alemã; Mas, quando tudo caminhava para
novo triunfo na corrida seguinte, em Hockenhein, a chuva marota acabou fazendo
Vettel cometer um erro grosseiro e abandonar a corrida, permitindo o triunfo de
Hamilton. Na Hungria, mais uma vez São Pedro interviu, permitindo ao inglês
marcar a pole e sair na frente no circuito magiar, que como todos sabem, é
tremendamente difícil de se ultrapassar quem vai à frente, permitindo à
Mercedes novo triunfo, e até colocando em xeque o favoritismo teórico que o
time de Maranello havia conquistado com sua excelência técnica.
O modelo SF71-H
continuava a ser o melhor conjunto do grid, tanto em chassi quanto em motor,
mas a Mercedes revidava com o piloto mais aguerrido do grid, e melhor
aproveitamento das oportunidades de corrida. Com isso, a escuderia alemã partiu
para as férias de verão europeu com alguma tranquilidade, enquanto a Ferrari
poderia ficar batendo cabeça como já fez tantas vezes, quando tinha a faca e o
queijo na mão, e se embananava sozinha. E a chance poderia ter sido
irremediavelmente perdida, pois quem não garantia que a Mercedes poderia
trabalhar no modelo W09, e conseguir evoluir seu carro e torna-lo mais forte
que o da Ferrari? Se isso acontecesse, o baque seria ainda mais contundente em
Maranello, que poderia ver outro campeonato em potencial ir parar nas mãos da
rival prateada, e continuar mais um ano na fila.
E o que vimos em
Spa-Francorchamps foi uma Ferrari tinindo, que só não dominou mais ainda a
prova belga porque, na confusão da largada, Kimi Raikkonen acabou atingido, e
seu carro sofreu avarias que acabaram levando ao seu abandono, em uma pista
onde o finlandês costuma andar muito rápido, e tinha boas chances de fazer
dobradinha com Vettel, já que o time não permitiria que ele vencesse a corrida,
já que está concentrado unicamente no piloto alemão para o título. Se a chuva
aparecesse no domingo, como muitos esperavam, a briga com a Mercedes poderia
ser mais complicada, e arriscada, pois Hamilton parece ter muito menos embaraço
em pilotar no molhado que Sebastian atualmente. Mas, como nada de anormal
aconteceu, salvo o incidente na largada entre Nico Hulkenberg, Fernando Alonso
e Charles LeClerc, com consequências para alguns outros pilotos, Vettel
resolveu partir para o ataque desde o apagar das luzes vermelhas, e na reta
Kemmel, em um trecho de alta velocidade e aceleração plena, já deixou Hamilton
para trás, mais cedo do que todos imaginavam. E a partir daí, o piloto alemão
controlou a corrida como quis.
Hamilton, após o pit
stop, até encostou no rival, mas Sebastian acelerou fundo para mostrar que o
inglês não deveria se entusiasmar muito, e abriu distância. Lewis, ciente de
que não teria condições de forçar a disputa pela liderança sem comprometer seu
equipamento, resolveu então acomodar-se no segundo lugar, e assim foi até
receber a bandeirada 11s atrás do piloto da Ferrari, que chegou à sua 52ª
vitória na F-1, superando Alain Prost, e ficando atrás apenas de seu
conterrâneo Michael Schumacher e do rival Lewis Hamilton. E o sinal vermelho
acendeu com força em Brackley, mostrando que as inovações que eles
desenvolveram nas férias de verão não funcionaram como eles esperavam, e a
Ferrari está mais forte do que nunca.
Era tudo o que os
tiffosi queriam ouvir, até porque a corrida seguinte é aqui em Monza, palco do
Grande Prêmio da Itália, e que deverá estar mais lotado do que nunca pelos
torcedores ferraristas. E a escuderia de Maranello não pretende deixar brechas para
o rival aprontar alguma. Maurizio Arrivabene, diretor da equipe italiana, já
deu a ordem: manter pressão sobre a Mercedes, e de preferência, esmagar a rival
na pista sem dó nem piedade. No ano passado, Hamilton havia ganho na Bélgica, e
Vettel fez uma grande corrida, pressionando o rival, chegando em 2º lugar. Isso
entusiasmou a torcida para a corrida em Monza, mas o que se viu aqui foi
Hamilton partindo para uma vitória arrebatadora, e assumindo a dianteira no
campeonato, que até então estava defendida bravamente por Vettel. Foi a virada
decisiva para Hamilton marchar para o título de 2017, no que teve ajuda também
de alguns azares da Ferrari nas corridas seguintes. Mas, no ano passado, ainda
que pouca, a Mercedes tinha um carro melhor do que os italianos.
Agora a situação é
diferente: é a Mercedes que precisa correr atrás. E Arrivabene sabe que esse é
o problema do time alemão, pois desde o início da nova era turbo híbrida, a
escuderia prateada dominou as temporadas, com percalços apenas ocasionais, vendo
sua dupla de pilotos duelar entre si pelo título. Só no ano passado a Ferrari
conseguiu realmente ameaçar a supremacia da Mercedes, mas a equipe de Brackley
conseguiu dar conta do recado, mantendo seu carro competitivo e forte, e
errando bem menos que a escuderia italiana. Este ano, o buraco é bem mais
embaixo: o modelo W09 não é fraco, e até começou bem o ano, mostrando-se
eficiente, mas sem ostentar vantagem sobre o modelo SF71-H. Desde o início da
temporada, já se via que Hamilton e Valtteri Bottas teriam dificuldades para sobrepujar
os pilotos do time italiano. E apesar da boa performance do carro prateado, foi
a Ferrari que começou melhor a temporada, aproveitando-se de percalços e
acontecimentos inesperados que surgiram, surpreendendo os alemães, que só foram
se reencontrar em Baku, na quarta prova, e obtendo uma surpreendente vitória em
Barcelona. Parecia que o duelo seria equilibrado, sem favoritos destacados
entre um time e outro. A batalha pelo título da temporada tinha tudo para ser
renhida.
Só que a partir do
Canadá, quando a Ferrari estreou uma nova versão de sua unidade de potência,
tudo ficou muito mais complicado para a Mercedes, que até conseguiu ir tocando
a situação, aproveitando-se dos acontecimentos e circunstâncias para não apenas
equilibrar a balança da disputa, como até se distanciar um pouco. Só que, em
algum momento, tudo pararia de dar errado na Ferrari. E isso aconteceu com
Vettel na Bélgica, onde a perda da pole em um circuito com vários pontos
favoráveis a ultrapassagens foi um revés mínimo. E tudo indica que, se não
houve nada de anormal, a tendência é que os carros vermelhos voem aqui nas
retas do Parque de Monza.
Monza é uma pista de
potência bruta, onde os propulsores são exigidos a fundo, com 70% da volta
feita em aceleração plena. Hamilton fala que deverá ter menos problemas aqui do
que na Bélgica, apesar de Spa ser uma pista veloz e que exige também muito dos
motores. Só que Spa também tem várias curvas, algumas delas bem fechadas, como
a La Source, o que exige também equilíbrio do carro, e um acerto aerodinâmico
que torne o monoposto ágil nestas curvas, e não penalize a velocidade de ponta
nas retas. Monza tem poucas curvas, e a maioria é de alta velocidade, e as
poucas chicanes também não exigem muito do equilíbrio dos carros. Todos os
competidores usam o mínimo de asa nesta pista, o que demonstra o quão essencial
é a velocidade bruta dos carros.
Se o equilíbrio do
monoposto não é tão exigido, essa pode ser a desculpa para a Mercedes ter mais
chances contra a Ferrari aqui, mas o problema não se resume a isso: a unidade
de potência do time italiano já conseguiu superar a da Mercedes, e com mais
potência, Vettel e Raikkonen deverão voar ainda mais baixo nas retas de Monza.
Sim, a Mercedes vai ter trabalho aqui para enfrentar sua rival vermelha, que
vai fazer de tudo para continuar tirando o sono dos prateados durante todo o
final de semana. Toto Wolf já acusou o golpe, e diz que o time precisa manter a
cabeça fria e permanecer unido. Já se fala até em usar Bottas oficialmente como
segundo piloto, oficializando uma condição que, na prática, já impuseram ao
finlandês há várias corridas. Mesmo nos momentos mais complicados do ano
passado, isso nunca foi discutido abertamente. Realmente, os tempos mudaram, e
de favorita, a Mercedes agora virou a desafiante. E será que conseguirá reagir
à altura nesta nova condição? Arrivabene aposta que não, e por isso mesmo, a
ordem é atacar, de modo a desestabilizar de vez a rival, e não permitir um
revide como ocorreu em 2017, quando foi o time italiano que desandou em
momentos decisivos.
Mas, pelo sim, pelo
não, há outra ordem no time italiano, e diz respeito a não se empolgarem com o
momento. Momento de superioridade técnica à parte, Hamilton e a Mercedes ainda
lideram os campeonatos de pilotos e construtores, respectivamente, lembrando
que erros precisam ser evitados a qualquer custo, sob pena de dar aos rivais
oportunidades valiosas que lhes permitam virar novamente o jogo. E ele tem
razão: se Hamilton, mesmo com a Ferrari tendo um carro bem melhor, for novamente
campeão, terá um efeito catastrófico na escuderia de Maranello, pela perda de
um campeonato que tinha praticamente tudo para vencer de lavada até. E Lewis já
mostrou que pode ser bem perigoso aproveitando-se destes lapsos dos concorrentes.
Portanto, nada de clima de “já ganhou”, mesmo estando aqui em Monza, onde a
torcida certamente está esperando um novo triunfo dos carros vermelhos. E
Vettel, igualmente tetracampeão como Lewis, ser superado pelo inglês em número
de títulos? Não creio que Sebastian seja fraco para deixar que isso o
desestabilize, mas outra derrota, e nestas condições, onde enfim tem novamente
o favoritismo para ser campeão, pode fazer um estrago na autoestima do piloto.
Mas o maior impacto será mesmo na Ferrari, que estará sendo cobrada pela
torcida mais do que nunca, e que não perdoará uma derrota se esta for
consequência de erros do time.
Por isso mesmo, tanto
a Ferrari quando a Mercedes estão bem pressionadas aqui em Monza. A Mercedes
quer provar que o momento de superioridade dos rivais vermelhos não é tudo o
que se viu em Spa, e que ainda pode lutar contra a Ferrari. Mas já sentindo o
gosto de não ser mais a favorita dos últimos anos. E o time de Maranello tendo
de tomar cuidado para que o bom momento não vire um pesadelo por algum
acontecimento ou circunstância inesperada, e principalmente, não se permitir
nenhum erro. Arrivabene definiu bem o tom ao falar que nos últimos anos a
Mercedes infringiu derrotas dolorosas a eles, e que agora, é o momento de
devolver-lhes essas derrotas. Seu otimismo decorre do fato de que eles já sabem
o que é perder, mas a Mercedes não, e por isso, eles estão despreparados para
encarar a dificuldade desta nova realidade. Blefe ou ameaça real?
O desafio está
lançado. Só espero que renda uma corrida mais disputada que a do último
domingo, por que a prova belga não foi lá das mais empolgantes, em termos de
disputas na pista...
A situação parece estar mesmo
complicada para a Toro Rosso montar uma dupla titular no ano que vem.
Praticamente não há nenhum nome disponível pronto para correr na F-1, depois
que o programa de formação bancado pela Red Bull praticamente queimou a grande
maioria de participantes do programa ao longo da última década. A mais nova
fofoca do momento é que Danill Kvyat, que foi demitido da escuderia de Faenza,
depois de ter sido “rebaixado” de volta ao time pela Red Bull em 2016, agora
estaria sendo sondado para retornar a Faenza em 2019. Só que Kvyat agora é
piloto de testes da Ferrari, tendo atuado nos simulares da equipe para ajudar
no desenvolvimento do bólido de Maranello. A Ferrari iria liberá-lo para guiar
para a Red Bull, ainda que na Toro Rosso? E depois de ter levado aquela
rasteira da Red Bull há dois anos, o que o desestabilizou emocionalmente e
comprometeu sua confiança como piloto, e por isso ter sido demitido da
escuderia antes do fim da temporada do ano passado, será que ele aceitaria
voltar a guiar para seu ex-time e ter de aguentar novamente Helmut Marko e
Christian Horner fungando no seu cangote? Ambos irão precisar caprichar muito
para convencer o russo a encarar esse convite, e não sei se ele vai estar a fim
de levar desaforo novamente de ambos. Se for verdade a idéia de trazer Danill
de volta, isso dá uma idéia de como a Red Bull “matou” seu programa de formação
de pilotos com sua administração do mesmo nos últimos anos, conforme dissertei
na coluna da semana passada... Tantos pilotos que poderiam ter tido seu
potencial aproveitado e que foram dispensados, para não dizer descartados por
eles, e agora tendo de arrumar pilotos... Nada como um dia depois do outro...
Lance Stroll ainda corre pela
Williams aqui em Monza, mas pode ser que já esteja na Force India em Cingapura,
próxima etapa. Esteban Ocon deve dançar nesta troca de cadeiras, infelizmente, o
que é uma pena. Stroll até reconhece isso, mas volta a afirmar que merece um
lugar melhor na F-1, apesar de tudo. Tal declaração não vai fazer ele ganhar
mais admiradores, mesmo admitindo a injustiça que será cometida com o piloto
francês...
Depois de mais de uma década,
após sediar sua última prova de uma categoria Indy, o circuito de Portland está
pronto para retornar, fazendo sua estréia na atual Indycar, antiga IRL, neste
final de semana. A pista mista da capital do Estado do Oregon entrou no lugar de
Watkins Glen, outro circuito misto que novamente deixou o calendário da
competição. Inaugurado em 1960, a pista de Portland sediou sua primeira corrida
Indy em 1984, tendo Al Unser Jr. como primeiro vencedor. A pista permaneceu
sediando corridas na antiga F-Indy até 2007, ano do último campeonato disputado
pela categoria. Michael Andretti e Al Unser Jr. foram os pilotos que mais
venceram a corrida, com 3 triunfos cada. Três brasileiros conseguiram vencer a
corrida, todos com duas vitórias cada um: Émerson Fittipaldi, Gil de Ferran, e
Cristiano da Matta. Do grid atual da Indycar, Scott Dixon, Tony Kanaan, Will
Power, Simon Pagenaud, Graham Rahal e Sébastien Bourdais já correram em
Portland, com Bordais tendo vencido a última corrida realizada por lá, em 2007,
quando defendia a equipe Newmann/Hass/Lannigan. A corrida será transmitida ao
vivo no canal pago Bandsports neste domingo a partir das 16 Hrs. pelo horário
de Brasília.
Mais uma pista da velha F-Indy estréia na atual Indycar. Agora é a vez de Portland. |
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