O Grande Prêmio da
Hungria de F-1 mostrou mais do mesmo, como costuma ocorrer sempre: uma corrida
sem maiores atrativos e poucas disputas, em que pese o seu resultado significar
muito para a segunda parte do campeonato que recomeça apenas no fim de agosto,
depois das “férias” da categoria máxima do automobilismo, em pleno verão
europeu. Lewis Hamilton, com a ajuda da estratégia da Mercedes, e de Valtteri
Bottas, agora rotulado 100% de escudeiro, ao que o finlandês não gostou nem um
pouco da pecha, abriu uma vantagem significativa na liderança do campeonato,
que deve fazê-lo chegar até Monza, se não houverem contratempos, na dianteira
da competição, para desgosto dos fãs da mais forte Ferrari em muitos anos, e
ainda tecnicamente a maior força da competição.
O maior derrotado do
fim de semana na Hungria foi Sebastian Vettel. Depois de uma vitória
irretocável em Silverstone, aplicando um belo golpe psicológico no seu maior
rival na pista, o piloto alemão foi a nocaute por um erro bobo que o fez
abandonar a corrida seguinte, justamente em sua casa, na Alemanha, e que vinha
dominando sem maiores percalços. E quem acabou vencendo em Hockenhein?
Hamilton, que dessa forma meio que se vingou do ocorrido em Silverstone, ainda
que o resultado da prova britânica não possa ser considerado nenhum desastre
para o piloto da Mercedes, que acabou terminando aquele corrida em 2º lugar.
Vettel tratou de sair de cabeça erguida de Hockenhein após seu abandono, dando
a entender que aquilo não o faria perder noites de sono. Talvez não tenha
perdido mesmo noites de sono, mas nem por isso aquilo deixou de martelar algo
em sua mente, e vimos as consequências disso em Hungaroring.
Pelo histórico da
pista, largar na frente sempre é meio caminho andado para se vencer a corrida,
já que o circuito é extremamente difícil para ultrapassagens. E a Ferrari, pela
sua forma na temporada, e retrospecto em pistas travadas, tinha tudo para ser a
força dominante, tendo de tomar cuidado apenas com a Red Bull, que também
costuma andar muito forte neste tipo de pista. Pelos primeiros treinos, tudo
indicava que os ferraristas poderiam de fato comemorar: estavam à frente da
Mercedes, e o maior perigo potencial, a Red Bull, não estava rendendo o que
todos esperavam, principalmente eles próprios. Seria cumprir o figurino, e
marretar uma vitória em cima da Mercedes, e de quebra, retomar a ponta nos
campeonatos de pilotos e construtores. Mas eis que alguém resolveu fazer a
dança da chuva, e São Pedro compareceu no sábado para bagunçar o treino de
classificação. E aí virou um verdadeiro samba do crioulo doido, com todo mundo
na pista tentando não se ferrar com a pista molhada, e em determinados
momentos, até meio seca, que depois tomou um aguaceiro, e por aí vai.
E aí, Vettel deve ter
sentido o baque de Hockenhein martelar na cabeça: se na Alemanha uma pequena
escorregada no molhado arruinou sua prova, o que dizer da chuva que apareceu em
Hungaroring. Nesta hora, em sua época, Ayrton Senna provocava arrepios nos rivais
pela sua impetuosidade, arrojo, e capacidade de andar a fundo em piso molhado,
enquanto alguns concorrentes não conseguiam exibir a mesma destreza. E nesse
momento, Lewis Hamilton surgiu para conquistar a pole-position para a corrida
húngara, com a Mercedes dominando a primeira fila do grid, para desespero de
Maranello, que já via ali uma possível pedra difícil de tirar do caminho de
seus planos de vencer a corrida. Vettel, que assombrou a todos em 2008 por
vencer com a Toro Rosso na corrida da Itália debaixo de chuva, não demonstrou a
mesma destreza na Hungria. Talvez as críticas de muitos torcedores por ter
jogado uma vitória garantida em casa pelo ralo o tenham feito se portar de
maneira um pouco mais cautelosa na pista magiar, já que rodar e sair da pista
não estava sendo particularmente difícil. E se forçasse, e arruinasse tudo?
Poderia ser ainda pior. Mas, quando se lembra de Gilles Villeneuve ao volante
da “rossa”, sem dar a mínima pelo que estava no seu caminho, inclusive sob
chuva, não há como negar que Vettel teria, na opinião de muitos, arriscado mais
na busca pela pole. Ao falhar conseguir um lugar na primeira fila, ele acusou o
golpe do abandono de Hockenhein na semana anterior, até mesmo por ficar atrás
de Kimi Raikkonen no grid.
Felizmente para Vettel
e a Ferrari, o domingo amanheceu com sol e pista seca. Mas, àquela altura, era
bico saber qual a estratégia da Mercedes: usar Bottas para “escoltar” Hamilton
na largada, e tentar atrapalhar tanto quanto possível a dupla ferrarista,
permitindo a Lewis disparar na frente para ganhar a corrida. E foi o que
ocorreu: Hamilton largou bem, e as Ferraris largaram também muito bem, mas
Bottas conseguiu cumprir com sua obrigação, e apesar de quase ter sido superado
nas primeiras curvas, conseguiu manter Vettel e Raikkonen atrás de si. O
primeiro passo para a vitória da Mercedes estava dado. Restava à Ferrari atacar
para tentar neutralizar a estratégia da rival. E foi aí que Vettel, mais uma
vez, ficou devendo. Com um ritmo ligeiramente inferior, Bottas nem precisou se
esforçar muito para “trancar” os pilotos da Ferrari atrás de si, enquanto
Hamilton ia-se embora. O piloto alemão passou a circular de acordo com o ritmo
de Bottas, nem se dando muito ao trabalho de tentar uma ultrapassagem. A idéia,
claro, era adiar o pit stop, conservar os pneus, e tentar voltar na frente do
finlandês da equipe prateada para discutir a vitória com Hamilton.
Em tese, não era
exatamente uma má idéia. Tanto que quando Bottas e Hamilton pararam, de fato
Vettel assumiu a liderança, e em alguns momentos, dava toda pinta de que
realmente poderia complicar os planos da Mercedes, rodando forte. Mas aí, na
hora de parar, Vettel empacou atrás de alguns retardatários, ainda teve um
problema com a colocação de uma roda, e quando voltou de seu pit stop,
encontrou novamente Bottas no seu caminho, e com Hamilton já ostentando uma
vantagem quase impossível de ser tirada no braço e pelo melhor desempenho de
performance do carro da Ferrari. Para muitos, Vettel deveria ter partido logo
para o ataque a Bottas ainda na primeira metade da corrida. A pressão poderia
comprometer seus pneus, óbvio, mas poderia surtir sucesso em ultrapassar
Valtteri, nem que fosse induzindo o finlandês ao erro na pressão na pista. Mas
aí ele ficaria então livre para ir à caça de Hamilton, que àquela altura, ainda
não estava muito distante, e ter discutido a vitória com o piloto inglês. E,
mesmo depois da parada no box, ainda assim Sebastian demorou muito para atacar
de fato Bottas, o que só foi ocorrer nas voltas finais, quando já não havia
possibilidade alguma de alcançar Hamilton, ou sequer pressioná-lo à distância
na pista.
O próprio Hamilton
admitiu que, em ritmo bruto, não teria como competir com a Ferrari, que de fato
era potencialmente mais rápida que a Mercedes. Mas a apatia de Vettel em partir
para o ataque desde o início acabou selando a derrocada ferrarista na prova
húngara. Tanto Sebastian foi mais lento do que poderia andar que Raikkonen,
mesmo fazendo uma segunda parada, contra apenas uma do alemão, conseguiu alcançá-lo
na pista, e só não o ultrapassou por causa da política do time. Mas, naquele
momento, era muito mais vantajoso para a escuderia rossa se Raikkonen partisse
para o duelo contra seu compatriota, de forma a permitir que Vettel viesse no
embalo, e conseguisse superar Bottas, ao que Raikkonen, obviamente, cederia sua
posição ao parceiro, consumada a ultrapassagem. Mas nem tal tática a Ferrari se
deu ao trabalho de tentar. Talvez por receio de que na luta, os dois
finlandeses fossem embora, e Vettel terminasse ainda mais atrás na pista, e até
fora do pódio.
No fim, Bottas se
complicou sozinho ao tentar dificultar a ultrapassagem de Vettel, atingindo o
pneu traseiro do carro do alemão, e danificando seu bico. Isso o faria perder
ritmo, a ponto de ser ultrapassado no final por Daniel Ricciardo, o grande nome
da corrida ao lado de Lewis Hamilton. O australiano largou em 12º, vítima da
chuva na classificação, e veio do meio do grid em mais uma de suas famosas
corridas de recuperação, e ainda por cima usando uma unidade de potência antiga
da Renault. E Hamilton, em que pese a tática de usar Bottas como “boi de
piranha” na corrida de Hungaroring, tem méritos por ter andado em um ritmo
muito forte quando teve pista livre, e mantido o desempenho quando ficou atrás
de Vettel na pista, o suficiente para não degradar seus pneus antes da hora, e
fazer apenas uma única parada. Algo que certamente seria muito mais complicado
de fazer se Vettel não tivesse ficado “preso” ou “acomodado” atrás de Bottas,
mas que certamente poderiam ter lhe dado alento em um eventual duelo com o
rival por posição na pista. Afinal, se Sebastian demorou a corrida inteira para
conseguir superar o finlandês das hostes prateadas, certamente teria sido muito
mais complicado o duelo roda a roda com Hamilton na pista, especialmente em um
circuito onde é muito difícil de ultrapassar, embora para alguns pilotos, como
Daniel Ricciardo, isso não pareça ter sido muito um problema.
E deu no que deu:
Hamilton venceu, e Vettel teve que ver o rival abrir nada menos do que 24
pontos na liderança, praticamente a pontuação de uma vitória. Ainda temos
muitas corridas até o fim do campeonato, é fato. E essa vantagem obtida por
Lewis pode parecer grande, mas tudo pode mudar em uma corrida apenas. O
problema é que agora a Mercedes ganha uma folga onde poderá trabalhar em seu
carro e unidade de potência, visando neutralizar a melhor forma atingida pela
Ferrari nas últimas etapas. Em teoria, por serem pistas velozes,
Spa-Francorchamps e Monza, as próximas pistas do calendário, sedes das etapas
da Bélgica e da Itália, já são propensas a favorecer o carro da Mercedes. Mas é
bom lembrar que isso também valia no ano passado, e Vettel fez uma prova muito
forte na Bélgica, perdendo o rebolado na luta contra Hamilton apenas na Itália.
Hoje, em desempenho puro, o modelo SF71-H produzido em Maranello é bem mais
eficiente que o modelo W09 construído em Brackley, tanto a nível de chassi
quanto à unidade de potência. Portanto, apostar em ares mais tranquilos para a
turma dos prateados é menosprezar a força de Maranello. Pode até ser que a
Mercedes de fato possa surgir como favorita maior frente aos rivais nestas
pistas, como ocorreu por exemplo na França, em Paul Ricard. Só que não há
garantia alguma de que a Ferrari não venha tão ou até mais forte. Paul Ricard,
assim como Spa e Monza, é um circuito veloz, mas Silverstone também era, e os
vermelhos surpreenderam na Inglaterra.
Alguém em Brackley vai
querer apostar para ver nova surpresa? Acredito que não. Por isso mesmo, apesar
das “férias” de verão, muita gente que marca ponto em Brackley e Maranello
estará trabalhando em regime quase integral em algum outro lugar, a fim de
retomar e/ou manter a supremacia de seu time. No ano passado, todo mundo
apostava em um duelo renhido entre Mercedes e Ferrari na parte final do
campeonato, mas reveses e azares inesperados acabaram fazendo com que Vettel e
a Ferrari ficassem com poucas hipóteses, e assistissem quase de camarote a
Hamilton e a Mercedes faturarem mais um título, o mais difícil para os
prateados desde o início da nova era turbo da F-1 em 2014. A Ferrari deve estar
tendo calafrios com a possibilidade de perder novamente o campeonato, ainda
mais agora que estão mais fortes que o concorrente, mas não tão mais eficientes
do que propriamente deveriam estar. Já foram duas corridas onde Vettel e o
próprio time ficaram devendo em alguns detalhes, que já fizeram uma grande
diferença.
Errar de agora em
diante poderá ser fatal. Mas, erros acontecerão, podem ter certeza. E quem
conseguir errar menos, muito provavelmente será campeão. Mas, neste momento, é
impossível afirmar quem de fato está com a faca e o queijo na mão. Em uma
temporada onde a liderança já mudou de mãos várias vezes, nada impede que essa
alternância tenha parado por aqui. Podemos ter muitas surpresas pelo meio do
caminho. E isso será muito bom para a competição em si, em um ano onde as
corridas poderiam ter sido muito melhores do que realmente foram...
A Red Bull voltou a terminar uma
corrida com apenas um de seus carros. Se na Alemanha foi Daniel Ricciardo que
abandonou, desta vez o “sortudo” acabou sendo Max Verstappen, que não poupou
palavrões a respeito da quebra sofrida em seu carro, que o fez ficar sem
potência, levando-o ao abandono, ainda no início da corrida húngara. Christian
Horner endossou as críticas de seu piloto à Renault, acusando o fabricante de
não entregar as peças exigidas em contrato, e de estar repassando material “de
baixa qualidade”, em represália por terem sido substituídos pela Honda para
2019. Não demorou para a fabricante francesa refutar as acusações, inclusive
lembrando que a escuderia austríaca tem uma série de exigências “excêntricas”
no projeto do RB14 que não são as mais recomendadas para sua unidade de
potência. Nesse tiroteio verbal, a Renault já levou muito desaforo por parte da
Red Bull, que até tem certa razão em cobrar melhorias na performance, ainda
atrás das unidades concebidas por Mercedes e Ferrari. Mas, curiosamente,
performance à parte, é curioso ver que as unidades de potência francesa têm
sofrido muito menos quebras em seu time oficial de fábrica, e até mesmo a
McLaren, que possui um carro menos competitivo, e que teve vários percalços na
adaptação ao propulsor no início do ano, que obrigaram o time de Woking a
retrabalhar a refrigeração da unidade para evitar problemas. Que a Honda vá se
preparando para o fim de seus dias de tranquilidade, pois em 2019, se suas
unidades não renderem o que o time dos energéticos espera, as cobranças e
impropérios que outrora recebiam da McLaren pelo desempenho deficiente de seu
equipamento poderão voltar com tudo, e com juros e correção, por parte de seu
novo time oficial de fábrica. Até o momento, a Honda melhorou sua
confiabilidade em relação a seus anos anteriores. Já em relação à performance,
ainda é uma incógnita: pode dar conta das expectativas da Toro Rosso, que é o
time “B” dos energéticos, mas e quanto às exigências que o time “matriz” terá? É
bom os nipônicos capricharem para o próximo ano, do contrário...
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