O sorridente Daniel Ricciardo resolveu dar adeus à Red Bull, e irá defender a equipe oficial da Renault em 2019. |
Na dança das cadeiras
que os pilotos fariam para a temporada de 2019 da Fórmula 1, Daniel Ricciardo,
que até então todos tinham como certa sua permanência na Red Bull para o
próximo ano, surpreendeu a todos ao anunciar sua saída do time dos energéticos,
e firmar sua ida para a Renault. À primeira vista, parece um passo atrás na
carreira, haja visto que, atualmente, o time da fábrica francesa ainda não tem
um desempenho à altura da escuderia austríaca. Mas muitos também disseram isso
de Lewis Hamilton quando o piloto inglês decidiu sair da McLaren, ao fim de
2012, e aventurar-se pela Mercedes a partir do ano seguinte, uma vez que o time
de Woking era visto como opção mais competitiva do que a própria equipe de fábrica
da Mercedes, que até ali vinha marcando passo na sua volta como escuderia à
F-1. A entrada da nova era turbo híbrida mudou as forças do jogo, e desde então
a Mercedes desfruta de uma supremacia que só neste ano se vê realmente
desafiada. Aconteceria o mesmo com Daniel Ricciardo em sua aposta no time
francês?
O australiano deixou
claro que um dos motivos de sua baixa na Red Bull são suas dúvidas de a Honda
entregar realmente um motor competitivo para 2019, quando passará a equipar os
carros projetados por Adrian Newey. A parceria com a Renault, que deu quatro
títulos de pilotos e construtores consecutivos de 2010 a 2013, deteriorou-se
completamente desde 2014, e para a Renault, deixar a Red Bulll é um misto de
alívio e desapontamento. O desapontamento é pelas críticas ferinas feitas às
unidades de potência francesas, em parte até merecidas, em vista da performance
deficiente das mesmas frente às eficientes unidades produzidas pela Mercedes, e
até pela Ferrari, que recentemente superou as rivais alemãs em parâmetros
gerais. O que não pegou bem foi o tom por vezes completamente desproporcional.
Nada muito diferente das críticas de Fernando Alonso ou da McLaren contra a
Honda nas últimas três temporadas. Só que, apesar dos problemas, ainda assim a
Red Bull conseguiu se manter em destaque, sendo quase sempre a 3ª força, e
vencer corridas ocasionalmente. Algo bem diferente do calvário sofrido pela
McLaren nas mãos da Honda, mesmo relevando-se as falhas cometidas pela própria
McLaren. Não deixa de ser uma perda deixar de equipar um time de ponta como a
Red Bull. O alívio é ter um pouco de paz, e menos críticas, o que deve fazer o
trabalho fluir melhor.
A Honda fez grandes
progressos este ano, melhorando sua confiabilidade, trabalhando em um ambiente
menos estressante na Toro Rosso. Em termos de performance, ainda não se viu
muita coisa, e os elogios recentes feitos às unidades nipônicas precisam ser
relativizadas quanto às suas qualidades. A Red Bull fala em realmente avançar
com a Honda. Será que isso se realizará? Só saberemos as respostas em 2019,
quando a parceria mostrar seus primeiros frutos do trabalho conjunto que já
começou a ser desenvolvido nas fábricas de Milton Keynes e no Japão. Os
japoneses querem resgatar sua honra e prestígio, que perderam nos últimos
tempos em virtude dos resultados pífios que demonstraram, tanto como equipe de
fábrica na década passada, quando nos anos recentes. Pela sua história na F-1,
todos torcem para os nipônicos reencontrarem o seu rumo.
Mas a Renault também
tem planos ambiciosos para a categoria máxima do automobilismo. Tanto que até
saíram da Formula-E, onde eram uma força respeitada, deixando sua subsidiária
Nissan assumir suas operações na categoria dos carros monopostos elétricos,
para centrar forças em seu projeto na F-1. Desde o ano passado, as fábricas na
Inglaterra e na França vem sendo reforçadas, com a contratação de mais pessoal,
e reestruturação de seus grupos técnicos. O objetivo é lutar pelo título na
F-1, e os próprios franceses sabem que a empreitada demandará certa paciência.
Mas os resultados já aparecem, ainda que timidamente. A equipe de fábrica,
apesar de alguns altos e baixos, vem ostentando a 4ª posição no mundial de
construtores, e trabalha para diminuir o seu déficit de performance para as
principais escuderias, Mercedes, Ferrari, e Red Bull. E, com a contratação de
Ricciardo, eles ganham um piloto altamente eficiente, e que erra pouco, que já
superou Sebastian Vettel na Red Bull, e que acima de tudo, não causa celeumas
na escuderia. Será um grande desafio para o australiano levar o time francês
adiante.
Desde o ano passado, a
Red Bull não apenas inflou o ego de sua nova revelação, o holandês Max
Verstappen, como também lhe deu um status que, até o presente momento,
revelou-se precipitado, como lhe dar regalias contratuais como se fosse um
grande campeão da categoria máxima do automobilismo. O resultado é bem
conhecido: Verstappen acumula confusões com a mesma velocidade com que dá show,
a ponto de a equipe ter precisado lhe dar uma bela bronca pelo início de
temporada errático deste ano. Enquanto isso, Daniel acumulava pontos, e vencia
corridas, sem causar estripulias mundo afora. Um de seus raros erros foi em
Baku, onde o duelo com Verstappen acabou saindo pelo cano, em que pese o
holandês também ter parte da culpa no acidente que tirou a dupla da Red Bull da
corrida. Ricciardo cansou do modo como o time vem paparicando o holandês, quase
relegando-o a segundo plano, mesmo trazendo mais resultados para a escuderia. E
como Helmut Marko, que parece ditar as preferências do time, com a
condescendência de Dietrich Mateschitz, dono do império Red Bull, parece pouco
inclinado a mudar muito essa atitude, até porque Verstappen é o último trunfo
que lhe resta do outrora tão elogiado programa de desenvolvimento de pilotos da
marca dos energéticos, que anda sendo evitado atualmente por vários pilotos em
potencial, pelo possível estrago que suas carreiras poderiam sofrer nas mãos de
Marko, Daniel resolveu apostar em outras paragens, onde pode ter o seu trabalho
mais do que reconhecido e valorizado, algo que já não ocorria devidamente no
time dos energéticos. Christian Horner, aliás, até deu algumas cutucadas sutis
no australiano, ao mencionar que a escuderia fez o máximo para atender suas
exigências, e que mesmo assim ele preferiu ir para o time francês. Horner pode
não admitir, mas sentirá falta de Ricciardo no time.
Não é questão de
perder uma disputa na pista para Verstappen. O holandês é mais rápido em se
tratando de velocidade pura, mas no cômputo geral, que inclui saber ler a
corrida, precisão técnica, e inteligência para evitar tanto quanto possível se
envolver em confusões e montar estratégia de corrida, Ricciardo se mostra tão
ou até melhor do que o holandês. Mas, dar o melhor de si, e ver o outro piloto
do time ser tratado a pão-de-ló incomoda, especialmente quando se traz os
melhores resultados. Mas, a rigor, a incerteza a respeito de um bom desenvolvimento
da Honda parece ter pesado muito mais. Já em relação à Renault, Ricciardo sabe
melhor o terreno em que pisa, e a escuderia da fábrica francesa não investiria
em sua contratação a troco de nada. Um projeto de desenvolvimento e evolução do
time, bem como seus investimentos e metas foi devidamente apresentado ao
australiano, que pesou muito bem os prós e contras, e resolveu apostar no plano
francês, mesmo que no curto prazo ele tenha dado um passo para trás.
Vale lembrar que a
Renault tem um time de fábrica, e já estão engajados no seu projeto de
desenvolvimento conjunto que prevê a integração completa da unidade de potência
ao projeto do chassi, algo que Mercedes e Ferrari já fazem há algum tempo. A
Red Bull só em 2019 terá essa vantagem, já iniciada nas trocas de informação
com os japoneses, que permitirá que o futuro RB15 seja concebido de forma a se
integrar na unidade motriz nipônica, em tese maximizando a performance do
conjunto. Se esta integração vai funcionar logo de cara, só saberemos no ano
que vem. E não há dúvidas de que mesmo dentro da Red Bull essa ainda é uma
incógnita que só terá resposta mais à frente. Um estágio onde os franceses já
se encontram na frente, precisando apenas desenvolver o projeto adequadamente.
E terão um belo reforço orçamentário para o próximo ano, de acordo com fontes internas
da fábrica francesa, que concordou com um incremento de recursos substancial
para desenvolver o seu projeto na F-1.
Some-se a isso a presença
de Nico Hulkenberg, outro piloto de talento reconhecido, embora nunca tenha
conseguido subir ao pódio até hoje, e vemos que a Renault terá uma dupla de
pilotos de excelente calibre para comandar o time dentro da pista, função que
terá contribuição decisiva de Ricciardo, pela sua experiência em um time de
ponta, e por já ter vencido corridas. Ricciardo compete com as unidades
francesas de potência desde 2014, e de lá para cá, já venceu 7 corridas, e
conhece muito bem o desempenho dos propulsores, seus pontos positivos e
negativos. Será um acréscimo de muito valor para o time francês. Se a Red Bull
vai sentir falta dele, só saberemos no futuro... Mas, como mencionei, a cúpula
do time fará o possível para negar isso, mas ele fará sim falta na escuderia
austríaca.
Enquanto o piloto
australiano surpreende pela ousadia de seu passo para o futuro, quem precisa
dar os seus primeiros passos, e mostrar o que pretende fazer é a nova diretoria
do grupo Fiat-Chrysler, e que por tabela inclui também a Ferrari. Sergio
Marchionne faleceu há poucas semanas, em consequência de um câncer e
complicações de uma cirurgia, e seus substitutos na direção do conglomerado
precisam agora traçar seus raios de ação para o futuro da empresa. Uma tarefa
que não será das mais fáceis, uma vez que Marchionne literalmente levantou o
grupo, que passava por uma crise financeira há alguns anos, e o tornou lucrativo
e poderoso novamente, feitos nada desprezíveis.
A Ferrari sofreu uma grande perda com o falecimento de Sergio Marchionne, que reergueu não apenas o grupo Fiat-Chrysler, mas também a Ferrari na F-1. |
Ele também reformulou
a Ferrari, despediu Lucca de Montezemolo, e fez o time italiano voltar a ser a
principal desafiante da então toda-poderosa Mercedes, levando a uma
reestruturação técnica em que apostou nos talentos da casa, na segunda metade
de 2016, que souberam aproveitar a oportunidade, e apresentaram um carro muito
competitivo no ano passado, perdendo o campeonato por alguns erros próprios e
alguns azares. Mas que este ano apresentaram o carro que encerrou a primeira
metade da temporada como o bólido a ser batido, só não liderando os campeonatos
por alguns erros e problemas, mas exibindo muito mais força e performance do
que em 2017, e que tem tudo para finalmente levar a escuderia italiana a ser
novamente campeã, o que não acontece desde 2007.
Acontece que, nas
decisões administrativas, Marchionne era extremamente centralizador, mas sabia
fazer apostas certeiras para levar seus projetos adiante. A nova direção agora
terá que determinar o que fará para manter o atual status de força da Ferrari
na F-1, tanto interna quanto externamente. Em teoria, a melhor maneira de
ganhar tempo e tratar a escuderia com calma seria seguir a velha máxima de que
“não se mexe em time que está ganhando”: apesar dos percalços, a equipe de
Maranello está muito forte, e não deve sofrer mudanças visíveis no curto prazo.
Sebastian Vettel vem dando tudo de si, apesar de um ou outro percalço, e Kimi
Raikkonen só não está melhor porque a política de preferência a Vettel já
prejudicou o finlandês em algumas corridas no ano, onde poderia ter tido
resultados ligeiramente melhores. Mesmo assim, Kimi vem andando forte, e está
subindo ao pódio em todas as últimas corridas. Há algumas semanas, era muito
forte os boatos de que o finlandês poderia ser substituído pela nova revelação
Charles LeClerc, atualmente na Sauber, que é um time satélite da Ferrari,
competindo com o nome da Alfa Romeo. Mas alguns defendem que o monegasco se
beneficiaria de mais uma temporada antes de ser efetivado em Maranello como
titular, e a hipótese de ele competir pela Hass em 2019 ganha maiores
possibilidades por lhe permitir correr em um time mais bem estruturado, e
continuar se desenvolvendo como piloto sem sofrer as pressões que naturalmente
receberia por ser um piloto da Ferrari. E também temos o maior defensor da
permanência de Raikkonen na Ferrari, que é Sebastian Vettel, mais por saber que
pode “domar” o finlandês, e que desfruta de calmaria nos boxes, já que Kimi não
causa celeumas nos bastidores.
Manter tudo em
perfeita ordem, para só depois, com calma e paciência, necessitar mudar algo,
seria bem-vindo pela nova diretoria, que poderia concentrar sua atenção em
setores onde realmente seria necessário efetuar mudanças. Por isso mesmo, a
harmonia da atual dupla de pilotos, que no presente momento está entregando os
resultados que precisam, apesar de um problema ou outro, vale muito. Vettel e
Kimi já são companheiros de equipe desde 2016, e de lá para cá nunca os boxes
vermelhos estiveram trabalhando em clima tão tranquilo quanto possível ser. Por
isso mesmo, boatos como uma possível volta de Fernando Alonso à Ferrari, de
onde saiu brigado justamente com Sergio Marchionne, soam bem irreais. O
ambiente harmônico nos boxes poderia sofrer consequências irremediáveis se o
espanhol dividisse o espaço com Vettel. Para a competição, poderia ser o melhor
dos mundos, com as disputas na pista pegando fogo. Mas será que a nova
diretoria transformaria o clima coeso que a escuderia apresenta atualmente num
ambiente de guerra declarada? Vettel e Alonso detonariam um caos dentro do time
que poderia comprometer todos os esforços de conquista do título, uma vez que
ambos jamais aceitariam submeter-se um ao outro. Seria o sonho de todos os
ferraristas contar com uma dupla desse nível, se a disputa se restringisse
unicamente à pista, e ambos mantivessem um clima de respeito e harmonia entre
eles. Mas nem Alonso nem Vettel parecem dispostos a isso, e já vimos o alemão
dar várias declarações nas entrelinhas recentemente de que não admitirá ter um
companheiro de time forte, já que ele vetou praticamente a contratação de
Daniel Ricciardo por parte da Ferrari, já que levou uma sova do australiano
quando dividiram a Red Bull em 2014.
Com um excelente chassi e uma unidade de potência exemplar, a Ferrari é o conjunto mais forte da F-1 no momento, superando até mesmo a Mercedes. |
A equipe técnica deve
ser mantida sem alterações, já que vem fazendo um trabalho exemplar até o
momento, tanto na área do chassi quanto nos motores. E quem deve ganhar
sobrevida é Maurizio Arrivabene, que segundo alguns já estaria fazendo hora
extra como diretor da escuderia na gestão Marchionne, que já não estava muito
bem conceituado aos olhos do recém-falecido patrão. Até resolverem intervir
nesse quesito, Arrivabene deve continuar à frente da escuderia de F-1, a menos
que aconteça algum desastre gerencial que implique a liderança da escuderia, o
que poderia forçar sua saída. Por isso mesmo, e reforçando os argumentos já
mencionados, o mais sensato seria manter tudo na escuderia de F-1 como se
encontra atualmente. Claro que mudanças deverão surgir, é algo natural na vida,
e no desenvolvimento das coisas. Mas, ao presente momento, a Ferrari vem muito
bem na pista, e mudanças parecem desnecessárias neste momento. E se algo fosse
alterado, e os resultados não surtissem efeito, poderia comprometer o bom
momento que o time vive em 2018. E a disputa do campeonato poderia sofrer muito
também, se a Mercedes voltar a se sobressair em virtude de desmandos originados
pela nova cúpula do grupo Fiat-Chrysler. Resta aguardar, então, que passo eles
darão, e quando o farão... Nada de apostas duvidosas neste momento...
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