Pierre Gasly será o companheiro de Max Verstappen na equipe Red Bull em 2019. |
E mais um time fechou
sua lista de titulares para a temporada 2019 da Fórmula 1. A Red Bull
oficializou a promoção de Pierre Gasly, atualmente na Toro Rosso, para competir
pela equipe “matriz” na próxima temporada. Depois que Carlos Sainz Jr. resolveu
bandear-se para a McLaren, por não ter fé em ser promovido para o lugar de
Daniel Ricciardo, que irá defender a equipe oficial da Renault no próximo ano,
Gasly era praticamente a escolha óbvia. O time dos energéticos não tinha mais
ninguém à mão. E agora, tem outro dilema: quais serão os pilotos da Toro Rosso
em 2019? O famoso programa de formação de pilotos da marca de bebidas
energéticas, outrora disputado em tempos não tão distantes, com vários pilotos
à escolha dos dirigentes, literalmente secou. A grosso modo, na verdade, há
apenas um piloto: o inglês Dan Ticktum, que compete atualmente no campeonato
europeu de F-3. O problema é que ele ainda não tem pontos que o credenciem a
obter a Superlicença, a “carteira de motorista” necessária para todo piloto que
queira competir na F-1, a categoria máxima do automobilismo.
Depois da “promoção”
de Max Verstappen à F-1 com apenas 17 anos, e em vista das estripulias causadas
pelo garoto como novato, a FIA resolveu endurecer o jogo para conceder a
superlicença, uma vez que a F-1 é uma categoria TOP do automobilismo mundial, e
convenhamos, quem deseja chegar lá precisa mostrar um currículo que o credencie
a tanto. É para isso que existem as categorias de base, onde os pilotos se
formam e mostram do que são capazes. A atitude da Red Bull, fazendo um piloto
“furar” a maior parte da fila de acesso, a um piloto que causou alguns
acidentes motivou a entidade que comanda o automobilismo mundial a ficar bem
mais rígida nos critérios de concessão da superlicença para que os pilotos
cheguem mais calejados, e menos afoitos à F-1. Por isso mesmo, Verstappen
deverá carregar para sempre o recorde de piloto mais jovem a estrear na F-1,
pois dificilmente alguém conseguirá reunir pontos curriculares que lhe permitam
obter a superlicença tão cedo na carreira. E isso agora acaba barrando o único
nome que restou na prática no programa de formação de pilotos da Red Bull, que
se vê sem nomes para seu time “B” na próxima temporada. Brendon Hartley até poderia
continuar, mas seu desempenho e resultados especialmente, muito abaixos do de
Gasly no ano no time de Faenza, só não o fizeram ser demitido antes justamente
pelo fato de não haverem substitutos disponíveis. Se ele permanecer no time, ou
será por uma melhora nos resultados, ou por pura falta de opções.
E o que aconteceu com
o tão propalado programa de formação de pilotos promovido pela marca de bebidas
energéticas, para não ter mais pretendentes a esta altura, ou simplesmente não
ser mais tão considerado pelos pilotos em início de carreira? Talvez a grande
lista de nomes “queimados” pelo programa na última década tenha feito
potenciais candidatos repensarem a relação custo-benefício oferecida pelo
programa, que realmente dá um importante apoio financeiro, mas também pode
afundar os pilotos em um momento crucial onde ainda tentam firmar seus nomes no
mercado, com consequências potencialmente nefastas. Helmut Marko não inspira
mais a confiança dos jovens talentos, e boa parte deles prefere passar longe do
austríaco por considerar que ele tanto pode ajudar quanto mais arruinar suas
ainda incipientes carreiras. E não se pode culpa-los: é um momento delicado,
onde passos em falso, ou simplesmente não agradar a alguém pode “enterrar”
carreiras prematuramente.
O esquema quando da
criação do programa era bem claro e transparente: apoio nas categorias de base,
com os melhores sendo escolhidos para guiar pela Toro Rosso, onde depois de um
ano ou dois, tendo mostrado seu potencial, poderiam ser promovidos ao time
principal, e quem sabe, brilhar na F-1. De início, após alguns testes, veio a
primeira “jóia” revelada pelo programa: o alemão Sebastian Vettel, que estreou
em 2007, fez excelente temporada em 2008, e em 2009 já estava no time
principal. Teoricamente, o programa começava a mostrar seus frutos. O problema
era o que fazer com os “não promovidos”, e o que resolver com “outras
revelações”. Só haviam duas vagas de início, e duas no time matriz. E, com
vários candidatos chegando na hora de serem aproveitados, o que fazer com essa
fila? Obviamente, os menos talentosos acabaram sendo dispensados. Até aí, nada
demais. Todos sabem que o automobilismo é um esporte caro, e que nem todo mundo
conseguirá fazer sucesso, ou terá talento para ser um campeão. As condições sempre
eram explícitas e claras: fizesse sucesso, seguiria em frente; senão, a fila
andaria com outros nomes.
Jaime Alguersuari e Sébastien Buemi, apesar de fazerem um bom serviço, foram dispensados sem a menor cerimônia, e no momento mais impróprio possível. |
Mas, com a Red Bull
mantendo sua dupla titular – Mark Webber e Sebastian Vettel – por cinco
temporadas, de 2009 a 2013, as cobranças naturais aos novatos começaram a
descambar para alguns critérios um pouco exagerados, e por que não, mais
parciais. Que o digam Jaime Alguersuari e Sébasttien Buemi. A dupla foi titular
da Toro Rosso por dois anos, em 2010 e 2011, e não havia como promove-los, já
que a equipe principal estava “fechada”. Ao invés de encaminhar os dois pilotos
ao mercado, para capitalizar com sua formação, e propiciar o seguimento de suas
carreiras, ambos foram demitidos em dezembro de 2011 de forma sumária, sendo
substituídos por Daniel Ricciardo e Jean-Éric Vergne. Tanto Buemi quanto
Alguersuari foram pegos de surpresa, e ficaram fora do mercado de pilotos, uma
vez que foram demitidos em um momento onde os times já estavam com suas duplas
encaminhadas para a temporada seguinte. Uma tremenda falta de respeito, pois se
tinham a pretensão de passar os dois adiante, que pelo menos comunicasse a
ambos que esles não teriam os contratos renovados, permitindo-lhes buscar
outras equipes e/ ou categorias.
Alguersuari ainda
chegou a bater boca com Helmut Marko, e isso o queimou ainda mais, de modo que
o espanhol até abandonou a carreira de piloto. Buemi ainda foi recontratado
como piloto de testes da Red Bull, função que hoje em dia na F-1 é praticamente
decorativa. Não demorou muito tempo para o suíço ir buscar outras paragens, e
para sua sorte, ele encontrou alternativas no Mundial de Endurance e na
Formula-E, tendo sido campeão em ambas, e mostrando ser um piloto vencedor e de
talento. Outro problema surgido era quando a dupla de pilotos mostrava resultados
similares. O que poderia ser visto como uma dupla de pilotos igualmente
talentosos, na prática, parecia virar demérito, pois se um dos pilotos não
conseguisse “massacrar” o outro, ou pelo menos mostrar-se bem superior, ele não
era exatamente bem visto por Marko, que andava à caça de outro Vettel, até
então a única “estrela” revelada pelo programa. Houve também conversas de que
os pilotos, se quisessem ser promovidos, teriam de vencer corridas. Com a Toro
Rosso? Impossível. Mas Vettel não havia conseguido, em 2008? Sim, ele
conseguiu, mas naquele ano, a Toro Rosso andava melhor que a Red Bull, situação
que jamais se repetiu, com a equipe B passando a ter uma performance muito mais
discreta de lá até hoje.
Promovido à Red Bull em 2014, Daniel Ricciardo superou Sebastian Vettel, que não gostou disso e foi embora para a Ferrari. |
A fila só começou a
andar, mais de acordo com o figurino, com o abandono de Mark Webber da F-1,
abrindo uma vaga na Red Bull em 2014. E o australiano, quem diria, eclipsaria o
próprio Vettel na equipe principal, o que fez o alemão queridinho de Marko
simplesmente abandonar o time e ir para a Ferrari. Outra vaga aberta, outro
piloto promovido, e aí, algumas fruzarcas no caminho: Daniil Kvyat foi o
escolhido, e na opinião de muitos, tinha gente na fila mais capacitada
esperando sua oportunidade, como Jean-Éric Vergne, que em 2014 havia feito mais
que o dobro de pontos do russo, e era bem mais experiente, tendo andado no
mesmo nível de Ricciardo. E nem falarei dos outros nomes do programa, que
aguardavam sua oportunidade, e viam que os critérios de promoção não pareciam
tão transparentes como esperavam. Claro que ninguém esperava vida fácil, mas ao
menos, achavam que mereciam uma avaliação mais objetiva e imparcial. As
oportunidades oferecidas pelo programa já não pareciam tão garantidas quanto
nas promessas feitas.
Não seria exagero
fazer um paralelo com o famoso slogan da bebida energética, que era “Red Bull
te dá asas” com o que os pilotos viviam: eles podiam ganhar asas no programa,
mas também podiam ter as mesmas podadas. Até aí, nada demais. Todos sabiam que
isso poderia acontecer. Mas os cortes parecem ter se tornado muito mais
abruptos e frequentes. E os encantos de Marko com pilotos que ele considerava
“especiais” só ajudavam a criar intrigas nos demais. O caso de Max Verstappen é
bem exemplificativo: o holandês mostrava que podia ser um fenômeno, e foi logo
promovido à Toro Rosso, novamente passando na frente de outros pilotos que
vinham cumprindo com o papel que lhes fora confiado. Verstappen se mostrou
rápido, realmente, e acalmando o dirigente, que andava mais uma vez ávido por
outra “revelação”. Sorte de Verstappen ter mostrado a velocidade tanto ansiada
por Marko, pois pelas confusões causadas em seu ano de estréia, muitos acabaram
defenestrados por Helmut por muito menos.
Que a F-1 sempre foi
pródiga em destruir talentos em potencial, já não é novidade. E quando o
próprio time lhe puxa o tapete, aproveitando-se de um momento ruim ocasional, é
ainda pior. Daniil Kvyat teve alguns percalços no início da temporada de 2016,
mas já tinha até conquistado um pódio, quando o time usou sua barbeiragem no GP
da Rússia para rebaixá-lo de volta à Toro Rosso, e colocar Max Verstappen no
time principal. Verstappen correspondeu ao que dele se esperava, mas o russo
não fazia uma temporada ruim que justificasse seu rebaixamento. E Max continuou
arrumando até mais tretas que Daniil, mas como passou a ser o queridinho da Red
Bull, passaram-lhe a mão na cabeça, enquanto Kvyat literalmente, ficou com a
cabeça a prêmio, tendo sua autoconfiança pra lá de abalada após seu retorno à
Toro Rosso. O piloto até conseguiu permanecer na escuderia B no ano passado,
mas seus dias estavam contados. E foi crucificado, como se imaginavam, para a
estréia de outros pilotos. Só que, se Pierre Gasly fazia parte do programa, e
teve uma promoção meritória, a Red Bull teve que buscar um “estranho” para
preencher a vaga em aberto na Toro Rosso após eles concordarem em liberar, por
empréstimo, Carlos Sainz Jr. para a Renault. Àquela altura, praticamente todos
os nomes potenciais do programa de pilotos já haviam sido rifados, e não necessariamente
satisfeitos com o modo como as coisas foram conduzidas.
É preciso lembrar que
a própria Red Bull, que já não tinha lugar para aproveitar alguns nomes de seu
programa para promoção, chegou a vetar suas contratações por outros
interessados, de modo que os pilotos tiveram que pular fora para poderem voltar
a conduzir suas carreiras. Uma atitude pouco respeitosa, porque se não iam
aproveitá-los por falta de oportunidade, porque colocar este empecilho. E
jovens pilotos começaram a evitar optar pelo programa, preferindo tentar outros
caminhos, mas tendo mais controle de suas opções, a fim de minimizarem os
riscos de serem passados pra trás em movimentos inesperados. Alguns pilotos que
já estavam no programa também preferiram sair, como o brasileiro Sérgio Sette
Câmara, que resolveu encarar os passos seguintes de sua carreira com mais
liberdade de escolha. Mas nem todos conseguiram sair sem criar animosidades,
como o brasileiro. E há alguns pilotos que, apesar de tudo, são gratos ao
programa pelas oportunidades que tiveram nele, aceitando que as coisas não
correram como o esperado. De fato, não dá para agradar a todos. O problema é
quando se começa a desagradar muito mais do que deveria ser necessário, quando
alguns tombos poderiam ter sido evitados, ou minimizados com uma condução mais
delicada da situação, o que não foi feito, muito pelo contrário.
Sem perspectivas e preterido, Carlos Sainz Jr. foi para a McLaren. |
E tentar reengatar a
carreira depois de empacar no programa da Red Bull foi complicado para alguns,
enquanto alguns outros tiveram melhores oportunidades, como Jean-Éric Vergne,
que se sagrou campeão da última temporada da Formula-E. Muitos defendem o
programa da Red Bull, pelas oportunidades que criou para vários pilotos que,
certamente, teriam tido mais dificuldades para prosseguirem com suas carreiras,
e tendo revelado talentos como Vettel, Ricciardo, e Verstappen. Não há o que
questionar a esse respeito. Mas na dança da F-1, poderiam ter encaminhado
melhor as carreiras daqueles que dispensaram, ou serem mais corretos quando os
critérios de avaliação de promoção se mostraram duvidosos em algumas
avaliações. Buemi e Vergne mostraram que tinham talento para serem campeões, o
que não os impediu de serem descartados. E rasteiras como a sofrida por Kvyat
foram bem desagradáveis, talvez além da conta do respeito que o piloto merecia,
no mínimo. O moedor de carne tão conhecido por triturar pilotos parece ter
acabado triturando em excesso a safra que vinham cultivando, apesar de tudo. A
transparência nas condições e cobranças acabaram sendo feitas além dos limites
aceitáveis. E a conta não tardaria a chegar, a se manter este ritmo.
E assim, chegamos ao
momento atual, onde a Red Bull não tem mais pilotos para utilizar. Caso
contrário, porque teriam até tentado aliciar Lando Norris, que é apoiado por
uma equipe rival, a McLaren, para ser um de seus pilotos para 2019 na Toro
Rosso? Marko e a direção da Red Bull terão que lidar agora com uma situação
inédita para quem via o programa de pilotos da Red Bull no início desta década.
Os jovens talentos que estão iniciando suas carreiras procuram minimizar alguns
riscos na condução de suas carreiras, algo que já é carregado de incertezas,
mas que passaram a ver no antes tão elogiado programa de apoio de formação de
pilotos mais riscos e incertezas do que o normal, optando por caminhos talvez
até mais difíceis, mas menos imprevisíveis, e talvez mais confiáveis, como se
isso pudesse ser tão mais confiável assim.
A Red Bull prometeu
novidades a respeito de sua dupla de pilotos titular da Toro Rosso até a prova
de Monza. O tempo é curto até chegarmos ao GP da Itália. Os dirigentes do time
dos energéticos vão ter dias complicados pela frente para resolver isso. Quem
diria que montar uma dupla titular da Toro Rosso ficaria assim tão complicado,
quando alguns anos atrás, o problema era escolher os melhores nomes. O que
algumas atitudes não tão boas na condução correta acabaram fazendo com um
programa que todos queriam ter a chance de participar...?
Acabou o descanso na F-1, e hoje
todo mundo volta à pista para os primeiros treinos livres em Spa-Francorchamps,
Bélgica, uma de minhas pistas favoritas de sempre. E já com novidades na pista:
acabou a Force India, que agora se chama Racing Point Force India, novo nome
que seus novos proprietários deram ao time. Ponto positivo: a F-1 continua com
10 equipes, e pelo menos, as chances da escuderia que começou como Jordan em
1991 continuar a fazer um bom campeonato só melhoram. Ponto negativo: a
escuderia perdeu todos os seus pontos no campeonato de construtores, numa
destas regras cretinas da FIA, e agora recomeça tudo do zero. Sérgio Perez e
Esteban Ocon mantém seus pontos, mas a patifaria da entidade que comanda o
automobilismo deve ser condenada com todas as letras por ter regras imbecis
como esta, que acaba punindo a escuderia, ao invés de manifestar satisfação por
ver o time seguir em frente na competição, mesmo com outro nome. Enquanto não
revogarem certas coisas absurdas na F-1, a categoria continuará dando tiros no
pé. E que depois não venham reclamar das críticas...
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