sexta-feira, 29 de agosto de 2014

AZEDOU!


Premeditada ou não a batida, não foram apenas estilhaços que voaram do toque entre os carros das Mercedes. Ali uma amizade azedou, e o clima na equipe vai pelo mesmo caminho. Agora pode ser guerra declarada mesmo entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg pelo título...

            Quem esperava um novo passeio da equipe Mercedes no retorno da Fórmula depois das "férias" de agosto, certamente ficou surpreso com o que se passou no Grande Prêmio da Bélgica, domingo passado. Com um domínio nos treinos que deixou todo mundo assustado principalmente na chuva do sábado, o time alemão certamente tinha motivos para sorrir no domingo. Mas a alegria virou apreensão logo na segunda volta, com o toque de Nico Rosberg em Lewis Hamilton, que fez com que o alemão tivesse parte do spoiler danificado, enquanto o inglês teve o pior rescaldo: um pneu furado e a maior parte da pista belga para percorrer em baixa velocidade até conseguir alcançar o box e poder trocar o composto. Para Hamilton, suas chances na corrida acabaram de vez ali, enquanto Rosberg ainda retornou à prova e só não venceu porque novamente Daniel Ricciardo surpreendeu a todos, assim como a Red Bull, com seu carro rendendo mais do que todo mundo esperava, além de uma pilotagem inspirada como poucos do australiano, que chega assim à sua 3ª vitória no ano.
            O clima na Mercedes já tinha ficado pesado em Hungaroring, mas em Spa o caldo azedou de vez. Se Nico e Lewis estavam liberados para lutar na pista, Rosberg acabou fazendo justamente aquilo que o time mais pediu a ambos para evitarem: atingir um ao outro! Manobra voluntária ou não, seria um simples acidente de corrida, não fossem os dois pilotos companheiros de equipe, e que por acaso disputam o título de 2014, dominando o campeonato como poucas vezes se viu. E, se até aqui muitos apontam que Hamilton vem sendo muito "chorão" no campeonato, por vezes insinuando até que algo anda "acontecendo" com ele que não é normal, em virtude das quebras que já sofreu no ano, muito mais frequentes que as do companheiro de equipe, e que sob pressão costuma desandar, explicando assim alguns dos erros cometidos pelo inglês nas últimas corridas, podemos ver que Nico também não tem a cabeça tão assim no lugar como muitos acreditam.
            Basta lembrar que na Hungria, quando quis passar o companheiro pelo fato de estar com uma estratégia diferente, ele demonstrou ter ficado bem contrariado quando Hamilton não abriu passagem, e até reclamou disso no rádio. No resultado final da corrida, ele que largara na frente, enquanto o companheiro partia dos boxes, acabou atrás dele. Foi uma derrota que ele aparentemente não digeriu nem um pouco direito. E em Spa, novamente largando na pole, foi superado no arranque para a La Source não apenas por Hamilton mas também por Sebastian Vettel. Se o tetracampeão saiu da frente pelo erro na Les Combes, o ritmo com que Rosberg procurou logo superar Hamilton deu mostras de parecer ter sentido o golpe de ficar novamente para trás. Havia necessidade de arriscar tanto por dentro da Les Combes? Não, tanto que Hamilton não fez movimento errado nenhum, nem uma fechada mais agressiva. Seria apenas questão de tentar em outro ponto da pista com mais oportunidade, que certamente não faltaria nas outras 42 voltas da corrida ainda a se disputar.
            Depois, na reunião com o time, a tal declaração sobre "provar um ponto"...que ponto exatamente é esse? Se for sobre o fato de Hamilton ser extremamente agressivo e duro na disputa de posição, qual a novidade? Nico nunca viu como o amigo se comporta na pista? Hamilton sempre foi "atirado" e um páreo duríssimo em ultrapassagens e defesas de posição. Falar que em outras ocasiões sempre "recuou" para evitar um acidente e que agora, aparentemente, não vai mais "recuar", é uma argumentação besta. Porque, se ele novamente "não recuar", como fez na Bélgica, será Rosberg quem terá culpa no cartório, e não Hamilton, caso o inglês esteja na frente na pista. O parceiro inglês é muito duro e agressivo? E daí? Será que ele, Rosberg, não sabe encontrar meios de superar o parceiro sendo mais eficiente na pista? É o que ele deveria fazer, não ficar com essa guerrinha de "marcar posição" ou seja lá o termo exato que disse durante a reunião. Dá para superar Lewis na pista, e num circuito como Spa, seria apenas questão de estudar as trajetórias e planejar onde surpreender o parceiro. O belíssimo duelo que ambos travaram no Bahrein, que eletrizou a platéia, com os dois andando a milímetros um do outro, sem se enroscarem, é prova disso, não importa o quanto Rosberg fique falando da "agressividade" do parceiro.
            Lewis Hamilton, é verdade, tem sua cota de enroscos em tentativas de ultrapassagens. Felipe Massa que o diga, quando em uma temporada recente andou se encontrando diversas vezes com o inglês, então piloto da McLaren. Na maioria das vezes, saiu faísca, além dos pilotos irem parar fora da pista nas divididas. Exageros à parte, a melhor resposta é vencer o oponente duro de roer em um duelo forte e limpo na pista. Rosberg agora quer mostrar os dentes, mas que o faça sabendo das consequências, como por vezes Hamilton já fez. O jogo psicológico do alemão em cima do inglês faz parte do jogo, e não é de hoje que isso é usado na F-1: quantas vezes Nélson Piquet lançou futricas sobre Nigel Mansell no tempo em que dividiram a equipe Williams em 1986 e 1987? Mansell, estabanado e maluco como ele só, tinha o hábito de partir para uma ultrapassagem por vezes sem pensar nas consequências: certa vez em Spa, tentou uma dividida com Ayrton Senna que terminou com ambos fora da pista. Já Piquet raramente se envolvia em confusões nas divididas de curvas, pelo menos era mais limpo que muitos pilotos, e nunca tocou rodas demasiado agressivamente com Mansell, pelo menos a ponto de os carros se enroscarem.
            Até a Bélgica, Nico Rosberg, tirando o despiste "suspeito" para alguns em Mônaco, vinha fazendo uma temporada perfeita, conseguindo reverter o jogo da disputa do título que muitos imaginavam terminar antes da hora depois das 4 vitórias consecutivas de Hamilton. Até ali, o alemão ficara com a fama de só ter chance de vencer se o inglês tivesse problemas. O triunfo em Monte Carlo pode não ter significado muito, mas a performance no Canadá, uma pista onde todos imaginavam ver Hamilton dando as cartas, deu o lance de que Rosberg voltava ao páreo. Dali em diante, ele não largaria mais a liderança, e apesar dos chiliques do parceiro campeão de 2008, era visto como o "mocinho" da disputa. Até Spa-Francorchamps. Ali, Nico mudou o panorama. Mostrou uma face que, se não é de vilão, também não é do "herói". Não por acaso foi vaiado pela torcida quando subiu ao pódio. Para ela, neste domingo, Rosberg foi o culpado da vez.
            Certamente a Mercedes está tendo uma semana complicada. Toto Wolf e Niki Lauda certamente estão tendo de discutir muito que atitudes tomar para manter as rédeas firmes na escuderia. Se lançarem mão das ordens de equipe, o time alemão perderá seu maior mérito do ano: o da disputa na pista. Por outro lado, dependendo da animosidade entre seus pilotos, as ordens de equipe só deixarão o clima ainda pior. Se Hamilton sentir que vai ser prejudicado, vai mandar a ordem - e quem a der, às favas; e podem apostar que Nico não fará muito diferente. Virou uma guerra onde quem recuar será o derrotado. Mas ninguém quer arredar, nem Hamilton, e nem Rosberg. O time precisa se impôr para evitar o combate fraticida, que pode descambar, na pior das hipóteses, para a eliminação de ambos os seus pilotos numa futura dividida de posição, que pode vir já em Monza, semana que vem. E, se antes eles estavam com folga na classificação, sabendo que apenas um dos dois seria o campeão do ano, o terceiro triunfo de Ricciardo em Spa acendeu o alerta amarelo: o australiano da Red Bull já está "apenas" 35 pontos atrás de Lewis Hamilton, mesmo que Nico Rosberg esteja outros 29 pontos à frente de Hamilton, um possível abandono numa próxima corrida, resultado de outro toque entre ambos, poderia fazer a vantagem da pontuação cair vertiginosamente, e com 7 provas pela frente, sendo que a corrida de Abu Dhabi terá pontuação dobrada, a possibilidade dos prateados perderem um título que todos consideravam remota e até impossível depois de Mônaco passa a ser bem real, e uma possibilidade que, se acontecer, repetiria os panoramas vistos em 1986 e 2007, com um terceiro concorrente faturando o título enquanto dois pilotos de um mesmo time se engalfinham nas pistas.
Para a torcida, quanto mais lenha na fogueira, melhor. Para a equipe Mercedes, um pesadelo para administrar os egos de seus pilotos...
            Para a torcida, nada melhor. Se a competição andava chata pelo fato de a Mercedes dominar o ano, mesmo com algumas vitórias pontuais da Red Bull com Daniel Ricciardo, nada como uma luta desenfreada entre os pilotos do time germânico para incendiar as atenções. Quanto mais os pilotos se pegarem, melhor, o torcedor quer ver mesmo é o circo pegar fogo, e que se dane a moda das "ordens de equipe". Para a escuderia alemã, um inferno passar por tal situação. Poderiam ter criado um clima menos belicoso dentro do time? Talvez. Mas, como disse Flávio Gomes, do site Grande Prêmio, nesta semana, o pior desta história toda é ver uma amizade de longa data entre os dois ir para o vinagre, vítima da competição pelo título. Nico Rosberg e Lewis Hamilton dividiram bons momentos em suas carreiras, antes e depois de chegarem à F-1.
            Hamilton leva vantagem no carisma. Rosberg não é lá de levantar o torcedor na arquibancada, como costuma acontecer com os pilotos "frios" e cerebrais. Já competidores de sangue "quente", que saem falando pelos cotovelos, e ainda por cima se mostram arrojados e audaciosos na pista, ainda que por vezes não terminem a corrida, costumam fazer a alegria da galera que curte corridas. Hamilton, com suas falhas, mostra não ser perfeito. Mas mesmo assim vai à luta, muitas vezes tentando o tudo ou nada. Mas torcida e carisma não ganham corridas nem campeonatos. Tanto Rosberg quanto Hamilton agora precisam aprender a conviver novamente sob o mesmo teto, e ao mesmo tempo, tentarem competir pelo menos de maneira a não criar novas controvérsias desnecessárias com seus atos dentro da pista.
            Eles tem como fazer isso? Capacidade e inteligência eles tem. Resta saber se não vão ligar o foda-se e partir para a pista dispostos a tudo ou nada em cada curva que percorrerem. Agora, vejamos o que eles aprontam em Monza...


Will Power já perdeu 3 títulos na corrida final do campeonato, em 2010, 2011, e 2012, na IRL. Agora, novamente tem tudo para ser campeão...mas melhor não comemorar antes do tempo, só por garantia...

Neste sábado a Indy Racing League encerra seu campeonato, com a disputa das 500 Milhas da Califórnia, no circuito oval de Fontana. A corrida será transmitida ao vivo pela Bandeirantes, a partir das 22:30 Horas. A Penske deve finalmente sair da fila em que se encontra desde 2006, quando o time de Roger conquistou seu único campeonato na categoria. Will Power, com 51 pontos de vantagem, tem tudo para fazer uma corrida de marcação sobre Hélio Castro Neves, na hipótese de não querer arriscar para enfim comemorar seu tão sonhado título. Para o brasileiro, é tudo ou nada, e ainda vai precisar torcer para um mal resultado do companheiro de equipe para levar a taça, algo complicado de acontecer, uma vez que o australiano não abandonou nenhuma corrida no ano, e vem mantendo uma média de resultados superiores aos de Helinho nas últimas corridas, que lhe deram uma boa vantagem, e que só não o creditam a ser campeão já porque as corridas de 500 milhas este ano tem pontuação dobrada, então o vencedor em Fontana leva 100 pontos ao invés dos tradicionais 50 das demais provas. E, além desse diferencial, corridas de 500 milhas são sempre imprevisíveis. É contando com a imprevisibilidade que Simon Pagenaud conta para tentar levar o troféu do campeonato. Mas o francês da equipe de Sam Schmidt tem uma tarefa quase impossível nas mãos, precisando vencer e ainda torcer para tanto Will quanto Hélio terem um corrida desastrosa ao extremo, para ter chances efetivas de anular os 81 pontos de desvantagem para Power. Não é impossível, mas certamente muito improvável de acontecer.


Pelo retrospecto das corridas de 500 milhas do campeonato deste ano da IRL, Hélio Castro Neves teve melhores resultados entre os pilotos da Penske, sendo 2° colocado em Indianápolis, e repetindo o feito em Pocono, conquistando 198 pontos. Juan Pablo Montoya venceu em Pocono, mas na Indy500 foi 5° colocado, faturando 184 pontos. Já Will Power foi 8° em Indianápolis e 10° em Pocono, marcando apenas 126 pontos. Não chega a ser lá uma garantia de que o panorama se repetirá em Fontana, mas é preciso ter pensamento positivo. Não pode é desistir da luta antes do tempo. Mas mesmo assim, a situação é complicada para o brasileiro, devido à grande desvantagem na pontuação.


O alemão Andre Lotterer teve uma estréia bem breve como piloto titular na F-1 domingo passado na Bélgica. Apesar de ter conseguido se classificar com mais de 1s de vantagem em relação ao tempo de Marcus Ericson, Lotterer ficou a pé logo no final da 1° volta, com problemas no carro da Caterham, que ficou sem força na unidade de potência da Renault, para variar. Com certeza Andre deve ter sentido uma saudade tremenda do possante modelo da Audi que tem à disposição como piloto da escuderia alemã no Mundial de Endurance. Ericson, pra variar, terminou em último lugar entre os que chegaram ao final da corrida belga, em 17° lugar, com 1 volta de desvantagem para o vencedor, Daniel Ricciardo, o que não foi lá um resultado assim tão ruim para o pouco competitivo carro do time. Mas ainda assim, perdeu novamente para a Marussia, que com Max Chilton de novo ao volante depois do primeiro treino livre de sexta, ainda terminou a corrida em 16°.

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