Depois das férias
européias, a Fórmula 1 está de volta, e nada como encarar minhas corridas
favoritas no campeonato. Chegamos a Spa-Francorchamps, circuito preferido por 9
entre 10 pilotos da categoria (o 10° piloto, geralmente, não gosta da pista
porque ou bateu na Eau Rouge, ou escapou da pista em outro ponto...),
desafiadora em todos os aspectos, e com o belíssimo visual das Ardenhas. E
depois daqui vamos diretamente para Monza, templo mítico do automobilismo
mundial e com o clima da torcida italiana que contagia todo mundo. Se todos os
lugares fossem assim, seriam muito mais prazeiroso cobrir a categoria máxima do
automobilismo...
Além do assunto mais
manjado, que é o duelo Lewis Hamilton X Nico Rosberg, a semana teve algumas
novidades interessantes. A Caterham, agora sob nova direção, resolveu rifar,
ainda que "oficialmente" apenas por esta prova, o japonês Kamui
Kobayashi, dando seu lugar para o piloto Andre Lotterer, piloto oficial
da Audi no Mundial de Endurance, e que vai tentar se divertir um pouco na F-1
neste fim de semana. Se ele vai apreciar a experiência é outra história, pois o
carro da Caterham certamente não vai deixar muitas saudades para alguém que
dispõe de um dos melhores carros de competição do mundo no WEC. De positivo
mesmo em relação ao ex-time de Tony Fernandes, apenas o fato de terem
apresentado um bico novo, pelo menos mais bonito e elegante do que aquela
tromba esquisita que vinham usando até a Hungria, embora seja uma melhoria
apenas visual, e ainda assim não é lá muita coisa. Certo, o bico anterior era
um design diferenciado e pessoal, que ajudava a mostrar uma exploração das
regras técnicas, mas que era feio demais, isso era...
Quem também estará com
piloto novo em Spa é a Marussia, mas ao contrário da Caterham, quem foi rifado
na etapa belga foi Max Chilton, o piloto de menor performance e resultados. Em
seu lugar, o time terá o americano Alexander Rossi. E, embora tenha afirmado
que Chilton voltará o mais "breve" possível, tem quem diga à boca
pequena que Rossi vai ficar mais tempo do que muitos esperam, dando a entender
que Max "dançou" no time. Pelo menos a escuderia foi sincera ao
afirmar que o americano vai estrear por uma questão de grana. E todos sabemos
como patrocínios andam escassos hoje em dia. E, para piorar, não tem carro com
a carenagem mais limpa em todo o grid do que a Marussia. Competir é preciso,
mas é preciso grana para competir, daí...
Não posso deixar de
mencionar também o assunto do dia na sala de imprensa e no resto do paddock: o
anúncio do jovem Max Verstappen para ser o companheiro de Dannil Kvyat na Toro
Rosso em 2015. Contratação relâmpago depois dos bons resultados nas poucas
corridas da F-3 disputadas até aqui, o filho de Jos Verstappen vai ser o mais
jovem piloto a estrear na F-1 em todos os tempos, tendo apenas 17 anos quando
alinhar no grid da próxima temporada. Todo mundo se pergunta se Helmut Marko, o
homem-forte na departamento de pilotos da Red Bull, não está exagerando na dose
desta vez, colocando alguém tão jovem tão rápido na F-1. Só saberemos de fato
no ano que vem. A sensação foi um pouco parecida com Kvyat, e o jovem russo
está correspondendo às expectativas muito bem até agora. O perigo é Max acabar
se queimando com uma estréia tão precoce assim. Mas Jos Verstappen, seu pai,
conhece bem o risco, e estava presente na assinatura do contrato com a Toro
Rosso, então deve ter, imagino eu, pesado bem os prós e contras, e tido certeza
pelo menos garantida, de não estar colocando o garoto numa tremenda fria, por
mais talentoso que seja.
Jos teve azar de
estrear na F-1 logo como companheiro de Michael Schumacher. Em 1994, o parceiro
do alemão seria o finlandês Jirky Jarvi Letho, porém ele sofreu um violento
acidente na pré-temporada, e sem ter tido chance de se recuperar completamente,
a Benetton colocou Jos Verstappen em seu lugar. Nem é preciso dizer que o
holandês comeu o pão que o diabo amassou naquele ano. O modelo B194 não era um
mau carro, mas tinha uma particularidade: era concebido unicamente para o
estilo de pilotagem de Michael Schumacher, que tinha predileção por carros com
comportamento arredio. Com seu enorme talento, Schumacher conseguia levar o
carro a desempenhos impressionantes, ainda que guiasse quase sempre no fio da
navalha. Só que ninguém mais conseguia andar assim com o mesmo carro. Sem
possuir um talento comparável ao do alemão, Jos não tinha como domar aquele
monoposto, e as cobranças por resultados eram praticamente nas mesmas
expectativas do que Schumacher conseguia, por mais que Flavio Briatore
conhecesse as particularidades do carro, concebido, aliás, por suas ordens para
o estilo do alemão, a fim de potencializar ao máximo sua performance. Deu no
que deu: sem resultados à altura, Jos acabou despedido da Benetton, e dali em
diante nunca teve a chance de pilotar um carro competitivo, o que acabou com
suas chances na F-1. Disputou 105 GPs, obtendo um total de 17 pontos entre as
temporadas de 1994 e 2003, não tendo competido em 1999 e 2002. Depois da
Benetton, defendeu as equipes Simtek, Arrows, Tyrrel e Stewart.
Pelo histórico dos
pilotos que defenderam a Toro Rosso, Max terá duas temporadas para mostrar o
que sabe na escuderia "B" da Red Bull. Vai ter vida dura pela frente:
mesmo que se adapte logo de cara, Dannil Kvyat vai ser um companheiro de equipe
duríssimo, e se ele não mostrar qualidades (leia-se resultados) no embate,
corre o risco de ser rifado sem dó nem piedade por Marko, que já riscou
inúmeros pilotos de seu caderno de opções em pensar duas vezes. Pelos cálculos,
Max aos 19 anos poderá se ver com duas opções: ou estará sendo piloto titular
na Red Bull ou poderá já estar na condição de desempregado precoce. Vai
depender dele, e do humor por vezes instável de Helmut Marko, que com o anúncio
do jovem holandês já confirmou que Jean-Éric Vergne está a pé em 2015, e que
terá de procurar emprego em outra freguesia.
Ao menos Vergne terá
chance de batalhar por um lugar. Alguns anos atrás, Sebastien Buemi e Jaime
Alguerssuari foram demitido sumariamente no final do ano, sem terem chance de
procurarem outro lugar. Buemi ainda conseguiu voltar à função de piloto de
testes da Red Bull, mas Alguerssuari teve sua carreira na F-1 encerrada, e saiu
soltando os cachorros sobre a atitude pouco ética de Marko, não sem razão. Max
Verstappen pode ter muito talento, como mostram seus bons resultados na F-3
Européia este ano, com 8 vitórias em 27 corridas disputadas, e sendo o 2°
colocado na competição, atrás apenas do francês Esteban Ocon, que também venceu
8 vezes, mas vai precisar de um bom equilíbrio emocional para aguentar o tranco
de pressão que a F-1 exerce em seus competidores. Melhor ele começar a se
preparar bem para o desafio, que nunca é fácil, mas que pode ter dimensões
ainda maiores dada sua pouca idade.
Saindo do paddock para
a pista, o traçado de Spa, com suas subidas e descidas, é um prato cheio para
os motores da Mercedes, de longe os mais potentes e eficientes do grid. Se
falar que Lewis Hamilton e Nico Rosberg são favoritos destacados é chover no
molhado, torna-se óbvio também deduzir que a Williams deve andar muito bem
nesta pista. Aliás, pelas declarações do time de Frank, andam prometendo até
chance de vitória. Não seria impossível, mas seria difícil, especialmente se os
carros da Mercedes estiverem bem calibrados e nada de errado acontecer com
eles. As longas retas do circuito certamente favorecem o desempenho do modelo
FW36, e isso deve dar a Valtteri Bottas e Felipe Massa boas oportunidades de
colher um resultado expressivo. A Force India, que sempre costuma andar relativamente
bem aqui desde 2009, quando foi pole-position com Giancarlo Fisichella, é quem
tem chance de impressionar, se acertar o carro novamente. E quem sabe a McLaren
também esboce uma reação?
Pela exigência do
motor, os times equipados com os Renault devem penar por aqui, especialmente no
trecho Eau Rouge-Raidillon, uma subida pra propulsor nenhum botar defeito. O
excelente equilíbrio do chassi de Adrian Newey deve ajudar a Red Bull, mas
muito provavelmente há o perigo de eles terem o mesmo desempenho pífio de
Zeltweg, onde em nenhum momento conseguiram andar entre os primeiros. E isso
abre chances para a Ferrari tentar se posicionar um pouco melhor. Mas antes dos
carros irem para a pista hoje, é difícil apontar quem vai andar bem ou não.
Todos os times chegaram no circuito com novidades nos carros, providenciadas
pelos seus departamentos de engenharia, para tentar incrementar sua
performance. Como de costume, alguns melhoramentos podem funcionar, enquanto
outros não. Por isso, fica a expectativa de surpresas na performance de alguns
carros, na esperança de termos mais equilíbrio e disputa. Se bem que pode
acontecer o inverso. Ano passado foi aqui que Sebastian Vettel, que até então
fazia um campeonato bom, mas nada espetacular, iniciou um massacre que o levou
a vencer as 9 corridas restantes do campeonato, só não levando o título muito
antes do final porque teve que recuperar-se de sua desvantagem na classificação
do certame.
Será que algum time
conseguirá dar um pulo parecido em termos de resultados? Pode acontecer. Mas
que ninguém fique muito alegre: a Mercedes, depois de perder 2 corridas este
ano, e ver seus carros apresentarem problemas de confiabilidade nas últimas
corridas, trabalhou com afinco para solucionar quaisquer problemas que possam
surgir, além de melhorar ainda mais sua performance. É a chance de voltarem a
ser campeões com time próprio, o que ocorreu pela última vez em 1955, com Juan
Manuel Fangio. de lá para cá, a Mercedes foi campeã de pilotos apenas como
fornecedora de motores, em 1998, 1999, e 2008 (McLaren), e 2009 (Brawn). Depois
de tanto investimento nos últimos anos desde a aquisição da Brawn, e com tudo
dando certo este ano, fruto do trabalho empenhado nos últimos anos, eles não
vão querer perder a chance.
Então, vamos para a pista
conferir quem voltou melhor ou pior das férias. A F-1 inicia sua segunda
"metade" com tudo...
Precisando de um bom resultado
para retomar a liderança no campeonato 2014 da Indy Racing League, Hélio Castro
Neves infelizmente teve um fim de semana frustrante na prova de Milwaukee. Além
de ter terminado em um simplório 11° lugar, ainda viu o parceiro de equipe Will
Power largar na pole e liderar a maior parte da corrida, vencendo a prova no
pequeno oval de West Allis com um domínio contundente. Com o resultado, o
australiano abriu 39 pontos de vantagem para o colega brasileiro, que apesar do
mau resultado, diz que não é hora de se desesperar e manter firme a luta pelo
título. Hélio não poderia ter outra atitude: enquanto houver chances
matemáticas, não pode desistir da briga. Mas certamente a parada ficou mesmo
muito difícil, e nem mesmo a pontuação dobrada que haverá em Fontana pode ser
um trunfo a se utilizar para fazer uma reviravolta na situação. Como desgraça
pouca é bobagem, a corrida deste final de semana, a penúltima do campeonato, é
no circuito de Infineon Raceway, em Sonoma, na Califórnia, uma pista mista
onde, no balanço dos últimos anos, Hélio sempre teve resultados piores do que
Power. O retrospecto em Milwaukee não era lá muito favorável ao australiano, e
ele contrariou todas as previsões. Hélio confia em dar o troco neste final de
semana. Se vai conseguir, é outra história, e na pior das hipóteses, pode
acabar sendo vice pelo segundo ano consecutivo...
Tirando a prova apagada de Hélio
Castro Neves em West Allis, a Penske não teve do que reclamar da corrida: além
de Will Power ter vencido, Juan Pablo Montoya foi o 2° colocado, garantindo
mais uma dobradinha para o time. O colombiano, em 5° lugar na classificação,
tem 488 pontos, contra 602 de Power e 563 de Helinho, e matematicamente ainda
tem chances de título, embora seja muito difícil disso acontecer. Mas nada
impede Montoya de ser o 3° colocado e garantir para a Penske a trinca no
campeonato, com seus 3 pilotos nas 3 primeiras posições. Para isso, Juan Pablo
precisa superar Ryan Hunter-Reay, logo à sua frente, com 494 pontos, e Simon
Pagenaud, com 510, meta mais do que viável de ser alcançada. Depois de deixar a
Nascar no ano passado por baixo, com perspectivas até de encerrar a carreira prematuramente,
o colombiano deu a volta por cima ao ser contratado por Roger Penske para seu
time na IRL este ano. Juan Pablo já se aclimatou perfeitamente à categoria, e
certamente vai ser um páreo duríssimo para seus colegas de equipe em 2015.
Neste ano, ele já conseguiu sua maior vitória: renascer sua carreira de piloto.
Ainda não foi dessa vez que Tony
Kanaan conseguiu vencer em seu novo time, a Ganassi. O brasileiro, que largou
na 2° posição no oval de West Allis bem que tentou fazer uma aposta na estratégia,
mas não deu certo, e acabou a corrida em 3° lugar, fechando o pódio atrás dos
pilotos da Penske. Com a vitória de Scott Dixon em Mid-Ohio, o time de Chip
Ganassi pelo menos afastou o temor de passar o ano completamente em branco, mas
Tony não vai sossegar enquanto também não conseguir vencer. A escuderia cresceu
de performance nas últimas corridas, mas não do mesmo modo como fez em 2013,
quando levou Dixon de azarão ao tricampeonato. Kanaan ainda tem duas chances
para desencantar no campeonato, vamos ver se ele consegue fazer tudo convergir
a seu favor...
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