Nico queria que Hamilton desse passagem? Nem morto o inglês iria aceitar isso... |
A Fórmula 1 finalizou
na Hungria sua primeira "metade" do campeonato, e agora entra em
férias, retornando apenas no dia 24 de agosto, para a disputa do GP da Bélgica,
em Spa-Francorchamps. Para muitos, tempo suficiente para esfriar os ânimos que
podem andar meio exaltados no time que domina o campeonato de 2014, a Mercedes, que
tentará manter tanto quanto possível a harmonia de sua dupla de pilotos, que
está pronta para explodir a qualquer momento. E não é por serem amigos de longa
data que Nico Rosberg e Lewis Hamilton deixarão de ficar de cabeça quente na
luta pelo título, podem apostar. Aliás, há quem esteja apostando em até quanto
tempo a amizade de ambos irá para o espaço, se a disputa se acirrar ainda mais.
Que Lewis Hamilton tem
motivos para andar carrancudo nas últimas semanas, ele tem. Sofreu dois
acidentes nas classificações que poderiam arruinar completamente suas chances
de disputar o título. Um disco de freio defeituoso o lançou nos pneus em
Hockenhein, enquanto em Hungaroring a coisa foi ainda mais bizarra, com seu
carro pegando fogo e obrigando o inglês a pular fora antes que a coisa
esquentasse pra valer, sem eufemismos. Tanto na Alemanha quanto na Hungria,
Nico Rosberg se viu com a faca e o queijo na mão, e poderia ter dado um golpe
mortal no companheiro de equipe, que já vem com os nervos meio alterados desde
a corrida de Mônaco, onde o alemão deu uma escapada da pista que impediu
Hamilton de conquistar a pole, e certamente, a vitória.
Só que, diferente do
que se esperava, Hamilton deu um show de pilotagem nas duas corridas. Na
Alemanha, largando a meio do grid, o que todos esperavam era que o inglês
pontuasse com facilidade, e quase certamente chegasse ao pódio, dada a
performance superior do modelo W05 da Mercedes. Mesmo assim, a tarefa de Lewis
não foi exatamente um mar de rosas na deformada pista de Hockenhein: Hamilton
teve de dar duro em várias ultrapassagens com vários pilotos. Empacou em
Valtteri Bottas próximo ao fim da corrida e por lá ficou. Nico, largando da
pole, nem suou muito para vencer de ponta a ponta. A desvantagem do inglês, que
tinha despencado para 4 pontos, subiu para 14. Podia ter sido pior, mas até
certo ponto, correu conforme todos esperavam.
Já na Hungria, a situação
foi diferente. Quando vimos o carro de Lewis pegando fogo, submetendo o inglês
a um infortúnio ainda pior do que o da Alemanha, todos achávamos que Rosberg
ganhara o maior presente da temporada. Tendo de largar em último, Hamilton
certamente daria show na recuperação em prova no domingo. Só que, ao contrário
do circuito do GP da Alemanha, a pista húngara é extremamente travada, e com
apenas um ponto de ultrapassagem, de modo que até mesmo pontuar passava a ser
uma tarefa complicada para o piloto inglês. Nico Rosberg, mais uma vez largando
da pole, tinha tudo para aumentar de forma abismal sua vantagem sobre o
companheiro de equipe, podendo aplicar um golpe mortal em seu ego. Acabou que
muita gente no paddock, que já sabia da previsão de chuva para domingo, nem se
dava conta de como isso poderia mudar a situação. E, felizmente, mudou. Não
apenas em relação à disputa dos pilotos da Mercedes, mas de todo o GP.
E a corrida foi um
show, com disputas praticamente de vários pilotos tentando acertar as melhores
condições, a princípio de pista molhada, e depois tentando acertar a
estratégia, bagunçada com duas intervenções do Safety Car. Para Hamilton, que
largava em último até do pit line - atrás de Kevin Magnussem, que havia batido
na classificação por causa de uma chuva repentina, o início foi de assustar,
quando ele rodou na curva atrás do paddock e roçou de leve no muro, dando uma
pequena pancada na asa dianteira. O susto foi apenas susto, e ele retomou a
corrida com todo aquele ímpeto que todos esperavam. Se é verdade que deu sorte
com a batida de Marcus Ericsson, causando a primeira entrada do Safety Car, no
restante Lewis foi abrindo caminho na raça e no talento. De repente, Nico
Rosberg estava apenas 2 posições à frente do companheiro de equipe, e todo mundo
começava a esperar o duelo entre ambos, onde certamente sairiam faíscas. Não
chegou a tanto, pelo menos naquele momento. Com estratégias diferentes, os
pilotos ficaram em pontos diversos da pista após seus pit stops, mas quando
Lewis saiu de sua última parada para ir até o fim, e à frente de Nico Rosberg,
estava dada o sinal: Nico só passaria o inglês se o torpedeasse. Nem por nada
deste mundo Hamilton admitiria perder a posição.
A Mercedes ainda se
embananou quando emitiu a ordem para o inglês facilitar a passagem de Nico, em
razão de sua estratégia prever mais uma parada. Lewis deu de ombros e não deu
mole, o que deixou Rosberg, à sua maneira, bem irritado, quando perguntava por
que Hamilton não lhe dava passagem. Cumprida sua estratégia, o alemão passou a
voar na pista, e nas voltas finais, encostou de novo no parceiro. Estava em
luta o 3° e último lugar do pódio, e com pneus em melhores condições, Nico
tinha tudo para superar o parceiro. A ultrapassagem seria questão de tempo.
Mas, recordando o que acontecera no Bahrein, nem fudendo Lewis ia perder a
posição, e se defendeu de maneira dura, porém leal, quando inclusive tomou a
trajetória mais abrangente na mesma curva onde escapara no início da corrida,
obrigando Rosberg a quase sair da pista. De uma derrota que podia ser
desastrosa, Lewis conseguiu um resultado excelente, revertendo as expectativas.
O duelo dos pilotos da
Mercedes acabou sendo o assunto mais discutido da corrida. Aliás, a prova
húngara este ano foi das melhores de sempre, tendo assunto para muita discussão
interessante, como a segunda vitória de Daniel Ricciardo, com uma estratégia
feita à perfeição para os acontecimentos, além de uma pilotagem arrojada e
determinada, que valeu ao australiano nova vitória, obtida de novo com uma ultrapassagem
a poucas voltas do final, tal como fizera no Canadá. E pouco antes, o mesmo
Ricciardo aplicara uma ultrapassagem sensacional na sua disputa com Lewis
Hamilton, na sua escalada rumo à vitória, que por pouco não caiu nas mãos de
Fernando Alonso, cuja aposta de permanecer na pista com o mesmo jogo de pneus
por mais de 30 voltas por pouco não resultou na primeira vitória da Ferrari em
mais de um ano. E o que dizer dos acidentes que mudaram a dinâmica da corrida?
Quem também deixou todo mundo espantado por um momento foi Sebastian Vettel,
que parecia ter tudo para fazer sua melhor prova no ano, e o que nos ofereceu
foi uma rodada que deixou todo mundo gelado por uma fração de segundo,
conseguindo simplesmente emparelhar o carro junto ao muro, evitar se bater, e
ainda retomar a corrida. Não vemos isso todo dia...
Mas quem saiu mesmo
vitorioso da Hungria foi Lewis Hamilton. Embora ainda esteja 11 pontos atrás de
Nico Rosberg, seu resultado, mesmo considerando todas as variáveis ocorridas em
Budapeste, representou um contragolpe fortíssimo em Nico Rosberg, que acusou o
impacto nas entrelinhas de seus depoimentos, mesmo tendo isentado o parceiro de
má-fé com relação à disputa da última volta, quando quase saiu da pista ao
ficar sem espaço na curva atrás do paddock quando por pouco não o ultrapassou.
O caso rendeu uma boa dor de cabeça à Mercedes, que teve de se explicar para
todo mundo o motivo da ordem de facilitar passagem ao alemão para Hamilton, que
não gostou nada da situação. Tudo terminou, aparentemente, com o time alemão
admitindo seu erro, e se conformando em "admitir" que erraram em
pedir que um de seus pilotos prejudicasse sua corrida em favorecimento do
outro, ainda que isso resultasse em mais uma vitória do time, que poderia ter
sido conseguida com Rosberg, caso ele não tivesse ficado "preso"
atrás de Hamilton.
No fim, declarações
"apoiando" a atitude de Lewis, que se mostrou correta, e de que a
Mercedes continuará deixando seu pilotos disputarem livremente a competição,
sem favorecimentos ou "interferências" por ordens dos boxes. Para
mim, não fazem mais do que a obrigação. Não há como tirar o mundial de
construtores da Mercedes, e no campeonato de pilotos a escuderia está longe de
ser alcançada. Daniel Ricciardo, o mais "próximo" rival, precisaria vencer
as próximas 3 corridas, e seria preciso que Nico Rosberg não marcasse nenhum
ponto, para lhe roubar a liderança por míseros 4 pontos. Só que o piloto da Red
Bull, mesmo fazendo um campeonato melhor do que todos esperavam, não domina o
resto do grid: por ali mesmo a Williams andou dando as cartas nas últimas
corridas, e vez por outra, Fernando Alonso apronta algumas surpresas e se
intromete entre os primeiros, que já tiveram até a presença da Force India, e
nem mencionei Vettel, porque o tetracampeão não está morto.
Em outras palavras, na
disputa pela posição logo depois das Mercedes nas corridas está havendo um
rodízio de pilotos, e isso só ajuda tanto Rosberg quanto Hamilton a se
distanciarem ainda mais na frente. Mesmo que tenha cometido alguns equívocos
como a ordem de Budapeste, a Mercedes está de parabéns em permitir a luta de
seus pilotos, o que está salvando o campeonato, que poderia estar apresentando
um domínio dos mais sonolentos se apenas um piloto estivesse se sobressaindo.
Bem diferente da atitude covarde da Ferrari, que tanto em 2002 quanto em 2004,
nunca permitiu que Rubens Barrichello disputasse efetivamente as vitórias com
Michael Schumacher, o que só ajudou aquelas temporadas a serem bem enfadonhas
para quem apreciava uma boa disputa. Não que Barrichello fosse ser campeão, mas
poderia ter tido melhores chances em algumas provas, se tivesse atenção igual à
do alemão no time italiano.
Que Lewis tenha se
enchido de moral após o resultado positivo da Hungria, é fato, da mesma
maneira, a Mercedes terá que saber administrar o ego de seus pilotos. Desde que
eles não batam um no outro em corrida, o certo é deixar a briga correr solta na
pista. Ambos são pilotos experientes e não devem cometer nenhuma
irresponsabilidade. O problema é a escuderia ter confiança de poder deixar isso
correr totalmente solto. Toto Wolf já afirmou esta semana que eles tiveram uma
ampla conversa com ambos os pilotos, no sentido de manter a disputa amplamente
liberada na pista, mas também teria afirmado que as ordens do time deverão ser
obedecidas, e isso quer dizer o quê exatamente? Que uma nova desobediência pode
não ser tolerada? Eles afirmaram, corretamente, que não podem pedir aos pilotos
para se prejudicarem na pista, afinal ambos estão disputando o título. Será que
mesmo assim surgiria uma nova ordem? Mas vá dizer isso a Lewis Hamilton? É
verdade que o piloto apenas se prejudica quando começa a achar que pode estar
sendo "boicotado" pelo fato de seu carro ser o que mais quebra, mas o
time também não pode cair na armadilha de acabar dando razão ao piloto inglês.
E Hamilton, por sua vez, precisa se concentrar efetivamente na pista, e
esquecer os devaneios que possam comprometer sua performance. A disputa com
Rosberg está mais parelha do que muitos imaginavam, e qualquer erro por parte
de um dos dois poderá ser fatal nas pretensões de conquistar o título.
Depois das 4 vitórias
consecutivas obtidas na primeira metade da competição, entre a Malásia e
Espanha, todos achavam que Nico seria facilmente batido por Lewis. O alemão,
porém, conseguiu reverter a expectativa, e de Mônaco à Áustria, pareceu ter
tomado para si as rédeas do campeonato. Mas depois do que vimos na pista nas
últimas corridas, com as espetaculares corridas de recuperação perpetradas pelo
inglês, pode-se dizer que Hamilton está de novo com a corda toda, e se encaixar
todos os acontecimentos sem nenhum percalço, Rosberg que se cuide. E, como já
mencionei antes, embora pareça ter a cabeça muito mais no lugar do que o
parceiro, e não se abalar tanto, perder a liderança do campeonato poderá sim
mexer bastante com o alemão, que se não perdeu as estribeiras em nenhum momento
este ano, é verdade que nunca ficou em grande desvantagem em nenhum momento na
classificação, ao passo que Hamilton já viveu momentos que seriam facilmente
desesperadores para qualquer piloto.
O clima de
"paz" dentro do time alemão fica mais difícil de ser mantido, e podem
apostar que Hamilton não vai deixar barato. Da mesma maneira como Nélson Piquet
não deixou barato em 1986, quando viu que a Williams estava a favorecer o
inglês Nigel Mansell na escuderia, em detrimento do piloto brasileiro. Hamilton
tem tudo para virar o jogo, mas precisa saber fazer os movimentos certos, sem
se prejudicar no processo. Já Rosberg vai precisar mesmo manter a cuca fresca
se o pior acontecer. Nenhum dos dois quer perder, e se ambos se estranharem na
pista e o pior acontecer, a Mercedes vai ter uma bela batata quente nas mãos.
Que já está assando há algum tempo, diga-se de passagem. Está na hora da frieza
germânica ser colocada à prova.
Que vença o melhor.
Sempre. E que o time tenha a grandeza de não se intrometer nesta briga, no mau
sentido...
O campeonato da Stock Car está de
volta, depois da folga forçada pela Copa do Mundo, e a prova que retoma a
competição é justamente a Corrida do Milhão, que será disputada neste domingo
no autódromo de Goiânia, na primeira vez que o circuito recebe esta prova
milionária. Além do atrativo prêmio de R$ 1 milhão para o vencedor, o
pole-position da corrida irá ganhar um troféu todo especial: uma estátua de
Ayrton Senna banhada a ouro, moldada pelo artista plástico Wilson Iguti, que
certamente será um prêmio único para todo e qualquer piloto. A classificação
será exibida neste sábado pelo SporTV, e a corrida, no domingo, terá transmissão
ao vivo tanto pelo canal por assinatura quanto pela TV Globo, a partir das
10:30 Hrs. Com 4 etapas já disputadas, Marcos Gomes lidera a competição, com 64
pontos, seguido de Valdeno Brito, com 62 pontos, Átila Abreu com 59, Sérgio
Gimenez com 58, e Júlio Campos com 54 pontos.
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