O primeiro carro fabricando por Frank Williams na F-1: o modelo FW06, de 1978, com Alan Jones ao volante. |
Chegamos
a Silverstone para a disputa do Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1, e um
dos assuntos mais comentados no paddock, fora da disputa na pista, é a
comemoração da equipe Williams, que vai completar 600 corridas disputadas na
categoria máxima do automobilismo. Há uma certa discussão a respeito deste
número, pois para alguns, o time disputará a 600ª corrida na Alemanha, na
semana que vem. Mas preferiu fazer a festa aqui, na Inglaterra, onde afinal tem
sua sede, perto de casa. Não se pode culpá-los por isso, é até legal. Mas para
alguns, o time já passou as 600 corridas. Alguns não contam o GP dos EUA de
2005, quando a Williams não largou para a corrida, como os demais competidores
que usavam os pneus Michelin, e por isso, a prova não é contabilizada. Fora
isso, no site GP Guide (www.gpguide.com),
o time tem 611 provas contabilizadas, com estréia em 1975. Mas foi apenas em
1978 que Frank Williams estreou sua nova denominação de competição, a Williams
Grand Prix Engineering.
Independente
do número de corridas efetivamente disputado, a Williams é hoje a terceira
escuderia mais antiga da história da F-1, ficando atrás apenas da Ferrari e da
McLaren, e sendo destas a única em que seu fundador ainda está presente. E,
embora a Williams como tal exista desde 1978, Frank Williams já tinha uma boa
história antes disso. Sua estréia havia sido ainda em 1969, com a equipe Frank
Williams Racing, com a qual disputou seu primeiro campeonato. Foram dias
tremendamente difíceis, em uma F-1 que, apesar de ainda estar em seu período
“romântico”, já começava a sofrer a escalada de custos, que aumentariam
exponencialmente a partir dos anos 1980 e 1990. Frank usava carros construídos
por outros times, prática comum naqueles tempos.
Não
foram poucos os momentos em que Frank teve de fechar negócios e resolver
problemas usando um telefone público, na prática seu “escritório” na época das
vacas magras. Para manter um pouco de dignidade, consta que pelo menos uma vez
por semana ia a um hotel para tomar um banho decente e se apresentar com mais
desenvoltura. Durante os anos 1970, Williams foi aumentando seus contatos no
meio automobilístico, e em 1978, depois de muito esforço, conseguia colocar na
pista o primeiro carro construído inteiramente por ele, o FW06.
Tendo
conseguido convencer os árabes a entrar como patrocinadores de seu time, não
demorou para os resultados surgirem: a primeira pole e vitória vieram no Grande
Prêmio de 1979, com Clay Regazzoni. E em 1980, Alan Jones conquistaria o
primeiro campeonato do time, tanto no campeonato de pilotos quanto de
construtores. Um novo título seria conquistado em 1982 com Keke Rosberg. Os
motores Ford, utilizados pela maioria dos times até então, estava perdendo a
disputa para os novos motores turbo. Frank então, associou-se aos japoneses da
Honda para fornecimento de motores turbo, e seu time voltaria ao topo da F-1.
de um time modesto no início dos anos 1970, Frank Williams agora comandava um
dos melhores times da categoria máxima do automobilismo, uma grande e longa
jornada, feita com muito esforço e sacrifício, mas que tinha finalmente rendido
frutos.
O modelo FW07B daria a Frank Williams seu primeiro título, em 1980, com Alan Jones. |
O
momento de maior supremacia de seu time, nos anos 1980, também marcaram uma
mudança drástica em sua vida: no início de 1986, voltando de um teste em uma
estrada francesa, sofreu um violento acidente que o deixou permanentemente em
uma cadeira de rodas, em uma recuperação que levou um bom tempo. Se na pista
seus carros naquele ano, equipados com os fantásticos motores turbo da Honda,
detonavam os adversários, Frank lutou bravamente no hospital para que sua vida
não se encerrasse ali. A briga fraticida entre seus pilotos em 1986 acabou
deixando o título para Alain Prost, mas em 1987 a Williams não daria
chance à concorrência, vencendo 9 corridas e conquistando o título com o
brasileiro Nélson Piquet. Mas era o fim da associação com a Honda, que foi para
a equipe McLaren, enquanto Piquet, seu campeão, rumou para a Lotus.
Nélson Piquet ao volante do FW11: título em 1987, e dois anos de disputas ferrenhas dentro da escuderia com Nigel Mansell. |
Como
se esperava, 1988 foi um ano difícil. A saída da Honda fez a Williams perder
sua grande força, e o raquítico motor Judd proporcionou um ano tenebroso, cheio
de abandonos, onde só se salvaram 2 pódios de Nigel Mansell, que ao fim da
temporada, foi para a Ferrari. Mas para 1989, uma nova era se iniciava, em
parceria com a Renault, que no primeiro ano da nova era de motores aspirados,
já fez o time voltar, ainda que paulatinamente, às primeiras colocações, com 2
vitórias, resultado repetido em 1990.
Nigel Mansell e seu famoso "Red Five" no modelo FW14B, campeões em 1992, e considerado por muitos o melhor carro já feito pela Williams. |
Jacques Villeneuve conquistou o último título da Williams em 1997 com o modelo FW19. |
Para
1998, o time tinha sofrido duas perdas consideráveis: a Renault havia saído da
categoria, e o time, perdido o projetista Adrian Newey para a McLaren. Até
iniciar uma nova parceria, agora com a BMW, teve altos e baixos, mas soube
manter-se firme. Em 2001, retornou às poles e vitórias, mas sem exercer um
domínio como nos anos 1980 e 1990.
A situação perdurou até 2004, quando Juan Pablo Montoya
conquistou o último triunfo do time com os motores alemães, que deixariam o
time no ano seguinte.
A
BMW queria ser dona de um time, e Frank, totalmente contrário a vender a
escuderia, desentendeu-se com os bávaros. Ao fim de 2005, a Williams perdia seu
principal apoio de peso, e ficava sem uma parceria firme para os próximos anos
no quesito motor. Em 2006, virou-se com os Cosworths, e em 2007, tornou-se
equipe cliente da Toyota, usando os motores nipônicos por 3 temporadas. Em
2010, voltou aos Cosworths, abandonados no ano passado pelos Renault, que a
partir do ano que vem, cederão lugar aos novos Mercedes turbo. O desempenho do
time, desde o fim da parceria com a BMW, só foi caindo após 2007, quando
ficaram ainda em 4° lugar no campeonato de construtores. Em 2011, o ano foi
pífio: apenas 5 pontos conquistados, e o 9° lugar na competição. No ano
passado, o time deu renovadas esperanças de voltar a crescer, e num lance
incrível e até inesperado, voltou a vencer, com Pastor Maldonado, no GP da
Espanha, com uma performance que lembrava os bons tempos. Este ano, contudo, o
time voltou ao fundo do pelotão, e não conseguiu marcar um ponto sequer até
agora no campeonato. E pelo andamento do carro, marcar ponto já será uma tarefa
árdua, pois o modelo FW35 não tem demonstrado rendimento, por mais que seus
pilotos se esforcem.
No
início de sua jornada como dono de equipe, a perda de Piers Courage, que era
seu piloto e grande amigo, em um acidente com um carro preparado por Frank em
Zandvoort, em 1970, deixou Williams extremamente triste e traumatizado com o
ocorrido. Por aí, o futuro construtor de carros de F-1 nunca mais teria um
relacionamento próximo a futuros pilotos e/ou funcionários de seu time, exceção
a Patrick Head, que desde que se uniram em meados da década de 1970,
tornaram-se a dupla inseparável que impeliria o time pelas décadas seguintes. A
perda de Ayrton Senna, em 1994, produziu trauma similar, embora neste caso, o
pouco tempo de convivência de Williams com o brasileiro tenha contribuído para
minimizar o novo trauma, que mesmo assim foi forte, por ver outro piloto morrer
ao volante de um de seus carros.
Neste
fim de semana, o time, mesmo vivendo seu pior momento em muitos anos, em termos
de resultados, pretende manter o clima festivo pela data, e para tanto, vai
estampar um visual personalizado nos carros, com os nomes de todos os seus
funcionários, além do número 600 ilustrando os carros. E apesar das vacas
magras que o time vive nos dias de hoje, as estatísticas da escuderia ainda são
muito respeitáveis, tendo até o momento 114 vitórias, 127 pole positions e 131
voltas mais rápidas. Além de Nélson Piquet e Ayrton Senna, Rubens Barrichello,
Bruno Senna, e José Carlos Pace foram outros brasileiros que entraram nas
provas da F-1 pelo time da Williams. O “Môco” esteve presente quando a Williams
ainda corria com carros comprados. E, no ano passado, Bruno Senna foi nosso último
representante a pilotar para a escuderia.
Há
de se admirar a persistência de Frank Williams, que aos 71 anos, e preso a uma
cadeira de rodas, continua a gerir sua escuderia, sendo na prática o último dos
“garagistas” a se manter firme na categoria em todos os GPs. Há alguns anos,
Ron Dennis, que dividia tal condição com Frank, afastou-se da direção da equipe
McLaren, designando Martin Withmarsh para comandar o time, e de lá para cá, Ron
só aparece esporadicamente às corridas. Portanto, não se pode deixar de prestar
reverência ao velho Frank por manter viva sua grande paixão pelas corridas.
Verdade que nos últimos tempos Frank delegou parte das tarefas de gestão da
escuderia a outras pessoas, como Adam Parr, Toto Wolf, e mais recentemente, sua
filha Claire Williams assumiu função de direção no time, mas o velho Frank está
sempre lá, lúcido, acompanhando tudo com olhos atentos e mantendo-se firme na
sua paixão tanto quanto possível. É a sua vida, e isso há de ser respeitado. Mesmo
seu parceiro de longa data, Patrick Head, já deixou de ir a todas as provas,
assumindo outras funções e preparando sua saída. Mas Williams, assim como
aconteceu com Enzo Ferrari e Colin Chapman, só deixarão a competição de fato
quando deixarem esta vida, podem apostar.
Patrick Head (de pé) e Frank Williams: de um início modesto até se tornar uma das mais poderosas escuderias da F-1. |
O
futuro da escuderia parece nebuloso. O atual campeonato é um fracasso para o
time, que já começa a se voltar para 2014, quando terá novo motor e novos
desafios técnicos. Mas o principal desafio é conseguir patrocínio próprio, para
não depender das verbas trazidas por seus pilotos. Maldonado, insatisfeito com
o desempenho do carro, pode ir para outro time, e se ele sair, leva a PDVSA
junto, que hoje praticamente sustenta todo o time. Valtteri Bottas trouxe
alguma verba, mas não chega ao valor do aporte do venezuelano. E vale lembrar
que, embora o time tenha conseguido manter as finanças relativamente
equilibradas, isso não quer dizer que não esteja com os cintos apertados. E sem
dinheiro, é difícil conseguir competir de forma decente na F-1 de hoje.
Difícil
dizer o que o futuro reserva para a Williams. Que possa continuar competindo, e
recuperar seu status de grande equipe, e não definhar lentamente como aconteceu
com a Tyrrel. E quem sabe o time ainda possa comemorar outras datas como a
deste número expressivo de GPs disputados...
Nenhum comentário:
Postar um comentário