Em
mais uma de minhas antigas colunas, trago hoje este texto do dia 12 de julho de
1996, escrito às vésperas da disputa do Grande Prêmio da Inglaterra daquele
ano, e que tinha um clima muito especial para os ingleses, pela expectativa de
vitória quase certa de seu piloto da casa, Damon Hill, que guiava para o time
favorito disparado na época, a Williams. Lembrando dos tempos em que Nigel
Mansell levava seus torcedores à loucura com suas performances na prova
inglesa, Hill não despertava o mesmo fervor do “Leão”, mas nem por isso os
torcedores ingleses estavam menos eufóricos naquele ano. Uma boa leitura, e em
breve, tem mais textos antigos...
HILL NA CABEÇA?
Disputa-se
neste fim de semana o Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1, e os ingleses
estão loucos pela corrida de domingo, e o motivo não poderia ser outro: Damon
Hill. Apaixonado como ele só pelo automobilismo, o torcedor inglês parece
reviver este ano a histeria criada até há pouco tempo atrás em torno de seu
grande ídolo dos anos 1980 e início dos de 1990, Nigel Mansell. E a razão é uma
só: os ingleses estão doidos para ver o seu novo ídolo arrasar com a
concorrência na pista de Silverstone, mesmo que, em termos de competitividade,
o favoritismo esteja mais no equipamento do que no piloto.
Nigel
Mansell disputou neste circuito prova memoráveis e conseguiu vencer por 4
vezes, levando os torcedores ingleses à loucura. A última vitória de Mansell,
em 92, provocou a invasão da pista pelos fanáticos torcedores, lembrando as
tradicionais invasões de pista que ocorrem na Itália. Naquele ano, Mansell
corria também pela Williams, utilizando também o motor Renault. Era um carro
imbatível, tal como hoje. A corrida praticamente não teve disputa pela ponta:
Mansell largou na pole e simplesmente desapareceu da vista de seus
perseguidores. Todas as vitórias de Mansell no GP da Inglaterra foram com a
Williams. Em 1986 e 1987, com motores Honda; e em 91 e 92, com motores Renault.
Estas duas últimas vitórias foram até fáceis, já as de 86 e 87 foram uma
verdadeira guerra para o piloto inglês vencer e o motivo se resumia a um nome:
Nélson Piquet, que era companheiro de Mansell na equipe Williams naqueles anos.
Foram dois embates titânicos, que Mansell venceu até com certa dose de sorte,
pois seu trato no equipamento era tão bruto que seu carro poderia quebrar a
qualquer momento. A luta de 86, disputada no circuito de Brands Hatch, foi
demolidora: só Mansell e Piquet terminaram a prova na mesma volta...
O
clima de euforia agora se repete. Em menor escala, já que Damon Hill, todos
concordam, não tem o mesmo carisma de Nigel Mansell, mas é o maior ídolo inglês
na F-1 no momento, e então, para quem torcer, afinal? E a superioridade da
Williams na pista faz prever que, se largar na frente, ninguém conseguirá pegar
Hill na corrida. O próprio Damon, que aqui venceu em 94, está decidido a não
dar chance aos adversários: é o Grande Prêmio de seu país, em sua terra natal.
Quem não está gostando muito são os apostadores: a tradicional bolsa de apostas
para o GP inglês está refletindo o favoritismo de Hill na temporada até aqui, a
cotação de pagamento caiu muito. Se não houverem imprevistos, todos concordam
que está no papo para Damon Hill faturar a prova.
Este
clima de euforia toda torna muita coisa difícil aqui neste circuito. A
principal é conseguir chegar ao circuito: se o autódromo evoluiu muito nestas
décadas em que recebeu a F-1, o mesmo não se pode dizer das estradas que dão
acesso ao circuito: são estreitas e nada favoráveis às ultrapassagens. A
torrente de fãs ingleses só piora as coisas, fazendo com que se leve horas para
conseguir chegar ao autódromo. Só os pilotos mais cotados e os Vips do GP
driblam o tráfego até a pista: vão de helicóptero, tornando Silverstone o
aeroporto mais movimentado da Inglaterra no fim de semana de GP. Em 1992, no
auge da “Mansellmania”, o caos nas estradas foi tamanho que, terminada a prova,
tinha de se esperar horas até o trânsito desafogar as estradas. Haja
paciência...
Tirando
esses pequenos inconvenientes, Silverstone, apesar de tudo, é um circuito
sagrado do automobilismo mundial. Foi aqui que, no dia 13 de maio de 1950, teve
início a F-1 como a conhecemos: neste dia foi disputado o primeiro Grande
Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1, o primeiro da história. A pole foi de
Giuseppe Farina, com um Alfa Romeo. Farina também venceu a corrida, e ao fim do
campeonato, foi o primeiro campeão de F-1 da história.
O
circuito, montado em um antigo campo de aviação da Segunda Guerra Mundial,
acompanhou a F-1 em toda a sua evolução. Assim como Monza é o templo italiano
do automobilismo, Silverstone é o templo inglês das corridas. É aqui que o
torcedor inglês sempre reverenciou os ídolos que produziu, começando por
Stirling Moss, e chegando aos dias atuais com Damon Hill. Até 1990, era o
circuito mais veloz do campeonato da F-1; para 1991 foi reformado, ganhando
mais curvas e tendo sua velocidade média reduzida, mas ainda assim, continuando
a ser uma das pistas mais velozes da categoria. Suas curvas características,
como a Copse, a Stowe, e a bela Woodcote são suas marcas registradas,
desafiando o ímpeto dos pilotos em seus bólidos. Silverstone vinha se revezando
com Brands Hatch na realização do Grande Prêmio da Inglaterra até 1986. A
partir de 87, o GP inglês passou a ser feito em definitivo em Silverstone. Desde
então, só houve uma única corrida de F-1 em solo inglês que não foi feita nesta
pista: o GP da Europa de 1993, disputando em Donnington Park.
Nos
últimos 10 anos, Nigel Mansell e Alain Prost foram os maiores vencedores deste
GP. Mansell venceu em 86, 87, 91 e 92. Prost faturou as corridas de 89, 90 e
93. Ayrton Senna venceu apenas em 1988. Damon Hill ganhou em 94 e em 95 o
triunfo coube a Johnny Herbert. Quem vence este ano? Todas as apostas estão
centradas em Damon Hill. Hill
na cabeça, então? Tudo indica que sim...
As atrações em Silverstone não se limitam à corrida. Após a prova
terminar, as atenções se voltam para o paddock, no fim da tarde, quando a
equipe Jordan promove seu “show” de rock, numa tremenda farra encabeçada pelo
próprio Eddie Jordan. Eddie, com seu estilo todo irreverente, dá vazão aos seus
talentos musicais com inúmeros “convidados ilustres” para abrilhantar o evento.
Ano passado, o solo de guitarra de Damon Hill foi contagiante, assim como os
embalos de Johnny Herbert, ainda embriagado com a primeira vitória de sua
carreira, poucas horas antes. Todos até concordam que, em se tratando de
guitarra, Hill é fera no instrumento. Se Michael Schumacher tivesse de disputar
um solo com o inglês , levaria uma surra tremenda...
A F-Indy reúne-se neste fim de semana em Toronto. Em jogo, a
liderança do campeonato mundial. Jimmy Vasser está apenas 3 pontos à frente de
Al Unser Jr., e 10 na frente de Gil de Ferran, seus perseguidores mais diretos.
Muitos apostam que, ao fim da corrida, Vasser já não mais será o líder do
certame, dado o seu desempenho nas últimas provas. Para a corrida, o
favoritismo pende para Michael Andretti, que venceu a corrida nos últimos dois
anos...
Christian Fittipaldi, que também busca em Toronto aproximar-se dos
líderes na luta pelo título da F-Indy, teve uma atividade bem interessante no
início da semana: o piloto brasileiro conduziu, na última segunda-feira, pelas
ruas de Orlando, na Flórida, a chama olímpica, que está sendo conduzida para
Atlanta. Apesar do curto percurso que conduziu a tocha, Christian se disse
muito honrado com a chance. A chama deve chegar a Atlanta no próximo dia 19,
quando será feita a cerimônia de abertura da 100ª Olimpíada da Era Moderna...
Tal como na F-Indy, a Indy Lights também promete pegar fogo na disputa
do campeonato de 1996. O canadense David Empringham, que vinha liderando com
folga o campeonato, já começa a ser pressionado. A maior ameaça chama-se
Guálter Salles, que se encontra 22 pontos atrás do líder do certame, mas vem se
aproximando. Ainda é uma distância folgada, mas faltando apenas 4 etapas para
encerrar o campeonato da Indy Lights, tudo ainda pode acontecer...
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