sexta-feira, 14 de junho de 2013

O RETORNO DOS TESTES NA F-1



Os testes na F-1 devem voltar a existir durante a temporada em 2014.

            Enquanto se aguarda o julgamento da equipe Mercedes de F-1 no Tribunal da FIA, por conta do teste “secreto” realizado no mês passado, pelo menos já se pode comemorar uma boa conseqüência do episódio: os testes durante a temporada estarão de volta em 2014, e os times terão também um pouco mais de tempo para preparar seus carros. Em reunião realizada semana passada, em Montreal, pelo menos 8 das 11 escuderias que participam do campeonato acertaram um acordo que prevê, a partir do ano que vem, o retorno dos testes coletivos durante o campeonato. Este acordo ainda precisa ser ratificado e confirmado pela FIA, mas tudo indica que deverá ser efetivado, e isso será bom para melhorar a competição.
            Pelo acordo, a pré-temporada do ano que vem terá 4 sessões de testes, cada uma com 4 dias, ao invés das 3 sessões que foram realizadas neste ano. E, durante a temporada, haverão 4 sessões de testes coletivos, com 2 dias cada um de duração, que serão realizados em determinadas pistas, sempre na Europa, logo após a realização da respectiva corrida do campeonato. Faz o Grande Prêmio no domingo, o pessoal descansa na segunda-feira, e na terça e quarta-feira, todo mundo volta à pista, no mesmo circuito. É uma sugestão que eu mesmo já havia feito diversas vezes, e ao que parece finalmente deram ouvidos, e vão implementar. Assim, aproveita-se praticamente toda a estrutura montada para o GP, barateando os custos. Ao mesmo tempo, não devem aumentar tanto os mesmos para as escuderias, lembrando-se de que serão apenas 8 dias de testes durante a temporada.
            Ainda continuará existindo o teste especial voltado apenas para novatos, mas o mesmo deverá ter sua duração reduzida à metade, tendo apenas 2 dias. Ainda não foram definidas quais serão as pistas que irão receber estes testes coletivos, mas Barcelona com certeza deverá ser uma delas. Após uma primeira fase do mundial longe de casa, com as etapas de Austrália, Malásia, China e Bahrein, a pista de Barcelona tem sido palco da primeira corrida européia no campeonato desde que a FIA rifou a pista de Ímola, e portanto, será bem a calhar para todos os times poderem realizar seu primeiro teste coletivo após a prova na Catalunha.
            Das demais pistas européias que poderão sediar as sessões de testes, falou de Silverstone, Budapeste, e até Spa-Francorchamps, mas nada confirmado. Eu apostaria mais em Silverstone, Alemanha, e Itália. O circuito inglês é o mais próximo para as escuderias sediadas na Inglaterra, sendo que uma delas, a Force Índia, é praticamente vizinha a Silverstone, e isso desde os tempos em que o time era a Jordan. Red Bull, McLaren, Williams, Mercedes (time alemão, mas sediado em Brackley, que fica ali por perto também), Caterham e Marussia, além da Lótus, seriam os times que mais gostariam de poder retornar a Silverstone para testes coletivos, algo que não acontece desde 2008. Talvez a etapa alemã, seja ela tanto em Nurburgring quanto em Hockenhein, não sejam tão proveitosas: a prova germânica costuma ser logo após a inglesa, e portanto, o tempo para os times desenvolverem algo visando o teste coletivo é reduzido. Por outro lado, realizar um teste coletivo logo após o GP da Itália seria também muito bem-vindo: a corrida em Monza há anos é a última prova na Europa, antes da categoria voltar novamente para o Oriente e continente americano, portanto, seria o momento perfeito para se fazer o último teste coletivo. Ferrari, principalmente, e Toro Rosso, poderiam ter boa chance de melhorarem seus prospectos.
            A Hungria, apesar de não ser um lugar muito propício para um teste coletivo, devido muito ao seu traçado travado e de baixa velocidade, ganha pontos por ser normalmente a última prova antes das férias de verão no Velho Continente. E como fica depois da prova da Alemanha, as escuderias poderiam desenvolver evoluções e testar na pista húngara, e depois voltarem para suas bases para estudarem o material, antes da pausa de férias, e voltarem com carga total para a corrida da Bélgica, que normalmente vem a seguir. Por este raciocínio, fazer uma sessão de treinos coletivos em Spa seria muito conveniente, não apenas para testar os desenvolvimentos estudados nas fábricas, mas também por ser a melhor pista de todo o calendário, adorada por 9 entre 10 pilotos (com uma piada recente dizendo que o piloto que não gosta é porque certamente bateu o carro na Eau Rouge, tendo de pagar os estragos ao time...).
            Para prevenir problemas com os pneus, poderia ser agendada uma sessão coletiva visando apenas os testes de pneus, que poderia ser programada para algum momento do ano, e com a presença de todos os times. É algo que deveria ser estudado, a fim de evitar imbróglios com o da Mercedes, já referido no início deste texto. E um maior tempo de testes, especialmente em 2014, virá muito a calhar para todos os times, pela mudança radical dos motores, que passarão a ser turbos, ao contrário dos atuais aspirados. Todos os times já antecipam que precisarão de muito mais tempo para se acertarem com os novos propulsores, e para tanto, uma sessão extra na pré-temporada, com mais 4 dias, é muito mais do que bem-vinda, embora haja quem defenda mais dias de testes.
            Mas continua sendo crucial limitar os custos decorrentes das sessões de testes. Vale lembrar que, com a proibição dos testes feitos durante a temporada, as escuderias tiveram de se desfazer de toda uma estrutura que haviam criado apenas para estes testes. Antes um luxo do qual só os times mais estruturados, como Ferrari, McLaren e Williams (nos seus bons tempos), quando tinham até piloto de testes exclusivo para a função, todos os times, até mesmo os menores, passaram a ter tal estrutura diferenciada para tanto. Não necessitar mais de tal aporte fez os times demitirem muita gente, enxugando suas estruturas em praticamente um terço, no que foi uma economia considerável, e muito necessária para enfrentar a crise econômica que se instalara na Europa ao fim de 2008. Mas a crise continua, e o retorno dos testes coletivos, ainda que seja bem-vinda, precisa ser restringida ao mínimo indispensável.
            Aproveitar a estrutura montada para a realização do GP já ajuda a baratear os custos, e sendo testes coletivos, isso também ajuda a diluir os gastos. O objetivo é que as novas sessões não causem impacto financeiro de monta nos orçamentos das escuderias. Pelo menos 3 times não entraram no acordo firmado em Montreal, de onde se deduz, pela lógica, que Caterham e Marussia, por serem os menores grupos da competição, certamente não têm interesse em aumentar seus gastos. Não se sabe quem seria o 3° time, mas isso pode complicar a adoção da volta dos testes. O regulamento da categoria exige unanimidade na aprovação de certas medidas, e com certeza existe a possibilidade de os times que ficaram de fora do acordo tentarem barrar a volta dos treinos durante o ano.
            Mas, coincidentemente, em Monte Carlo, boa parte da categoria estava tentando mudar as formas como as decisões são tomadas, e uma das mudanças seria acabar com o requisito da unanimidade, passando a aprovação a ser por maioria simples. Se conseguirem efetuar esta mudança, isso já irá ajudar na tomada de decisões que há tempos precisam ser feitas, mas que nunca se consegue levar adiante porque sempre tem alguém que não concorda. O requisito de se exigir concordância unânime de todos os times sempre foi visto como uma medida de segurança para se prevenir abusos da maioria contra os times de menor força na categoria, mas nos últimos tempos, pode-se notar claramente que este recurso passou a ser usado de forma mais política do que prática, inviabilizando algumas melhorias que poderiam ser implementadas, como a venda de chassis a times clientes, que nunca foi aprovada por contrariar os interesses de alguns times que se dizem serão prejudicados com tal medida.
            Certamente, exigir maioria simples, ou uma maioria mais forte (talvez com 75% de aprovação, e não apenas 51%), se bem colocada, será um avanço no modo como certas decisões são tomadas. Sempre poderá haver erros em tais procedimentos, também, mas não mudar, e deixar tudo como está, com todos os malefícios que a norma vem causando, também não pode ficar. Espero que a categoria, que quase nunca consegue tomar decisões direito devido à desunião entre cartolas, pilotos e donos de equipes, consiga chegar a um termo aceitável. A volta dos testes é algo a ser comemorado, e só precisa ter seus detalhes bem esclarecidos para que não se produza nenhum questionamento duvidoso.
            A F-1 pode e deve ser melhor do que é. Depende apenas dela acertar e corrigir seus defeitos...

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