terça-feira, 18 de dezembro de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – MARÇO DE 1996 – 22.03.1996


            Por motivos de agenda, estou colocando hoje a postagem do meio da semana, em mais um texto da seção Arquivo. Este foi escrito na semana seguinte ao primeiro Grande Prêmio Brasil de F-Indy, disputado na pista oval construída dentro de Jacarepaguá, que hoje foi totalmente destruída pelos interesses cretinos de políticos e cartolas do “esporte”. A corrida foi vencida por André Ribeiro, que guardadas as proporções em relação à F-1, deixou o público eufórico com o feito, após uma corrida cheia de alternativas. Podia-se dizer que Indy chegava ao Brasil com o pé direito, e a categoria fincava sua bandeira por estas paragens, para desgosto de Bernie Ecclestone, pois na época a categoria americana chegava a causar alguns incômodos, mesmo nunca tendo ameaçado os índices de audiência e influência da F-1. Pena que o bom momento vivido naquele GP não tenha durado tanto quanto se imaginava. Os anos seguintes se mostraram mais complicados, especialmente para as expectativas de vitórias de nossos pilotos na categoria americana. Bom, fiquem com o texto, e na sexta-feira, vem mais uma antiga coluna, para relembrar tempos hoje distantes, mas que deixam boas saudades...

 
VALEU, ANDRÉ!
            O primeiro Grande Prêmio do Brasil de F-Indy pode não ter sido o sucesso de público que se esperava, mas não deixou de satisfazer os torcedores com aquilo que eles mais queriam: um vencedor brasileiro no lugar mais alto do pódio. André Ribeiro, como boa parte da imprensa já se referiu no início da semana, lavou a alma do torcedor brasileiro, que desde 1993, quando Ayrton Senna venceu em Interlagos, não via um piloto brasileiro vencer uma prova de uma categoria internacional em terras brasileiras. Houve até quem comparasse André com Ayrton, mas o próprio piloto evitou fazer comparações deste tipo.
            A corrida mostrou muito mais emoção do que na prova de estréia do campeonato, em Miami. A longa reta dos boxes proporcionou várias ultrapassagens, para delírio do público. Ao contrário do que se previa, a curva 1 não trouxe problemas para os pilotos. A curva 4, entretanto, mostrou-se mais favorável às ultrapassagens, e foi nesse ponto que ocorreram os lances mais perigosos, como a violenta batida de Mark Blundell, na corrida; e o acidente de Scott Goodyear, nos treinos livres. Mais do que isso, contornar bem a curva 4 era fator decisivo para se fazer bem a reta dos boxes. Ficou nítido durante a corrida que aqueles que faziam a curva sem muita precisão tinha o seu rendimento na reta prejudicado. Isso deu origem a várias ultrapassagens, de quem vinha de trás, aproveitando-se o vácuo dos carros.
            As ondulações da pista diminuíram, mas ainda foi um desafio para todos, que tinham de conciliar o acerto do carro com mais este detalhe. Os ajustes variaram: alguns priorizaram o rendimento nas retas, como André Ribeiro, para aproveitar a maior velocidade, enquanto outros preferiram maior apoio para ganhar terreno nas curvas, tencionando ganhar estabilidade em eventuais ultrapassagens.
            A velocidade estimada acabou ficando aquém do esperado: a maior velocidade em reta ficou na casa dos 330 Km/h, com os motores Honda. Até a velocidade média foi menor: na casa dos 265 Km/h. Mas a força dos motores Honda ditou o ritmo nos treinos livres e na classificação. Alessandro Zanardi e Jimmy Vasser, da equipe Chip Ganassi, ficaram sempre com os melhores tempos, e o italiano conquistou a pole-position para a corrida. André Ribeiro veio logo a seguir, e conforme já avisava, a posição De largada não era tão importante, pois na corrida a situação seria outra. Dito e feito: Christian Fittipaldi, que largou em último, chegou em 5º lugar. Raul Boesel, que também saiu lá atrás, chegou a ocupar a 4ª posição, mas problemas nos pneus impediram um melhor rendimento e posicionamento, terminando na 7ª posição.
            Além da emoção da corrida, o resultado não poderia ser melhor para a torcida: todos os pilotos brasileiros marcaram pontos, à exceção de Maurício Gugelmim, que abandonou a prova devido a problemas nos freios, o mesmo defeito que provocou a batida de seu companheiro Blundell no muro. Assim que a corrida terminou, houve até invasão da pista pelos torcedores, que cercaram os carros e o vencedor da prova.
            Para melhorar o clima, a declaração oficial da CART de que a corrida de 97 já está nos planos da entidade, e com vistas a aumentar ainda mais. Deverá ser agora uma prova de 500 Km, e não 400, como foi a deste ano. Então, seja bem-vindo ao Campeonato Mundial da F-Indy, Brasil!
O público do Grande Prêmio do Brasil de F-Indy não foi o esperado: cerca de 35 mil pessoas assistiram a corrida nas arquibancadas. A organização da prova diz ter vendido 52 mil ingressos. Esperava-se lotação completa do circuito: 70 mil pessoas.

Nélson Piquet foi uma atração à parte no paddock de Jacarepaguá: deu autógrafos, entrevistas, conversou com os pilotos e fãs e brindou a todos com sua irreverência e simpatia. E, para delírio da torcida, deu a ordem aos pilotos para ligarem seus motores, em inglês e português.

Eis aí uma comparação de preços para quem quiser entender: em Miami, o ingresso mais barato custava cerca de US$ 40, e o mais caro, o PIT SPASS, que ainda dava acesso aos boxes, US$ 120. Aqui no Brasil, os mesmos custavam, respectivamente, R$ 90 e R$ 300...

Quem apostava que, com a vinda da F-Indy para o Brasil, a F-1 perderia o interesse, deu com os burros n’água: enquanto sobraram ingressos para o GP da Indy, os organizadores da prova de F-1 já tencionam colocar mais 10 mil lugares em Interlagos, sendo que algumas arquibancadas já estão quase esgotadas.

Gil de Ferran e Émerson Fittipaldi não tiveram muito o que comemorar no GP do Brasil de F-Indy. Ambos tiveram suas corridas arruinadas pela falta de metanol em seus carros. Émerson teve pane seca, enquanto Gil sofreu situação quase idêntica, causada por um defeito no pescador de combustível de seu carro. Ambos perderam 2 voltas em relação aos líderes por causa disso.

Para Gil de Ferran, foi o inferno: ele liderava a corrida e tinha feito a melhor volta da prova. Já Émerson fazia uma recuperação espetacular, e já estava em 11º lugar, depois de perder quase 1 volta nos boxes para mudar a regulagem do carro.

Aviso de amigo: quem estiver conversando com Émerson Fittipaldi deve evitar mencionar a palavra “decadência”, do contrário...

Semana que vem, emoção em dose dupla: Grande Prêmio de Surfer’s Paradise, pela F-Indy; e o Grande Prêmio do Brasil de F-1. Até lá, então...

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