O
Grande Prêmio do Brasil, disputado domingo passado, fechou com chave de ouro um
dos melhores campeonatos da história da Fórmula 1, e também premiou o público e
os telespectadores com uma das melhores corridas da história do circuito, em
uma decisão de campeonato dramática e, acima de tudo, eletrizante. Talvez
apenas na decisão de 2008 a
situação tenha sido ainda mais dramática que a deste ano, tendo se resolvido
praticamente nos metros finais da última volta da corrida, em favor de Lewis
Hamilton, que batalhava contra Felipe Massa pelo título daquele ano.
Este
ano, deu Sebastian Vettel, que tornou-se o terceiro piloto da história da
categoria a conquistar 3 títulos consecutivos, repetindo o feito que já fora
alcançado por Juan Manuel Fangio em 1954, 1955, e 1956; e Michael Schumacher em
2000, 2001, e 2003. Mas não foi uma conquista fácil: Fernando Alonso, que
lutava também pelo tricampeonato contra o piloto da Red Bull, tentou tudo o que
pôde, terminando a corrida em 2° lugar, e ficando apenas 3 pontos atrás de
Vettel na classificação. E, pelo andar de como de desenrolou o GP em
Interlagos, nada estava garantido, desde a largada, até a bandeirada final. Foi
uma corrida cheia de incertezas e surpresas, o pior cenário possível para
pilotos e escuderias, mas o melhor de todos para quem curte corridas totalmente
imprevisíveis e delirantes.
Começou
logo na primeira volta, onde Bruno Senna foi fechado justamente por Vettel na
curva do lago, com ambos a rodarem ali no meio dos carros. O piloto alemão deu
sorte: o impacto no seu carro foi forte, mas não comprometeu gravemente o
monoposto, ao passo que Bruno ainda acabou acertado por outro carro,
danificando suspensão e dando adeus à corrida ali mesmo. Vettel caíra para as
últimas posições, a forma de seu carro era dúbia, e Alonso parecia ter tudo
para conquistar o título. Mas, a exemplo de Abu Dhabi, o piloto da Red Bull foi
à luta, e começou a escalar o pelotão, mostrando que seu carro não tinha sido
tão afetado. Quem também ficou logo por ali foi Romain Grossjean e Sérgio
Perez. Mais adiante, Pastor Maldonado rodava sozinho, e também dava adeus à
corrida, deixando a Williams a ver navios em Interlagos.
Para
aumentar a emoção, começou a chover no autódromo paulistano, e o pior tipo de
chuva possível: aquela garoa do tipo chove-pára, que deixava a pista
escorregadia, mas não exatamente molhada. O que era mais recomendável: trocar
pneus slicks para intermediários, ou arriscar permanecer na pista? Equipes e
pilotos se embananaram com as decisões, com alguns pilotos arriscando
permanecer no traçado traiçoeiro, enquanto alguns procuraram a segurança dos
compostos teoricamente mais adequados para piso molhado. As escolhas, contudo,
se revelaram incertas em ambos os casos, pois o piso não era exatamente molhado
o suficiente para os pneus de chuva fazerem a diferença, muito pelo contrário,
começaram a se desgastar ou a ter desempenho inferior aos slicks. Em
contrapartida, rodar com os pneus de seco era andar no fio da navalha, e não
foram poucos os pilotos que andaram conhecendo a grama ou as áreas de escape de
Interlagos, conseguindo retomar a corrida, mas com perdas de tempo.
Conforme
a corrida se desenvolvia, ninguém conseguia apontar em que direção a corrida
seguiria. As batidas ocorridas entre os pilotos motivaram a entrada do Safety
Car para limpar alguns detritos que ficaram em posições potencialmente
perigosas para os pilotos, reunindo todos os competidores e anulando as
diferenças entre eles, o que ajudou ainda mais a incendiar as disputas de
posição. E o chuvisqueiro começava a engrossar paulatinamente. Fernando Alonso
seguia entre os primeiros, mas já havia dado algumas escapadas. Sebastian
Vettel havia recuperado posições suficientes para conquistar o título, e teve
algumas paradas para trocar pneus nos momentos errados, caindo lá para trás e
tendo de recuperar terreno novamente, o que conseguia fazer. Na dianteira, a
McLaren era desafiada de forma implacável por Nico Hulkenberg, que pilotava
como nunca no seu último GP pela Force Índia, e que em um bom pedaço da
corrida, parecia que teríamos mais um vencedor diferente neste ano. Lewis
Hamilton, porém, queria se despedir da McLaren por cima, e travou um belo duelo
com o alemão, ganhando a liderança quando Nico escorregou numa curva. Mas Hamilton
não teve sossego: Hulkenberg veio para cima, e numa tentativa de recuperar a
liderança, acabou vítima do piso molhado, escorregando para cima da McLaren e
tirando-o da corrida. Levou uma punição desmerecida dos comissários, pois não
teve culpa na manobra.
A
chuva chegara com mais força, e quem ainda não tinha se enrolado na prova até
então, teve que tomar mais cuidado ainda. Felipe Massa foi outro que teve uma
parada em momento errado e precisou recuperar terreno em condições instáveis
debaixo das interpéries, um piso que não é de seu agrado. O abandono de
Hamilton e a punição de Hulkenberg levaram Jenson Button para a liderança, e as
Ferraris de Massa e Alonso logo atrás, onde pouco tempo depois o time italiano
fez o brasileiro ceder a posição, de modo que o espanhol seria alçado à segunda
colocação. Alonso tentou partir para cima de Button, mas parecia ter chegado ao
limite: além de não conseguir se aproximar do piloto da McLaren, forçar o ritmo
ficava mais perigoso, pois poderia acabar rodando.
Lá
atrás, Vettel alcançava a 6ª posição, mais do que suficiente para vencer o
campeonato. Mesmo com esta posição de pista entre os contendores da luta pelo
título, não dava para nada ser dado como garantido: as condições de pista
pioravam lentamente, e ninguém estava imune a dar uma escapada ou se envolver
em algum enrosco em disputa de posição, ou mesmo se embananar sozinho. E foi o
que vimos no final: Paul Di Resta escapou no início da reta dos boxes,
acertando o guard-rail e motivando o fim da corrida com nova entrada do Safety
Car para evitar que alguém atingisse o carro do escocês, que ficara em um ponto
perigoso.
Jenson
Button venceu a prova, e a Ferrari conquistou o resto do pódio, com Alonso em
2° e um radiante Felipe Massa em 3° lugar, merecido pelo que andou na pista, e
que só não obteve resultado melhor devido à necessidade de o time priorizar
Alonso na luta pelo título. Vettel, com a 6ª posição, ficava com o título. E o
público de Interlagos teve um show mais do que à altura do que foi o campeonato,
podendo relaxar mesmo só depois da bandeirada final. E ninguém pode dizer que
foi uma corrida sem emoção. Tivemos disputas em todo o pelotão, da frente à
última posição, recuperações firmes e determinadas de vários pilotos, toques
entre carros em disputa ferrenha de posição, ultrapassagens a rodo, pilotos
escapando da pista. Entre os que saíram da pista, Kimmi Raikkonem achou até
tempo para passear pela antiga Junção da pista original, e perdendo ainda mais
tempo por dar de cara com um portão fechando o acesso da pista antiga à nova.
Durante
toda a semana o clima no autódromo estava tenso entre as escuderias que
postulavam o título de pilotos. Como franco-atirador, Alonso e a Ferrari
procuravam desestabilizar fosse como fosse a Red Bull e Sebastian Vettel. O
clima instável do domingo era tudo o que Alonso queria, para desespero de
Vettel e da Red Bull, que sabiam que naquelas condições não tinham como fazer
valer o seu melhor carro. E, na loteria que a corrida poderia se tornar, tudo
era possível. E, por alguns momentos, quase tiveram certeza de que o campeonato
teria ido para as cucuias. Vettel deu sorte de seu carro não se danificar
muito, o que gerou uma ansiedade permanente na escuderia, apesar da telemetria
e da performance de Sebastian na pista afirmarem o contrário. Alonso, por sua
vez, pilotou como nunca, tentando aproveitar a oportunidade.
Mas,
tal qual em 2008, venceu quem chegara na véspera com vantagem à prova
brasileira. E, assim como naquele ano, o que teoricamente deveria ter sido uma
decisão mais tranqüila e calma, assumiu ares de drama e tensão a níveis que
ninguém esperava. E foi uma decisão das mais equilibradas: fosse Fernando
Alonso o campeão, o título também teria sido dos mais merecidos, pelo que o
espanhol conseguira fazer durante todo o ano, levando a disputa do título para
a última corrida. Foi de fato, um campeonato cheio de disputas e emoções.
Tivemos corridas empolgantes durante a maior parte do ano. E a de Interlagos,
como a coroar um ano espetacular, brindou a todos com uma prova imprevisível do
começo ao fim.
Que
venha agora 2013...e mais emoções. O ano de 2012, uma hora, tinha de acabar, e
o fez de uma das melhores maneiras possíveis, para sorte de todos os amantes da
velocidade, que tiveram uma prova épica de decisão.
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