quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – ABRIL DE 1996 – 04.04.1996


            Passado o Natal, trago mais uma de minhas antigas colunas na seção Arquivo. O texto de hoje foi publicado no dia 4 de abril de 1996, e o assunto era as emoções vividas no Grande Prêmio do Brasil daquele ano, que no domingo anterior, havia deixado a multidão presente em Interlagos bem empolgada com as disputas. A vitória havia sido de Damon Hill, e pelo carro superior que a Williams tinha, isso foi até óbvio. Mas fora a vitória do piloto inglês, no restante do grid houve bastante briga e disputa. Fiquem agora com o texto, e boa leitura para relembrar daqueles tempos...


EMOÇÃO EM ALTA


            O público do Grande Prêmio do Brasil de F-1 desta vez não teve do que reclamar: a corrida deste ano foi muito melhor que a de 95 e uma das melhores dos últimos anos. Emoção, grandes pegas, incertezas, rodadas, tudo esteve presente no último domingo para fazer do 25º GP do Brasil de F-1 um belo show de pilotagem e disputa. As novidades começaram já nos treinos livres. Apesar de saber que treino é uma coisa e corrida é outra, dá para se divertir e se emocionar. Há também muita diferença entre os treinos livres e o treino de classificação. Houve surpresas, desilusões, confirmações e boatos a rodo. Devo admitir que os treinos foram entusiasmantes desde a manhã de sexta-feira. Fazia tempo que eu não acompanhava os treinos com tanta expectativa, tais eram os rumos que eles tomavam.
            Na sexta-feira, a Benetton deu as cartas, ou parecia dar. Jean Alesi e Gerhard Berger andaram na frente o tempo todo. Com a McLaren, foi a mesma coisa, com Mika Hakkinem e David Couthard a se posicionarem logo atrás das Benetton. Damon Hill, que ficara em 5º, não estava preocupado, e com razão. Já Jacques Villeneuve mostrou como ainda fica vulnerável em um circuito desconhecido. Desta vez, a vantagem de Hill conhecer Interlagos mostrou-se considerável. O canadense ficara na 15ª posição, aprendendo o circuito. Rubens Barrichello e a Jordan também se mostravam otimistas. De realçar também a competitividade dos pilotos brasileiros em relação a seus companheiros de equipe: Tarso Marques estreava na Minardi, e de cara, já fazia 1s4 à frente de seu companheiro de equipe Pedro Lamy. Ricardo Rosset e Pedro Paulo Diniz também não decepcionaram frente a seus colegas de time.
            Na classificação, Villeneuve recuperou-se; Benetton e McLaren caíram de rendimento. Michael Schumacher salvou a 4ª posição no grid com uma volta suicida. A surpresa foi a Jordan com Rubens Barrichello: 2ª posição no grid e promessa de vôos à altura no domingo.
            De fato, a corrida teve briga em todas as posições. Com exceção de Hill que largou da pole e disparou na liderança, todos os demais pilotos passaram a disputar ferozmente as demais posições. Villeneuve arrancou para a 2ª posição na largada, e teve de aturar atrás de si nada menos do que 4 pilotos bons de chuva: Jean Alesi, Rubens Barrichello, Michael Schumacher e Heinz-Harald Frentzen. Inexperiente em piso molhado, Villeneuve capitulou ao ataque de Alesi e deu adeus à corrida. Alesi, aliás, por pouco não ficou fora da pista, e Schumacher teve a corrida mais dura dos últimos tempos. Primeiro foi Frentzen a ameaçar o bicampeão mundial; na parte final da prova, o tormento era Rubinho. Não fosse o despite do brasileiro e o alemão não teria subido ao pódio.
            Lá atrás, a situação não era menos calma: Jos Verstappen, em excelente dia, batia ambas as McLaren e andava em um ritmo impressionante até quebrar, infelizmente; Ricardo Rosset ia bem até ser vítima de uma pequena irregularidade da pista e bater no guard-rail; Tarso Marques fez uma largada relâmpago, ganhando 5 ou 6 posições, para abandonar logo em seguida. Tivemos até briga finlandesa: Mika Salo e Mika Hakkinem duelaram por boa parte da corrida. Hakkinem, com a McLaren, venceu a parada. Já Pedro Paulo Diniz viu sua boa corrida perder parte do brilho por um erro da equipe, que o mandou de volta à pista com pneus de chuva ao invés dos slicks, com o traçado já praticamente seco.
            A chuva que desabou sobre Interlagos cerca de 45 minutos antes da prova ajudou a tornar a disputa ainda mais emocionante. Todos ficaram na dúvida sobre os acertos para molhado, já que todos os treinos foram feitos com tempo seco. Dava para sentir a incerteza dos pilotos e engenheiros. No fim, todos largaram e o resultado todos já conhecem.
            O público presente a Interlagos foi excelente, e pela primeira vez desde 94, a torcida vibrava com um brasileiro na pista. Rubens Barrichello disputou a corrida sempre no pelotão da frente, desafiando Williams, Benetton e Ferrari. Rubinho acabou decepcionando no final, ao rodar, vítima de um pequeno erro de pilotagem, mas a torcida não se abateu: na volta para os boxes, o brasileiro foi aclamado de pé pela torcida.
            Independente de Barrichello ter errado ou não, o desempenho da Jordan em Interlagos foi digno de nota. Ponto para a equipe, que conseguiu acertar de maneira exemplar o carro, dando-lhe grande tração e estabilidade; ponto para a Peugeot, que parece estar bem próxima da performance dos motores Renault; e ponto para Barrichello, que guiou como nunca, desafiando pilotos muito mais experientes. Rubinho chegou a ultrapassar os adversários várias vezes, mas nunca conseguia manter a posição, levando verdadeiras lições dos velozes Alesi e Schumacher. Barrichello admitiu que errou depois de a corrida acabar, e esse é o primeiro passo para se procurar não cometer o mesmo erro novamente. Barrichello ainda é bem novo, tem só 23 anos e ainda muito tempo pela frente. Todos os grandes pilotos já passaram por isso no início de suas carreiras.
            Damon Hill simplesmente passeou em Interlagos: abriu logo 15s de vantagem e passou a administrar a prova. Tática inteligente e segura: não havia necessidade de forçar o ritmo naquele momento. De fato, só na parte final da corrida, com a pista já totalmente seca, Hill voltou a andar rápido, precavendo-se dos ataques de Jean Alesi. Hill agora é o favorito ao título, mas tal qual em 95, será preciso esperar para ver isso se confirmar...



A Honda averbou, em Surfer’s Paradise, sua 3ª vitória consecutiva no campeonato da F-Indy, dominando completamente o certame até aqui. Também se confirmou a superioridade dos pneus da Firestone, cujos compostos equiparam os carros que venceram todas as corridas do ano até aqui.



Paul Tracy e Michael Andretti protagonizaram um acidente curioso em Surfer’s Paradise: na disputa por posição, Michael acertou o Penske de Tracy, empurrando-o contra os muros e tirando-o da corrida. Na volta seguinte, Paul Tracy fez sinal de “dar uma banana” quando Andretti cruzou o local. O piloto canadense não poupou adjetivos pouco educados ao piloto da Newmann-Hass.



Paul Tracy parece ter memória curta: em Long Beach, no ano passado, ele prensou Gil de Ferran contra o muro, causando o abandono de ambos; em Cleveland, André Ribeiro foi a vítima do canadense, que jogou o brasileiro fora da pista.



Destaques da Jordan em Interlagos: Rubinho era o segundo mais rápido na corrida na área da linha de chegada, onde a cronometragem apontou a Jordan do brasileiro a 300 Km/h naquele ponto. O mais rápido? Damon Hill, da Williams, com 302 Km/h. Barrichello fez a volta mais rápida da corrida cerca de 3 vezes, virando no mesmo ritmo da Williams de Hill e da Benetton de Alesi.



Neste fim de semana, mais velocidade: vai ser disputado o Grande Prêmio da Argentina. Damon Hill, mais uma vez, é o favorito disparado. Jacques Villeneuve não conhece o circuito argentino, e se for como em 95, vai enfrentar dificuldades maiores ainda. Hill venceu a corrida no ano passado, que foi disputada debaixo de chuva...



Semana passada, o campeonato da IRL (Indy Racing League) teve sua segunda prova, as 200 Milhas de Phoenix. O vencedor foi o holandês Arie Luyendick, que já participou da F-Indy...

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