Voltando
com a seção Arquivo, trago hoje a coluna publicada no dia 15 de março de 1996,
cujo assunto era a estréia da F-Indy no Brasil (a verdadeira e original, não
esta “sobra” que é a atual IRL), no belo circuito oval construído dentro do
autódromo de Jacarepaguá, que lamentavelmente hoje encontra-se praticamente
destruído, por obra e desgraça dos patifes políticos cariocas e cartolas do
COB, entre outros. Naqueles tempos, quem acreditaria que pouco mais de 15 anos
depois tudo estaria destruído e acabado por causa da corja que assola nossos
governos, que fazem e desfazem, e fica por isso mesmo. A chegada da nova
categoria era uma festa, e por algum tempo, deu muito certo. Hoje,
infelizmente, só deixa saudades, e uma raiva justificável contra aqueles
miseráveis que deixaram com que o autódromo do Rio se acabasse. Fiquem agora com
o texto, e boa leitura, de uma época onde tudo parecia ser mais positivo do que
hoje em dia...
FINALMENTE, A INDY NO
BRASIL!
Neste
fim de semana, pela primeira vez em toda a sua história, a F-Indy irá acelerar
em terras tupiniquins. O Grande Prêmio do Brasil de F-Indy finalmente tornou-se
realidade, depois de várias tentativas frustradas. A corrida, que leva o nome
oficial de Rio 400, será disputada no novíssimo circuito oval construído dentro
do autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Desde
1990 que Émerson Fittipaldi sonhava com a realização de um GP de F-Indy no
Brasil. Várias tentativas foram feitas para que o Brasil fosse incluído no
campeonato, ou mesmo que fosse palco de uma prova extra-campeonato, tal como
aconteceu com o primeiro GP do Brasil de F-1, que depois passou a integrar
oficialmente o calendário da F-1.
Contatos
eram feitos, idéias surgiam. Houve até uma proposta de utilizar o circuito
externo de Interlagos, que tem forma semelhante a um oval, para a realização da
F-Indy. Depois, outra proposta veio do empresário Beto Carreiro, que pretendia
construir um circuito oval ao lado de seu parque de diversões, o Beto Carrero
World, no Estado de Santa Catarina, mas nenhuma destas idéias vingou. Só no ano
passado as negociações ficaram firmes, e finalmente a CART decidiu incluir o
Brasil em seu calendário. Colaborou também o fato de que o número de pilotos
brasileiros na categoria era o maior depois dos americanos. Sem perda de tempo,
começaram os estudos para a criação do circuito, que originalmente, teria 2 Km
de extensão. Depois, ao ser levantado um detalhe de um acordo da CART com a
FIA, o circuito teve de ser ampliado para 3 Km. Mas tudo correu bem, mesmo com
alguns pequenos problemas, e o resultado está aí, e nesta tarde de domingo, os
bólidos da F-Indy estarão acelerando a mais de 340 Km/h no oval que passa a
levar o nome de nosso primeiro campeão de F-1 e até o momento o único
brasileiro campeão da F-Indy: Émerson Fittipaldi.
O
circuito impressiona: a reta dos boxes tem cerca de 1,1 Km de extensão, onde os
carros deverão chegar próximos aos 375 Km/h. Mas este também é um circuito
inédito na Indy: além da maior reta entre todos os circuitos do calendário,
será também o único circuito oval onde os pilotos terão de trocar marchas e
fazer freadas fortes durante a corrida. Em todas as demais pistas ovais, os
pilotos só trocam as marchas para entrar e sair dos boxes, e as curvas são
feitas aliviando-se o pé do acelerador. A forma trapezoidal do circuito faz com
que as curvas 1 e 4 sejam bem fechadas, o que vai exigir uma forte freada e
muita troca de marcha para reduzir a velocidade, e após contornar a curva,
acelerar com tudo, pois o ângulo das curvas 2 e 3 faz prever que serão feitas
com o pé embaixo. Os pilotos brasileiros foram unânimes em dizer que as curvas
fechadas serão ótimos pontos de ultrapassagem, e pela largura da pista, não
será surpresa se 3 ou 4 carros tentarem tais manobras ao mesmo tempo. Christian
Fittipaldi foi categórico nesta questão: “Quem não se cuidar neste local vai
encontrar o muro pela frente”, declarou referindo-se não só às tentativa de
ultrapassagem, mas também àqueles que exagerarem na velocidade com que tentarão
fazer a curva. “Vai ser uma corrida com muita briga”, prevê o melhor piloto
brasileiro no campeonato, Gil de Ferran.
O
circuito brasileiro é o 2º maior oval do campeonato, só ficando atrás de
Michigan (3,2 Km) e também deverá ser o 2º mais rápido, perdendo apenas para
Michigan, também. Devido às suas características especiais, a regulagem dos
carros deverá exigir um bom trabalho das equipes. Todos estão cientes disso e o
assunto é segredo de Estado entre todas as escuderias.
E
quem é o favorito para vencer a corrida? Não dá para saber, mas podem apostar,
nossos pilotos estarão nessa briga. Que venha a bandeira verde!
A F-1 começa bem o ano. O Grande Prêmio da Austrália, disputado na nova
e excelente pista de Melbourne, foi digna de atenção. Conforme já se previa,
Jacques Villeneuve vai brilhar muito na F-1. Não foi nenhuma surpresa para mim
o seu excelente desempenho durante os treinos e a corrida. O campeão da F-Indy
andou forte o tempo todo e liderou a maior parte da prova, mostrando seu arrojo
e competência, como se fosse um veterano na categoria. Em parte, Villeneuve não
pode ser considerado um “novato” para a F-1, pois o filho do lendário Gilles,
desde setembro do ano passado, fez mais de 6 mil Km de testes com o carro da
Williams, e já pode se considerar íntimo do bólido que pilota. Jacques fez de
tudo, treinos de classificação, corridas e tudo o mais, em simulações que
visaram prepará-lo adequadamente para o Mundial de 96. E ele aprendeu a lição
sem maiores problemas. Isso não tira o brilho com que comandou a prova da
Austrália, apenas confirma o seu enorme talento. E quem mostrou também uma
excelente corrida foi Damon Hill, que não cometeu nenhum erro e durante a
corrida inteira esteve colado na traseira de Villeneuve. Hill também suportou
muito bem a pressão de Michael Schumacher na parte inicial da corrida, quando o
bicampeão conseguiu acompanhar de perto as Williams. Hill, mais do que uma
corrida segura e firme, também soube poupar seu equipamento, o que acabou sendo
o ponto decisivo contra Villeneuve, cujo ritmo fortíssimo acabou provocando a
queda da pressão de óleo do motor de seu carro, obrigando-o a diminuir muito o
ritmo para conseguir terminar a corrida e permitindo a Hill disparar na frente.
Assim que sanar esta pequena deficiência, o canadense será um páreo duríssimo
na briga pelo título. E a Ferrari, como eu já dizia, não pode ser subestimada.
Irvinne subiu ao pódio, e Michael Schumacher pressionou as Williams no início
da corrida. E levando-se em conta que o time italiano nem testou direito o novo
F-310, pode-se esperar um desempenho bem mais forte em Interlagos, daqui a 2
semanas. E Irvinne já confirma que pode bagunçar a situação em relação a
Schumacher. O irlandês foi mais rápido que o alemão na classificação e chegou
em 3º lugar, enquanto Schumacher amargava um abandono. Por enquanto, o ambiente
entre os dois é cordial, mas pode vir tempestade por aí...
A segurança dos carros de F-1 foi mais uma vez posta à prova, em Melbourne. Martin
Brundle saiu intacto depois de decolar e capotar, devido à
fechada de David Couthard na freada para uma curva. A Jordan partiu-se ao meio,
sendo que a traseira chegou a dobrar sobre si mesma. Foi uma cena impressionante
ver o que sobrou do carro. Felizmente, foi apenas um susto, sem maiores
conseqüências.
Rubens Barrichello está perdendo a paciência com a Peugeot. Depois de
tantos testes sem nenhum problema, o propulsor, sem mais nem menos, deixou o
brasileiro a pé durante o GP da Austrália. Rubinho disputava a 5ª posição com
Mika Hakkinem, da McLaren. O bate boca no Box da Jordan não foi dos mais calmos
e amigáveis...
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