sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

SEDUÇÃO VERMELHA

A "bomba" da temporada 2024 da F-1: Hamilton vai para a Ferrari em 2025.

            A temporada 2024 da Fórmula 1 nem começou, e o pessoal só está querendo saber mesmo é da temporada de 2025. O campeonato deste ano virou coadjuvante da notícia mais bombástica dos últimos tempos, quando semana passada Lewis Hamilton anunciou que estará se transferindo para a escuderia Ferrari a partir da próxima temporada. O comunicado, visto inicialmente como um boato, acabou ganhando força, e sendo confirmado por ambas as partes horas depois, criando um verdadeiro terremoto nos meios profissionais e entre os fãs do piloto, da Ferrari, e do automobilismo em geral.

            O boato do interesse da Ferrari por Lewis Hamilton, e vice-versa, já não era exatamente novo, e chegou a ser desmentido em vários momentos, inclusive no ano passado, até que saísse a renovação do contrato do heptacampeão com a Mercedes por mais dois anos. E justamente por se ter que Hamilton ficaria na Mercedes até o fim de 2025, é que o anúncio foi ainda mais impactante. O piloto inglês teria se aproveitado de uma cláusula imposta pela direção da Mercedes no contrato, fazendo com que o acordo fosse na verdade de 1 ano com opção para mais um. Pelo visto, Lewis resolveu apostar em outra freguesia para 2025, e usou essa cláusula para encerrar seu vínculo com o time alemão antes do período que poderia ficar no time. Mais uma vez, a notícia foi tratada como fofoca, até que as partes vieram a público, oficializando tudo. Lewis Hamilton será mesmo piloto Ferrari em 2025, e 2024 marcará sua despedida da Mercedes, após 12 anos de permanência na escuderia, onde chegou em 2013, na época uma transferência também polêmica, dado que, naquele tempo, a Mercedes vinha tendo desempenhos inferiores ao de seu principal time cliente, a McLaren, onde Hamilton pilotava.

            Na época, todos acharam que a aposta do campeão inglês poderia ser um tiro no escuro. Como vimos, a partir do início da era híbrida, a história foi bem diferente. Hamilton desfrutou de um dos maiores períodos de hegemonia de um time na história da F-1 para se alçar como um dos maiores nomes da categoria em todos os tempos, igualando o número de títulos do alemão Michael Schumacher, e tornando-se o recordista absoluto de pole-positions e vitórias nas estatísticas da competição. E agora, outra transferência bombástica, que praticamente monopolizou as atenções da imprensa especializada e de fãs do esporte a motor, que não falaram de outra coisa nesta última semana. E olhe que a temporada de 2024 nem começou ainda, com a pré-temporada (novamente ridículos três dias apenas) ainda por ser realizada.

            Diante de tal notícia tão contundente, o que esperar da temporada do inglês em seu ano de despedida da equipe da estrela de três pontas? Será que o novo modelo W15 levará o time de volta ao topo, ou pelo menos à condição de disputar o título contra a hegemônica Red Bull dos dois últimos anos? Ou será apenas o primeiro passo do time para voltar a seus dias de glória? E as dúvidas que isso acarreta? Se o novo carro for bom, será que Lewis tem certeza de chances reais de ser novamente campeão, podendo chegar a seu oitavo título na F-1, e com isso, satisfeito seu desejo de ser o maior de todos os tempos, poder enfim defender a Ferrari apenas para satisfazer sua paixão de piloto, e encerrar a carreira com um currículo completo? Ou a Mercedes não terá a mesma força do time italiano para buscar um novo título, e ele planeje repetir o feito de Schumacher, e tirar Maranello da fila onde se encontra desde o último título conquistado, em 2007, com Kimi Raikkonen?

            Mas, se o carro da Mercedes for mesmo bom, não seria mais plausível Hamilton tentar um 9º título com os alemães, na hipótese de vencer a temporada de 2024? A menos, como especulo, ele se dê por satisfeito mesmo com a conquista do 8º título, e resolva mesmo arriscar tentar algo mais com o time italiano. Mas, se a Mercedes não estiver à altura, será que a Ferrari estaria? Pelo menos, o suficiente para vencer novamente um campeonato?

            É inegável que, diante da aposta equivocada da Mercedes no seu projeto de carro das duas últimas temporadas, a Ferrari teve uma performance técnica superior ao time alemão, notadamente em 2022, quando chegou a ser até a favorita para lutar pelo título, antes de desandar na evolução do carro e a Red Bull deitar e rolar. Mesmo no ano passado, apesar de a Mercedes ter sido vice-campeã de construtores, isso foi mais em virtude de sua dupla de pilotos e da constância de suas performances do que pela qualidade do carro. Mas, em caso da Mercedes retomar seu rumo com o novo projeto do W15, será que mesmo assim a Ferrari se manterá mais competitiva

            Recursos a Ferrari tem de sobra, mas esse não é o problema do time italiano, que durante sua história viu muitas oportunidades passarem batidas por culpa própria, e não porque os concorrentes eram superiores. E, nos últimos tempos, temos visto novamente o time de Maranello se perder por si só, facilitando as coisas para os adversários, como pudemos testemunhar em 2022, onde a squadra rossa iniciou o ano com grande força, mas conforme a temporada avançava, cometeu erros não apenas na evolução de seu equipamento, como também nas estratégias de corrida, além de ver seus pilotos também se enrolarem sozinhos na pista, isso quando não ficaram a ver navios diante da fiabilidade do equipamento, que deixou a desejar, o que facilitou e muito as coisas para a Red Bull tomar as rédeas da competição e sumir na frente com Max Verstappen.

            É verdade que Frederic Vasseur iniciou sua gestão do time no ano passado, substituindo o contestado Mattia Binotto, e, à primeira vista, os resultados podem parecer decepcionantes, mas ele estava arrumando a casa para este ano, e no fim da temporada, vimos um crescimento dos carros vermelhos, que só não foi mais longe pelas limitações do teto orçamentário, e concentrando esforços para o carro deste ano. E aí poderemos ter uma idéia mais clara de quem poderá de fato estar mais forte para desafiar a favorita teórica que continua a ser a Red Bull. Vale lembrar que o time italiano está reforçando seu staff técnico e organizacional, com profissionais oriundos até da própria Mercedes. E isso haverá de produzir efeitos, especialmente a partir de 2025, mas já preparando o time para as novas regras técnicas de 2026. O contrato de Hamilton, pelo que se sabe, também seria “plurianual”, dando a entender que poderá ir além dos tradicionais dois anos de praxe esperados, com o inglês defendendo o time na entrada do novo regulamento técnico da competição.

Charles LeClerc (acima) não teria reagido bem à notícia de Hamilton ser seu novo parceiro de time no próximo ano. E alguém iria sobrar nessa história, e acabou sendo Carlos Sainz Jr. (abaixo), que igualmente não engoliu bem a dispensa sofrida.


            E, de cara, quem deverá se sobressair no time vermelho? Charles LeClerc é o escolhido do time para o futuro, tendo renovado contrato pelo menos até 2029, mas no curto prazo, como se dará sua relação com Hamilton. O monegasco já mostrou sua velocidade, especialmente em volta lançada, porém, em ritmo de corrida, até aqui ele ainda precisa mostrar mais capacidade, especialmente na conservação do equipamento. Até disporem do mesmo equipamento, não dá para mensurar se Lewis será mais rápido, mas se ele pode ter menos velocidade, diante da idade, em termos de experiência, e em especial a capacidade de saber conservar os pneus, podem ser trunfos importantes para o inglês não apenas equilibrar a disputa, como tentar assumir a primazia do time na pista. Mas, e a política da escuderia em relação a seus pilotos? A Ferrari não é exatamente ética neste quesito, especialmente quando vemos o que aconteceu na era Michael Schumacher, e no trato de Fernando Alonso e seus companheiros de equipe. Mas Vasseur ainda não teve de lidar com isso, e mais importante, é que podemos dizer que Hamilton chega “de costas quentes” no time rosso, já que sua contratação teve validação de John Elkann, presidente do Grupo Ferrari, e admirador do heptacampeão, o que em tese deve garantir pelo menos igualdade de condições tanto a LeClerc quanto a Hamilton.

            Mas LeClerc não teria gostado nem um pouco da notícia. Após sua renovação de contrato para até 2029, o monegasco certamente se imaginava com futuro garantido em Maranello, e o fato de saber que terá Hamilton no box ao lado em 2025 teria mostrado que a confiança da escuderia nele não seria assim tão grande quanto ele imaginava. Tanto que, pelo sim, pelo não o novo contrato teria uma cláusula onde ambas as partes podem decidir seguir caminhos diferentes ao fim de 2026, ou seja, após dois anos de convívio da dupla. LeClerc teria sido orientado a não fazer comentários a respeito da nova contratação do time, até para não acusar o golpe, e até causar alguma celeuma com a Ferrari, mas já viu que sua condição de “eleito” do time ficou na verdade em xeque. Se fizer frente ao heptacampeão, sairá consagrado? Mas, e se perder o duelo interno? Seria mais um piloto a deixar o time pela porta dos fundos, como já ocorreu a vários outros?

            Se é verdade que Charles “aposentou” Sebastian Vettel no time, deve-se lembrar que o alemão já tinha meio que perdido o rumo pouco antes, daí sua contratação pelo time, vendo que não poderia mais contar efetivamente com Vettel. E, no confronto com Carlos Sainz Jr., mesmo mostrando mais velocidade, o espanhol compensou com maior constância e visão de corrida, equilibrando em boa parte o duelo. Hamilton, mesmo com sua idade, ainda mostra um perfil mais decidido que Vettel, e bem mais agressivo que Sainz. Charles vai aguentar a pressão que Lewis irá impor? E, claro, o inverso: Hamilton vai ser capaz de lidar com um LeClerc que pode ser tão duro de competir como foi George Russell, ou até mais? Respostas que só ficaremos sabendo mesmo em 2025. Haja paciência para aguentar 2024 então...

            Hamilton não é o primeiro, e não será o último piloto, mesmo com a envergadura de ser um grande campeão já consagrado, a ser seduzido pelo sonho de pilotar os carros vermelhos. A Ferrari é o grande sonho da imensa maioria dos pilotos, um ícone do mundo do automobilismo, e uma verdadeira instituição nacional para os italianos, chegando por vezes a ser mais santificada que o próprio Papa. Não é pouco. Nenhum outro time de competições no mundo desperta tanto fervor e paixão como a Ferrari. Pode-se entender o fascínio que os carros vermelhos possuem.

            Falando de forma mais técnica, o que teria motivado essa decisão? Para alguns, seria a confissão de que a Mercedes não lhe ofereceria um carro capaz de ser novamente campeão, mesmo este ano, apesar da escuderia germânica ter abandonado o conceito zeropod adotado nos modelos dos últimos dois anos, que levou o time a ficar longe da disputa pelo título, que acabou monopolizada pela Red Bull e Max Verstappen. Tomar esta decisão antes mesmo de saber como o novo carro da Mercedes se sairá frente à concorrência pode parecer muito precipitado, a menos que, mesmo diante da falta de dados mais concretos do rendimento dos times rivais, Lewis saiba que será melhor mesmo apostar em outra freguesia. Ou, como já mencionei, pode ser o contrário também. Resolver aproveitar seus últimos anos na F-1 com menos pressão de si mesmo, e concluir a carreira com chave de ouro para suas perspectivas.

            Por outro lado, há outro aspecto que pode ser levantado, que seria Hamilton dar-se por satisfeito com o que já conquistou em sua carreira, como mencionei acima. Recordista de poles e vitórias, e já com sete títulos no currículo, ele agora gostaria de realizar seu sonho de pilotar para o time italiano, o sonho de quase qualquer piloto que se preze. Se vier a vencer corridas, e até poder ganhar um novo título, seria um bônus, até porque, à altura de sua idade, sua carreira já está na descendente, o que não quer dizer que não seja ainda competitivo. Se Alonso, que nos dias catastróficos da aliança McLaren/Honda se arrastou pelo grid, e foi considerado “aposentado” pela F-1, mas deu show no ano passado quando voltou a ter um carro efetivamente competitivo, Hamilton só precisa de um bólido com melhores condições para mostrar do que ainda é capaz. Desde o anúncio, inúmeros “haters” do piloto, obviamente, passaram a desqualificar não apenas o piloto (como de costume), mas a própria Ferrari pela sua contratação, com os mais variados argumentos, chegando ao cúmulo de dizer que o inglês é extremamente prejudicial à própria F-1, por ainda “admitir” um piloto “desses”. Depois de apregoarem que ninguém mais na categoria queria saber de Lewis, e que a F-1 faria um grande bem se o expulsasse do grid, nada mais contundente para deixar essa turma furiosa de ver a Ferrari anunciar sua contratação, e na mesma semana, ver suas ações sofrerem uma valorização tremenda, mesmo que isso forçosamente não possa ser atribuído apenas a Hamilton, que mesmo sem ter vencido nos dois últimos anos, ainda carrega uma importância ímpar para a categoria máxima do automobilismo. Ver o maior time da F-1 se derreter pelo heptacampeão “fake” na opinião deles, foi um golpe tremendo. Imagino o desgosto se Lewis voltar a vencer corridas, e quem sabe, conquistar seu tão sonhado oitavo título. Mas, é preciso manter os pés no chão, e nem tudo serão flores na ida do inglês para Maranello.

            Quais os riscos que Hamilton correrá? É algo que não pode ser mensurado, até porque não temos como saber como estará a Ferrari em 2025, quando ainda nem sabemos como ela estará agora em 2024, mas a história já mostra que as possibilidades de fracasso também são imensas. E não foram poucos os grandes pilotos que naufragaram no time rosso, apesar de seus inegáveis talentos e capacidades.

Alain Prost (acima) e Fernando Alonso (abaixo) chegaram à Ferrari com fama de campeões para levar o time italiano ao topo, e chegaram perto do objetivo, mas acabaram saindo de Maranello pela porta dos fundos.


            Que o diga Alain Prost. O piloto francês, tricampeão em 1989, saiu desgastado de sua relação com a McLaren para ingressar no time vermelho em 1990, e liderar a escuderia que já vivia mais de uma década de jejum. O carro de 1990 era excelente, a ponto de, em meados da temporada, ser o carro a ser batido, e Prost, um forte candidato ao tetra, contra uma McLaren que, apesar de ter Ayrton Senna, sentia o baque da forte ameaça vermelha. Uma grande reação não apenas do time inglês, que melhorou o carro, como da Honda, que evoluiu seu propulsor V-10, garantiram o título para o brasileiro, ainda que com a polêmica decisão em Suzuka, quando Senna acertou o francês na largada e vingou-se do ocorrido no ano anterior. Prost terminara o ano em alta em Maranello, mas em 1991, com um carro menos competitivo, a lua-de-mel com os italianos desandou, a ponto de o francês ser demitido antes do fim da temporada, após chamar seu carro de “caminhão”, ofensa imperdoável para os ferraristas. Prost ficou a pé em 1992, quando em tese poderia ainda estar no time italiano, mas costurou um acordo com a Williams para o retorno em 1993, quando acabou sendo tetracampeão, e encerrou sua carreira na F-1 por cima.

            Kimmi Raikkonen chegou como o nome a substituir Michael Schumacher em 2007, e o finlandês até foi campeão em 2007. Mas o modo desinteressado de Kimmi se portar logo o relegou ao ostracismo na equipe, sendo batido por Felipe Massa em 2008 e 2009, de modo que ele acabou dispensando, mesmo tendo mais um ano de contrato com a escuderia, para 2010, quando foi substituído por Fernando Alonso. O espanhol chegou forte em Maranello, quase sendo campeão em 2010, e por pouco em 2012. Mas a hegemonia da Red Bull à época desgastou a paciência tanto do espanhol quando da Ferrari, em que pese o maior problema tenha sido do time italiano em produzir um carro capaz de vencer os carros dos rubrotaurinos. Mudanças na direção da Ferrari também contribuíram para desgastar a relação, e o espanhol saiu de Maranello pela porta dos fundos, vítima também de seu temperamento irascível quando as coisas não davam certo.

            Sebastian Vettel, tetracampeão mundial entre 2010 e 2013, não aguentou o baque de ser superado por Daniel Ricciardo em 2014 na Red Bull e debandou para o time italiano. A exemplo de Prost e Alonso, a relação começou muito bem, e o time rosso até fez concorrência à hegemonia da Mercedes nas temporadas de 2017 e 2018, porém após Sebastian abandonar o GP da Alemanha deste último ano após errar feio, o piloto perdeu o rumo, e a relação também foi para o buraco, a ponto da Ferrari simplesmente descartar o alemão para 2021 sem a menor cerimônia, preferindo apostar em sua nova estrela Charles LeClerc, que havia superado Vettel sem muitas dificuldades enquanto dividiram a equipe.

            E isso com grandes campeões. Mas a Ferrari costuma por vezes ser um castigo para seus próprios pilotos “de casa”. Felipe Massa foi aclamado quando quase foi campeão em 2008, mas dali em diante, especialmente após ter Alonso como companheiro de equipe, apagou-se completamente e saiu de Maranello pela porta dos fundos. Nigel Mansell, por sua vez, também chegou forte na Ferrari em 1989, chegando a vencer logo na sua estréia, mas com a companhia de Prost em 1990, o inglês murchou, quase abandonando a F-1 ao fim da temporada daquele ano.

Sebastian Vettel também chegou em Maranello como salvador da pátria, e apagou-se da F-1 depois da temporada de 2018 na escuderia.

            Inegavelmente rápido, especialmente em classificação, Charles LeClerc chegou com tudo em 2019, porém, ficou um pouco desgastado em 2022, pelos erros cometidos em corridas, que entregaram resultados potenciais do time rosso ao adversário, no caso, Verstappen, que mesmo que não impedissem a conquista do título por parte do holandês, teria pelo menos tornado menos fáceis as coisas, algo que os fãs ferraristas não costumam perdoar muito. Apesar disso, Charles ainda é a aposta de longo prazo do time de Maranello, tendo assinado um contrato multianual pelo menos até 2029. Em teoria, apesar do desconforto de poder acabar ficando à sombra de Hamilton na escuderia durante a parceria, isso poderia ser benéfico para o monegasco. Apesar da idade, Lewis ainda é uma referência na F-1, e no ano passado, ter ficado atrás apenas da dupla da Red Bull na classificação ainda mostra que ele tem o que oferecer à F-1. Os holofotes da Ferrari se voltarão para ele pelo seu histórico, e isso deve aliviar parte da pressão de LeClerc, que poderia render mais e retomar seu rumo de crescimento na escuderia.

            E a pressão dos fãs? Não há time mais idolatrado do que a Ferrari, mas, ao mesmo tempo, tão cobrado tanto. Não são poucos os pilotos que caíram em desgraça defendendo a escuderia mais famosa da F-1, seja por não renderem o esperado, seja pela pressão sentida por resultados, ou a politicagem reinante em muitos momentos dentro do time. Não é algo fácil de lidar. E se os pilotos não se mostrarem comprometidos com o time, pior ainda. Os tiffosi não hesitam em cair de pau em cima da escuderia, não poupando nem pilotos, nem dirigentes.

            Hamilton pode cair nesta crucificação dos fãs da rossa, se não alcançar resultados significativos? Talvez sim, talvez não. Vai depender de seu empenho na pista, mais do que pelos resultados que poderá conquistar. Vale lembrar de Gilles Villeneuve, que apesar de nunca ter conseguido ser campeão pela Ferrari, até hoje é lembrado com carinho pelos fãs pelo empenho na pista, de nunca desistir. Se, apesar de tudo, o inglês mostrar aquela garra dos bons tempos, lutando até o último instante, apesar de um carro menos competitivo, ele poderá conquistar o torcedor, e evitar a execração pública.

            E, mesmo que não venha mais a ser campeão, conquistar a torcida ferrarista teria um sabor quase igual. E sabemos que este troféu de reconhecimento é para muito poucos pilotos. Talvez seja a vitória mais importante que Hamilton possa aspirar. Não vai ser fácil, mas é algo com que ele pode sonhar, se der o seu melhor.

            E agora, a pergunta do momento em que todos querem saber a resposta: quem será o substituto de Hamilton na Mercedes? Mesmo que não seja mais o time fantástico que dominou a F-1 por quase uma década, ainda é uma escuderia respeitável, e se produzir um carro competitivo, certamente vai ser o sonho de inúmeros pilotos do grid atual. Mesmo tendo ficado abaixo do seu “normal” nas últimas duas temporadas, ainda está longe de ter sido um carro ruim, e por isso mesmo, será uma vaga e tanto para a imensa maioria do grid. E, coincidentemente, muita gente não tem contrato para 2024.

            Do ponto de vista técnico, com George Russell sendo tido como futuro do time, agora ainda mais do que nunca, talvez o melhor nome para o time alemão, se quiser preparar um substituto com alguma folga, poderia ser Fernando Alonso. O espanhol mostrou ano passado na Aston Martin que ainda pilota em alto nível. Deixou Lance Stroll na sobra, e pareceu bem mais propenso a jogar pelo time do que antigamente. Com experiência de sobra, e ainda muita velocidade, poderia ser o “tampão” ideal para a Mercedes. Mas Toto Wolf diz que ainda nem pensou nisso, e ele até tem algum tempo para analisar possíveis candidatos, sendo que vários pilotos do grid atual não tem contrato para 2025, o que tornaria uma contratação bem viável e sem percalços. Ele já deu mostras de que, se tiver um carro competitivo, pode muito bem voltar a vencer, e para muitos, seria interessante ter o asturiano de volta às primeiras colocações, especialmente porque seu último triunfo já data de mais de uma década atrás, ainda em 2013, quando defendia a Ferrari.

Mesmo com os problemas enfrentados nos últimos dois anos, praticamente metade do grid da F-1 estará de olho no cockpit vago no time da Mercedes para 2025. Quem vai ser o escolhido para suceder Hamilton no time alemão?

            Por enquanto, ninguém pode apostar em quem será o novo piloto da Mercedes com alguma segurança, diante da grande surpresa para o próprio time com a decisão de seu grande piloto da última década de partir ao fim do ano. Isso pode incendiar o grid neste início de temporada, com os pilotos pretendentes dando tudo de si para mostrarem-se como nomes a serem considerados para a vaga. Alexander Albon, por exemplo, acabou de ser “renovado” para até o fim de 2025 com a Williams, mas será que não veríamos um repeteco de 2016, quando o time alemão precisou tirar Valtteri Bottas de lá, após Nico Rosberg comunicar que estava deixando a F-1 e a carreira de piloto dias após ser campeão? Até Daniel Ricciardo poderia ser uma opção, ou mesmo Sergio Perez. Mais de metade do grid vai ficar nessa briga. Cada um pegue sua senha e espere ser chamado para as fofocas de paddock.

            E, enquanto essa vaga não for preenchida, o mercado de pilotos deverá ficar travado, pois todos que estiverem livres em 2025 vão certamente protelar ao máximo suas renovações e/ou mudanças de time, torcendo para serem os escolhidos para a cobiçada vaga. Deveremos ouvir todo tipo de especulação enquanto a situação não se resolve. Não há registro de um início mais incendiário do que esse nos anais da F-1 em início de ano que se tenha memória... Vai ser uma longa espera, e haja expectativa...

 

Nenhum comentário: