quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

BALANÇO DAS EQUIPES DA FÓRMULA 1 2023 – PARTE I


            Encerrada a temporada 2023, hora de fazer um pequeno balanço de como foi o campeonato das equipes da Fórmula 1 este ano. Na postagem de hoje, abordo o panorama vivido por Red Bull, Mercedes, Ferrari, McLaren e Aston Martin, enquanto as demais equipes ficarão para um segundo texto, que será postado na semana que vem. Então, boa leitura nesta primeira parte do resumo do que foi a temporada 2023 para as principais escuderias da categoria máxima do automobilismo...

RED BULL – Sem chances aos adversários

No ano de seu maior domínio na competição, a Red Bull fez pela primeira vez o campeão e o vice de pilotos.

 

          O modelo RB19 produzido por Adrian Newey entra para a história como o carro mais dominante de uma temporada da história da F-1, tendo triunfado em 21 das 22 provas da temporada, e falhado apenas uma vez em vencer uma corrida. A campanha irrepreensível de Max Verstappen, que conquistou o tricampeonato de forma ainda mais fácil que seu título anterior fez o time dos energéticos bater o recorde percentual de triunfos que era da McLaren em 1988, quando o time de Woking venceu 15 das 16 corridas da temporada. O único consolo a favor da escuderia inglesa foi que a corrida perdida se deveu a um erro de pilotagem de Ayrton Senna, que se enroscou ao ultrapassar um retardatário em Monza, quando vinha para vencer tranquilamente, enquanto a prova “perdida” da Red Bull, em Singapura, foi uma corrida atípica, onde sua dupla de pilotos não estava em condições de vencer de fato a corrida.

Mesmo assim, foram raras as provas onde Verstappen teve de brigar efetivamente para vencer a corrida. Nem mesmo Sergio Perez conseguiu se colocar como rival, ainda que temporário, do talentoso holandês, conforme a temporada avançava, sendo que a própria Red Bull admitiu que “falhou” em não conseguir acertar o carro para o mexicano da mesma maneira como fez para Max, afirmação que pode dar muita trela para discussões justificando que o time “escanteou” Perez da briga pelo título favorecendo o agora tricampeão. O piloto mexicano, contudo, também teve sua cota de erros e de performances abaixo do esperado para quem dirigia um carro tão superior à concorrência, a ponto de em determinado momento do ano seu favoritismo ao vice-campeonato ter sido colocado em dúvida, quando os rivais começaram a se aproximar perigosamente, mas nunca de fato colocando sua posição em perigo real.

A fragilidade da oposição se confirmou quando mesmo com uma campanha deficiente, Perez ainda conquistou o vice-campeonato com certa segurança, ainda que tenha tido mais desempenhos aquém do esperado, uma situação que nunca lhe foi favorável diante da comparação com o melhor piloto da atualidade na competição, Verstappen, que nunca se dá por satisfeito com menos do que dar tudo de si. Mesmo alguns problemas vivenciados pela escuderia austríaca em termos de acertos do carro, e comportamento dos pneus, não foram suficientes para minar o favoritismo da escuderia, e principalmente do piloto holandês, que fizesse chuva ou sol, rumava para a vitória, tendo estabelecido um novo recorde de 19 vitórias numa mesma temporada, e 10 triunfos consecutivos, marcas que provavelmente nunca serão igualadas, ou batidas no futuro.

Adrian Newey, que curiosamente iniciou sua carreira na F-1 quando a categoria adotou o efeito-solo nos carros pela primeira vez, foi quem mais soube trabalhar as novas regras aerodinâmicas dos carros quando estas foram introduzidas no ano passado. O modelo RB18 padeceu de alguma confiabilidade no início, tanto do carro quanto da nova unidade de potência da Honda, agora desenvolvida pela nova Red Bull Powertrains, mas tão logo estas falhas foram corrigidas, não foi difícil a Red Bull se impor na competição, apesar da oposição da Ferrari. Portanto, nada mais óbvio nesta temporada como termos uma evolução do que já era muito bom em 2022. Seria possível apresentarem um carro ainda melhor? Sim, eles fizeram isso, e o carro de 2023 evoluiu em todos os aspectos, possuindo grande estabilidade e velocidade, cortesia também do bom trabalho feito na unidade de potência, que também não apresentou nenhum problema durante todo o ano. O RB19 também foi um carro extremamente fiável, com Verstappen a não sofrer nenhum abandono no ano, sendo que seu companheiro Pérez, nas duas vezes que deixou a corrida, foi por acidentes motivados por brigas do piloto com os rivais, onde o mexicano se deu mal, e não por problemas de confiabilidade do carro. Como já foi dito, a Red Bull tinha terminado 2022 com o melhor carro da competição, o modelo RB18, e para este ano, os rivais falharam em evoluir seus projetos, não só pelo menos o suficiente para alcançarem o modelo rubrotaurino, como Adrian Newey conseguiu aprimorar ainda mais o bólido, de modo que mesmo a punição aplicada à escuderia pelo estouro do teto de gastos na temporada de 2021, que resultou em perda de tempo do uso do túnel de vento e algumas outras limitações para esta temporada, nem se fez sentir na prática durante o ano, com a equipe ainda tendo sobras de performance suficientes no RB19 para já se dedicar ao projeto do modelo RB20 para 2024, para preocupação dos concorrentes, que terão de trabalhar dobrado, não só para alcançarem a performance que a Red Bull exibiu este ano, como ainda para tentar alcançar o novo nível que eles apresentarão na próxima temporada.

 

MERCEDES – Temporada remendada e atribulada

Num ano de altos e baixos, Lewis Hamilton ainda conseguiu salvar a 3ª colocação no campeonato, e a Mercedes, o vice de construtores, mas foi mais um ano perdido para a escuderia germânica, que ficou sem vencer.

 

          Depois de um ano “atípico”, onde ficou de fora da luta pelo título pela primeira vez desde 2014, era de se imaginar que a equipe multicampeã pudesse corrigir o erro de seu projeto, e voltar a brigar pelas vitórias, certo? Afinal, era um time muito competente e focado, e não é porque as coisas deram errado em 2022 que iriam errar novamente em 2023, não é? Bem, as coisas deram sim errado, não apenas de novo, mas de forma até mais contundente do que no ano passado. A própria equipe alemã assumiu que a vitória de George Russell em Interlagos deu a impressão de que haviam encontrado o caminho para desenvolver adequadamente o conceito zeropod do modelo W13, e que depois de tudo o que haviam assimilado durante a temporada, seria apenas o caso de não incorrer nos mesmos erros do projeto. Mas, surgiram novos erros, sem mencionar que os erros de 2022 não foram devidamente sanados.

          Daí, o que tivemos foi a Mercedes ficar novamente sem chances algumas de brigar pelo título, com um carro que, a certo modo, foi ainda pior que o modelo W13. Sim, o W14, que se esperava uma evolução do carro do ano anterior, conseguiu a façanha de ser pior. Não que o carro não tenha evoluído, mas os rivais cresceram mais, de modo que, no cômputo geral, o modelo W14 caiu para trás. Bastou ver o resultado logo na primeira prova, no Bahrein, onde em 2022, Lewis Hamilton ainda conseguiu um pódio, mas este ano, o heptacampeão foi terminar a corrida cerca de 50s atrás do vencedor, já deixando evidente que o carro estava novamente “errado”. Todo o esforço despendido em 2022 para achar uma compreensão do conceito inovador do bólido, e com isso desenvolver a evolução do projeto, não serviram para nada.

          As primeiras corridas até deram alguma esperança, mas o comportamento irregular do carro, ora andando de forma promissora, ora não rendendo, mostravam uma inconstância fatal para quem desejava brigar por vitórias. O conceito zeropod não mostrou a que veio, e a solução seria retrabalhar o carro para um conceito mais “tradicional”. Mas, quando a base de um carro é ruim, é muito complicado corrigi-lo. E o novo W14 “B”, ainda que nunca tenha sido chamado oficialmente assim, continuou a padecer da mesma inconstância de performance da versão original, ora apresentando rendimento satisfatório, ora devendo. A própria escuderia admitiu que não tinha como saber como o carro se comportaria nas pistas, até o resultado dos treinos livres.

          Uma solitária pole-position na Hungria foi um consolo pífio para a escuderia, já que fora mais por problemas de Max Verstappen, que errou na sua volta rápida, apesar do esforço de Hamilton. O holandês ainda fez questão de dizer que quem mandava era ele, quando na corrida, assumiu a posição de liderança logo na primeira curva, e não havia mais nada a fazer. Desta vez, nem mesmo uma vitória de consolação restaria ao time de Brackley, que só conseguiu terminar a temporada como vice-campeã mais pelo esforço de sua dupla de pilotos do que pela performance do carro. Hamilton e Russell penaram nas corridas, sendo raras as vezes que ambos conseguiram andar de forma constante na mesma prova. Ora era Lewis quem andava bem, enquanto Russell ficava mais para trás, ora o inverso. Não fosse a qualidade da dupla de pilotos, a opinião é unânime de que a Mercedes terminaria o ano atrás da Ferrari, e talvez até mesmo atrás da McLaren, e Aston Martin.

          Lewis Hamilton, em 3º lugar, acabou sendo o melhor “do resto”, mas ele mesmo admite que não fez uma boa temporada, mas acabou sendo um resultado bem razoável dada a inconstância do carro, que se não foi um desastre, não correspondeu às expectativas, e mostrou que outro caminho é necessário para que a escuderia retome o seu protagonismo, se quiser voltar a brigar por vitórias e títulos. George Russell, que havia feito uma excelente campanha em 2022, parece ter se perdido um pouco em 2023, e ele mesmo admitiu que a ansiedade o prejudicou na obtenção de alguns resultados melhores este ano, em que terminou bem atrás de Hamilton, sabendo que poderia ter ficado bem mais próximo. Tanto um quanto o outro tiveram alguns bons desempenhos durante o ano, mas que foram insuficientes para as expectativas e necessidades de ambos na briga por uma temporada melhor.

          Resta esperar que efetivamente achem o rumo, e que isso lhes permita brigar de fato por vitórias, e quem sabe, retornarem ao duelo pelo título da competição. Não vai ser fácil, contudo, recuperar o tempo perdido nestes dois anos.

 

FERRARI – Desperdício e confusões

Corrida tática de Carlos Sainz Jr. em Marina Bay rendeu a única vitória da Ferrari no ano.

 

          O time de Maranello tinha começado 2022 com força total, e em muitos anos, era de fato a grande favorita na competição para brigar pelo título, enquanto a Red Bull posava de desafiante. E o que vimos foi a Ferrari se perder conforme a temporada avançava, tanto na pista quanto fora dela, de modo que a escuderia italiana, apesar do vice-campeonato de pilotos e de construtores, falhou de forma contundente por ter a capacidade de fazer melhor, e se complicar sozinha, o que facilitou o trabalho da Red Bull e de Max Verstappen. Isso causou a queda de Mattia Binotto, e sua substituição por Frederic Vasseur, egresso da Alfa Romeo, que tinha a missão de reestruturar a equipe e corrigir os erros cometidos em 2022, para levar a Ferrari de novo à luta pelo título.

          Mas, pelo que vimos este ano, o time italiano deu para trás, criando mais dificuldades para Vasseur em seu primeiro ano na chefia do time italiano. Tendo sido adversária real para a Red Bull em boa parte do ano passado, foi difícil ver que o novo carro praticamente não evoluiu como se precisava, de modo que a dupla ferrarista acabou jogada no meio da briga deflagrada entre Aston Martin e Mercedes, até em desvantagem, e tendo de ver de camarote Verstappen e a Red Bull cada vez mais dominantes.

          Apesar da invulgar potência de sua unidade híbrida, os pilotos tinham dificuldade para aproveitar essa vantagem devido aos problemas do modelo SF23, que não tinha uma aerodinâmica tão refinada quanto a da Red Bull, e ainda por cima, o chassi revelou uma instabilidade que causava um consumo excessivo dos pneus, o que atrapalhou em vários momentos a performance dos pilotos. O carro era muito rápido em volta lançada, tanto que conquistou nada menos que 7 pole-positions, confirmando seu potencial para ser efetivamente um rival para a toda-poderosa Red Bull. Mas não se conseguia repetir esse desempenho em ritmo de corrida, e por vezes, quando se tinha velocidade, os pilotos sofreram para manter os pneus em condições ideais, tendo sido superados por rivais cujos carros conseguiam cuidar melhor de seus compostos e lhes permitir atacar nos momentos decisivos.

          Fora isso, o carro também padeceu de certa instabilidade de performance, o que demandou trabalho na área técnica para conseguir alcançar uma constância de desempenho. Mas, fora da pista, os erros cometidos em 2022 voltaram a se repetir em 2023, com os pilotos sendo vítimas de estratégias confusas e equivocadas por parte da escuderia, que certamente contribuiu para a perda de alguns resultados mais relevantes durante o campeonato. Enquanto em alguns momentos o time se enrolou nas corridas, em outros momentos as coisas já ficaram complicadas na classificação, impondo desafios extras a seus pilotos, que nem sempre conseguiram reverter os percalços sofridos. Muitas lições que poderiam ter tirado das provas de 2022 pareceram ter sido ignorados, e isso certamente não ajudou na nova direção da escuderia.

          Ainda assim, Ferrari ganhou méritos por ter sido a única vencer na temporada, fora a Red Bull, repetindo, ainda que novamente por uma única vez, o feito de 1988, quando a rossa também foi a única escuderia a triunfar além da toda-poderosa McLaren naquele ano, e justamente na Itália, sua pátria mãe, para delírio dos tiffosi. Carlos Sainz fez uma corrida cerebral e calculada em Singapura para dar à escuderia seu único triunfo no ano, e mostrar que nem só com velocidade se ganha uma corrida, onde o carro vermelho poderia ter sido superado pelas rivais McLaren e Mercedes na prova de Marina Bay.

          A nível de pilotos, a Ferrari viu sua dupla ter desempenhos parelhos em termos de classificação final de temporada. Carlos Sainz Jr. fez uma temporada mais constante e regular que Charles LeClerc, tendo sido o grande responsável pelo único triunfo do time no ano. O espanhol se manteve à frente do monegasco, cujo desempenho era mais irregular, durante quase todo o ano, mas deu azar nas etapas finais, quando sua performance acabou comprometida com estratégias ruins e percalços além de seu controle, sendo superado pelo companheiro de equipe na última corrida. LeClerc terminou o ano em 5º lugar, enquanto Sainz foi o 7º, por uma diferença de 6 pontos, perdendo posição também para Lando Norris na prova final. Isso acabou impactando na disputa do campeonato de construtores que a Ferrari veio travando com a Mercedes na parte final da temporada, com o time alemão levando a melhor.

          O resultado acabou sendo a terceira colocação no campeonato de construtores, decidido na última corrida, em Abu Dhabi, mesmo com um carro mais competitivo, e por pouca diferença nos pontos, mostrando que a escuderia italiana mais uma vez perdeu para si própria, como havia acontecido na disputa de 2022. Se no ano passado perdeu o título, este ano perdeu o vice-campeonato, coroando uma temporada onde a equipe de Maranello efetivamente decaiu frente ao ano anterior.

 

MCLAREN – Rumo corrigido a tempo de salvar o ano

A McLaren começou a temporada sem rumo, mas conseguiu corrigir seus erros a tempo de ainda brilhar no aniversário de 60 anos da escuderia. Só faltou vencer mesmo.

 

          A McLaren terminou a temporada na 4ª colocação do campeonato de construtores, e seu principal piloto, Lando Norris, foi um respeitável 6º colocado na classificação final da temporada. Um ano satisfatório para a esquadra de Woking, não? Mais ou menos. Se considerarmos que a equipe perdeu quase meia temporada com resultados ruins, e na outra metade, passou a ser a mais próxima desafiante da Red Bull, podemos presumir que a McLaren tinha tudo para ser, com sobras, a segunda colocada na competição, e quem sabe, até desafiar com força o time dos energéticos. Mas o que aconteceu, afinal?

          O que aconteceu foi que o time praticamente começou o ano com o carro completamente irreconhecível, a ponto de sua dupla de pilotos chegar a se classificar no fim do grid ou da segunda metade dele para trás. Essa situação persistiu durante boa parte da primeira metade do ano, e parecia que os carros laranjas estavam condenados a brigar pela liderança da F-1 “C”, tamanho o fiasco dos resultados. Em alguns momentos, com a performance quase sendo uma das piores do grid, não houve quem não lembrasse dos anos conturbados da recente aliança McLaren-Honda, que redeu resultados pífios na maior parte dos três anos de acordo entre 2015 e 2017. Lando Norris e Oscar Piastri pareciam longe de qualquer expectativa de disputarem os primeiros lugares na competição. No ano em que a escuderia comemorava 60 anos de sua fundação pelo piloto Bruce McLaren, o que deveria ser uma temporada de exaltação da longa história do time na F-1 perigava virar motivo de piada e humilhação, com os rivais quase tripudiando do desempenho da dupla laranja no grid.

          Era preciso fazer algo, e fizeram. E, para surpresa de todos, um grande pacote de atualizações implantado a partir do GP da Áustria, e depois efetivado no GP da Inglaterra, produziu maravilhas, e de um momento para o outro, o modelo MCL60 era o carro mais rápido em pista, depois do RB19 da Red Bull. Diferente do carro da Mercedes, ficou nítido que a base do MCL60 era boa, mas que uma abordagem equivocada do carro nas primeiras corridas levou o time pelo caminho errado, quase crucificando toda a temporada. E felizmente, souberam fazer as correções darem certo, algo que nunca tem muita garantia na F-1, e que exige, além de muita competência, certa dose de sorte para não ver seus esforços desperdiçados.

          Em termos de pilotos, Lando Norris voltou a mostrar suas qualidades, mas também acabou se afobando em alguns momentos, reconhecendo que ainda precisa melhorar sua abordagem de corrida para se colocar efetivamente como um piloto vencedor. Já Oscar Piastri, para um novato, corria sério risco de ter sua contratação pela escuderia condenada pelos resultados ruins da primeira metade do ano, ainda mais depois da briga que o piloto arrumou com a Alpine para se mandar de mala e cuia para Woking, que ainda precisou fazer um acerto amigável para se livrar de Daniel Ricciardo. Felizmente para Piastri, ele conseguiu aproveitar muito bem a nova forma do carro atualizado, recuperando-se rapidamente nas corridas, ainda que tenha tido alguns erros e outros resultados menos vistosos, algo natural devido ao seu noviciado na F-1, que não costuma perdoar os pilotos novos no grid ultimamente.

          O australiano, aliás, conseguiu um grande feito, ao ser o único piloto não-Red Bull a vencer uma prova Sprint no ano, no caso, em Losail, no Qatar, e deixando até seu companheiro de equipe melindrado, uma vez que Norris até agora não sabe o que é receber a bandeirada de uma corrida na categoria em primeiro lugar, mesmo que seja em uma prova curta, que não conta para as estatísticas. Em algumas corridas Norris acabou batido pelo companheiro de time, enquanto em outras o inglês fez valer a sua maior experiência na competição, superando o parceiro com maior ou menor dificuldade.

          E essa renovada McLaren foi escalando a classificação, de pilotos e de construtores. Com a queda de rendimento da Aston Martin, a McLaren conseguiu chegar para as provas finais em condições de superar o time de Silverstone, e apesar de algumas dificuldades pontuais nesta fase final, conseguiu sua meta com louvor, chegando à 4ª posição na tabela de construtores, e só não indo além porque a distância a recuperar para Mercedes e Ferrari ainda era muito grande, para sorte destes dois times, que em várias provas da segunda metade do ano, foram batidos pelos carros laranja com facilidade.

          A McLaren só não venceu porque, mesmo com sua renovada força, ainda havia uma imparável Red Bull e Max Verstappen no meio do caminho, especialmente na Inglaterra, Hungria, Japão, Qatar, e Brasil, onde por melhor que seus pilotos fossem, não foi o suficiente para vencer o agora tricampeão mundial holandês. Mas, não fosse terem perdido meia temporada com resultados abaixo do esperado, certamente a equipe britânica teria superado Ferrari e Mercedes, e com muitos méritos. Não deixa de ser significativo terem conseguido corrigir o desenvolvimento do modelo MCL60, ainda mais em tal magnitude, diante das limitações de testes que a categoria impõe de forma até draconiana a seus competidores, transformando um carro que mal conseguia largar a meio da segunda metade do grid para um bólido capaz de brigar pelo pódio.

          Que o time de Woking consiga manter essa boa base, e a aperfeiçoe para apresentar-se ainda mais forte, e pronta para discutir com a Red Bull a primazia na temporada de 2024...

 

ASTON MARTIN – Brilhou, mas perdeu o gás

Fernando Alonso fez uma aposta ao acreditar no projeto da Aston Martin para 2023, e não se arrependeu da decisão de deixar a Alpine.

 

          A Aston Martin foi uma das sensações da temporada 2023. O time sediado ao lado do autódromo de Silverstone vinha investindo bastante em sua estrutura desde que foi comprado pelo bilionário canadense Lawrence Stroll, pai do piloto Lance Stroll, que logicamente é um dos pilotos do time. A escuderia também contratou várias pessoas novas, entre elas pessoal que trabalhou sob a tutela de Adrian Newey na Red Bull, e por isso mesmo, o carro do time verde chegou até a ser questionado sobre o aspecto legal de seu projeto no ano passado, mas a equipe conseguiu provar que já estava desenhando o conceito dele quando o pessoal novo chegou, e apenas finalizou a concepção. Bastava mostrar competência que uma hora os resultados começariam a aparecer. E eles surgiram este ano.

          O modelo AMR23 se mostrou em várias etapas o segundo melhor carro do grid, mas esse potencial só poderia ser maximizado com a ajuda de um grande piloto, e a Aston Martin não poderia ter dado um tiro mais certeiro quando Fernando Alonso foi contrato para este ano. Depois de apostas furadas em temporadas anteriores, o bicampeão deu um tiro certeiro, e graças à competitividade do novo carro do time esmeralda, fez uma primeira metade de temporada elogiável, conquistando nada menos que 7 pódios nas primeiras 8 provas, e dando show de pilotagem para o piloto mais velho do grid. Resultados que a Aston Martin confessou esperar apenas para 2024 chegaram muito antes do que todos imaginavam, e ninguém duvida que Alonso foi o grande impulsionador dos resultados da equipe.

          Diferente do Alonso intragável nos tempos de Ferrari e McLaren, o espanhol se empenhou de corpo e alma com o time na obtenção dos melhores resultados, e os pódios, raridade na última década da carreira do bicampeão, se tornaram rotina. Diante da hegemonia da Red Bull, Alonso se tornava uma das atrações da temporada, colocando-se quase sempre atrás apenas da dupla rubrotaurina, e candidato a vencer alguma corrida, quando as circunstâncias fossem favoráveis. Não se pode dizer que ele não tentou, e isso ajudou a dar algum alívio à temporada, enquanto Ferrari e Mercedes viviam mais um ano de marasmo, sem conseguir discutir o domínio da equipe dos energéticos, e principalmente do holandês, que rumava sem adversários rumo ao terceiro título da carreira. Será que a Aston Martin salvaria a emoção por todo o campeonato? As expectativas eram altas, mas todos sabiam que isso poderia ter vida curta, especialmente quando o time precisasse enfrentar as atualizações dos concorrentes, que não ficariam parados vendo o time esmeralda roubar a atenção na pista.

          A esperada vitória do time, infelizmente, não surgiu, dado o massacrante domínio da Red Bull, e o maior temor virou realidade: a escuderia começou a se perder no desenvolvimento do carro, onde boa parte das atualizações introduzidas acabou resultando em perda de performance, ao invés de incremento. O time, que antes brigava se mostrando o melhor do “resto” do grid, acabou superado pela Mercedes, e depois pela Ferrari, conforme a temporada avançava, após a etapa da Inglaterra. Fernando Alonso, até então ocupante do TOP-3 do campeonato, acabou sendo ultrapassado pelos rivais, lutando para tentar manter o nível de performance, mas sendo derrubado pela queda de rendimento do bólido. Perto do fim da temporada, a Aston Martin conseguiu a proeza de ser superada pela McLaren, em ascenção alucinante, fazendo o time despencar para a 5ª colocação no campeonato de construtores.

          Todo mundo é unânime em dizer que o grande calcanhar de aquiles do time foi o canadense Lance Stroll. Lance até havia tido performances razoáveis, quando comparado com o tetracampeão Sebastian Vettel, que apesar de ter sempre ficado à frente do companheiro de equipe, não o fez por uma margem muito larga de pontos. Como o canadense iria se dar com um companheiro de time implacável como o asturiano, tido por muitos como um dos pilotos mais completos da F-1? A resposta foi contundente: enquanto Fernando colecionou pódios, o melhor resultado de Lance foram apenas um 4º lugar, e dois 5ºs lugares, e estes já no final da temporada. Nenhum pódio, e uma diferença abismal na pontuação, com inúmeras performances muito abaixo do companheiro de equipe. Não foram poucas as vozes que diziam que o time deveria ter dado uma chance efetiva a Felipe Drugovich, piloto reserva e de testes do time, diante da discrepância de desempenho do canadense em relação ao asturiano, sendo que em apenas duas corridas Lance terminou à frente de Alonso. E essa diferença de pontos fez falta no duelo de construtores, onde o time pelo menos poderia ter mantida a 4ª colocação, tendo sido superada pela McLaren em 22 pontos, e na reta final do campeonato. Felizmente, o resto das escuderias estava tão atrás que não havia a chance da Aston Martin cair mais.

          Mas, tirando as chances perdidas com o desempenho deficiente de Lance Stroll, é verdade também que a equipe técnica do time não soube trabalhar as atualizações do carro, parecendo incapazes de compreender como melhorar o seu desempenho. Tanto que, quando Alonso pediu para voltar a usar as configurações antigas, descartando as novidades introduzidas, parte da performance do modelo AMR23 retornou, e o espanhol ainda deu show em Interlagos para conquistar o pódio em uma luta ferrenha com Sergio Pérez. Fernando Alonso ainda se segurou na pista, finalizando o ano em 4º lugar, com 206 pontos, conseguindo se manter à frente de Charles LeClerc e Lando Norris, que já estavam com o asturiano na alça de mira. Já Lance Stroll foi apenas o 10º colocado, com 74 pontos.

          Mesmo assim, com todos os problemas enfrentados, o balanço da Aston Martin na temporada é extremamente positivo. Apesar de ter terminado 2023 apenas uma posição à frente da de 2022 na tabela de construtores, a diferença de performance é notável: com apenas 55 pontos marcados no ano passado, o time acumulou 280 pontos este ano. As lições trazidas pela temporada, onde o time acabou disputando antes do tempo as primeiras posições nas corridas, graças ao desempenho de Alonso, precisam ser compreendidas para que o time saiba como evitar os erros cometidos este ano, especialmente no desenvolvimento do carro, se quiser de fato brigar por vitórias, e quem sabe, até pelo campeonato. E, claro, que Lance Stroll mostre-se ainda mais merecedor do lugar que ocupa no time, onde voltou a ser visto mais como “filho do dono” do que propriamente como um piloto de F-1. O canadense até tinha conseguido superar um pouco este preconceito, diante da comparação com Vettel nos dois últimos anos, mas com Alonso no box ao lado, o sarrafo aumentou consideravelmente, em proporções similares ao duelo visto na Red Bull entre Verstappen e Pérez.

 

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