quarta-feira, 9 de agosto de 2023

ARQUIVO PISTA & BOX – FEVEREIRO DE 2000 – 25.02.2000

            Hora de trazer novamente um de meus antigos textos, e este foi publicado no dia 25 de fevereiro e 2000. O segundo mês do ano estava perto de seu encerramento, e a abertura do campeonato de Fórmula 1 daquele ano se aproximava, gerando grandes expectativas na torcida brasileira, pela estréia de Rubens Barrichello na Ferrari, fazendo com que pela primeira vez em muitos anos tivéssemos novamente um piloto nacional em um time de ponta na categoria máxima do automobilismo. E a Ferrari vinha mais forte do que nunca, depois de quase ter conquistado o título do ano anterior, onde fracassou mais por culpa própria do que por mérito da concorrência, já que não mostrou firmeza em apoiar Eddie Irvinne na luta pelo título após Michael Schumacher ficar fora de combate quando se acidentou em Silverstone, quebrando a perna. O esquema de tratar o irlandês como mero segundo piloto era tão arraigado na escuderia, que só tinha olhos para o então bicampeão alemão, que não lhes permitiu mudar a estratégia com a agilidade necessária para se manter firme na disputa.

            Mesmo assim, devido aos erros dos adversários, a Ferrari quase chegou lá. Esperava-se que, ciente do erro que foi apostar somente em Schumacher, o time vermelho desse maior espaço a Rubinho no time, e não centrar tanto a atenção no piloto alemão. De fato, o time até deu ao brasileiro algum espaço, mas não o suficiente para que ele pudesse capitalizar uma disputa pelo título, com Luca de Montezemolo até declarando abertamente que Barrichello não estava no time para disputar o título, direito que era apenas de Schumacher. Novamente, as expectativas em relação a Barrichello cresceram enormemente, apenas para mais uma vez não serem correspondidas, agora pelo jogo de equipe da Ferrari, que tolheu as possibilidades, ainda que poucas, de Rubens de fato duelar pelo título da F-1. De quebra, em uma nota rápida, falava-se do retorno oficial da Renault à categoria, podendo assumir o time da Benetton, o que acabaria se confirmando no ano seguinte. Confiram no texto como andavam as expectativas e os movimentos da categoria máxima do automobilismo naqueles dias, e em breve trago mais colunas antigas por aqui...

EFEITO BARICHELLO/FERRARI

          Às vésperas de iniciarmos mais um campeonato mundial de Fórmula 1, as expectativas da torcida brasileira nunca estiveram tão altas como agora. O motivo é mais do que óbvio: Rubens Barrichello estará pilotando a Ferrari, um dos times de ponta da categoria, e com isso, voltam as perspectivas de deixarmos de ser coadjuvantes na F-1 para voltarmos ao papel de protagonistas, algo que não vivíamos desde 1994, quando ainda tínhamos Ayrton Senna correndo, antes do seu fatídico acidente.

          As vendas de ingressos para o GP do Brasil, em Interlagos, que será disputado no dia 26 de março, já demonstraram um grande incremento na procura, mesmo com os valores dos bilhetes tendo sofrido um aumento brutal devido às instabilidades cambiais. E mesmo assim, pode faltar lugar no autódromo paulistano, que deve ganhar pelo menos mais 10 mil a 15 mil lugares em novas arquibancadas provisórias. Poderiam ser ainda mais, se não fossem as restrições em nome da segurança, e isso nunca é bom ser negligenciado. Mas a maior procura já reflete que os torcedores, que nos últimos anos não ficavam mais empolgados com a F-1, parecem ter renovado suas esperanças.

          Nada mais natural, afinal, desde que Ayrton se foi, nossos representantes na categoria, por mais talento que tivessem, nunca tiveram um carro que lhes permitisse brilhar, muito pelo contrário. O próprio Barrichello penou com alguns carros difíceis, viu-se bombardeado pela mídia nacional como o “novo” Senna, sem nunca ter tido equipamento que lhe permitisse realizar os feitos de Ayrton. Público, e até mesmo o próprio piloto, acreditaram demais que Rubinho daria continuidade à saga vencedora do Brasil na F-1, esquecendo-se do quanto ter um carro decente é necessário. Esqueceram que até mesmo nossos pilotos campeões pouco podiam fazer sem um equipamento competitivo, como ocorreu com Émerson Fittipaldi na Copersucar, Nélson Piquet na Lótus, e mesmo Ayrton Senna quando correu na Toleman, que mesmo tendo um bom chassi, não permitia vencer.

          Por diversas circunstâncias, Barrichello, nosso melhor nome depois da morte de Ayrton, não teve a oportunidade de ganhar um carro de ponta. E nossos demais pilotos que vieram depois, menos chances ainda, devido a andarem com carros pouco competitivos. Barrichello caiu em descrédito não só perante a torcida nacional, como no próprio meio da categoria, e só conseguiu renascer porque Jackie Stewart confiou no taco e talento do brasileiro para capitanear sua escuderia de F-1, lançada em 1997. Mas foram precisos dois longos anos até o time se acertar melhor e mostrar resultados mais condizentes. E Barrichello, pelo que conseguiu fazer na Stewart em 1999, mesmo não tendo vencido nenhuma corrida, enfim ganhou a oportunidade que sempre pediu.

          Além da torcida ter esperanças renovadas, quem também ganha é a TV Globo, que detém os direitos de transmissão das corridas da categoria para nosso país. Se nos últimos tempos havia até certa dificuldade de comercializar as cotas de patrocínio, agora o panorama é outro: a emissora está até com fila de espera para novas empresas dispostas a comprar as cotas de patrocínio. Se no ano passado foram 4 cotas principais, este ano foram 5 cotas, todas vendidas com muita antecedência, e com vários outros interessados na fila. Nossos outros pilotos na categoria, Ricardo Zonta e Pedro Paulo Diniz, já receberam até propostas de patrocinadores dispostos a investir em suas carreiras. Os pilotos nacionais, depois de anos sendo tratados apenas como protagonistas de segundo nível, voltam a ganhar certo destaque, graças à contratação de Barrichello por Maranello.

          Mas é preciso ter um pouco de calma. Rubinho pode estar em um time de ponta, mas é preciso ver como o campeonato vai se desenhar, antes de começar a apontar o brasileiro como candidato ao título. Não dá para saber exatamente em que patamar Ferrari e McLaren estão no confronto de forças para o campeonato, e embora dificilmente haja perspectiva de outros times se intrometerem no duelo entre a escuderia inglesa e a italiana, precisamos ver como todos os pilotos irão se comportar.

          A McLaren parte decidida a conquistar seu terceiro título de pilotos consecutivo. Tem um excelente carro, e nos testes, vem fazendo ótimos tempos. Mika Hakkinem conquistou um bicampeonato mais suado do que parecia à primeira vista, mas vem firme para tentar um tricampeonato. Resta saber se o carro deste ano não vai apresentar tantos problemas como o do ano passado, e claro, saber se David Couthard, que sempre promete deslanchar na competição, não vai finalmente assumir a dianteira no time prateado. O motor Mercedes está em ponto de bala, e se o carro corresponder, os pilotos de Ron Dennis devem mostrar do que são capazes.

          Mas do lado do time italiano, as armas também estão sendo preparadas, e ninguém duvida que Barrichello seja uma destas armas. Se Michael Schumacher dispensa apresentações, o brasileiro terá finalmente um carro capaz de fazê-lo lutar por vitórias e poles, além de pontuar regularmente. Fica também a expectativa de que o time de Maranello adote uma postura diferenciada em relação ao brasileiro, dando-lhe realmente chances de competir a sério na pista, e não sendo apenas um escudeiro cujas obrigações sejam bloquear os adversários de Schumacher, como Eddie Irvinne fazia de 1996 a 1998. Quando o bicampeão alemão ficou fora de combate, o time não reagiu com a velocidade necessária para apoiar o irlandês como deveria. Se Barrichello tiver este apoio efetivo do time para competir, mesmo com Schumacher na pista, a Ferrari terá tudo para encarar a McLaren com mais força do que nunca.

          De qualquer maneira, Rubens Barrichello já é o personagem principal do campeonato de F-1 deste ano. Não apenas os torcedores brasileiros, mas todo o restante da própria F-1 querem ver do que o brasileiro é realmente capaz ao volante de um carro de ponta. Ungido como substituto natural de Senna, Barrichello terá agora enfim as ferramentas, e a oportunidade, de mostrar o seu real valor como piloto. Esperemos que ele aproveite a chance da melhor maneira possível, pois oportunidades assim não surgem sempre.

 

Continuam as especulações de que a Renault deve retornar oficialmente à F-1, muito provavelmente já no próximo ano. O retorno “oficial” da Honda, que este ano passa a equipar os carros das equipes BAR e Jordan, e o retorno também da BMW, estão deixando a turma da empresa francesa ouriçada em retornar à categoria máxima do automobilismo, de onde saíram ao fim do campeonato de 1997, com a conquista do último título da Williams. Nomes de peso no concorrido mercado de automóveis na Europa. Enquanto isso, fala-se que a Peugeot estaria possivelmente em seu último na categoria, se a equipe de Alain Prost não corresponder às expectativas. Fala-se que a Renault deve retornar como time completo, e em virtude da restrição de vagas na categoria vigente atualmente, eles devem fazer como a Ford procedeu: comprar um dos times já existentes e transformá-lo em sua escuderia oficial. As fofocas apontam para a Benetton, que já usa os motores franceses, preparados pela Mecachrome, e rebatizados de Playlife. Um anúncio pode ser feito muito em breve sobre o assunto por parte da fábrica francesa.

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