quarta-feira, 8 de junho de 2022

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1999 – 22.10.1999

            Trazendo mais um de meus antigos textos aqui, esta é a coluna que foi publicada no dia 22 de outubro de 1999, e o assunto em questão era a desclassificação da Ferrari no GP da Malásia, onde o time italiano venceu em dobradinha, e acabou excluído por um detalhe mínimo depois da verificação pós-corrida, dando um verdadeiro banho de água fria no time e nos torcedores, além de causar o maior rebuliço nos profissionais de imprensa, que tiveram que refazer parte de seus trabalhos. Foi uma muvuca geral, e felizmente, a FIA acabou usando o bom senso, e a desclassificação acabaria revertida, permitindo que a decisão do título entre Eddie Irvinne, da Ferrari, e Mika Hakkinen, da McLaren, fosse decidida na pista na prova final da temporada, em Suzuka, no Japão. De quebra, alguns tópicos rápidos com comentários sobre alguns outros acontecimentos no mundo da velocidade naquela semana. Uma boa leitura para todos, e logo trago mais textos antigos por aqui...

 

O DIA “D” PARA A FERRARI

 

            É hoje que será decidido em Paris o destino da equipe Ferrari no mundial de Fórmula 1 deste ano. A desclassificação da equipe no GP da Malásia, domingo passado, provocou um dos maiores rebuliços da história recente da categoria. Por causa de meros 10 milímetros, os defletores dos carros vermelhos ficaram fora do regulamento. Pode parecer pouca coisa, mas num mundo onde todos os detalhes fazem a diferença, isso é suficiente para dar inúmeras dores de cabeça.

            A festa da Ferrari ao fim da prova malaia, onde a escuderia conseguiu uma dobradinha, com Michael Schumacher sendo o destaque da corrida e tendo de se submeter ao jogo de equipe para favorecer o seu ex-escudeiro de tantos GPs, Eddie Irvinne, durou até os comissários de pista emitirem o comunicado da irregularidade nos defletores. A desclassificação dos dois pilotos do time pegou todo mundo de surpresa, especialmente a própria Ferrari. A partir daí, foi o caos.

            Explicado os motivos da desclassificação, todo mundo saiu à caça de informações. A sala de imprensa, que àquela altura comumente fica já mais tranqüila, foi tomada pelos jornalistas. Matérias precisaram ser refeitas. Nada do que se passou na corrida importava muito: a desclassificação do time vermelho tomou conta do ambiente. Não tardou para alguém se levantar, afirmando ser armação da “concorrência”, leia-se, McLaren, que poderia ter “dedurado” aos fiscais a irregularidade no defletor. Seja lá qual for a verdade, agora não há muito o que fazer a respeito. Importa sim, saber qual será a decisão da FIA, a Federação Internacional de Automobilismo, hoje em Paris no Tribunal de Apelação, composto por 5 juízes que irão julgar o recurso impetrado pela equipe italiana, e tentar recuperar os pontos perdidos na prova de Kuala Lumpur. Não vai ser fácil.

            Até hoje a FIA nunca desfez totalmente uma decisão dos comissários de pista. A Ferrari vai ter muito trabalho para conseguir convencer os juízes de que a irregularidade dos defletores foi totalmente não-intencional. O problema é que, tamanha é a precisão da construção de um carro de F-1 que fica difícil acreditar que um erro destes possa ter sido cometido sem intenção. E pior ainda é ver todo o trabalho da escuderia, que parecia estar mais próxima do que nunca de encerrar o seu jejum de títulos, o mais longo até hoje, ir por água abaixo desta maneira. Até mesmo os rivais concordaram que o título de Mika Hakkinen, se for confirmada a desclassificação das Ferraris, não terá brilho nenhum se for conquistado desta maneira. E, durante a semana, o próprio Bernie Ecclestone manifestou-se a favor da escuderia italiana. Curiosamente, o presidente da FIA, Max Mosley, colocou-se contra a Ferrari. Nada contra a escuderia italiana, mas regulamentos são para serem cumpridos, e não se pode ser conivente com os infratores. Mas pode haver esperança para a Ferrari: Mosley não é Jean-Marie Balestre, o que já é um indício de esperança. Na gestão do velho Balestre, não tinha colher de chá para ninguém. Basta lembrar o que aconteceu com Ayrton Senna no GP do Japão de 1989, há 10 anos atrás. Se Balestre ainda fosse o presidente da FIA, a Ferrari hoje estaria prestes a ser enterrada sem a menor piedade. Mas os tempos são outros, felizmente. Resta saber se para melhor, ou pior.

            Independentemente de qual seja o resultado em Paris hoje, muita coisa deve mudar na Ferrari. Algumas cabeças deverão rolar, sem falar na mentalidade da escuderia, que nos últimos anos concentrou-se em apenas 1 de seus pilotos – Michael Schumacher – e agora vê justamente aquele piloto que era relegado a segundo plano dar as maiores esperanças de título à escuderia, caso recupere a vitória obtida na Malásia. Mas, no caso de se manter a desclassificação, tudo indica que muita gente será “dinamitada” no time italiano. Luca de Montezemolo, que até agora tem se mostrado calmo sobre a situação, vai exigir satisfações e ninguém na equipe, salvo os pilotos, que não fizeram nada mais do que sua obrigação na pista, estará a salvo da ira do dirigente. E a torcida, então? Nem é bom querer saber. Haverá várias pessoas que não poderão mais pisar em solo italiano sem serem linchados publicamente...

            Pelo bem do esporte, tomara que o tribunal da FIA reveja a questão. Há um precedente que todos esperam que seja adotado novamente: o episódio em questão é o do GP do Brasil de 1995, que foi vencido por Michael Schumacher, com David Coulthard em 2º lugar. Na análise de combustível, surgiram irregularidades nas amostras, que foram alegadas como resultado da manipulação inadequada do produto. Schumacher e Coulthard foram desclassificados, mas depois a FIA voltou atrás e devolveu os pontos dos pilotos, mas não os das equipes. A FIA entendeu que os pilotos não tinham culpa de nada, e a punição ficou só para as escuderias de ambos, a Benetton e a Williams. Pode ser o caso de se repetir tal decisão, pois tanto Irvinne quanto Schumacher não tiveram nada a ver com a irregularidade nos defletores. Por outro lado, haverá que ser provado que esta medida irregular não incrementou a performance dos carros, e isso pode complicar a situação: eles teriam o mesmo desempenho com os defletores nas medidas regulares? Todos esperam que a decisão seja a mais justa e correta possível. Se uma decisão equivocada ou injusta for tomada, isso irá macular a disputa do campeonato deste ano, que até o presente momento veio se mostrando o mais equilibrado dos últimos tempos.

 

 

Na F-CART, Juan Pablo Montoya complicou suas possibilidades de ser campeão da categoria este ano. O colombiano bateu sozinho enquanto liderava o GP de Surfer’s Paradise, e com a vitória de Dario Franchiti, perdeu a liderança do campeonato para o piloto escocês. A última prova do mundial é em Fontana, nas 500 Milhas da Califórnia, onde tudo pode acontecer...

 

 

Al Unser Jr. disputa em Fontana sua última corrida pela equipe Penske e na F-CART. Sem lugar na categoria para o próximo ano, Al Jr. assinou um contrato de 5 anos com seu ex-time, a Galles, para correr na Indy Racing League (IRL) a partir da próxima temporada. Já o sueco Kenny Brack, campeão da IRL em 1998, deve passar para a F-CART em 2000, pilotando para a equipe de Bobby Rahal, no lugar do americano Bryan Herta.

 

 

O Grande Prêmio do Havaí, prova extra-campeonato que iria ocorrer em novembro e que iria ter uma premiação recorde de US$ 10 milhões, foi cancelado pela CART. A entidade não conseguiu levantar os fundos necessários para as premiações milionárias da prova.

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