sexta-feira, 22 de abril de 2022

ÍMOLA, 2022

A pista de Ímola volta a receber os torcedores na edição de 2022, depois de duas corridas sem público em 2020 e 2021, por causa da pandemia da Covid-19.

            Chegamos à quarta etapa do campeonato da Fórmula 1 de 2022, e as expectativas continuam sobre as possibilidades de mais um round no duelo Ferrari X Red Bull. E o palco é o autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, e o panorama atual não poderia ser melhor para o time de Maranello, e especialmente para os fervorosos torcedores do time rosso, que depois de duas vitórias nas três primeiras corridas deste ano, estão com a empolgação em alta como há muito tempo não se via, especialmente neste circuito, que por coincidência, é o mais próximo da sede da escuderia, em Maranello, distante do circuito em cerca de 80 Km, passando por Bolonha no meio do caminho. Durante as temporadas em que esteve presente na F-1 como sede do Grande Prêmio de San Marino, esta pista sempre foi considerada praticamente o quintal do time italiano pelos tiffosi, mais do que a pista de Monza. E com o retorno do autódromo ao calendário da F-1 em 2020, primeiro como uma das corridas arregimentadas para montar um campeonato viável em virtude da pandemia da Covid-19, e depois ganhando chance de permanecer na competição, nada mais óbvio do que ver os torcedores ferraristas retomarem este comportamento. Até mesmo porque, nas duas últimas corridas, a prova teve que ser realizada a portões fechados, devido à pandemia, que estava em alta, com casos e mortes em número muito elevado para se permitir a presença do público nas arquibancadas. Mas este ano, com o avanço da vacinação, eis que os torcedores estão finalmente de volta ao autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, e eles querem recuperar o tempo perdido.

            Ainda mais até pelo atual momento vivido pelo time italiano, uma verdadeira instituição nacional da Itália, e que depois de muito tempo, chega ao circuito com a pinta de grande favorita para a corrida, depois do que vimos nas etapas do Bahrein, Arábia Saudita, e Austrália. Charles LeClerc lidera o campeonato com duas vitórias, e uma vantagem avassaladora sobre os demais pilotos, entre eles até mesmo Carlos Sainz Jr., companheiro de LeClerc na Ferrari, e que acabou de ter seu contrato com o time rosso estendido por mais duas temporadas, até o fim de 2024, para decepção de Mick Schumacher, que ansiava por uma chance em breve de se tornar titular da escuderia. Se nas duas primeiras provas vimos um duelo acirrado entre LeClerc e Max Verstappen, até aqui o maior rival numa potencial luta pelo título, com cada um vencendo uma corrida, na Austrália LeClerc e a Ferrari dominaram a prova com maior facilidade, sem que o holandês da Red Bull conseguisse discutir a primeira posição com o monegasco, antes de sofrer um segundo abandono por quebra de seu carro.

Pelo segundo final de semana de GP, Carlos Sainz acaba batendo quando estava andando à frente de Charles LeClerc.

            E Ímola é uma pista onde, em teoria, a Ferrari deve manter sua força dominante. O circuito exige potência dos motores, e a unidade de força da Ferrari é a melhor do grid no momento. Se LeClerc chegou a Ímola determinado a manter seu comando do campeonato, Verstappen vem sobre pressão redobrada para tentar dar o troco, e impedir que o rival dispare ainda mais na classificação. Mas o holandês não deve ter vida fácil no fim de semana. Primeiro, porque, depois dos erros que cometeu em Melbourne, Carlos Sainz Jr. está determinado a recuperar o tempo perdido, e com contrato renovado, se vê ainda mais determinado a conseguir isso, especialmente para provar o merecimento de continuar em Maranello, mas de ir à caça do parceiro de equipe, e evitar ser um segundo piloto no time, algo que a cúpula ferrarista disse ainda ser muito precipitado, diante da extensão do campeonato deste ano. A se confirmar a boa forma do carro no autódromo Enzo e Dino Ferrari, a escuderia não tem por que se meter nessa cumbuca tão cedo, e se o espanhol se aproximar de Charles, isso significa necessariamente deixar Verstappen ainda mais para trás, ajudando a frustrar qualquer tentativa de recuperação do atual campeão do mundo. Na teoria, é o que deveria acontecer, mas Sainz já deu azar hoje ao bater com seu carro no Q2 da classificação para a corrida Sprint deste sábado, colocando o espanhol mais uma vez na situação de ter de correr atrás do prejuízo. Com a previsão do tempo prometendo pista seca no resto do final de semana, em tese a Ferrari tem tudo para recuperar a posição e o domínio, interrompido momentaneamente hoje com Verstappen conquistando a pole da prova de curta duração do sábado.

            Largar na frente da prova Sprint significa um revés inicial para LeClerc, que vai precisar caprichar na largada para superar Verstappen e deixar o rival para trás. Se o holandês se manter à frente, ele tem chances de se manter à frente do rival, uma vez que Ímola virou uma pista muito travada para ultrapassagens depois das obras realizadas após a corrida de 1994. E, para complicar a situação, a pista terá apenas uma zona de uso do DRS, justo na reta dos boxes, que hoje é até maior do que antigamente, mas não o suficiente para tornar a pista menos complicada para ultrapassagens. Nos velhos tempos, o trecho da reta dos boxes fazia um trecho excelente para ultrapassagens até a freada da curva Tosa, com a Tamburello e a Villeneuve sendo curvas de raio longo, que podiam ser feitas a pé embaixo, ao contrário do que temos hoje. Ávido por recuperar o terreno perdido, Verstappen vai dificultar as chances de ser ultrapassado ao máximo, e a pista ajuda neste sentido. Basta lembrar dos duelos travados entre Michael Schumacher e Fernando Alonso nas edições de 2005 e 2006, com triunfo de cada um deles em cada ano, depois de uma luta férrea pela primeira posição onde as características do circuito não ajudavam em ultrapassagem, e onde cada um lutou, de maneira limpa, pela posição e consequente defesa na própria pista. Verdade que hoje o trecho da reta dos boxes é diferente, e há o DRS, mas nem por isso se deve menosprezar as dificuldades que a pista impõe.

Max Verstappen sai na frente na corrida Sprint no sábado, mas Charles LeClerc está logo atrás do holandês. E Lando Norris sai em 3º.

            Se o atual campeão mundial ficar para trás, vai ser difícil recuperar terreno, até porque a Ferrari não vai querer perder a oportunidade de vencer novamente “em casa” depois de tanto tempo. Mas, a Red Bull também terá o dilema de superar o problema de confiabilidade do carro, por mais que tudo tenha sido revisado e consertado. Um novo abandono iria fazer o clima azedar no box dos energéticos, especialmente se ocorrer no carro do holandês...

            E nem a chuva serviu para dar um alento ao time da Mercedes, que pela primeira vez em praticamente uma década, viu seus dois pilotos não conseguirem tempo para chegar ao Q3, tendo sido abatidos no Q2: George Russel ficou em 11º, enquanto Lewis Hamilton em 13º. O carro prateado cada vez mais parece ter virado uma abóbora, e por mais que a Mercedes fale que está empreendendo esforços para “destravar” o potencial do carro, é cada vez mais patente e óbvio que o novo W13 não é um carro vencedor, e muito menos campeão. Ninguém fica no topo para sempre, e depois de oito anos de protagonismo, um tempo recorde até, eis que a Mercedes não fez um bom projeto para 2022, e já deveria começar a olhar as possibilidades para 2023, mas sem desistir de tentar melhorias no carro deste ano, dentro das possibilidades.

            Um detalhe interessante sobre a pista de Ímola é que o circuito não costuma perdoar erros. E isso pode ser visto hoje nos treinos livre e de classificação, onde quem errava tinha muita sorte em não escapar da pista. E muitos tiveram sorte de escapar em caixas de brita que não atolavam o carro, com uma ajuda providencial da chuva também. Tanto é que tivemos cinco bandeiras vermelhas, já que vários pilotos saíram da pista. Portanto, é sinal para terem cuidado redobrado, do contrário, erros podem custar muito caro na corrida, tanto na Sprint quanto na principal. E teve muitos pilotos escapando, dos menos badalados aos mais cacifados no grid. O piso seco deve ajudar, mas isso não é garantia de se evitar meter os pés pelas mãos ao volante.

            Geralmente o tempo molhado costuma ajudar a dar mais emoção às atividades de pista, mas hoje foram tantas interrupções que o efeito foi contrário, tirando a graça da competição, e impedindo que os pilotos conseguissem extrair mais dos carros. Agora é torcer para que isso seja compensado amanhã, com a primeira corrida Sprint do ano, e que isso possa ajudar a dar mais emoção à prova de domingo. E que vença o melhor...

 

 

Helmut Marko declarou há alguns dias que Max Verstappen, caso se veja inferiorizado na disputa pelo título, e até por vitórias, poderia “virar uma bomba relógio” no time da Red Bull, no sentido de que o holandês voltaria a ser agressivo ao extremo, tentando tirar do carro o que ele não pode dar, não importa o custo. Afirmou que, antes, Max tinha necessidade de ser campeão para tirar de cima de si a enorme pressão por resultados, se forçando a buscar a vitória acima de tudo, e por isso mesmo, chegando a arrumar confusões na pista com seu estilo agressivo. Bem, agora a conversa é de que Verstappen continua se sentindo pressionado, e precisa ser bicampeão para poder relaxar, e se concentrar melhor na sua pilotagem, e coisa e tal. Nesse ritmo, dali a pouco, caso seja bicampeão, a desculpa vai ser que ele continua agressivo porque precisa ser tricampeão para poder relaxar, e assim por diante. Lógico que todo piloto que compete por um time de ponta, e dotado de um enorme talento, e gana de competição, sempre vai querer ser campeão, e vencer corridas sempre. Faz parte do espírito e do jeito de ser do piloto. Mas, é preciso aprender a ser mais calmo, e entender que reveses sempre podem ser mais frequentes do que sucessos. Verstappen foi campeão no ano passado com grande merecimento, apesar da manobra polêmica da direção de prova no final da etapa de encerramento do campeonato, em Abu Dhabi. Mas começar a perder as estribeiras por se ver “inferiorizado” no duelo com a Ferrari este ano dá a entender que o holandês é mal acostumado com o sucesso, quando precisa, mais do que nunca, ter paciência e controle para tentar tirar o máximo da situação atual, dentro das possibilidades. A impaciência potencial de Max, se novamente ficar a ver navios neste final de semana, diante de um novo triunfo ferrarista, pode minar suas possibilidades na luta pelo bicampeonato mais do que o duelo contra os rivais. E tumultuar o ambiente interno na equipe dos energéticos, que certamente não está fazendo corpo mole para dar a seu piloto favorito as melhores condições que puder para lutar pelo bicampeonato. Mas, a Red Bull não é infalível, portanto, calma nestas horas, caso as coisas não saiam como o planejado. Dois abandonos em três provas de fato não é algo para deixar ninguém contente, mas nem por isso é para se perder a cabeça e ficar espevitado por não ter como enfrentar os rivais. Baixar um pouco a crista, e procurar dar o seu melhor, sem fazer estripulias, será o melhor caminho. E se ele não manter o controle, tudo pode piorar, ao invés de melhorar. E os rivais estão à espreita para tirar proveito disso.

 

 

Comenta-se que Max Verstappen não estaria se sentindo “confortável” no carro, e por isso, não vem conseguindo tirar dele a performance necessária, devido a uma falta de confiança no comportamento do bólido. Bom, se for isso, melhor ele aprender a se virar, porque muitos outros pilotos no grid, em variados momentos, tiveram que se entender com carros cujo comportamento não era o mais agradável para cada um deles. Vejamos um exemplo na própria Red Bull: no ano passado, Sergio Pérez penou para se entender com o comportamento do carro rubrotaurino, ficando muito atrás do holandês, e poucas vezes conseguindo andar no nível de Verstappen, justamente porque o carro da Red Bull tinha um comportamento difícil com o qual apenas o holandês conseguia mostrar potencial. Este ano, até aqui, a situação parece ter se invertido: apesar do mexicano ainda estar atrás do holandês, ele tem ficado muito mais perto de Verstappen, e no momento está até à frente dele no campeonato, tendo inclusive feito uma pole-position. E Sergio não tem feito maiores reclamações do comportamento do carro, fora os problemas de confiabilidade que o monoposto tem apresentado. As novas regras técnicas obrigaram os times a reprojetar praticamente do zero seus novos carros, de modo que eles precisavam de um comportamento o mais neutro possível dos bólidos. Com um carro que lhe é mais previsível, Sergio tem conseguido sentir maior confiança no novo carro da Red Bull, enquanto Verstappen se vê em na situação oposta, e por incrível que pareça, tendo dificuldades para se adaptar a esse comportamento do carro. Não é algo incomum, pois já vimos vários casos de pilotos que “casaram” com o estilo de certos carros, enquanto outros não se entendiam se jeito nenhum. E em determinados momentos, a situação parece tão inconcebível, que até mesmo o talento do piloto começa a ser questionado a respeito de não conseguir entender o estilo de pilotagem de determinados carros. Max Verstappen até aqui tem sido aclamado por muitos como o piloto mais veloz e talentoso do grid atual – mais até do que Lewis Hamilton, com muitos chegando a questionar o talento do heptacampeão atribuindo seu sucesso quase unicamente ao carro superior da Mercedes que teve em mãos – e certamente isso pode pesar nas considerações sobre seu talento nesta temporada, onde ele é o mais visado por ser o atual campeão. Pérez não tem a velocidade bruta de Verstappen, mas costuma ser um piloto que erra pouco, e que termina as corridas. Só faltava ele terminar o ano melhor que Max, justamente pelo estilo agressivo do holandês poder não casar com o carro, e arruinar vários resultados potenciais...

 

 

A Williams teve mais um momento de calvário hoje em Ímola, com o freio traseiro do carro de Alexander Albon explodindo de forma impressionante, e provocando uma bandeira vermelha no Q1. A cena, inusitada até, mostrou o carro do tailandês chegando a pegar fogo na pista. Com o problema, Albon largará em último na prova Sprint deste sábado. Nicholas Latifi, por outro lado, não foi muito mais longe que seu companheiro de equipe, e larga apenas em 18º amanhã. Parece que ainda não será neste ano que o time fundado por Frank Williams vai sair do fim do grid, para desapontamento de sua torcida...

 

 

E a MotoGP também está em atividade neste final de semana, com a prova de Portimão, no belo circuito do Algarve, em Portugal. E a chuva apareceu na pista lusitana também, embaralhando o trabalho das equipes e pilotos. Quem se deu bem foi a Honda, que liderou os dois treinos livres de hoje, com Marc Márquez sendo o mais veloz no primeiro treino, e Pol Spargaró liderando a tabela de tempos no segundo treino. Vejamos se São Pedro continuará presente na pista portuguesa no resto do fim de semana, e se o time nipônico conseguirá capitalizar o momento, seja com ou sem pista molhada. A corrida terá transmissão ao vivo pelo canal pago ESPN 4 a partir das 9 da manhã deste domingo, pelo horário de Brasília, e também pelo serviço de streaming Star+ na internet. Com duas vitórias na temporada, Enea Bastianini, da equipe Gresini, lidera o campeonato, com 61 pontos.

Nenhum comentário: