quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A TRAJETÓRIA DOS CIRCUITOS DA F-1 – AINTREE

Os últimos tempos tem sido bem complicados, com diversos problemas pessoais, o que me deixou meio enrolado com meus compromissos de natureza jornalística, em um momento já mais do que taciturno por causa da pandemia mundial que atravessamos. Mas vou tentando reorganizar as coisas, e hoje, volto a trazer um texto sobre os circuitos que já sediaram corridas do Mundial de Fórmula 1, no caso, a pista de Aintree, localizada na Inglaterra, próxima a Liverpool. Uma boa leitura, e tentarei trazer mais textos desta série dos circuitos da velocidade em breve...

 

AINTREE

 

            Os fãs da velocidade sabem de cor que a sede do Grande Prêmio da Grã-Bretanha de Fórmula 1 é o autódromo de Silverstone, que está presente na categoria máxima do automobilismo desde a primeira temporada, disputada lá em 1950. Na verdade, a F-1 nasceu em Silverstone, no dia 13 de maio de 1950, quando foi disputado ali o primeiro GP do novo campeonato mundial que viria a ser o mais importante e famoso do mundo. Mas muitos não imaginam que Silverstone não esteve presente em todas as temporadas desde aquele primeiro GP.

            Certo, muitos ainda lembram que a F-1 correu também em Brands Hatch, que durante algum tempo revezava-se com Silverstone como sede do GP inglês, e em alguns momentos, as duas pistas até fizeram parte do mesmo campeonato, com uma delas sediando o “GP da Europa”, artifício usado em várias temporadas para se realizar mais de um GP em um mesmo país, com exceção da Itália, que durante muitos anos, teve duas corridas, nas pistas de Monza e Ímola, com esta última sediando o “GP de San Marino”, e ultimamente, o GP da Emilia-Romagna.

            Mas, houve outro circuito que, nos tempos românticos da F-1, também sediou o GP inglês. E este circuito foi a pista de Aintree, localizado ao lado da cidade de Liverpool, na cidade de mesmo nome. E onde foram disputados os GPs da Grâ-Bretanha das temporadas de 1955, 1957, 1959, 1961, e 1962, revezando-se justamente com a pista de Silverstone. O traçado utilizado pela F-1 tinha 4,828 Km de extensão, e 8 curvas. Mas o mais interessante é que Aintree não era exatamente um autódromo, mas uma pista de corrida de cavalos. Sim, era um hipódromo, originalmente, e na verdade, nunca deixou de ser, até os dias de hoje.

            Em meados dos anos 1950, apesar do grande público que o hipódromo atraia para as disputas de cavalos no local, o fato de serem poucas provas disputadas ali não gerava renda suficiente para cobrir as obrigações e despesas deste tipo de competição. E então a proprietária do local, Mirabel Topham, teve a ideia de construir um circuito para competições automobilísticas ali, logo após uma visita a Goodwood. E o plano do circuito era ambicioso, com o objetivo de trazer logo de cara a F-1. E em um gasto de cerca de 100 mil libras, em um espaço de três meses apenas, eis que Aintree ganhava seu circuito de corridas, batizado de Aintree Circuit Club. Uma jogada inteligente era utilizar a grande estrutura de arquibancadas e apoio ao público para usar como trunfo para atrair as competições automobilísticas, e de fato, para a época, a infraestrutura presente no local era muito superior às encontradas até então em outros circuitos que sediavam grandes prêmios, de modo que não foi difícil convencer o pessoal da F-1 a ir para lá. E no dia 16 de julho de 1955, a F-1 disputava seu primeiro GP na nova pista. E o grande público presente não poderia ter melhor presente do que ver seu então grande ídolo das pistas, Stirling Moss, fazer a pole-position, e vencer a corrida, além de marcar a melhor volta da prova. E ele repetiria o feito na prova disputada em 1957, para delírio dos fãs. O fato do terreno ser completamente plano era muito bom, pois o público podia acompanhar praticamente tudo o que se passava no circuito.

 


 

Os dois traçados de Aintree, com o traçado GP (em verde e amarelo), utilizado pela F-1, e o traçado Club (em amarelo).

 

            Apesar de um traçado interessante, e das corridas atraírem um grande público, a evolução dos carros da F-1 começou a criar dificuldades para o circuito, que continuava com as mesmas instalações e infraestrutura, e em especial a segurança, que passava a exigir áreas de escape maiores, que não podiam ser construídas em todos os pontos necessários, infelizmente se tornaram um obstáculo intransponível para a F-1 continuar correndo ali. Sem ter como atender a estes requisitos, Aintree viu pela última vez os bólidos da categoria máxima do automobilismo no dia 21 de julho de 1962, com direito a pole-position, vitória, e ainda melhor volta da prova com Jim Clark, o novo ídolo dos fãs britânicos da velocidade. E, só para se ter uma idéia da evolução da performance dos carros de F-1, Stirling Moss havia feito a primeira pole-position no circuito com o tempo de 2min00s400, enquanto Clark já fez o tempo de 1min53s600, quase 7s mais rápido. Já a volta mais rápida de Moss em 1955, que foi a volta da pole, com 2min00s4, teve seu tempo reduzido para 1min55s0 por Clark em 1962. A escalada da velocidade dos F-1 infelizmente inviabilizou sua permanência em Aintree com as características da pista, impossibilitada sua modernização.

            Aintree viu a F-1 partir para nunca mais retornar, mas continuou a sediar corridas de campeonatos menores, e tinha uma parte da pista, chamada de Club Circuit, com cerca de 2,205 Km de extensão, que era utilizada para testes, filmagens, e atividades de pilotagem do autoclube local. Nos anos 1960, a pista mudou de propriedade, mas os novos donos, que tinham planos de transformar o terreno em um empreendimento imobiliário, acabaram topando com proibições que restringiam as atividades no local às corridas, não conseguindo levar adiante seus planos. Assim, a pista, tanto de cavalos, quando o circuito menor, foram permanecendo. Houve uma paralisação destas atividades durante alguns anos, mas nos últimos tempos, Aintree viu estas atividades retornarem. O antigo circuito utilizado pela F-1 hoje infelizmente não tem mais como ser usado, com o trecho que era a reta dos boxes ocupado por infraestrutura de arquibancadas. A pista menor continua com as atividades do autoclube local e para outras atividades, e foi construído também um campo de golfe dentro do espaço do circuito. Hoje, o circuito está sob a responsabilidade do Liverpool Motor Club. As corridas de cavalos continuam a ser disputadas. Em 2004, comemorando os 50 anos de existência do circuito, o Aintree Circuit Club organizou o Aintree Festival of Motorsport, reunindo uma coleção invejável de mais de 250 carros históricos, com direito a dois bailes de gala, que tiveram ninguém menos do que Stirling Moss, Tony Brooks e Roy Salvadori como anfitriões.

 


 

Largada da prova de 1959 do GP de F-1 em Aintree. Notar do lado interno o traçado utilizado pelas corridas de cavalos. Naquele ano a pole foi conquistada por Jack Brabham, também vencedor da corrida.

 


 

Acima, a antiga reta dos boxes em Aintree, nos dias de hoje, com a pista das provas de cavalos do lado interno. Abaixo, quase o mesmo ponto, com o público acompanhando uma das corridas de cavalo no local.

 


 

 

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