sexta-feira, 29 de outubro de 2021

A REDENÇÃO DE QUARTARARO

Fabio Quartararo (acima) conquistou o título na etapa da Emilia-Romagna, em Misano, e redimiu-se a si próprio, e à Yamaha na MotoGP (abaixo).


            Faltando duas etapas para encerrar a temporada da MotoGP 2021, a classe rainha do motociclismo já tem o seu campeão coroado: Fabio Quartararo, que consegue levar a Yamaha de volta ao topo da MotoGP, seis anos depois do último título conquistado pela equipe dos três diapasões, com Jorge Lorenzo, em 2015. A conquista do título por antecipação veio neste último domingo, com um 4º lugar na etapa da Emilia-Romagna, na segunda corrida disputada no ano no circuito de Misano, na Itália, mas o triunfo foi sacramentado a poucas voltas do final da prova, quando Francesco Bagnaia, da equipe Ducati, o único ainda em condições de adiar a conquista do piloto francês, acabou caindo quando rumava para a vitória, e dava adeus aos sonhos de tentar tirar o time italiano da fila de espera.

            Mas a conquista de Quartararo, embora facilitada pelo tombo do rival, não veio apenas por isso. O piloto venceu nada menos do que cinco corridas na temporada, e desde que assumiu a liderança da competição, demonstrou um controle e eficiência ímpares entre os pilotos na competição. Fabio terminou todas as corridas, e em apenas uma delas, o GP da Espanha, em Jerez de La Fronteira, terminou a prova fora do TOP-10, recebendo a bandeirada em 13º lugar. Marcou pontos em todos os GPs. Largou cinco vezes consecutivas na pole-position. Somou mais cinco pódios, e sempre que a vitória não estava ao alcance, terminava entre os primeiros, enquanto a grande maioria dos rivais potenciais viviam de altos e baixos nas corridas.

            Foi de uma grande ajuda também a Yamaha conseguir uma certa estabilidade no seu equipamento, depois de penar com muitas performances irregulares nas últimas temporadas, o que complicou a vida de seus pilotos. Não que o time nipônico não tenha enfrentado alguns problemas este ano também, mas Quartararo conseguiu driblar a maioria deles, quando não minimizar seus efeitos. Uma diferença gritante de resultados, quando comparado com os de Maverick Vinãles, que começou o ano vencendo no Qatar, mas depois que acabou suplantado pelo novo parceiro de equipe algumas provas depois, desandou completamente e acabou por se desentender com a escuderia, encerrando prematuramente seu contrato, e só não terminando o ano a pé porque a Aprilia antecipou seus serviços no final do campeonato, após o espanhol acabar suspenso pela própria Yamaha.

            Quartararo passou do descrédito à glória, se compararmos sua temporada de 2020 com a deste ano. O francês começou a competição do ano passado de forma ímpar, vencendo as duas primeiras provas, e dando a entender que poderia ser o grande favorito em um ano onde Marc Márquez ficava de fora após se acidentar na corrida inaugural. Mas, conforme a temporada avançada, alguns resultados não tão bons fizeram Fabio perder a concentração, e por tabela, o rumo do campeonato, enquanto a concorrência crescia, e se tomava a frente na classificação, inclusive por parte de seu próprio companheiro de equipe, Franco Morbidelli, que entrava na disputa pelo título, e deixava o parceiro comendo poeira. A pressão de mostrar serviço, e com o anúncio já feito de que neste ano ele subiria ao time oficial de fábrica, no lugar de Valentino Rossi, certamente pesou para desestabilizar o piloto, que praticamente sumiu da disputa pelo título na segunda metade da temporada de 2020. Será que a Yamaha seria demais para o até então talentoso piloto que encantara o público na primeira metade da temporada?

Com uma Suzuki que ficou devendo, Joan Mir não teve como defender seu título e lutar pelo bicampeonato em 2021.

            Quartararo sentiu o baque, e tratou de procurar ajuda para trabalhar melhor a mente, e as cobranças naturais que adviriam de defender um time de fábrica, e ainda por cima, entrar no lugar de uma lenda do motociclismo. Uma ajuda mais do que necessária, e que o piloto soube tirar o máximo proveito, já que logo na segunda corrida de 2021, ele vencia sua primeira corrida com uma moto do time oficial, e parecia mostrar ter deixado a fase ruim para trás. Uma impressão reforçada pelo segundo triunfo, consecutivo, obtido em Portugal. Para a Yamaha, nada poderia ser melhor: três corridas, e três vitórias consecutivas. A escuderia, contudo, precisou ver que não estava com essa bola toda na etapa da Espanha, onde não apenas Quartararo foi apenas o 13º, como Viñales terminou em 7º. Era preciso ficar atento a alguns problemas na competitividade da moto, e não menosprezar a concorrência, em especial da Ducati, que com Jack Miller, faturou duas corridas consecutivas, em Jerez, e em Le Mans. A moto italiana já tinha demonstrado ser muito rápida, mas o fato de ter trocado sua dupla titular de 2020 para 2021 exigiu alguns ajustes no time, que começara bem com Francesco Bagnaia subindo ao pódio, e rondando as primeiras colocações. A hora que o time italiano aparasse as arestas, seria uma grande ameaça.

            Mas foi a partir da corrida em Mugello, na Itália, que Quartararo retomou as rédeas da competição. O francês venceu o GP da Itália, conquistando sua terceira vitória na temporada, enquanto a Ducati só brilhou com Johaan Zarco, no time satélite da Pramac, que vinha impressionando desde o começo do ano, mas sem conseguir dar o passo final para entrar de vez na disputa do campeonato, ficando patente uma certa desvantagem de performance em seu equipamento. Para facilitar as coisas para Quartararo e a Yamaha, Joan Mir e a Suzuki, que haviam sido campeões em 2020, não demonstravam a mesma capacidade de repetir o feito em 2021, com o então campeão reinante tendo apenas dois pódios até então, mas penando para tentar avançar entre os primeiros colocados. E Marc Márquez e a Honda... Bem, o hexacampeão conseguiu enfim fazer o seu retorno, na terceira etapa, em Portimão, mas estava longe de mostrar a imensa performance dos anos anteriores, demonstrando que sua recuperação ainda demandaria mais tempo, enquanto a Honda mostrava ainda ser extremamente dependente da “Formiga Atômica”, por insistir em competir com uma moto que não era tão boa quanto poderia ser. E a SRT, que no ano anterior havia surpreendido e até disputado o título, regrediu bastante este ano, apesar de Valentino Rossi, e do talento de Morbidelli. O ítalo-brasileiro até conseguiu um pódio, mas o “Doutor” não conseguia terminar dentro do TOP-10, mostrando que o time tinha mais problemas do que a performance de sua moto.

            A grande sorte de Quartararo é que a concorrência oscilava muito. Ora a Ducati vencia, ora a KTM, que depois de surpreender em 2020, também estava penando neste ano, também conseguiu subir ao degrau mais alto do pódio. E Márquez, mesmo sem estar fisicamente 100%, mostrava que seu talento de campeão lutava para ressurgir, ao vencer também na Alemanha, para alento da Honda, que há quase dois anos não tinha tal privilégio. Mas apenas Fabio conseguia engatar bons resultados. Maverick Viñales, depois do triunfo na primeira corrida, não foi mais o mesmo, não conseguindo se entender com sua moto, e até mesmo com o time. O espanhol só foi se reencontrar em Assen, na Holanda, onde o que deveria ser uma comemoração por voltar ao pódio acabou se transformando em frustração por ter perdido a vitória no duelo que travou com Quartararo, que vencia pela 4ª vez no ano, e se distanciava cada vez mais na liderança do campeonato. Aí, o clima azedou de vez entre Viñales e a escuderia, que suspendeu o piloto da segunda corrida em Zeltweg, na Áustria, pelo comportamento inadequado do piloto para com seu equipamento na corrida anterior.

Francesco Bagnaia bem que tentou, mas queda em Misano entregou o título antecipadamente a Quartararo.

            Com a decisão da Yamaha de não alinhar Maverick na etapa seguinte, em Silverstone, o que poderia ser uma temporada de júbilo para o time nipônico terminava em um divórcio antecipado com a dispensa do espanhol. Indiferente a isso, Quartararo faturava sua 5ª vitória na temporada, e era o favorito disparado para o título, prometendo uma redenção não apenas para a Yamaha, como para ele próprio, depois do que ocorrido no ano passado. Mas, a imensa vantagem acumulada pelo francês poderia embutir displicência e falta de concentração pelo clima de “já ganhou”, e permitir a reação dos adversários. Uma repetição do ocorrido em 2020 seria improvável, mas não se poderia baixar a guarda.

            E olhe que isso quase aconteceu: Francesco Bagnaia, que vinha numa temporada inconstante com a Ducati oficial, resolveu desembestar finalmente, e venceu as etapas de Aragón e San Marino, numa arrancada que poderia ser preocupante. Mas, felizmente, Quartararo se manteve no controle, e depois de um 8º lugar em Aragón, o francês voltou ao pódio com um 2º lugar em Misano, controlando a aproximação do italiano, que teria de precisar e um milagre para discutir o título com Fabio, devido à sua significativa vantagem na pontuação. Aproveitando as oportunidades, Quartararo voltou a abrir vantagem na etapa dos Estados Unidos, de modo que Bagnaia só poderia adiar o inevitável, e o piloto da Ducati até que estava conseguindo isso na segunda corrida de Misano, empurrando a definição do título para a etapa do Algarve, ou com muita sorte, estendendo a disputa até a prova de Valência, no encerramento da temporada. Mas a Ducati teve um domingo para esquecer. Primeiro, Jack Miller, que poderia fazer um bom jogo de equipe com Francesco, acabou caindo sozinho, e deixando o parceiro sozinho na luta pela vitória, enquanto um aguerrido Quartararo largava em 15ª e ia se aproximando dos ponteiros, mas sem chances de discutir efetivamente a vitória.

            Mas aí, a queda, e ficando sem marcar pontos, entregou os pontos, fazendo de Quartararo o campeão coroado da temporada 2021 da MotoGP, com todos os méritos. Fabio soube se manter sempre focado durante todo o ano, evitando se meter em confusões, e sabendo atacar nos momentos certos, e em garantir resultados quando a situação exigia, algo que seus rivais não conseguiram realizar durante o ano. A Bagnaia e à Ducati, resta agora garantir o vice-campeonato de pilotos, algo que não deve ser muito difícil, já que o italiano tem 27 pontos de vantagem para Joan Mir, que ocupa a 3ª colocação, e que dificilmente deve conseguir superar Francesco. O que não quer dizer que o campeão de 2020 não vá tentar, até porque ele tem que se preocupar com Johaan Zarco, que está 23 pontos atrás, e apesar da temporada muito irregular, ainda está com o piloto da Suzuki na mira. E Zarco, que durante parte da temporada foi o melhor piloto da Ducati na classificação do campeonato, tenta se manter à frente de Jack Miller, do time oficial, separados por 3 pontos, que por sua vez, vê Marc Márquez, depois de dois triunfos consecutivos, crescer assustadoramente no seu retrovisor, mesmo com o piloto da Honda acusando sua recuperação ainda incipiente, mas já ocupando a 6ª posição na classificação, 7 pontos atrás do segundo piloto da Ducati, e querendo lembrar aos colegas que deverá estar em ponto de bala no próximo ano.

            Com duas corridas para fechar o ano, Quartararo ainda pode aumentar o seu número de vitórias, podendo correr agora mais solto, com o título já decidido a seu favor. O pior já passou, e Fabio conseguiu dar a volta por cima com muita categoria, colocando-se desde já como o piloto a ser batido para a próxima temporada, onde a competição certamente será bem mais feroz, com a Ducati conseguindo extrair mais de sua dupla de pilotos, e quem sabe, se acertando melhor fora da pista, algo que ainda ficou devendo neste ano, e tendo um provável totalmente recuperado Márquez pronto para tentar reconquistar sua coroa de campeão, e uma Suzuki querendo mostrar que a conquista de 2020 não foi um resultado anormal. E não podemos esquecer também de Franco Morbidelli, que devidamente recuperado da cirurgia que precisou fazer a meio desta temporada, ainda está se familiarizando com o time oficial da Yamaha, para onde foi promovido após a dispensa de Viñales.

            Façam suas apostas para a próxima temporada...

 

 

Faltando apenas as etapas de Algarve (Portimão) e da Comunidade Valenciana (Valência), encerra-se também a carreira de Valentino Rossi na MotoGP. Aos 42 anos de idade, mesmo demonstrando se divertir em competir, o “Doutor” já se rendeu à realidade, e que é hora de pendurar o capacete nas duas rodas. Infelizmente, devido à performance fraca da equipe SRT na atual temporada, Rossi não terá chances de subir uma última vez ao pódio, mas ao menos, domingo passado, ganhou um troféu em sua homenagem na pista de Misano, naquela que foi sua última corrida na classe rainha do motociclismo em solo italiano. Valentino foi aplaudido pela torcida presente no autódromo, e pelos colegas da categoria, pelo que ele representou na MotoGP desde que estreou na competição, nas classes de acesso, quando ainda tinha 17 anos, em 1996. Uma era se encerra, e estaria começando uma nova, com Fabio Quartararo? Ainda é cedo para dizer, afinal, foi apenas a conquista do título de 2021, e não sabemos o que o futuro reserva para o francês que assumiu o lugar que era de Rossi no time de fábrica da Yamaha,  conseguiu honrar a aposta do time. Na corrida de domingo, Rossi largou em 23º, terminando na 10ª posição, igualando o resultado da etapa de Mugello. Seu melhor resultado até agora em 2021 foi na segunda prova de Zeltweg, onde terminou em 8º lugar. Sua melhor posição de largada foi na primeira corrida, em Losail, onde largou em 4º, e finalizou em 12º. Na etapa de Misano, seu próprio time, a VR46, fez uma homenagem ao “Doutor”, com Luca Marini utilizando uma pintura especial amarela, igual à do capacete de Valentino, e com os dizeres “Grazie, Vale!” (Obrigado, Vale!) estampado na carenagem, homenagem que também foi feita pela escuderia na categoria Moto2.

Rossi: despedida junto aos fãs em Misano.

 

 

Max Verstappen pode ter dado um passo importantíssimo para conquistar o título da temporada 2021 da F-1 ao vencer o GP dos Estados Unidos, domingo passado, em Austin, após um duelo impecável com Lewis Hamilton, que terminou a corrida em 2º lugar, e viu o piloto holandês abrir 12 pontos na classificação do campeonato, restando cinco corridas para encerrar a temporada. Em uma pista onde se esperava que a Mercedes pudesse ter vantagem, a Red Bull conseguiu inverter as posições, e mostrar que estava firme na briga pela vitória, com Verstappen conquistando a pole-position, e Sergio Perez largando em 3º. Hamilton até conseguiu liderar parte da corrida, mas o time austríaco ousou na estratégia de prova, e conseguiu dar as condições para Max arrebatar a vitória, apesar da forte pressão do inglês nas voltas finais da corrida, onde chegou bem perto, mas nunca em condições de tentar uma ultrapassagem. Vencido, mas não derrotado, Hamilton deu seu aviso: a luta pelo título ainda não acabou, e ele vai dar o melhor de si. Os dois pilotos fizeram praticamente uma prova à parte no Circuito das Américas, deixando Perez a mais de 40s de distância na 3ª colocação, e mostrando porque são os grandes protagonistas da temporada atual da F-1. Semana que vem temos a prova na Cidade do México, e depois, aqui em São Paulo, e a expectativa de novos duelos imperdíveis entre os dois pilotos...

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