quarta-feira, 26 de maio de 2021

MÔNACO 2021

OBS: Postagem do dia 21.05, lançada agora devido a problemas de saúde. Desculpas pelo atraso. Boa leitura a todos.

Mônaco está de volta à F-1, mas o que a corrida no principado significa ainda para a categoria máxima do automobilismo nos dias atuais?

            No ano passado, em virtude da pandemia da Covid-19, eis que tivemos o primeiro campeonato desde os anos 1950, sem a presença do Grande Prêmio de Mônaco na temporada da Fórmula 1. Este ano, a charmosa corrida nas ruas do famoso principado localizado entre França e Itália está de volta. A pandemia, infelizmente, ainda está mais do que presente, e a vacinação segue a trancos e barrancos, de forma irregular na maior parte do mundo, especialmente aqui no Brasil, onde tentamos seguir com a vida do jeito que dá, esperando por dias melhores que infelizmente demorarão a chegar, do jeito que as coisas andam, ou melhor, desandam, por aqui... Mas teremos corrida em Monte Carlo, e com ela, as esperanças de dar uma chacoalhada na temporada, que pareceu ter entrado nos eixos para Lewis Hamilton e a Mercedes, depois de um início de competição onde a Red Bull prometia dar as cartas, desde que não abrisse a guarda.

            Pois bem, e é nessas horas que também surge uma pergunta sempre presente, que é o que Mônaco significa para a F-1 nos dias de hoje. As expectativas não são as mais entusiasmantes para a corrida de domingo, pois as estreitas ruas do principado a cada edição parecem ser ainda mais impensáveis e adequadas para um GP de F-1. Na verdade, uma sensação que já vem de longe, muito longe. Nélson Piquet, quando corrida na F-1, e morava em Mônaco, já dizia que correr em Monte Carlo era como andar de bicicleta dentro de casa, e isso lá nos anos 1980. Disputar posição na pista, então, era um suplício, pois se o piloto da frente não cometesse um erro, não havia muito o que se fazer, a não ser arriscar numa tentativa de ultrapassagem que era um deus nos acuda, com muita expectativa de dar muito errado. E mesmo assim, até aqueles tempos, Mônaco ainda rendia algumas corridas com boas disputas, dependendo de qual piloto você torcesse, ou não.

            E são os ares diferenciados do circuito monegasco, o menor da F-1, e com a menor distância de GP percorrida na temporada, que junto ao charme único do principado, que mantêm esse GP no calendário. Apenas lá, nos dias de hoje, ainda é possível sentir o clima dos velhos Grand Prix, que permeava as corridas do período romântico dos primórdios da F-1. É em Mônaco também que costumam ser celebrados os grandes contratos comerciais da categoria, e o clima de badalação deste GP o tornam o lugar onde todos querem ser vistos, e aparecerem. A corrida, por mais chata que possa ser, com as inerentes dificuldades de se ultrapassar na pista, tem suas particularidades, que é oferecer uma chance a pilotos onde eles dificilmente encontrariam outras oportunidades. Mônaco é um circuito onde, costuma-se dizer, os pilotos têm de provar o salário que ganham, e em determinados momentos, se permitem conseguir algumas proezas, graças às particularidades do circuito, que privilegiam o talento, e costumam ser implacáveis com os erros de pilotagem.

            Que outro circuito no mundo teria permitido a Roberto Moreno classificar a carroça da Andrea Moda na temporada de 1992? Moreno conseguiu a última posição do grid naquele ano, e andou por um bom par de voltas, até seu carro quebrar, mas todos no paddock elogiaram a performance do piloto brasileiro, de conseguir alinhar aquele carro pouco competitivo. Foi também no circuito monegasco que em 2014, Jules Bianchi conseguiu com a Marussia os únicos pontos de uma das equipes que haviam sido introduzidas na F-1 em 2010, ao terminar em um heroico 9º lugar com a escuderia, que desapareceria pouco tempo depois. Bianchi, que sofreria mais tarde um acidente pavoroso no GP do Japão, e faleceria meses depois em decorrência disso, pode ser considerado o último “herói” ungido nas ruas de Monte Carlo.

Em 1996, Olivier Panis e sua Ligier conseguiram se manter na pista, para vencer nas ruas do principado, com apenas três carros recebendo a bandeirada de chegada.

            E sem mencionar que, em 1996, apenas três carros receberam a bandeirada de chegada, naquela que foi a última vitória da equipe Ligier, com Olivier Panis, após todos os favoritos ficarem pelo meio do caminho, numa das grandes zebras do ano naquela temporada. Algo insólito, já naquela época, e que soa ainda mais inverossímel nos dias de hoje.

            As opções de corrida nessa pista podem parecer limitadas, mas é sempre a chance de sair algo do script tradicional que anima as chances de, mesmo com uma corrida ruim, termos um bom GP para o campeonato. Depois das etapas de Portugal e da Espanha, a temporada de 2021 parece ter dado uma guinada mais tradicional para o domínio da Mercedes e de Lewis Hamilton. Não um domínio destacado como o dos últimos anos, mas um encaminhamento mais discreto, que pode indicar que a disputa pelo título na temporada pode não ser tão acirrado como todos esperavam. Até a Red Bull e Max Verstappen acusaram o golpe, depois do que vimos no GP da Espanha, onde a Mercedes e o piloto inglês aplicaram um nó tático no time dos energéticos dando a entender que o time alemão está retomando as rédeas do campeonato, e com isso, começando a deixar a concorrência, em especial Verstappen e a Red Bull, para trás, em mais um ano onde devem conquistar o título, e talvez com mais facilidade do que todos imaginavam inicialmente, quando se esperava uma Red Bull mais forte do que nunca. Afinal, Hamilton abria 14 pontos de vantagem, a maior na temporada, e com tendência de até aumentar. Por mais que se defendesse que ainda era cedo para jogar a toalha, eram precisas condições especiais para que a competição pudesse ter uma chance de reequilibrar o jogo. E é aí que entram as condições especiais de Mônaco, que podem render justamente o que a temporada precisa para voltar a se apresentar mais acirrada.

Em 1992, Roberto Moreno foi aplaudido por conseguir classificar a raquítica Andrea Moda no grid em Monte Carlo.

            Afinal, como garantir que a Mercedes não consiga em Monte Carlo exibir o mesmo rendimento dos GPs mais recentes? E se a Red Bull, que em tese tem um carro mais ágil, conseguir sair na frente das rivais Mercedes? Isso poderia dar uma embaralhada nas opções da corrida, lembrando que não apenas a Red Bull pode tentar se aproveitar as condições de pista particulares do principado, como também as outras escuderias. E se a Ferrari, ou McLaren, ou até mesmo Aston Martin, ou Alpine, ou Alpha Tauri, conseguirem se ajustar melhor à pista. Vale lembrar de outro detalhe interessante, que é o fato do traçado monegasco ser de baixa velocidade, o que em tese privilegia mais a aderência mecânica do que aerodinâmica, já que temos apenas um ponto de maior velocidade em toda a pista, o trecho do túnel, e mesmo assim, onde os carros não atingem as altas velocidades facilmente obtidas em outros circuitos. A qualificação em Mônaco é a mais importante do ano, e geralmente a pressão em não errar também produz resultados às vezes inesperados. É bem verdade que antigamente era mais fácil um piloto conseguir driblar as adversidades do que em tempos mais recentes, mas as possibilidades, ainda que menores, de um piloto surpreender, e largar mais adiante no grid, oferece algumas chances de surpresas.

            E, para a corrida, temos o problema das estratégias. Quem tiver o azar de largar atrás vai ter de caprichar na tática de corrida para tentar chegar mais à frente. Geralmente, tentar adiar a parada de box, e tentar conseguir manter um ritmo que permita superar os adversários se as oportunidades surgirem. Mas também toda a tática pode ir pelo ralo, dependendo das circunstâncias de prova, em especial se houver a entrada do Safety Car. Lembremo-nos: é a pista mais estreita de todo o campeonato, e não é difícil algum piloto errar sua aproximação, e acabar beliscando o guard-rail, ou até mesmo sofrendo uma batida. E isso pode complicar com toda a corrida, dependendo da posição em que cada piloto estiver na pista. É uma corrida onde temos gruas estrategicamente localizadas nos mais diversos pontos da pista, e com comissários experientes que por mais que possam tentar retirar carros batidos, sempre terão dificuldades em conseguir fazê-lo com a expertise que vemos em outros locais. E com a pista estreita, eventuais batidas podem bloquear toda a pista, ou dificultar sobremaneira sua passagem. Portanto, em alguns aspectos, podemos ter até mesmo bandeira vermelha, se a pista ficar obstruída, em virtude de algum acidente. E aproveitar estes momentos de caos nem sempre é algo que se possa fazer a contento, já que o espaço de manobra é ínfimo, e em caso de haver algum incidente, é mais um caso de sorte do que providência conseguir tirar proveito de um momento inesperado.

            Mas, falo da corrida, e não podemos nos esquecer que os desafios da pista de Mônaco já se apresentam aos pilotos desde o primeiro minuto dos treinos livres, que em Monte Carlo, são realizados na quinta-feira. Os guard-rails estão lá, juntinhos da pista, e parecem exercer uma atração “irresistível” a alguns pilotos. E já tivemos algumas batidas consideráveis nas ruas do principado, com danos extremos aos carros, diante da velocidade de algumas pancadas. Se o piloto tiver sorte de não se machucar, em caso de algum desaire ou despiste, sobra para os mecânicos, que terão o trabalho penoso de recuperar o carro, e que pode comprometer com toda a estratégia para o final de semana, até porque nos dias de hoje os times não tem mais o recurso do carro reserva que víamos antigamente, e que solucionava alguma das crises que os times passavam em caso de alguma colisão inesperada. E isso quando apenas o piloto batia sozinho; já houve casos de pilotos se estranhando no meio da pista, e com consequências bem danosas para seus bólidos, mas que felizmente, ficavam restritas mais a isso.

Jules Bianchi, em 2014, conseguiu um improvável 9º lugar em Mônaco, dando os únicos pontos de toda a história da Marussia na F-1.

            No momento em que este texto está sendo fechado, já tivemos os treinos livres da quinta-feira no principado, e ao que tudo indica, teremos uma Ferrari surpreendendo e podendo se intrometer no que já seria um duelo interessante entre Mercedes e Red Bull pelas principais posições na pista. Ótimo para a competição, que poderá ter maiores opções de disputa potencial. Um desastre para quem ficar atrás, obviamente, pois terá de lidar com adversários inesperados que podem comprometer todo o planejamento feito. E quem tiver mais competência, ou sorte, pode se dar bem neste jogo de cartas que é a pista de Mônaco. O pessoal sempre se queixa da previsibilidade que a F-1 se tornou nos últimos tempos, mas em Monte Carlo, os dados da roleta por vezes costumam aprontar com as expectativas, e eis que temos ainda algumas surpresas onde, em tese, não deveríamos esperar mais nada além do óbvio. Podem não ser as melhores oportunidades que aparecerão, mas é bem possível que o resultado da corrida, se não for favorável à Mercedes, tem tudo para dar uma bagunçada na classificação, e garantir um pouco de emoção para as próximas corridas, se o time alemão não conseguir ter os resultados que planeja. Com sorte, os dados da roleta do Cassino de Monte Carlo podem nos oferecer, na melhor das hipóteses, o relançamento do campeonato, se o pior ocorrer para os lados dos alemães, e principalmente de Lewis Hamilton, que há um bom tempo não tem tido um GP realmente ruim na competição. Por outro lado, não é difícil também ocorrer o contrário, com a Red Bull tendo mais problemas, como pareceu nos treinos desta quinta-feira, e ver seu potencial calvário aumentar ainda mais. Pode ocorrer de tudo em Mônaco, e nem sempre os dados rolam de maneira favorável como gostaríamos que fosse.

            Por essas e outras, Mônaco ainda oferece algo que a F-1 precisa, que é sua imprevisibilidade. E, claro, termos um pouco do glamour e charme, ainda mais nestes tempos de pandemia desvairada que estamos vivenciando, é sempre bom para tentarmos recuperar um pouco da auto estima, e sonhar com dias mais normais em breve, tanto quanto possível. Que venha a corrida de Mônaco, e que possamos ter algum agito na luta pelo campeonato de 2021...

 

 

E o Grande Prêmio da Turquia, marcado após o cancelamento da etapa do Canadá, acabou indo para o brejo. Infelizmente, as condições da pandemia no país turco acabou por comprometer a viabilidade da realização do GP de F-1, apesar de todas as precauções e cuidados tomados pela categoria máxima do automobilismo. A situação da pandemia na Turquia não está em seus melhores dias, e não há muito o que se fazer no momento. Para manter o número de GPs da temporada, eis que foi promovida novamente a realização de uma rodada dupla, com a Áustria a sediar novamente duas corridas consecutivas, o GP da Áustria, e em seguida, o GP da Estíria, como foi feito no ano passado, na rodada dupla que abriu a temporada de 2020. Com isso, teremos o GP do Azerbaijão no dia 6 de junho. O GP da França foi antecipado para o dia 20 de junho, e no dia 27 de junho, teremos então o GP da Áustria, seguido então pelo GP da Estíria, marcado para o dia 04 de julho. Agora, é esperar para ver se as demais corridas da temporada poderão de fato ser realizadas. Após a nova corrida da Estíria, teremos dia 18 de julho o GP da Grã-Bretanha, que não deve ter problemas de ser realizado, diante da vacinação em curso no país bretão, que segue firme, e com os casos de Covid-19 em queda. Até o fim de setembro, com as corridas na Europa, o campeonato deve ocorrer sem maiores percalços. A situação pode complicar a partir de outubro, com as corridas a serem realizadas fora do Velho Continente, começando no dia 3 de outubro em Singapura, e no dia 10 de outubro, no Japão. A corrida seguinte, no dia 24 de outubro, nos Estados Unidos, não deve ter problemas, uma vez que o país está bem adiantado na sua vacinação. Fica a dúvida a respeito das etapas seguintes, como o México, Brasil, e Austrália. O país da Oceania só deve se abrir para o mundo no ano que vem, mesmo com a pandemia relativamente controlada por lá. Já México e Brasil enfrentam descalabro da pandemia, diante de uma vacinação incipiente até o presente momento. E Arábia Saudita e Abu Dhabi devem realizar as corridas normalmente. Mesmo assim, é preciso ver como estará o panorama mundial daqui a alguns meses, e ver como estará o comportamento da pandemia nesse meio tempo. Torçamos para o melhor dos prognósticos, a fim de que esse pesadelo possa acabar o quanto antes, algo que infelizmente, ainda vai ser meio difícil, pelo que estamos vendo ocorrer mundo afora...

 

 

E temos neste final de semana a classificação para as 500 Milhas de Indianápolis, que serão disputadas no próximo dia 30 de maio, e com um público presente de aproximadamente 135 mil pessoas, que poderão estar presentes nas arquibancadas do Indianapolis Motor Speedway, graças à intensiva campanha de vacinação empreendida nos Estados Unidos, com as vacinas mais eficazes vistas até agora, das empresas Pfizer/Biontech, Moderna, e Johnson e Johnson. Mais da metade da população adulta dos EUA já recebeu alguma dose do imunizante, e os números, apesar de ainda um pouco elevados, vem caindo sistematicamente, dando esperanças de que o mesmo ocorra nos demais países tão logo consigam disponibilizar vacinas em igual número para imunizar as populações. E uma grande diferença em relação ao ano passado, quando a Indy500 teve sua realização adiada para o mês de agosto, e acabou disputada a portões fechados, praticamente sem público em suas imensas arquibancadas.

 

 

O Brasil terá três pilotos presentes no grid esse ano. Tony Kanaan é quem deve ter as melhores chances de vencer a corrida, já que defenderá a equipe Ganassi. Mas teremos alguma chance também com Hélio Castro Neves, com a equipe Meyer Shank, que pode dar ao piloto brasileiro esperanças de tentar o seu quarto triunfo na Brickyard Line. E teremos também Pietro Fittipaldi, pela Dale Coyne, fazendo sua estréia na corrida mais famosa dos Estados Unidos, que foi vencida em duas oportunidades por seu avô Émerson, em 1989 e 1993. Vamos torcer por nossos representantes no grid, e que possam fazer boa corrida.

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