quarta-feira, 21 de abril de 2021

ARQUIVO PISTA & BOX – MAIO DE 1999 – 14.05.1999

            Trazendo hoje mais uma de minhas antigas colunas, esta foi publicada no dia 14 de maio de 1999, e o assunto era os 50 anos de emoções da história da F-1, já que no dia anterior, a categoria havia completado 49 anos de vida, mas estávamos com o 50º campeonato mundial em pleno andamento. Fiz um pequeno resumo do que a categoria máxima do automobilismo já tinha vivido até ali, uma rica história, com muita coisa para se mencionar, algo impossível no texto de apenas uma coluna simples. E, para a felicidade dos amantes da velocidade, a F-1 continua firme até hoje, mais de vinte anos depois, e já tendo comemorado mais de mil corridas e 70 campeonatos. A categoria continua tendo problemas, como já tinha à época do texto desta coluna, e como naqueles tempos, procura achar um caminho melhor para seguir em frente. Fica a esperança de que os esforços frutifiquem, já que os do final dos anos 1990 só foram arrumando mais confusão, como os pneus com sulcos, e a tentativa de atrair montadoras para a categoria com o objetivo de “dourar” a competição como um campeonato de fábricas, mas que só serviu para fazer os custos explodirem anos depois, sem que se alcançasse uma melhor competitividade da categoria. De quebra, uma lembrança de que no dia seguinte teríamos o GP Brasil da F-CART (a F-Indy original), no hoje já não existente autódromo de Jacarepaguá, no traçado oval construído para a competição. Uma boa leitura, e como sempre, trarei de vez em quando mais textos antigos por aqui...

 

F-1: 50 ANOS DE EMOÇÕES

 

            Este é um ano histórico para a Fórmula 1, com a disputa de seu 50º campeonato mundial. Embora a F-1 tenha hoje, exatos 49 anos e 1 dia desde a sua criação, pode-se falar em 50 anos na prática, já que estamos no 50º campeonato da história. Tudo começou no dia 13 de maio de 1950, quando foi disputado em Silverstone o primeiro Grande Prêmio da categoria, o GP da Inglaterra. Coube a Giuseppe “Nino” Farina, de Alfa Romeo, a honra de ser o primeiro pole-position, o primeiro vencedor de uma corrida, e também ser o primeiro campeão da história da F-1.

            E hoje, depois de tantos anos, a F-1 segue em frente como a categoria máxima do automobilismo mundial, ostentando um campeonato de várias provas distribuídas por todo o mundo. No início, as coisas eram muito diferentes de hoje. O primeiro “mundial”, por exemplo, teve apenas 6 corridas em 1950. A idéia da então recém-criada Federação Internacional de Automobilismo – FIA, era reunir os Grand Prix, célebres corridas que eram realizadas de maneira esporádica e independentes que vinham sendo promovidas desde o fim da Segunda Guerra Mundial, após anos de ausências destas provas por causa do conflito.

            Seguindo o modelo que estava se aplicando ao motociclismo, as principais corridas foram reunidas em um calendário organizado e que contaria pontos para, ao final, eleger um campeão mundial da categoria. Para oficializar o fato de a categoria ser mesmo “mundial”, os organizadores incluíram no calendário as 500 Milhas de Indianápolis. Era mais para constar apenas no calendário, pois a corrida americana era disputada por outros pilotos que nunca competiram nas demais corridas, todas na Europa. E, por tabela, os pilotos que corriam na Europa também não disputavam a Indy500. Só a partir dos anos 1960 a coisa mudou, com a inclusão de um GP oficial de F-1 nos Estados Unidos, disputado no circuito de Watkins Glen, depois de experiências com um GP próprio na pista de Sebring, em 1959, e de Riverside, em 1960.

            A história da F-1 nestes anos todos é vasta e rica, cheia de acontecimentos, tragédias, curiosidades, desafios técnicos, rivalidades, e acima de tudo, muita emoção. É tanta coisa que praticamente seria impossível relacionar nesta coluna tudo o que de mais relevante aconteceu nesta categoria. Tivemos os heróis da velocidade, os grandes mitos que transformaram seu talento em uma coleção de títulos e conquistas na categoria. Começando por Farina, passando pelo insuperável Juan Manuel Fangio, pela maestria de Jack Brabham, Jim Clark, Graham Hill, Jackie Stewart, Émerson Fittipaldi, Niki Lauda, Nélson Piquet, Alain Prost, Ayrton Senna, e Michael Schumacher, só para citar os grandes campeões. Tivemos também aqueles que, por acaso do destino, nunca ganharam um título, mas deixaram seus nomes estampados na galeria dos grandes talentos da F-1. Nomes como Stirling Moss, Tony Brooks, Wolfgang Von Trips, Jack Ickx, Gilles Villeneuve, e muitos mais.

            A relação de equipes que passaram pela F-1 também é grande. Dos idos anos 1950, apenas a Ferrari ainda está em atividade, tendo tornado-se praticamente sinônimo de F-1, reunindo uma legião de torcedores e admiradores pelo mundo todo, um feito inigualado pelos outros times que já competiram nesta categoria. De todas as outras escuderias, apenas a Lótus chegou perto do carisma e história apresentados pela Ferrari. Mas a Lótus já se foi, enquanto a Ferrari continua na ativa e disputando vitórias e títulos, em que pese sua última conquista de pilotos datar de 1979, com Jody Scheckter. Quase todos os grandes nomes da indústria automobilística já estiveram na F-1 em algum momento, com raras exceções.

            Na evolução técnica, viu-se grandes projetos que demonstraram a evolução notável dos carros de competição. Entremeados a estes grandes sucessos, também vimos cenas ridículas e até cômicas na categoria, mostrando que nem só de sucessos se fez a história da F-1. Os mais saudosos lembram-se do Lotus turbina de 1971, que era tão rápido que não tinha como frear direito nas curvas; ou o Tyrrel “centopéia” P34, com 6 rodas (4 na frente e 2 atrás). Em todos estes anos, já se viu muita, muita coisa na categoria. Dos carros frágeis da década de 1950, onde batidas eram quase invariavelmente fatais, melhorou-se enormemente a segurança dos monopostos, salvando a vida de inúmeros pilotos ao longo de todos estes anos, enquanto outros, por azares e fatores diversos, não tiveram a mesma sorte.

            Dos velhos tempos, o que dá mais saudade é do ambiente romântico e suave que caracterizava os primórdios da F-1. Uma época onde se corria mais por prazer, sem tantos interesses envolvidos, como hoje. Atualmente, com os milhões e milhões de dólares envolvidos nas escuderias, corridas, pilotos, e principalmente, no campeonato mundial, o clima da categoria é totalmente diferente. Tornou-se um ambiente agressivo, frio, de rivalidades extremadas, onde a honestidade e camaradagem é apenas um item que pode ser descartado quando for conveniente.

            Sem dúvida, os tempos de hoje na F-1 são radicalmente diferentes de quando tudo começou. De igual, apenas o fato de que a competição ainda se faz com carros de 4 rodas dirigidas por aqueles que se supõem ser os melhores pilotos do mundo. E a emoção da velocidade, claro. Por isso, continue acelerando firme, F-1. Que tenha outros 50 anos de emoções e velocidade pela frente, e muito, muito mais disputas e quilômetros para acelerar...

 

 

Enquanto a F-1 vive o ambiente mais charmoso da temporada, em Mônaco, onde ainda se pode reviver o glamour dos tempos áureos da categoria, aqui no Brasil é chegada a hora do GP Brasil de F-CART. Hoje à tarde disputa-se o treino classificatório para o grid de largada. A corrida será amanhã à tarde, um sábado, com transmissão ao vivo pela TVS/SBT e cobertura “in loco” do evento. Depois de nossos pilotos conseguirem já nas primeiras etapas deste ano melhores resultados do que no ano passado, o público deve ter maior interesse pela etapa brasileira, até porque a corrida finalmente está tendo um serviço de relações públicas mais condizente. Émerson Fittipaldi, que assumiu a realização da prova, está fazendo um belíssimo trabalho, e a perspectiva é ter o autódromo cheio. Ainda mais com preços condizentes com a realidade brasileira. É hora de torcer pelos nossos pilotos na categoria e fazer figa para que a vitória seja verde-amarela.

 

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