sexta-feira, 30 de outubro de 2020

DIXON HEXACAMPEÃO

Josef Newgarden bem que tentou, mas mesmo vencendo a última corrida da temporada, viu Scott Dixon conquistar o título, e chegar ao hexacampeonato.

            A temporada 2020 da Indycar encerrou-se no último domingo, coroando o seu mais novo campeão, e ele é Scott Dixon, que faz história nas categorias Indy, por ser este o seu sexto título na competição, desde que alinhou pela primeira vez uma corrida Indy, na temporada de 2001, defendendo a equipe PacWest. Ele permaneceria no time no ano seguinte, nas primeiras provas da competição, quando se mudou para a Ganassi, ficando por lá em suas últimas corridas na F-Indy original. Quando a Ganassi mudou para a Indy Racing League no ano seguinte, Dixon foi junto, e como se costuma dizer, tanto ele quanto seu time chegaram “chegando” no novo certame, sendo campeões logo de cara, no que se tornou o primeiro título levantado pelo neozelandês na categoria. Foi o início de uma parceria que dura até os dias atuais, algo pouco comum, mesmo nas competições dos Estados Unidos, que ocorre somente com grandes pilotos e grandes campeões.

            E some-se a isso o fato de Chip Ganassi ser um dono de time com pouca paciência, exigindo sempre resultados de seus pilotos. Desde que se tornou dono de equipe, talvez ele considere à altura de Dixon apenas Alessandro Zanardi, que foi bicampeão por seu time na antiga Indy em 1997 e 1998; Juan Pablo Montoya, campeão em 1999; e Dario Franchiti, que foi tricampeão pela Ganassi nas temporadas da atual Indycar de 2009, 2010, e 2011. Não por acaso, os companheiros do neozelandês nestes últimos anos nunca conseguiram permanecer na escuderia, do qual o mais recente exemplo é o sueco Felix Rosenqvist, que defenderá a McLaren em 2021, após não ter tido o seu contrato renovado com a Ganassi, que não ficou satisfeita com seus resultados este ano, mesmo com o piloto tendo vencido uma corrida.

            Somando as estatísticas da F-Indy original e a atual Indycar, Scott Dixon assume um lugar de destaque nas categorias Indy, ficando abaixo, em termos de títulos, apenas de Anthony Joseph Foyt Jr., o lendário A.J. Foyt, que foi nada menos do que heptacampeão da Indy original nas temporadas de 1960, 1961, 1963, 1964, 1967, 1975, e 1979. Dixon tem agora seis títulos, e amplas condições de igualar, e até ultrapassar o velho campeão, uma vez que segue firme em atividade, e não tem planos de se aposentar tão cedo. Em termos de títulos, ele já havia deixado para trás Mario Andretti, Sebastien Bourdais, e Dario Franchiti, todos com quatro campeonatos no currículo, e os maiores campeões depois do neozelandês e de Foyt. E abaixo destes, tivemos pilotos que foram “apenas” tricampeões, como Rick Mears, Al Unser, Bobby Rahal, Sam Hornish Jr., Jimmy Brian, Louis Meyer, e Ted Horn.

Em 2001, ano de sua estréia na antiga F-Indy, Dixon conseguiu sua primeira vitória (acima) com a equipe PacWest de Bruce McCaw. No ano seguinte, iria para a Ganassi, que em 2003 mudaria para a IRL, e o neozelandês conquistaria seu primeiro título já no ano de estreia (abaixo).


            Em termos de corridas disputadas, Dixon ainda está um pouco longe do recordista, que é Mario Andretti, que tem 407 provas disputadas. O segundo colocado é o brasileiro Tony Kanaan, com 383 largadas. A.J. Foyt vem a seguir, com 369 provas. Outro brasileiro, Hélio Castro Neves, vem com 351 corridas, e então temos Scott, com 335 corridas, até a prova de São Petesburgo domingo passado. Em termos de vitórias, o maior vencedor é Foyt, que triunfou em 67 corridas em suas participações. O vice-líder é Mario Andretti, com 52 vitórias, e o chefe do clã Andretti está perto de perder sua posição já no ano que vem, pois Dixon já tem nada menos do que 50 vitórias, e mantida a sua média de triunfos por temporada, deve assumir a segunda posição em 2021, se nada de anormal acontecer, já que até hoje, desde que disputa a IRL/Indycar, só deixou de vencer corridas em 2004, no que foi seu segundo pior ano na competição, quando terminou a temporada apenas em 10º lugar.

            O neozelandês, contudo, não é o que se pode chamar de pole-man: tem “apenas” 29 poles na carreira até hoje, número “modesto” se comparado às 65 poles conquistadas por Mario Andretti, o recordista no ranking, mas também perto de ser superado em 2021 pelo segundo colocado, Will Power, que já tem 62 largadas na posição de honra das corridas. Hélio Castro Neves é o 3º colocado, com 54 poles, superando A.J. Foyt, com 53, com Bobby Unser logo atrás, com 52. Mas o importante não é largar na frente, mas chegar na frente. Tanto que nesta temporada onde venceu seu sexto título, Scott não marcou uma pole sequer, mas em contrapartida, venceu 4 provas, o mesmo número de triunfos de Josef Newgarden, que terminou com o vice-campeonato, mas saiu de cabeça erguida de uma temporada onde chegou a estar mais de 100 pontos atrás de Dixon, e conseguiu reverter a desvantagem, para terminar o ano com apenas 16 pontos a menos que o piloto da Ganassi. E se não dá para vencer, Dixon costuma lutar pelo melhor resultado possível. Sua habilidade de conseguir preservar seu equipamento e poupar combustível, além de cometer poucos erros, e não se envolver em confusões na pista, são grandes trunfos em uma categoria onde a competitividade é forte, e detalhes costumam fazer grande diferença. Com pontuação que vai do vencedor até o último colocado, Dixon sempre tenta manter a constância de seus resultados, especialmente quando o carro não está em condições de vencer. Hábil em analisar a situação de corrida, ele tenta estar sempre na posição certa no momento certo, para surpreender os adversários, e obter resultados que normalmente não seriam possíveis para um piloto de menos quilate. Quando menos se espera, eis que Dixon está lá, nas primeiras posições, ou muito próximo a elas.

            Uma prova disso é que ele é o segundo colocado em... segundos lugares, no ranking das categorias Indy. Ele terminou 48 provas em segundo lugar, atrás somente de Mario Andretti, que obteve 56 segundos lugares em sua carreira. A regularidade em 3ºs lugares é um pouco menor, mas não desprezível: foram 24 provas terminadas no degrau mais baixo do pódio. Neste ranking, Tony Kanaan é o recordista, com 40 3ºs lugares, seguido de Mario Andretti com 33, e Dario Franchiti com 31. Al Unser (pai) tem 28, enquanto Bobby Rahal teve 27. Nesta temporada, Dixon esteve no pódio em praticamente metade das corridas: além das 4 vitórias, foi 2º colocado em duas provas, e 3º em uma. Mas como o importante nas categorias Indy é manter a constância, Dixon também colecionou 26 4ºs lugares, além de ter fechado em 5º em outras 26 corridas (Al Unser Jr. é quem terminou mais vezes em 4º: 33 provas; Já Hélio Castro Neves é quem terminou mais vezes em 5º: 27, e está perto de ficar para trás neste ranking). E, além destes números, Dixon também ostenta em seu currículo uma vitória nas 500 Milhas de Indianápolis, a mais famosa prova das Américas, obtida em 2008. Ele também já largou três vezes na pole-position da Indy500, sendo que neste ano, terminou a mítica prova na segunda colocação, logo atrás do vencedor, Takuma Sato.

Scott Dixon e Chip Ganassi: uma parceria tão icônica (acima) como foi o da escuderia com o patrocínio da rede de lojas Target (abaixo), presentes em quatro das conquistas do neozelandês.


            Não foi uma temporada tão fácil para Dixon como pode parecer à primeira vista. Em virtude da pandemia do coronavírus, a competição, que deveria ter tido início em março, acabou se iniciando apenas em junho, com várias provas canceladas, e a adoção de rodadas duplas em alguns circuitos para fazer um número de etapas razoável para termos uma temporada de fato. A Ganassi e Dixon conseguiram se acertar muito mais rápido nas primeiras corridas, de modo que o neozelandês venceu as primeiras três provas, disparando na liderança, que jamais perderia até o final. Com os outros times tentando se ajustar, Dixon estabeleceu uma vantagem confortável que poderia gerenciar, caso houvesse necessidade, até porque, em algum momento, poderia ter problemas, ou o azar que acometeu primeiro seus rivais na pista. Mas só a partir da segunda prova em Gateway é que Scott começou a ter problemas mais sérios, com a Ganassi, e ele próprio, tendo dificuldades para obter um bom rendimento de seu carro, ou pelo menos, a performance mais aceitável para poder minimizar prejuízos quando os adversários tinham melhores resultados. O próprio Dixon reconheceu que perdeu pelo menos três oportunidades de obter melhores resultados por causa de erros próprios dele, onde o mais evidente foi visto na segunda prova de Mid-Ohio, onde o piloto rodou sozinho na luta por posições, arruinando as chances de terminar a prova na luta pelo pódio, e oferecendo aos adversários uma excelente oportunidade de diminuir sua desvantagem. A rodada dupla realizada no traçado misto de Indianápolis também não ocorreu da maneira que o piloto e a equipe esperavam, e Josef Newgarden e a Penske, que haviam começado o campeonato de forma meio claudicante, foram se organizando e se colocando como ameaças reais na luta pelo título da competição, com o então atual bicampeão tendo de assumir uma tocada agressiva na pista para compensar a performance de seu carro, tal como fazia em seus tempos na equipe Carpenter.

            O resultado foi que o piloto da Penske conseguiu levar a decisão para a última corrida do ano, em São Petesburgo, ainda que os 32 pontos de vantagem de Dixon constituíssem uma folga até cômoda para garantir o título. Largando apenas em 8º lugar, não restava a Josef outra opção senão partir para o ataque, para tentar o melhor resultado possível, a vitória. Mas ele precisaria contar com um resultado ruim de Dixon, que precisava apenas de um 9º lugar para liquidar a conquista do título. O neozelandês largava em 11º, e a rigor, bastava marcar Newgarden para impedir que ele conseguisse eliminar sua desvantagem na pontuação. Mas, apesar de não ser uma tarefa tão difícil para Dixon terminar em 9º, tudo poderia acontecer na etapa final. Sendo uma corrida em circuito de rua, um eventual azar poderia nocautear o piloto da Ganassi e complicar tudo. Ou poderia até facilitar ainda mais a conquista, se Newgarden acabasse tendo problemas. Na primeira parte da prova, Dixon se manteve sempre atrás, mas próximo de Josef, de modo que, terminando daquela maneira, seu hexacampeonato estaria sacramentado. Mas, as tradicionais confusões de circuitos citadinos começaram a surgir, com pilotos tocando o muro, batendo uns nos outros, obrigando o acionamento das bandeiras amarelas, que poderiam ter complicado a estratégia de corrida tanto de Newgarden quanto de Dixon.

Josef Newgarden terá de esperar até o ano que vem para tentar chegar ao tricampeonato na Indycar. Isso se Dixon não resolver conquistar seu sétimo título.

            Mas seus times foram eficientes e não deixaram a peteca cair, de modo que mesmo com o ganho de posições de Newgarden, Dixon mantinha-se bem próximo, pronto para garantir seu título. Na parte final da corrida, Newgarden partiu para a liderança, e mesmo Dixon precisou se arriscar um pouco nas disputas de posição, a fim de tentar minimizar as possibilidades de perder o título. Newgarden venceu, mas Scott fechou o pódio com uma atuação sólida, como é sua característica principal, nunca tendo perdido o rival de vista, e lhe permitindo tomar o controle da situação de forma a comprometer sua liderança na pontuação. Uma conquista com todos os méritos, assim como foi também a performance de Josef, que mesmo com o vice-campeonato, demonstrou uma campanha determinada para lutar por mais um título, que seria o seu terceiro, caso Dixon não tivesse conseguido terminar dentro das posições necessárias para garantir seu título.

            Aos 40 anos, e com muita lenha para queimar ainda, Dixon lembra os velhos tempos da antiga Indy, onde os pilotos, mesmo veteranos, mostravam que podiam dar conta da situação, e disputavam firmemente os títulos. Os tempos atuais são outros, e a maioria dos pilotos do grid da Indycar hoje é formada de jovens talentos, com poucos “veteranos” presentes. Scott é uma honrosa exceção, e um incentivo para os novatos candidatos a novas estrelas da categoria. Afinal, o neozelandês também já foi um novato, e aos poucos, galgou o estrelato, em especial nesta última década, onde conquistou quatro de seus seis títulos. E estamos falando da Indycar, onde o equilíbrio entre os times é bem maior do que na Fórmula 1. Mesmo competindo por um time de ponta, a Ganassi, a disputa é bem mais parelha do que na categoria máxima do automobilismo, pois os times de ponta rivais, como Penske, e Andretti, estão sempre à espreita, e com a chance de outros times, como Rahal, e agora até mesmo a retornada McLaren, se acertarem, e entrarem na briga, ampliando o rol de desafiantes na pista, onde a mínima vantagem de um piloto pode fazer uma diferença imensa nos resultados.

            Se estamos tendo a oportunidade de testemunhar Lewis Hamilton fazer história na F-1, rumo ao posto de maior campeão da história da categoria, Scott Dixon não faz por menos na Indycar, indo ao encalço dos recordes dos campeonatos Indy, com uma determinação e talento que não ficam a dever a que o inglês da Mercedes vem fazendo. E, quem sabe, podemos ver o neozelandês fazer história em 2021, caso seja novamente campeão, igualando o recorde de A. J. Foyt, da mesma maneira como Hamilton está prestes a fazer com o número de títulos ganhos por Michael Schumacher. É um outro gênio do esporte a motor, como poucos, e que poderá ainda fazer muito em sua carreira... Só o tempo dirá... Por enquanto, parabéns a Scott Dixon, hexacampeão da Indycar!!

 

 

E o que se previa, aconteceu: com sua vitória no GP de Portugal, disputado domingo passado no belo circuito de Portimão, Lewis Hamilton obteve sua 92ª vitória na F-1, tornando-se o novo recordista absoluto de vitórias na categoria máxima do automobilismo, deixando Michael Schumacher definitivamente para trás, com o alemão agora caindo para a segunda posição no ranking de triunfos. E, da mesma maneira como o alemão expandiu o recorde de vitórias em sua época, que era de 51 triunfos de Alain Prost, chegando a 91 vitórias, Hamilton pode agora expandir essa marca, ultrapassando as 100 vitórias, algo que certamente veremos na próxima temporada, onde a Mercedes ainda deve seguir como força dominante na F-1, e Lewis, o seu grande astro. E não adianta os nervosinhos de costume apregoarem que Hamilton só faz o que faz por estar no melhor carro da categoria, esquecendo que por vários anos Schumacher também teve o melhor carro da competição. Aceitem que Lewis é o maior piloto da F-1 atual, e um dos gigantes da história do automobilismo mundial. Não é achismo algum, só os fatos, pura e simples...

 

 

Hoje deveria começar os treinos oficiais para a prova da Emília-Romana, nome que a corrida que marca o retorno da F-1 ao circuito Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, terá no campeonato deste ano. Mas a FIA resolveu fazer uma experiência, limitando as atividades ao sábado e ao domingo, numa tentativa para ver se isso pode deixar as coisas mais imprevisíveis, e quem sabe, proporcionar uma corrida mais disputada, com as escuderias tendo menos tempo para se acertarem ao circuito. A Liberty Media tem intenção de aumentar o número de GPs, mas os times são contra a adição de mais provas, devido ao esforço logístico que isso acarreta. Se as corridas passarem a ter atividades apenas de dois dias, ao invés de três, isso poderia servir de argumento para se colocarem mais provas no calendário. Vai depender de como as coisas acontecerão neste final de semana, e do que as escuderias acharão disso. Pode até ser algo válido, mas nada garante que teremos corridas exatamente melhores por causa disso. Vejamos o que acontece...

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