quarta-feira, 17 de maio de 2017

ARQUIVO PISTA & BOX – JANEIRO DE 1998 – 16.01.1998



            E eis que trago hoje mais um de meus antigos textos. Este foi publicado no dia 16 de janeiro de 1998, e o assunto era o modo como a Ferrari tinha uma postura de “um piloto, dois carros”, para se referir ao modo como o time de Maranello só tinha atenções para Michael Schumacher na escuderia, relegando o segundo piloto na época, o irlandês Eddie Irvinne, a uma posição ínfima nas atenções do time. Isso prejudicava muito a posição de Irvinne, que raras vezes conseguia andar próximo de Schumacher, e obviamente não podia cumprir adequadamente sua função de escudeiro tão bem como o time necessitava. Isso também criava outro problema: quando Michael ficava fora de combate, o irlandês não tinha condições de aproveitar a situação e defender o time, justamente porque este não lhe dava as melhores condições de competição. Tudo era centrado em Schumacher.
            A escuderia estava plenamente confiante de que chegara a hora de voltar a ser campeã, afinal, Michael Schumacher quase venceu a competição em 1997, antes até do que todos esperavam. Portanto, o time vermelho se dava conta de que teria as melhores condições de voltar a conquistar o título na temporada de 1998. Faltou combinar com a McLaren, que atropelou as expectativas do time de Maranello e fez Mika Hakkinen campeão do mundo. Schumacher ainda salvou o vice, uma vez que David Coulthard não conseguiu fazer bom proveito do excelente carro do time de Woking naquele ano. Mas Irvinne, ainda padecendo da atenção menor da Ferrari, fez menos ainda, e isso certamente contribuiu para a ajuda menor que o irlandês pôde dar ao time na luta pelo mundial de construtores, ficando novamente como vice-campeão.
            De resto, alguns tópicos rápidos sobre alguns outros acontecimentos naquela semana. Uma boa leitura, e em breve trago mais textos antigos por aqui...


AÇÃO EM EQUIPE

            E lá vamos nós de novo para mais um campeonato mundial da Fórmula 1. E, mais uma vez, a Ferrari promete acabar com o seu jejum de títulos. Sem dúvida, é o mais longo já enfrentado pela escuderia mais carismática da categoria, que há quase 20 anos conquistou o seu último título de pilotos, com o sul-africano Jody Schekter.
            Jean Todt é contundente na afirmação. De quando foi feita a contratação de Michael Schumacher, em fins de 1995, o cronograma era de arrumar a equipe em 1996, partir para a evolução em 1997, e chegar ao título em 1998. Pois bem, chegamos a 98, e a hora é esta. Se, em 97, Schumacher por pouco não chegou ao título, o que poderá fazer este ano, quando a escuderia deverá estar ainda mais afinada com o piloto alemão do que nunca? E o próprio Jean Todt admite que a equipe não tem mais o que melhorar para chegar ao título. Será mesmo? Eu creio que não é bem assim...
            Será que a Ferrari merece mesmo tal menção? Talvez sim, talvez não, mas a escuderia, para mim, ainda precisa melhorar em um quesito para ser chamada de equipe. E por quê? Bem, para começar, o time que se preza tanto para conseguir o título está subaproveitando uma de suas peças básicas: o segundo piloto da equipe. É isso mesmo, o time até agora não conseguiu dar tudo o que pode a Eddie Irvinne para que o irlandês possa brilhar a tempo integral na esquadra de Maranello. E, com tal atitude, não consegue fazer com que o piloto irlandês trabalhe a contento para ajudar a escuderia.
            Estou sendo duro? Não creio. Quem está sendo dura é a própria Ferrari. Senão vejamos: a grande maioria dos testes feitos pelo time italiano em 97 foram conduzidos apenas por Michael Schumacher. Eddie Irvinne também testou, mas não tanto quanto o piloto alemão. E Nicola Larini, o piloto de testes do time, praticamente só fez figuração, testando quase nada. E mais: a atenção na Ferrari é totalmente voltada apenas para Michael Schumacher. Ele é o principal piloto, absoluto, e alguns dizem, com certa dose de gozação, que o alemão seria também o 2º e o 3º piloto, enquanto Irvinne não passaria de um “4º” piloto. Força de expressão? Talvez, mas não é tão falso quanto parece. O piloto irlandês já se queixou algumas vezes de que a Ferrari não lhe dá condições reais de competir, ao menos não no nível que é disponibilizado para Schumacher. Tudo bem, não estou querendo dizer que Irvinne é tão bom quanto Michael. É lógico que o bicampeão alemão é melhor piloto do que o irlandês, e como primeiro piloto, deve ter a primazia das atenções da escuderia, como é direito do piloto Nº 1 de uma equipe.
            Só que isso não quer dizer que o segundo piloto mereça um subtratamento do time. Do jeito que a coisa foi feita em 97, Irvinne só teve chance e condições de brilhar em pouquíssimos momentos. Quando a equipe o apoiou e lhe deu as condições devidas para competir, o irlandês surpreendeu a todos em Suzuka, fazendo o seu papel de escudeiro com uma atuação ímpar até àquela altura do campeonato. Mesmo que depois ele tenha feito uma pilotagem morna e terminado em 4º, deu-se um exemplo do que Eddie pode fazer para ajudar o time. Mas isso só ocorreu porque a Ferrari lhe deu um tratamento de atenção e equipamento menos discrepante em relação ao que é oferecido normalmente a Schumacher.
            Com um tratamento decente a Irvinne, o piloto irlandês poderia fazer muito mais na pista, e condizentemente, ajudar mais Schumacher, e ajudando o time melhor nas corridas de forma mais efetiva e interessante, uma vez que ele, Irvinne, também poderia entrar na luta por vitórias. E, também no caso de Schumacher ficar fora da corrida, o time precisaria conseguir pontos com igual ou similar potencial. Alguém se lembra de como a McLaren conseguiu tantas vitórias e títulos nos anos 1980 e no início desta década? Com um verdadeiro trabalho de equipe. Não apenas com dois pilotos de igual quilate, como Ayrton Senna e Alain Prost, ou Alain Prost e Niki Lauda, mas também quando havia um piloto definido, como foi quando Keke Rosberg correu ao lado de Prost, ou quando Senna teve Gerhard Berger como colega de equipe. Mesmo nesses casos, Rosberg e Berger não foram exatamente esquecidos pela equipe McLaren, tiveram um tratamento de equipamento à altura, e mesmo não sendo tão talentosos quanto Prost e Senna, eles entravam na luta pelas vitórias, ajudando a escuderia a conquistar títulos, e também fazendo o papel de escudeiros quando era necessário.
            E a Ferrari? No tempo de Gerhard Berger e Jean Alesi, o tratamento era igualitário. Agora, com Michael Schumacher, a conversa é outra. Irvinne tem que ficar quieto em seu devido lugar, e só o piloto alemão pode brilhar a contento. Se forem confirmadas as expectativas de ascenção da McLaren, o favoritismo da Williams se mantiver, e a Benetton e a Prost ascenderem, a Ferrari terá de mudar este pensamento, e fornecer a irvinne tratamento técnico condizente com o de Schumacher, caso contrário a Ferrari estará lutando com cerca de “meia” equipe, quando deveria encarar a briga como uma equipe “inteira”. Espero que o time italiano corrija essa atitude, se quiser mesmo ser campeã com todos os méritos...


A Stewart apresentou na última terça-feira o seu modelo SF02, equipado com a última versão do motor Ford V-10. O novo carro teve um desenvolvimento ainda maior na aerodinâmica e mecânica, e no túnel de vento. E o novo motor da Ford, garantem Jackie Stewart e Rubens Barrichello, é muito melhor concebido do que o usado em 1997. Stewart está confiante em conseguir finalmente resultados de porte este ano, e quem sabe,m chegar a disputar vitórias e até o título em 2000...


Hélio Castro Neves fechou contrato para disputar a temporada 98 da F-CART pela equipe Bettenhausen. Com isso, Roberto Moreno, que também vinha disputando a vaga, terá de encontrar outro caminho. Na Hogan, Jirky Jarvi Letho assinou para ser o único piloto do time na temporada 98.


O GP de Portugal está novamente cancelado. Em 1997, foram as obras exigidas pela FIA que não foram realizadas no circuito que motivaram o cancelamento; agora, é a briga entre o governo português e a Autodril, que administra o autódromo. Kyalami, na África do Sul, deve entrar no lugar da etapa lusitana.


Maurício Gugelmim estreou esta semana o novo chassi Reynard 981R, bem como sua nova versão do motor Mercedes. Se depender do chassi, a temporada tem tudo para ser excelente. Falta agora melhorar o gerenciamento eletrônico do motor Mercedes, que a cargo da Magnetti Marelli, ainda precisa entrar nos eixos...



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