sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ROSBERG CAMPEÃO

Com a segunda colocação que lhe deu o título, Nico Rosberg brindou a torcida em Yas Marina fazendo zerinhos na pista com seu carro.
            Enfim, Nico Rosberg chegou lá. O piloto alemão da equipe Mercedes terminou a etapa derradeira da temporada 2016 da Fórmula 1, disputada em Abu Dhabi, na segunda colocação, e correu para o abraço do título de campeão da categoria máxima do automobilismo mundial. Depois de 11 temporadas, com 206 GPs disputados, tendo obtido até então 30 pole-positions e 23 vitórias, Nico finalmente alcançou seu tão almejado sonho. E, aos 31 anos, tornou-se o segundo filho de pai campeão da F-1 a repetir o feito. Keke Rosberg, pai de Nico, foi campeão da F-1 em 1982, tendo vencido apenas uma corrida naquela temporada. O primeiro filho de pai piloto campeão foi Damon Hill, que levou o título de 1996 pela Williams. Damon é filho de Graham Hill, que foi bicampeão da F-1 em 1962 pela BRM, e em 1968, pela Lotus.
            Nico estreou na F-1 em 2006, pela equipe Williams, onde disputou suas primeiras quatro temporadas na categoria. Foi 17° colocado em seu ano de estréia, marcando 4 pontos; em 2007 foi o 9° colocado, com 20 pontos; no ano seguinte, com 17 pontos, ficou em 13°. Em 2009, em seu último ano correndo para Frank Williams, foi o 7°, com 34,5 pontos. Para 2010, começaria uma nova fase, agora na Mercedes, que voltava a ter um time oficial próprio na F-1. E tendo Michael Schumacher como companheiro de equipe. E Nico não se intimidou, tendo sempre terminado as três temporadas em que teve o heptacampeão como companheiro à sua frente. O resultado, à época, foi relativizado em virtude de Schumacher já não render como em seus anos de antigamente. Dessa forma, parte do mérito de Nico como piloto, superando Michael, devia-se mais à falta de ritmo do heptacampeão do que ao talento de Rosberg, na opinião de muitos, entre torcedores, e até mesmo entre a imprensa especializada. Nem mesmo quando conquistou sua primeira pole e vitória, em 2012, conseguiu convencer a maioria de seu grande talento.
Nico e sei pai, Keke Rosberg,na estréia do piloto pela Williams, em 2006.
            Nico só se livraria deste estigma em 2013, quando passou a ter como companheiro de equipe Lewis Hamilton, um dos mais arrojados e velozes pilotos do grid da F-1 atual. E saiu-se relativamente bem: embora tenha ficado atrás do inglês na classificação final do campeonato (6°, contra 4° de Lewis), Rosberg venceu duas corridas, contra apenas uma de Hamilton. Nos pontos, a diferença foi de apenas 18 do alemão para o inglês. Se Hamilton já era praticamente um talento reconhecido, e um campeão do mundo, Nico dava mostras de que não ficava tão atrás assim.
            E, no primeiro ano em que a Mercedes começou a dominar a nova era turbo, Nico foi um páreo duríssimo para Hamilton. Mesmo tendo vencido apenas metade das corridas do inglês, levou a decisão para a última etapa, em Abu Dhabi, onde acabou ficando fora de combate devido a um problema no carro. Foi vice-campeão com méritos. No ano passado, contudo, foi menos combativo durante boa parte do campeonato, tanto que só obteve metade das vitórias do ano nas etapas finais, depois que Hamilton já havia conquistado matematicamente o título. Pesou na concentração de Nico os problemas de sua esposa Vivian, que enfrentou uma gravidez complicada, além de alguns percalços em algumas corridas, que permitiram a Hamilton disparar na frente. Novamente vice-campeão, Nico terminava a temporada em alta, pela performance impecável exibida nas três corridas finais. Seria o Nico que veríamos em 2016.
            No início, foi. Embora a Mercedes ainda fosse o time a ser batido, as primeiras corridas da temporada tiveram alguns problemas inesperados a serem enfrentados pela dupla de pilotos do time prateado. E foi Nico quem soube lidar melhor com as adversidades que surgiram, que acabaram vitimando mais Lewis do que Rosberg. Foram 4 vitórias nas 4 primeiras corridas, abrindo nada menos do que 43 pontos para seu companheiro de equipe. Seu único abandono foi em Barcelona, onde ele e Hamilton se envolveram em um acidente logo na primeira volta, fazendo ambos terminarem a corrida ali mesmo. Em Mônaco e no Canadá, Rosberg assistiu à recuperação de Hamilton, que venceu as duas corridas, iniciando sua revanche. Mas, com nova vitória em Baku, Nico abria novamente sua vantagem na competição, chegando a 24 pontos. Só que nas quatro corridas seguintes, seria Hamilton a dar as cartas, com quatro vitórias consecutivas que não apenas pulverizaram a vantagem de Nico, como o fizeram ficar, após a etapa da Alemanha, 19 pontos atrás de Lewis. Fora isso, o episódio da batida entre ambos na volta final da etapa da Áustria, onde Rosberg foi considerado culpado, pegou mal para os lados de Nico. Será que o filho de Keke iria ser novamente empurrado para mais um vice-campeonato?
            Lewis Hamilton, contudo, teria que pagar punição por esgotar sua cota de motores para o ano, e usou a etapa da Bélgica para isso. Utilizando nada menos do que 3 unidades novas, o tricampeão largou em último, e chegou em 3°, minimizando os prejuízos de mais uma vitória de Nico, que cumpriu seu dever. Tudo indicava uma deslanchada do piloto inglês para as etapas seguintes. Mas foi aí que tudo começou a dar errado para Hamilton. Uma largada falha em Monza, e Hamilton caiu para trás, enquanto Rosberg disparava na frente e vencia mais uma vez. Hamilton ainda recuperou-se e chegou em 2°, mas obviamente isso não fazia parte de seus planos. Novo empecilho viria em Cingapura, na corrida noturna da temporada, que em 2015 tinha mostrado um desempenho incomum da Mercedes, que em nenhum momento andou na frente. O panorama se repetiu parcialmente neste ano: enquanto Hamilton tinha problemas, Nico conseguia superar as adversidades, para largar na frente, e vencer novamente. Lewis ainda salvou em 3° lugar, mas a disparada que o inglês esperava dar estava sendo feita é por Rosberg.
            Mas o nocaute de Hamilton viria mesmo em Sepang, na Malásia. A 15 voltas do final da corrida, com tudo sob controle, eis que o motor Mercedes de seu carro estoura, e Hamilton tem seu segundo abandono na temporada. Nico, com o 3° lugar, comemorava como nunca. Sua vantagem subia para 23 pontos, quase uma vitória. De azarão a meio da temporada, os papéis se invertiam, e agora Hamilton é quem tinha de correr atrás. Mas, novamente, uma largada falha do inglês deu a Nico mais uma chance de ouro em Suzuka, no Japão. E ele não a desperdiçou: venceu a corrida, e com o 3° lugar de Hamilton, abriu confortáveis 33 pontos na dianteira. Estava praticamente com uma mão na taça de campeão ao deixar Suzuka.
            Mas, com quatro corridas para encerrar a competição, não convinha comemorar antecipadamente. E nem deveria. Tudo ainda poderia acontecer, e o panorama, mudar completamente de novo. Mas, com o excelente carro que tinha nas mãos, era tudo uma questão de correr com segurança, evitando riscos. Nico não precisava mais vencer: bastariam 3 segundos lugares e um terceiro, para liquidar a fatura, mesmo que Hamilton vencesse as quatro corridas. E assim foi indo: Hamilton venceu de forma inconteste nos Estados Unidos, México e Brasil. Mas Nico, inteligentemente, foi 2° colocado em todas estas corridas. Lewis se aproximava, mas a vantagem já era grande demais para tirar Rosberg da liderança, sem que nada de anormal acontecesse. E, chegando a Yas Marina, um terceiro lugar bastava para definir o campeonato a favor do alemão.
            Hamilton ainda tentou uma tática, ao andar menos do que poderia, aproximando os adversários que vinham atrás, na esperança de que eles se intrometessem entre ele e Rosberg. O alemão, em temendo um acidente numa disputa de posição, tenderia a não se arriscar. Boa jogada, mas Nico não caiu no golpe: mesmo com a forte pressão de Max Verstappen e Sebastian Vettel, ele não se intimidou. Guiou firme e decidido, e se não ameaçou Hamilton praticamente em nenhum momento, também não deu chances a quem vinha de trás. Chegou a travar uma disputa de posição arriscada com Verstappen, para reassumir o 2° lugar, e sacramentar de vez suas credenciais de que era o campeão da temporada. E assim foi.
Lewis Hamilton bem que tentou juntar os competidores para tentar complicar a vida de Nico na corrida, mas o alemão não caiu no golpe do parceiro de equipe.
            Rosberg venceu o campeonato de 2016 com todos os méritos. Não foi o piloto que mais venceu (teve 9 vitórias, contra 10 de Hamilton), mas teve o melhor conjunto de resultados do ano, e é isso que importa. Um campeonato não é construído em apenas uma corrida, mas ao longo de todo o ano, e entre erros e acertos dos pilotos da Mercedes, Nico foi quem se saiu melhor e mais constante neste ano. E, com as dúvidas sobre como será a relação de forças na próxima temporada, onde os carros terão novas regras técnicas, a chance de Nico ser campeão era agora, ou poderia ser nunca, se a concorrência de fato chegar no time prateado em 2017.
            Nico de fato não é tão talentoso como Hamilton. Este possui um talento natural incontestável, mas Roserg é um piloto esforçado, determinado, e de excelente nível. E soube aproveitar melhor as oportunidades que surgiram neste ano, procurando compreender melhor os detalhes que poderiam fazer a diferença, como o sistema de largada do modelo W07, que acabou apresentando complicações para ambos os pilotos, mas afetou muito mais Lewis do que Nico, que se esforçou mais para saber entender e contornar as dificuldades do equipamento. É um campeão com todos os méritos. Hamilton já teve que aceitar isso. Agora, é simplesmente comemorar o título, e aproveitar para descansar, porque a batalha de 2017 terá tudo para ser, em teoria, muito mais complicada do que a dos últimos três anos, para a dupla de pilotos da Mercedes.
Felipe Massa despediu-se da F-1 em Abu Dhabi com um resultado positivo: largou em 10°, e terminou em 9°, marcando pontos na sua última corrida na categoria. Largou na frente de Valtteri Bottas, que acabou abandonando a corrida por problemas mecânicos na caixa de câmbio. De quebra, ainda ganhou de presente da Williams o carro que guiou em Interlagos, e uma bela festa no paddock, promovida pela escuderia, com direito a inúmeros convidados. Só não deu mesmo para recuperar a posição perdida na classificação para o espanhol Fernando Alonso, que chegou em 10°, e terminou o mundial à frente do brasileiro. Felipe Massa encerrou em 11°, com 53 pontos; Alonso foi o 10°, com 54 pontos. Felipe encerra uma grande fase de sua vida, e pela primeira vez em muito tempo, irá curtir o fim de ano sem as preocupações que uma nova temporada de competições lhe trará no ano seguinte. Ele mesmo admitiu que só saberá como é ficar fora da F-1 quando o campeonato de 2017 começar, e pelo menos por enquanto, ainda não decidiu onde irá participar no próximo ano. Parabéns por tudo o que nos ofereceu na F-1, desde 2002, Felipe, e boa sorte em sua nova vida em 2017, seja ela qual for.
 Manor e Sauber duelaram ferozmente em Yas Marina, para ver quem seria a última colocada no campeonato de construtores. E tanto na classificação para o grid como na bandeirada final, a Manor venceu a parada contra o time suíço. Mas não deu em nada: ambos os times ficaram de fora da zona de pontos, o que consagrou a Sauber na 10ª posição do campeonato, graças aos dois pontos conquistados por Felipe Nasr na etapa do Brasil. Esteban Ocon foi o melhor classificado dos quatro pilotos dos dois times, recebendo a bandeirada em 13°, seguido de seu parceiro Pascal Wehrlein. Logo atrás veio a dupla da Sauber, com Marcus Ericsson em 15° e Felipe Nasr em 16°. Enquanto Ocon foi confirmado na Force India para o próximo ano, e a Sauber já anunciou a renovação com Ericsson, o destino de Wehrlein ainda não foi resolvido, e a situação de Nasr é um enorme ponto de interrogação. Monisha Kaltenborn, diretora do time suíço, até admitiu que gostaria de continuar com o brasileiro, mas não deixou escapar nas entrelinhas que o fator financeiro é mais importante do que tudo, e com a redução do patrocínio do Banco do Brasil a Felipe, ele é, no momento, a grande zebra da disputa. Amigos, amigos, negócios, e especialmente patrocínio e dinheiro na mão, à parte, e muito à parte...
Jenson Button também oficializou sua despedida da F-1. Com Felipe Massa, foi a segunda despedida no fim de semana na pista, porém, com abandono do inglês, após quebra da suspensão dianteira de sua McLaren.
 Quem também despediu-se da F-1 em Abu Dhabi foi Jenson Button. O piloto, campeão da temporada de 2009, a princípio ficaria de fora em 2017, com um eventual retorno em 2018, mas no paddock de Yas Marina, Jenson admitiu finalmente que sua carreira na F-1 chegou de fato ao fim, descartando um retorno, como muitos já previam. Como que para comemorar sua despedida, Button levou a família para sua última prova, e ainda correu com um capacete com o mesmo visual amarelo e branco de 2009, quando foi campeão. Infelizmente, sua despedida não foi das mais felizes: acabou abandonando após tocar em uma zebra e detonar a suspensão dianteira direita de sua McLaren, depois de apenas 12 voltas. Jenson, que teve como companheiros de equipe os campeões Lewis Hamilton e Fernando Alonso, porém, disse que o melhor companheiro que já teve foi Rubens Barrichello, dando a entender que o brasileiro tinha muito mais a mostrar em capacidade do que o que realmente apresentou. Button e Barrichello foram companheiros nas temporadas de 2006, 2007, 2008, e 2009. Enquanto Barrichello seguiu depois para a Williams, onde ficou por mais duas temporadas na F-1, Jenson acabou na McLaren, onde ficou até o fim desta temporada. Em 2017, contudo, ele ainda estará a serviço do time de Woking, ajudando nos bastidores a desenvolver os carros da escuderia britânica.
 
A Force India fez o seu melhor campeonato em 2017 desde que estrou na F-1. O time de Vijay Mallya, em que pese sua situação pra lá de enrolada com as finanças de suas empresas, terminou a temporada em 4° lugar, com 173 pontos. Sérgio Perez foi o 7° colocado na competição, marcando 101 pontos, enquanto Nico Hulkenberg, que está de saída para a Renault, fez 72 pontos. O piloto mexicano conseguiu ainda dois pódios para o time, sendo o 3° nas etapas de Mônaco e Europa (Baku). E a Williams regrediu, ao invés de evoluir, mostrando-se incapaz até mesmo de defender a 4ª posição no Mundial de Construtores, depois de ser superada facilmente por Red Bull e Ferrari, e perdendo o ritmo na segunda metade da temporada, sendo não apenas alcançada pelo time de Mallya, como superada facilmente até. Para o time de Frank, sobrou de consolo apenas um pódio no ano, conseguido por Valtteri Bottas na etapa do Canadá.

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