quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1997 – 14.11.1997



            Voltando a trazer algumas colunas antigas neste final de ano de 2016, trago hoje o texto que foi publicado em 14 de novembro de 1997. O assunto era um balanço da temporada de Fórmula 1 daquele ano, que se não mostrou o equilíbrio que muitos esperavam, também não foi um domínio sonolento da equipe Williams, que conquistou mais um título, com Jacques Villeneuve, e tinha enfrentado pelo menos oposição séria da Ferrari em diversas corridas, ajudando a dar emoção à disputa pelo título, que foi resolvida apenas na última corrida do ano, em Jerez de La Fronteira. Uma boa leitura a todos, e logo trago mais um antigo texto para leitura aqui...


F-1 97: RECUPERAÇÃO DA COMPETITIVIDADE!

            Apesar da Williams ter faturado mais um título de pilotos e de construtores, superando, enfim, da Ferrari neste ranking da Fórmula 1, o ano de 1997 foi muito bom em termos de disputa. Houve muito mais briga na pista, entre vários pilotos e escuderias.
            Por mais que Frank Williams recuse admitir, ter demitido Damon Hill foi um grande erro. Se a Williams foi o melhor carro da categoria nos últimos anos, foi graças em parte ao esforço e empenho de Hill como piloto de testes da escuderia. Este ano, por exemplo, a Williams acabou sentindo a sua perda em vários GPs, onde não conseguia acertar o seu carro de maneira decente. Mesmo assim, o carro do time de Didicot foi o mais regular das equipes de ponta e também o mais equilibrado, mas ficou nítida a impressão de que o time poderia ter rendido muito mais em várias ocasiões.
            Jacques Villeneuve correspondeu às expectativas, e conseguiu aquilo que seu pai nunca conquistou: o título da F-1. Pena foi ver o canadense cometer tantos erros este ano, o que deixou certa má impressão sobre suas capacidades como piloto. Já Heinz-Harald Frentzen, considerado melhor piloto até do que Michael Schumacher, quando ambos corriam na Sport-Protótipos, acabou sendo uma decepção para muitos, que ansiavam vê-lo disputando freadas com Schumacher e lutando pelo título na Williams. Nas poucas vezes em que ambos se cruzaram diretamente na pista, Schumacher acabou mostrando muito mais talento e garra, especialmente por guiar uma Ferrari, carro ainda bem inferior à Williams.
            Já Michael Schumacher, da mesma maneira como encantou a todos por mostrar toda a sua perícia e talento de pilotagem, levando a Ferrari para a disputa de um título que foi conquistado pela última vez em 1979, jogou tudo a perder com a manobra desleal e suja ao tentar fechar deliberadamente Villeneuve em Jerez de La Fronteira. Não fosse por isso, mesmo que tivesse perdido o título para o canadense, seria o campeão moral da temporada. Pior para Eddie Irvinne, que terá de aturar mais um ano como piloto secundário na Ferrari. Se o alemão fosse campeão, poderiam ser boas as chances de o irlandês ter tratamento igual ao de Michael no time rosso em 98, para conseguir até lutar pelo título, mas como as coisas acabaram dando errado...
            Ainda assim, a Ferrari mostrou evolução, conseguindo o vice-campeonato de construtores pelo segundo ano consecutivo, mas ficando evidente que ainda há muito o que melhorar, pois Schumacher continuou levando o time nas costas.
            A Benetton ficou na mesma. Se em 1996 o carro ainda sofria dos defeitos de pilotagem concebidos para Michael Schumacher, o carro mais “neutro” deste ano ficou ainda pior. Resumindo, a Benetton teve mais motor que carro, pois nos circuitos velozes, como Hockenhein e Monza a Benetton lutou pela vitória. Gerhard Berger dominou amplamente o GP da Alemanha, e Jean Alesi só não venceu o GP da Itália porque a McLaren foi mais rápida no pit stop de David Coulthard e devolveu o escocês à pista à frente do francês.
            Já a McLaren mostrou forte evolução. Vencedora dos GPs de início e término da temporada, a McLaren poderia ter ganho pelo menos 7 corridas se não fosse o azar, ao invés de ter conseguido apenas 3 triunfos. Mika Hakkinen foi o mais azarado, ao perder as hipóteses de vencer em Silverstone, Zeltweg e Nurburgring. Couthard ficou pelo caminho quando ia vencer a prova do Canadá. Boa parte das quebras acabaram ficando no motor Mercedes.
            Fora dos times de ponta, algumas equipes brilharam. A ex-Ligier, agora Prost, mostrou grande coesão e, utilizando todo o potencial dos pneus da Bridgestone, surpreendeu em algumas corridas. Pena que o acidente de Olivier Panis em Montreal tenha tolhido um pouco o potencial da escuderia, que teve de se virar com Jarno Trulli, já que Shinji Nakano não oferecia muitas esperanças. A Jordan, por sua vez, parece ter conseguido durar as deficiências aerodinâmicas de seu chassi, mas a dupla de pilotos não mostrou a desenvoltura necessária para acertar o carro, que mostrou excelente desempenho apenas em algumas pistas de alta velocidade, como Spa, Monza e Magny-Cours. Nos GPs finais, a Jordan voltou em definitivo para o pelotão intermediário, de onde tinha saído a meio da temporada. Com a contratação de Damon Hill, Eddie Jordan terá um piloto muito capaz para fazer evoluir o carro de 98 e poder dar sequência à evolução mostrada este ano.
            A TWR-Arrows viveu momentos infernais na primeira metade do ano. O projeto do carro era ruim, e só com a contratação de John Barnard a meio da temporada é que se resolveu parte dos problemas. Damon Hill brilhou especialmente na Hungria, e Pedro Paulo Diniz fez uma excelente corrida em Nurburgring. Fora a excelente qualificação de Hill em Hungaroring e Jerez, a equipe acabou ficando nisso. Tentará dar continuidade à sua evolução em 98.
            A Stewart realmente ficou no que se esperava. Mas não fosse Rubens Barrichello e sua espetacular atuação em Mônaco, a equipe teria passado seu ano de estréia completamente em branco, à exceção de algumas excelentes qualificações de seus pilotos no grid de largada de alguns GPs. Uma pena que o motor Ford, que por suas notáveis qualidades já foi chamado de “fusca” da F-1, tenha tido uma temporada tão desastrosa no campo da fiabilidade este ano. Mas Jackie Stewart confia em melhores dias em 1998.
            A Sauber teve um bom ano, apesar de sua adaptação ao motor Ferrari ter sido meio brusca. Mesmo assim, a escuderia suíça conseguiu boas colocações. Johnny Herbert foi o grande impulsionador da equipe, que tentará dar um salto grande em 98, melhorando sua evolução do motor Ferrari e contando com Jean Alesi.
            Da Tyrrel, não há muito o que dizer. Não fosse o 5º lugar de Mika Salo em Mônaco, o time passaria 97 em branco. Terminou a temporada como a lanterna do grid, posto antes ocupado pela Minardi, que também teve um ano totalmente apático. Ambas as escuderias tem previsão de melhorias dias no próximo ano.
            Foi uma boa temporada, especialmente se levarmos em conta o desempenho das equipes nas classificações. Zeltweg viu o grid mais apertado da F-1 em muitos anos. Com exceção da Tyrrel e da Minardi, todas as equipes subiram ao pódio pelo menos 1 vez durante o ano, e apenas a Minardi não conseguiu pontuar uma única vez.
            Nada menos do que 4 escuderias venceram corridas este ano. A McLaren venceu 3 provas, e a Benetton também conseguiu vencer um GP. A Williams continuou dominando, porém com menos força, e a Ferrari foi levada nas costas por Michael Schumacher. Tivemos cerca de 6 pilotos diferentes vencendo: Jacques Villeneuve, Michael Schumacher, David Couthard, Heinz-Harald Frentzen, Gerhard Berger e Mika Gakkinen. E 6 pilotos diferentes também conquistaram poles em 97: Villeneuve, Frentzen, Schumacher, Berger, Alesi e Hakkinen.
            Estas foram algumas considerações sobre a F-1 este ano. Ainda falta recuperar alguma coisa para que a categoria fique melhor, como nos velhos anos 1970, mas o passo mais importante parece já ter sido dado, com um pouco mais de equilíbrio na disputa. Que esta retomada da competitividade continue tendo prosseguimento durante o próximo ano.
 

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