sexta-feira, 22 de maio de 2015

GUERRA NA CLASSIFICAÇÃO


Largar na frente em Mônaco é essencial, e depois do que ocorreu em 2014, Lewis Hamilton não vai dar mole para Nico Rosberg ou qualquer outro concorrente.

            Se tem um lugar onde largar na frente faz toda a diferença, é em Monte Carlo. O mais tradicional GP do calendário da F-1 é também a menor e mais lenta prova de toda a temporada, disputada em um circuito de rua tão estreito que Nélson Piquet definiu uma vez como andar de bicicleta pela sala. A pista, montada nas ruas estreitas do Principado, são estreitas mesmo para os carros normais de passeio, imagine para os bólidos da principal categoria automobilística do mundo. Não fosse a tradição, sua importância, e o charme, a corrida monegasca talvez não existisse mais, mas como toda regra tem sua exceção, se tem um GP que não corre risco de sumir do calendário, é justamente Mônaco.
            É aqui que toda a categoria celebra seu status e revive o glamour dos antigos grandes prêmios, resgatando um pouco do clima de seu período romântico. E é por aqui também que grandes contratos são fechados, e negociações são iniciadas. E uma prova disso foi o anúncio oficial da renovação de Lewis Hamilton com a Mercedes por mais 3 temporadas. Tido como questão de tempo, já que seria o mais óbvio possível, a declaração oficial só saiu nesta quarta-feira, e nesta quinta, os carros já entraram na pista para os treinos livres. Hoje, sexta-feira, o pessoal da F-1 fica de folga, pelo menos dentro da pista, porque fora dela, os trabalhos nos carros continuam, enquanto a cartolagem e os pilotos cumprem sua rotina de eventos e encontros com patrocinadores e afins. Mônaco, enfim, é o lugar onde todo mundo trata de ser visto por todo mundo, seja em terra firme, seja na marina, onde inúmeros iates estão ancorados, com muita gente chique a bordo.
            Badalação à parte, esta é uma corrida com alto grau de propensão a surgirem zebras, seja na classificação, seja na corrida. A pista, extremamente travada e estreita, não permite erros, e isso permite que o talento dos pilotos consiga se sobressair à falta de competitividade de seus carros com mais facilidade, já que itens fundamentais em outras pistas, como aerodinâmica e potência do motor contam menos aqui. E a dificuldade de se ultrapassar durante a corrida torna a classificação para o grid uma verdadeira guerra, pois quem largar na frente, salvo se cometer algum erro, ou sofrer algum problema mecânico, já deu um bom passo para a vitória, pois mesmo que esteja com seu carro mais lento, se não der brechas, quem vem atrás simplesmente não consegue passar.
            Um exemplo clássico foi a vitória de Ayrton Senna nesta pista em 1992. A Williams dominava a temporada com facilidade, e tinha tudo para vencer também em Mônaco. Mas Nigel Mansell, que largara na pole e liderava de ponta a ponta, cometeu um erro, tocou no guard-rail, e provocou um furo no pneu. O inglês foi ao box, fez a troca, e deu azar de voltar atrás de Senna na pista. O brasileiro, que até então estava resignado a ser apenas o 2° colocado, viu a chance de vitória, e não a desperdiçou. Com um carro amplamente superior, Mansell eliminou a desvantagem na pista e colou na traseira da McLaren, mas simplesmente não conseguiu passar Ayrton, por mais que tentasse achar uma maneira. E Senna não deu nenhuma fechada ou manobra desleal, apenas manteve o traçado ideal, sem dar espaços por onde Nigel pudesse tentar alguma manobra. Com isso, Ayrton conquistou sua 5ª vitória em Mônaco, igualando o número de triunfos de Graham Hill.
            Por isso mesmo, amanhã, durante o treino de classificação, toda a atenção estará voltada para os pilotos da Mercedes. Foi aqui que, no ano passado, Nico Rosberg "escapou" da pista nos instantes finais do Q3, motivando uma zona de perigo que arruinou a volta de Lewis Hamilton, que tinha boas chances de conquistar a pole, então com Rosberg. Premeditada ou não, a manobra garantiu ao alemão a pole, e Nico foi perfeito na largada, não dando chance do parceiro chegar à freada da curva Saint Devote à sua frente. Rosberg controlou a corrida como quis, e venceu com facilidade. Hamilton acusou o golpe, e a partir dali, o relacionamento de ambos não seria mais o mesmo. Mais do que a derrota na pista, foi no jogo psicológico que Rosberg começou a desestabilizar Lewis, e durante boa parte do meio da temporada, o alemão ditou o ritmo dentro da Mercedes, com o inglês sofrendo alguns altos e baixos e cometendo mais erros do que seria normal.
            Este ano, Hamilton novamente vem com a cotação em alta, mas certamente está com a escapada do parceiro em 2014 ainda atravessada na garganta. Portanto, vai tratar de não ser pego novamente em alguma estratégia ou manobra de Nico. E, como que para deixar claro que não vai dar chance para o azar, nos treinos desta quinta andou com folga na frente de todo mundo, especialmente de Rosberg. Claro que treinos livres não são exatamente representativos do que poderá ocorrer na classificação ou corrida, mas o ritmo imposto pelo atual bicampeão foi um recado para os rivais de que ele já partiu para o ataque desde o início, e se não sofrer nenhum problema alheio a seu controle, tem tudo para dominar e conquistar mais uma pole. E, saindo na frente, dificilmente Rosberg terá como roubar-lhe a vitória, o que não quer dizer que não irá tentar.
            Vale lembrar que Rosberg ganhou aqui nos últimos dois anos, e o alemão, que vinha sendo dominado com relativa folga por Hamilton nesta temporada, deu uma renovada no ânimo após vencer em Barcelona, semana retrasada, quebrando a sequência de resultados sempre inferiores ao do inglês nas corridas disputadas até aqui. Mas Hamilton já admitiu que não teve um bom fim de semana na Espanha, assumindo que não pilotou como deveria, e pelo menos minimizou o prejuízo chegando em 2° lugar, pensando no campeonato. E já focado para esta corrida, onde sabe que o menor erro pode significar uma nova derrota. E principalmente na classificação para a corrida, onde pode ficar decidido o resultado da prova, dependendo da posição de largada.
            Mas a disputa não fica restrita à dupla da Mercedes: todos os outros times querem tentar aprontar alguma surpresa em Monte Carlo, para melhorar sua posição no campeonato. É o caso da McLaren, que vem tendo o seu pior campeonato em mais de 30 anos de competição na categoria. Como Mônaco não exige um motor potente, é a chance do time de Woking sair do zero na pontuação, mas as dificuldades não se resumem somente ao fraco motor Honda: o equilíbrio do carro também precisa melhorar, assim como a resposta de potência e dirigibilidade da unidade de potência nipônica, que precisa ser melhor desenvolvida e ser mais flexível, ajudando a melhorar a estabilidade do MP4/30. E além de tudo, é preciso ficar longe de encrencas.
            Quase sempre ocorre alguma confusão nas ruas do Principado. Os guard-rails praticamente colados à pista não perdoam erros, e quem conseguir se manter no traçado sem errar tem boas chances de ganhar posições com os erros dos demais pilotos. E, quando estas oportunidades surgem, urge também estar no lugar certo, no momento certo. Por isso Olivier Panis conquistou aqui sua única vitória na F-1, em 1996, pela Ligier, numa prova onde apenas 3 carros cruzaram a linha de chegada. E, em 1982, graças a um festival de confusões nas últimas voltas, Riccardo Patrese venceu aqui, numa das poucas vitórias de sua extensa carreira na F-1. Foi também aqui, em 1972, que o francês Jean-Pierre Beltoise venceu sua única corrida na categoria, ao volante da BRM, feito que seria repetido pelo italiano Jarno Trulli em 2004, quando pilotava para a Renault, e conseguiu largar na pole nesta pista e vencer de ponta a ponta seu único GP.
            Por mais monótona que algumas corridas disputadas aqui sejam, sempre há algum espaço para surpresas. Quem sabe não vemos alguma no fim de semana? Ah, sim, há possibilidade de chuva, o que ajuda a deixar as expectativas de algo inusitado ocorrer ainda maiores. Aguardemos para conferir...

Traçado para a corrida de Berlin da F-E, montado no antigo aeroporto de Tempelhof.

A Fórmula-E disputa neste sábado mais uma etapa de seu campeonato. É a vez da prova de Berlin, que será disputada em um circuito montado no Tempelhof Airport, localizado a uma curta distância do centro da capital alemã. A pista tem 2,469 Km de extensão, e conta com 17 curvas, em um traçado que é sem dúvida um dos mais elaborados da temporada em termos de design, o que deve promover uma disputa ferrenha pelas posições durante a prova, uma vez que os trechos de reta são poucos, e o elevado número de curvas, algumas delas bem fechadas, vai obrigar a muitas freadas por parte dos pilotos. A corrida terá 33 voltas, e será a antepenúltima etapa do campeonato, que depois ainda terá uma prova em Moscou, na Rússia, e uma rodada dupla em Londres, na Inglaterra, onde a primeira temporada da competição dos carros elétricos terá seu encerramento. Na semana retrasada, a categoria correu em Mônaco, e as arquibancadas estiveram cheias no Principado, e para a corrida de amanhã, todos os ingressos já foram vendidos, o que mostra a popularidade do novo certame, ainda mais por se tratar de um fim de semana onde teremos também a disputa do Grande Prêmio de Mônaco, pela F-1, e as 500 Milhas de Indianápolis, pela Indy Racing League. E a disputa do título da competição parece conduzir a um duelo brasileiro: Lucas Di Grassi lidera o campeonato, seguido por Nelsinho Piquet, que vem logo atrás. O canal pago Fox Sports mostra a corrida ao vivo a partir das 11:00 Hrs. da manhã deste sábado, pelo horário de Brasília. Quem perder a oportunidade de assistir a corrida ao vivo não precisa se preocupar: o canal exibirá um VT completo da prova às 19:00 Hrs. da noite.


O Indianapolis Motor Speedway assistiu a mais um acidente feio esta semana, na última segunda-feira. Desta vez foi o canadense James Hinchcliffe quem acertou o muro e, se seu carro não decolou como os dos acidentes de Hélio Castro Neves e Josef Newgarden, assustou bastante, especialmente porque desta vez o piloto não saiu sem ferimentos. Um braço da suspensão furou o cockpit e atingiu a perna direita do piloto e a coxa da perna esquerda, provocando um grande sangramento que exigiu sua condução imediata para o Hospital Metodista de Indianápolis, onde passou por uma cirurgia de emergência. O piloto foi operado e passa bem, já tendo deixado a UTI do hospital, e está fora da Indy500, e com volta ainda indeterminada às competições, até que se restabeleça do acidente, onde bateu a mais de 360 Km/h, após sofrer uma quebra de suspensão que o fez perder o controle e acertar o muro do famoso circuito oval. A Schmidt-Peterson, time de Hinchcliffe, foi rápida e já escolheu o substituto para piloto canadense, que será Ryan Briscoe, pelo menos na prova de domingo.


Scott Dixon, da equipe Ganassi, vai largar na pole-position na 99ª edição das 500 Milhas de Indianápolis, neste domingo. O piloto da Ganassi fez o melhor tempo na classificação do último domingo, e vai dividir a primeira fila com os pilotos da Penske Will Power e Simon Pagenaud. Os brasileiros presentes na prova sairão logo a seguir, com Tony Kanaan na 4ª posição, seguido por Hélio Castro Neves. O inglês Justin Wilson, recém-contratado da Andretti Autosport, fechou com o 6° tempo. Quem não conseguiu a posição de largada que esperava foi o líder do campeonato, Juan Pablo Montoya, que parte apenas em 15°, mas como se trata de uma corrida de 500 milhas, a posição de largada não diz muita coisa, havendo vários casos de pilotos que largaram até mesmo em último e chegaram disputando a vitória na corrida. A prova será transmitida ao vivo pela Bandeirantes neste domingo, e também pelo canal pago Bandsports. Dixon já largou na pole na Indy500 em 2008, e naquele ano, o neozelandês ganhou a corrida. Será que vai repetir o feito este ano? Pelo sim, pelo não, ele já avisa que a pole é apenas a pole, e que a corrida é outra história: "precisamos terminar a corrida antes de pensar em vitória", afirmou. E está coberto de razão, pois a Indy500 é pródiga em surpresas, não apenas durante a corrida, mas até mesmo na última volta, como aconteceu em 2011, quando J.R. Hildebrand ia vencer a corrida, e bateu na última curva, na última volta, percorrendo a reta no embalo da pancada, mas recebendo a bandeirada em segundo lugar, tendo sido ultrapassado por Dan Wheldon nos metros finais dos cerca de 800 Km de percurso da corrida. Foi o último momento de glória de Wheldon, que disputou apenas as 500 Milhas naquele ano, pois tinha ficado sem lugar nos outros times. No fim do ano, em nova participação, em Las Vegas, o piloto inglês sofreu um acidente assustador e faleceu.


Foi aqui em Mônaco que no ano passado a equipe Marussia, hoje Manor/Marussia, conseguiu a proeza de marcar 2 pontos com o 9° lugar conquistado por Jules Bianchi no tradicional GP de F-1. Dos times que estrearam na categoria em 2010, a escuderia foi a única a marcar pontos até hoje. Hispania e Caterham - inicialmente Lotus, naufragaram pelo meio do caminho, sendo que esta última fechou as portas no ano passado, o que por pouco também não aconteceu com a Marussia, salva na última hora por novos investidores. O time, hoje, entretanto, compete de forma mais precária do que em 2014, e Bianchi, infelizmente, continua hospitalizado, após o violento acidente que sofreu durante o GP do Japão de 2014, e ainda sem muitas perspectivas de melhoras...

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