sexta-feira, 19 de setembro de 2014

CONVERSAS DE RÁDIO NA MIRA...



Com algumas conversas de rádio proibidas de agora em diante, os times já andam procurando alternativas. Dizem que esta é uma das novas placas da Mercedes para utilizar a partir da prova de Cingapura...

            A Fórmula 1 chegou a Cingapura, para sua tradicional prova noturna na Cidade-Estado do sudeste asiático com mais uma mudança para lidar com o campeonato em curso. A FIA, depois da corrida de Monza, resolveu banir das transmissões de rádio toda a ajuda de pilotagem que os boxes fornecem aos pilotos. A partir de hoje, nos primeiros treinos livres, só serão permitidas comunicações que se refiram a segurança, sendo que a entidade que comanda o esporte a motor listou os tipos mais comuns de situações que poderão ser ou não permitidas na comunicação. Por conta disso, tem quem esteja prevendo surpresas inesperadas na atuação dos pilotos, em especial durante a corrida.
            Não é segredo pra ninguém que nos últimos tempos as comunicações dos boxes com seus respectivos pilotos alcançou níveis altíssimos. Na busca para maximizar a performance ao seu limite, as equipes de telemetria passam aos pilotos, em tempo real, informações sobre o comportamento do carro e o que fazer para corrigir ou amenizar problemas, sejam eles pontuais, ou mais graves. Em alguns momentos, dando a impressão até de guiar remotamente os pilotos. Tal nível de comunicação não será mais permitido a partir de hoje nos treinos oficiais.
            Já discorri várias vezes o que penso destas mudanças no regulamento com a temporada em andamento, e reforço minha opinião, que é compartilhada por muitos, de que estas mudanças apenas contribuem para descrédito da F-1 como esporte. Já tivemos este ano a proibição do sistema Fric nas suspensões, adotada pela FIA há algumas corridas, que muitos viram como tentativa de minar a supremacia da Mercedes na temporada, e tentar dar algum equilíbrio à competição, ainda que por vias tortas. Bem, o tiro da FIA, que claramente nunca admitiria tal objetivo, saiu pela culatra: os carros de Nico Rosberg e Lewis Hamilton continuam deitando e rolando, e se não estão ainda mais à frente, foi pelos problemas criados dentro da própria Mercedes, e as interpéries do clima na Hungria, que permitiram 2 vitórias da Red Bull. E agora, temos a proibição de uma série de informações transmitidas via rádio para "informação" dos pilotos.
            O argumento de que os pilotos têm de conduzir seus carros sem ajuda não apenas encontra amparo no código legal da entidade, como tem sua lógica: se os boxes ditam todas as ações que o piloto tem de tomar, qual a sua real capacidade na condução do carro? Nos velhos tempos, a comunicação era feita apenas pelas placas de box, colocadas na reta de chegada, que quando muito informavam a distância do competidor para seu rival à frente e/ou atrás, ou ordens do tipo "entrar nos boxes" ou "cumprir penalidade". A comunicação de rádio já tem um bom tempo, desde os anos 1980, mas a precariedade do som e sua comunicação em toda a pista faziam do dispositivo algo a ser usado apenas para conversas realmente importantes. Coisa que hoje em dia descambou para chiadeira de pilotos em disputa de posições, como vimos entre Fernando Alonso e Sebastian Vettel na Inglaterra, ou o exagero de instruções dos boxes para seus pilotos na pista. Mensagens do tipo "acerte distribuição de peso", "freie mais tarde", "melhore trecho X ou Y", e outras do gênero, empestearam as transmissões nos últimos tempos. Chegamos ao cúmulo de ouvirmos um piloto responder "o que eu faço?". E isso veio de um piloto do campeonato mundial de Fórmula 1...
            Tido como categoria máxima do automobilismo mundial, pressupõe-se que a F-1 conte com as melhores equipes e pilotos de todo o mundo do desporto automotivo. Claro que sabemos que a teoria nunca correspondeu à realidade, mas ver um piloto perguntar ao seu time, pelo rádio, o que fazer, deixa em dúvida até mesmo qual é a capacidade deste piloto, que em tese, para chegar à F-1, deveria ter um amplo currículo em categorias menores, aprendendo praticamente todo o riscado, teórico e prático, da condução de um carro de corridas, seja ele um monoposto ou não. Pelo menos, é o que deveria ser a regra. E, afinal, para que serviria então a Superlicença, o documento emitido pela FIA que comprova que o piloto está "apto" para pilotar oficialmente na F-1? Caindo para a realidade do dia-a-dia, alguém tira carteira de motorista sem saber todas as regras básicas de condução de um veículo, bem para que serve os dispositivos de um carro?
            A idéia da FIA é resgatar essa independência do piloto. Como condutor do bólido, ele precisa "sentir" o carro, conhecer suas reações, saber o que fazer a respeito delas, bem como saber se livrar de algum percalço inesperado que possa surgir. O bom mesmo seria acabar com as comunicações de rádio, deixando o mecanismo apenas para comunicados especiais como alguma emergência que coloque o carro em risco (aviso de alguma falha, como quebra de motor, ou outro componente em colapso que possa colocar o bólido em perigo, e por conseguinte, outros competidores na pista além do próprio) ou avisos oficiais da direção de prova sobre algum fato que todos precisem conhecer (batida, punição, etc). No mais, todo o resto deveria ser silenciado, e que os pilotos tratem de se virar por si sós durante as corridas.
            E, mantendo minha linha de pensamento, essa proibição deveria vir apenas em 2015. Deixemos o campeonato como está. Começou assim, tem de ir até o fim. Para alguns times, pode ser uma complicação a mais, mas vai depender do grau de informações a que eles se acostumaram a passar a seus pilotos, bem como da eventual dependência que eles possam ter criado com relação a este procedimento. Os pilotos não deixarão de saber pilotar, mas algumas otimizações de performance que dependiam de ajustes feitos pelo piloto via instruções de box poderão fazer falta, bem como de alguns procedimentos aos quais acostumaram-se a serem avisados pelos engenheiros, especialmente no tocante à estratégia de corrida.
            Do lado de cá da pista, dentro dos boxes, a situação também pode ficar complicada. A FIA promete uma vigilância severa, e diz que todas as mensagens que darem motivo de suspeita de envio de informações dissimuladas, como frases de sentido fora de contexto ou algum código estranho, serão motivo de punição para o piloto. Pelo sim, pelo não, acredito que os times poderão ser cautelosos no que irão falar pelo rádio. Mas a própria FIA tem de tomar suas precauções, para evitar cometer erros de avaliação e não sair enfiando punição a torto e a direito. Aliás, até o fechamento desta coluna, a entidade ainda não havia anunciado exatamente como seriam as punições. A reunião dos pilotos com Charlie Whiting no início desta sexta, antes dos treinos oficiais, deve servir para se informar estes detalhes.
            Felipe Massa foi um dos que criticaram a adoção da medida, pelo péssimo timing da FIA para implantar a proibição. Seu argumento é que a proibição, ainda mais nesta pista de rua, pode colocar os pilotos em risco pelos imprevistos que podem surgir. De fato, esta pista é complicada, e é uma prova onde a duração costuma esbarrar no limite de duas horas. Os guard-rails próximos, o que potencializa os riscos de acidentes, podem pegar os pilotos de surpresa, dependendo do tipo de ocorrência.
            Não é a primeira vez que a FIA tenta dar uma "barrada" no que o box pode fazer em tempo real com seus carros na pista. Há anos atrás, para evitar interferências, a entidade limitou a telemetria ao sentido carro-box. A eletrônica embarcada dos monopostos atingiu níveis tão assombrosos, que os engenheiros podiam regular os sistemas direito do box com o carro na pista. Por questões de segurança, e para evitar que os times fizessem alguma falcatrua com um de seus pilotos em detrimento do outro, o sentido da comunicação, que até então era bidirecional, passou a ser unidirecional. Tentando contornar essa limitação, os engenheiros dotaram os volantes dos carros de botões a rodo, para tentar fazer o próprio piloto efetuar os ajustes de acordo com a necessidade, daí aquele mundaréu de botões que se vê nos volantes, e que por vezes já fizeram até piloto perder a corrida por acionar o comando errado...
            Alguns times passarão a mandar as instruções para as telas dos volantes, mas nem todos terão condições de fazer isso de forma adequada, pois alguns só tem espaço em seus displays para algumas informações, que não podem ser mudadas, a não ser que se projete outro volante, literalmente. Quem possui um volante com display mais versátil, e maior, pode levar vantagem, pelo menos enquanto a FIA também não resolva proibir essa forma de comunicação. A idéia de devolver um grau maior de comando aos pilotos é válida, mas eles deveriam ter um tempo mais adequado para se preparar para a situação. Todo mundo está esperando alguma confusão ou surpresa para o fim de semana, mas não me surpreenderia se, ao final do GP, houvesse poucas ocorrências. Se é verdade que as equipes andavam abusando das informações, é descabido achar que, sem elas, os pilotos vão bater cabeça durante a corrida. Pode haver algumas situações mais inesperadas, mas acredito que a maioria dos pilotos deverá se adaptar rapidamente à restrição. Não apenas por serem pilotos de alto calibre (pelo menos a maioria deles, com poucas exceções), mas porque simplesmente não terão escolha: ou aprendem rapidamente e entram nos eixos, ou podem perder o bonde para os concorrentes.
            Nessa discussão toda, me vêm à cabeça as célebres frases de Kimmi Raikkonem quando em disputa e ficava de saco cheio das instruções de box, como quando falou em alto em bom som para o engenheiro calar a boca que ele sabia o que estava fazendo. Mas essas frases de efeito eram mesmo só com o finlandês, talvez o piloto mais desencanado do grid atualmente, e mesmo assim, não surgiam a toda hora. Mas, pelo bem do esporte e deixar os pilotos com mais domínio sobre o que devem fazer nas corridas, podemos ficar sem algumas conversas de rádio durante os GPs. Esperemos que nas novas conversas, não entre boi na linha...

Lucas Di Grassi faturou a vitória na primeira corrida da F-E, depois do acidente entre Nicolas Prost e Nick Heidfeld na última volta.
A primeira corrida do novo campeonato de carros elétricos, a F-E, teve vitória brasileira. Lucas Di Grassi faturou o 1° lugar no circuito montado no Parque Olímpico da capital chinesa, Pequim, e inicia o campeonato na liderança da competição. Méritos para o brasileiro, que largou em 2° lugar e sempre andou entre os primeiros. Mas também uma dose de sorte, pois seu triunfo veio porque Nicolas Prost e Nick Heidfeld se tocaram na última volta e acabaram abandonando a corrida. O piloto alemão tentou o bote decisivo em cima do filho de Alain Prost, que liderou a corrida praticamente de ponta ponta, e levou um toque do francês. Para Nicolas, com a suspensão avariada, não foi nada além de perder a vitória, mas Heidfeld seguiu reto na curva, decolou em uma zebra e atingiu o guard-rail com violência, capotando e deixando todos na pista preocupados. Felizmente, os novos carros confirmaram também possuir um bom nível de sugrança, e Nick conseguiu sair de seu monoposto ileso e andando. Frank Montagny ficou com o 2° lugar, enquanto Sam Bird, depois de um início de corrida difícil, completou o pódio em 3° lugar. Mas os ânimos ficaram mesmo um pouco exaltados entre Nicolas Prost e Nick Heidfeld, e isso não deverá ficar restrito à F-E: ambos dividem o cockpit no Mundial de Endurance, defendendo a equipe Rebellion, e espera-se que tenham fumado o cachimbo da paz antes do início dos treinos da próxima etapa da competição, que será já neste final de semana, em Austin, no Texas, Estados Unidos, cuja primeira sessão de treinos livres foi nesta quinta-feira...


Se Lucas Di Grassi saiu-se vitorioso na primeira corrida da F-E, nossos demais compatriotas tiveram um fim de semana complicado em Pequim. Bruno Senna fez bons tempos nos treinos livres, mas na hora da classificação, enfrentou problemas em seu carro, e precisou largar na última fila. Como desgraça pouca é bobagem, Bruno ainda teve problemas com uma zebra e toques na largada, que praticamente detonaram com a suspensão dianteira, obrigando-o a abandonar a competição. Para retirar seu carro, entrou pela primeira vez em ação na F-E o Safety Car. Já Nelsinho Piquet também teve uma corrida difícil, ficando sempre no meio do pelotão, e mesmo ensaiando uma aproximação com o pelotão da frente, acabou terminando apenas em 9° lugar. Melhor sorte para eles na próxima corrida, em Putrajaya, na Malásia, daqui a dois meses.


A corrida de F-1 na pista de Cingapura já é difícil, e este ano, pode ter uma complicação a mais: a previsão do tempo aponta forte possibilidade de chuva para o fim de semana. Como a corrida é disputada à noite, o que já é uma dificuldade a mais, mesmo com a excelente iluminação da pista, a chuva pode ser tanto um adicional para apimentar a disputa da corrida quanto um complicador para a prova, pois ainda não se tem idéia de como a iluminação noturna ficará com a água caindo. Se realmente chover, e com as novas proibições de conversas pelo rádio sobre certos assuntos, os pilotos certamente terão mais preocupações do que o habitual na corrida da Cidade-Estado asiática. Vejamos o que acontece...e olha que tem muita gente torcendo por São Pedro...

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