sexta-feira, 18 de outubro de 2013

DUELO EM FONTANA


Na última decisão de título da Indy Racing League que protagonizaram, em 2008, Scott Dixon levou a melhor sobre Hélio Castro Neves. Conseguirá o brasileiro dar o troco agora em 2013?

            A temporada 2013 da Indy Racing League chega ao California Speedway, em Fontana, Califórnia, Estados Unidos, para a derradeira etapa da competição. Como nos anos anteriores, a disputa está entre dois pilotos: de um lado, Scott Dixon, bicampeão da categoria, defendendo a Ganassi Racing; do outro lado, Hélio Castro Neves, competindo pela poderosa Penske Racing Team. É emblemático: Penske e Ganassi são as mais poderosas equipes da categoria, e possuem uma longa história de triunfos nas últimas décadas.
            O panorama dos candidatos ao título sofreu uma reviravolta na rodada dupla de Houston, na semana retrasada: de líder do certame com quase 50 pontos de vantagem, Helinho viu tudo dar errado nas provas disputadas na maior metrópole do Texas, vendo Dixon sair na dianteira com 25 pontos de vantagem. Estarão em jogo 53 pontos em Fontana para ambos os candidatos ao título, e a tarefa do piloto brasileiro, que nunca conseguiu um título na competição, é complicada. Se até Houston ele podia se dar ao luxo de correr com a cabeça, tentando marcar os adversários, agora ele terá de partir para o tudo ou nada. E ele já prometeu que vai partir para o ataque, mas ao mesmo tempo garante que não pretende perder a cabeça nas disputas de posição da corrida, preferindo manter-se calmo e centrado na tarefa que lhe cabe, procurando chegar bem ao final da corrida.
            Hélio procura minimizar as críticas que recebeu pela sua postura "conservadora" em várias das últimas corridas, enquanto o rival Dixon revertia uma desvantagem de praticamente 100 pontos a favor do piloto da Penske desde a etapa de Pocono, e já acumula 4 vitórias no ano, contra apenas 1 do brasileiro. Alega que se fosse mais agressivo, talvez já tivesse perdido as esperanças de ainda disputar o título, e que em anos anteriores, a falta de regularidade sempre foi um de seus maiores pontos fracos, comprometendo melhores resultados em alguns campeonatos. A postura de Hélio, em si, não está errada: sua constância esse ano, em que até as provas de Houston era praticamente o campeão da regularidade na competição, tendo terminado todas as voltas de todas as corridas, mostram que o brasileiro realmente teve méritos de conseguir pontuar com boa regularidade em praticamente todas as corridas, e algumas delas, como as etapas de São Paulo, Sonoma, e Baltimore, onde teve de enfrentar vários percalços durante a corrida, ainda conseguiu resultados a serem valorizados enquanto rivais tiveram muito menos sorte em outras ocasiões.
            Só que em alguns momentos, Hélio contou mais com a sorte do que deveria. E alguma hora ela iria acabar. E aconteceu justo na etapa de Houston, onde teve duas quebras de câmbio que arruinaram completamente suas esperanças de um bom resultado. Mesmo o tremendo esforço feito pelos mecânicos da Penske para recolocar o brasileiro na pista e tentar minimizar o prejuízo não surtiram muito efeito, mas não se pode negar que eles fizeram o que podiam diante da adversidade. E Hélio lutou o quanto pôde, não desistindo nunca, mas...
            A rigor, em termos de performance, a Penske andou falhando um pouco na preparação do carro do brasileiro nas últimas corridas. Tirando acidentes e esbarrões de percurso durante as provas, nas últimas etapas o comportamento do carro de Hélio Castro Neves estava inferior ao de seu companheiro de equipe, Will Power. Nas corridas de Houston, era nítido que o australiano tinha muito mais rendimento que seu colega de time brasileiro. Com quebra ou não de câmbio, Dixon muito provavelmente embolaria a luta pelo título, se ainda não saísse novamente na frente. Com os carros de seus pilotos apresentando performances diferenciadas, os engenheiros deveriam ter tido mais sintonia no ajuste do acerto dos carros, afinal, Power venceu uma das corridas, e andou muito forte na outra, ainda que não tenha tido um resultado tão bom. Hélio, ao contrário, não parecia ter carro para discutir as primeiras posições tanto em uma quanto na outra corrida. E nas provas anteriores, o brasileiro também carecia de um carro com melhor performance como a de Power, que sempre mostrou um ritmo mais contundente.
            Não é orquestrar nenhuma teoria da conspiração contra o brasileiro, com alguma afirmação imbecil do tipo "a Penske está favorecendo Power contra o Hélio, etc e tal". Ao contrário do que ocorre na F-1, jogos de equipe na Indy Racing League, quando ocorrem, são raros e não tão descarados. Eventualmente, até pode acontecer, mas não é o que temos aqui. O que me refiro é que a Penske, agindo com equipe, teria a obrigação de equalizar melhor as performances dos dois carros a fim de maximizar os resultados. Nada contra Power fazer sua corrida, mas se seu carro possuía um melhor acerto, estes dados deveriam ser compartilhados para melhorar o acerto do monoposto de Hélio, assim como o reverso também deve ser feito se a situação exigir. Aí, na pista, é cada um por si, sem ordens de troca de posição ou coisas do tipo, que fazem a F-1 perder a credibilidade. Agora, se mesmo com a troca de dados, o comportamento dos carros continuou diferente, infelizmente neste caso a Penske não conseguiu fazer um bom acerto, e isso se torna um revés desagradável.
            Em contrapartida, a Ganassi, ainda que tenha tido o mesmo problema da Penske em dar um acerto funcional para todos os seus carros, especialmente na primeira metade do campeonato, ao menos conseguiu que pelo menos um deles tivesse desempenho constante na segunda metade do certame. Desde a prova de Pocono, Dixon, que até então vinha fazendo um campeonato apenas mediano, venceu pela primeira vez, e engatou uma sequência de excelentes resultados que foi melhor do que a de todos os outros pilotos da competição. Apesar de um ou outro momento menos brilhante, e dos azares enfrentados em Sonoma e Baltimore, o neozelandês mostrou uma performance muito superior à maioria dos demais pilotos no grid, e com isso, foi escalando a tabela de classificação do campeonato. Em Houston, o piloto da Ganassi estava imparável na pista, e só não ganhou as duas corridas porque na prova de domingo, ao ser superado por Will Power, e vendo Hélio com suas chances de um resultado comprometidas, preferiu se manter atrás do australiano, em virtude de seus percalços com Power nas duas etapas anteriores.
            Agora em Fontana, em uma corrida longa e em um circuito oval da categoria superspeedway, o neozelandês pode simplesmente fazer uma corrida tática visando conquistar o título, enquanto Hélio tem de partir para o tudo ou nada. O brasileiro precisa marcar pelo menos 26 pontos a mais que o piloto da Ganassi para levar o campeonato, e isso sem contar os pontos de bonificação. É uma tarefa complicada: embora a vitória valha 50 pontos, isso é o dobro da vantagem atual de Dixon, e para anulá-la, a melhor opção seria o brasileiro vencer a corrida e torcer para Dixon chegar no máximo em 8° lugar, e reafirmando: sem contar os pontos extras.
            Certamente a prova de Fontana, pela sua longa duração, de 500 milhas, já impõe mais respeito do que as demais corridas em ovais, e ainda mais em um superoval, não é difícil a corrida tornar-se imprevisível e talvez até uma loteria. No ano passado, a vitória nesta pista ficou com Ed Carpenter. Hélio Castro Neves foi o 5° colocado. Só que Dixon, em 2012, foi 3° nesta mesma corrida. Se formos levar pela teoria e retrospecto, esquecendo as variáveis que podem acontecer neste tipo de corrida, onde sempre há algo inesperado podendo acontecer, podemos dizer que Hélio vai passar mais um ano na fila de espera para ser campeão.
            O brasileiro costuma andar bem em ovais, tipo de pista que ainda causa certo frisson em Will Power, que perdeu os últimos campeonatos justamente em pistas ovais, onde nunca rendeu com toda a desenvoltura que exibiu nos circuitos mistos e de rua. Mas a Ganassi vem tendo uma melhor performance com Dixon, e não é demais lembrar que o bicampeão iniciou sua escalada ao título justamente em uma prova de longa duração disputada em outro circuito superoval: Fontana. Aliás, foi o maior sucesso do time de Chip Ganassi no ano, com seus 3 pilotos chegando nas 3 primeiras posições. Certamente, não dá para afirmar que a Ganassi vai conseguir tal domínio em Fontana: os dois circuitos são bem diferentes, com Fontana a ser quase um círculo, apenas levemente achatado, e Pocono tendo o formato trioval, com praticamente 3 longas retas formando a figura geométrica do triângulo. As duas pistas exigem acertos diferentes, apresentando desafios também diferentes.
            Difícil imaginar que a Ganassi não consiga ter um bom acerto para a prova, depois de ter conseguido uma evolução notável no carro de Dixon desde Pocono. Mas mesmo que eles não tenham um ajuste que permita performance para lutar pela vitória, a necessidade maior de chegar nas primeiras posições ainda é de Hélio, e só a vitória interessa, pois as posições de pontuação vão decrescendo progressivamente. Na melhor das hipóteses para Helinho, que seria o abandono de Dixon na corrida, de preferência que ele fosse classificado em último, ainda assim o brasileiro precisaria de um 4° lugar no mínimo para ser campeão, onde se ganha 32 pontos, sem contar com pontos extras. E porquê pelo menos 32 pontos? Simplesmente porque pelo sistema de pontuação da categoria, apenas por largar, mesmo que abandone logo a seguir, Dixon já marcaria mais 5 pontos. Assim, Hélio precisa descontar não apenas os 25 pontos de desvantagem para o neozelandês, mas ainda marcar pelo menos mais 6 pontos para se garantir. E isso, conforme falei, absolutamente sem contar com os pontos de bonificação, para quem faz a pole ou lidera o maior número de voltas da corrida.
            Para o melhor panorama possível para Hélio, que é vencer a prova, é preciso que a Penske consiga um acerto exemplar no carro do brasileiro, uma impecável estratégia de corrida, e ainda contar com os demais pilotos na prova para se intrometerem entre Hélio e Dixon. Roger Penske contará com um 3° carro na prova deste sábado, pilotado por A. J. Allmendinger, que terá a clara missão de ajudar o brasileiro a vencer o campeonato, assim como Power. Mas só a ajuda deles não bastará. E se a Ganassi manter a sua competência no ajuste de seus carros, seus pilotos virão para cima com tudo. Dixon ainda terá a opção de preferir marcar posição para garantir o campeonato, procurando evitar se envolver em situações de maior risco durante a prova, enquanto Charlie Kimball e Alex Tagliani, que substitui nesta corrida o lesionado Dario Franchiti, poderão tentar a vitória e atrapalhar os planos da Penske na melhor das hipóteses.
            Em um teste realizado há várias semanas, Hélio Castro Neves saiu de Fontana com o melhor tempo de todos, enquanto Dixon foi apenas o 5° mais rápido. Se esse retrospecto de performance do teste continuar valendo, o brasileiro pode lutar pela vitória no superoval da Califórnia. Mas Dixon também estará ali logo atrás, em uma posição mais do que confortável para ser campeão. Se o piloto da Ganassi chegar entre os 7 primeiros colocados, ele liquida a fatura matematicamente, mas ainda sem considerar os pontos de bonificação. Mas tanto Hélio quanto Scott já começarão a prova com um revés: ambos trocaram seus motores para a prova, e como já haviam atingido o limite da cota de motores para o campeonato, ambos perderão 10 posições no grid de largada, o que só aumenta a dramaticidade da disputa. Largando mais atrás, o risco de se envolver em confusões é maior, e por consequência, sofrer um abandono da corrida e dar adeus às chances de título, se Hélio for o azarado do momento. Se Dixon tiver o infortúnio, ainda assim o piloto brasileiro terá de se superar para chegar entre os primeiros, como já foi explicado acima.
            Mas nada garante que a teoria se concretize na prática. Corridas de 500 milhas sempre podem ser uma caixa de surpresas, e mesmo os times mais bem preparados e com a melhor estratégia de todas pode sofrer uma derrota retumbante mesmo tendo feito tudo conforme o figurino. Por isso, apesar das chances de Helinho de sagrar campeão terem diminuído sobremaneira, não se pode afirmar que Dixon já faturou seu tricampeonato. Will Power que o diga: nos últimos anos, sempre chegou como favorito no momento final do campeonato, e o que vimos foi o australiano da Penske ficar com o vice-campeonato nas últimas 3 temporadas. Será que Hélio, o azarão, vai manter a escrita de vencer o favorito Dixon? Na última vez em que decidiram o título, em 2008, deu o neozelandês, superando o brasileiro, que era o azarão. Só poderemos saber mesmo na bandeirada de chegada deste sábado à noite...


Pelo fato da corrida estar sendo realizada neste sábado, ao menos a Bandeirantes anunciou que transmitirá a corrida ao vivo. E os telespectadores brasileiros que aproveitem, pois pode ser a última exibição da categoria na TV nacional. A IRL ainda não tem emissora definida para ser exibida no Brasil em 2014...

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E Sebastian Vettel ganhou sua 5ª corrida consecutiva, ao vencer o GP do Japão domingo passado. Mas a conquista do tetracampeonato ficou para a prova da Índia, no próximo final de semana, graças ao 4° lugar de Fernando Alonso. Apenas adiou-se o inevitável...

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