sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

TODOS PARA A PISTA

            Começou a pré-temporada. Desde a última segunda-feira (embora os testes de fato só tenham começado na terça) até o próximo dia 06 do mês que vem, teremos 15 dias intensos de trabalho em todos os times da F-1. O tempo urge, e com algumas mudanças contundentes no regulamento técnico, é preciso mais do que nunca otimizar todo o tempo de pista disponível, a fim de poder se preparar adequadamente para a temporada deste ano. O serviço só não é mais puxado devido a uma regra (que na minha opinião, agora com a restrição de testes, ficou ridícula) que limita cada time a ter apenas 1 de seus carros na pista, o que obriga seus pilotos a se revezarem no circuito. Fosse nos velhos tempos, ambos os pilotos estariam na pista, colaborando de forma ainda mais decisiva na obtenção de informações para o ajuste e desenvolvimento dos carros.
            Os pontos mais importantes a serem analisados e verificados com os novos modelos são justamente os novos pneus da Pirelli, bem como a tração e downforce gerado pelos carros utilizando novamente um difusor “simples”, uma vez que os perfis “duplos” utilizados em 2010 foram proibidos pelo regulamento. De início, a idéia é tornar os carros mais lentos, afinal, a peça dupla, incorporada pela BrawnGP em 2009, mostrou a diferença em relação aos carros que utilizavam a peça simples. Como toda a aerodinâmica de um carro é projetada de forma conjunta, é preciso verificar se todo o complexo aerodinâmico está funcionando de forma harmônica e estável. Da mesma maneira, os pneus que os times receberam esta semana já são bem diferentes daqueles que tiveram oportunidade de testar em Yas Marina em novembro do ano passado. A Pirelli, atendendo aos anseios de Bernie Ecclestone, produziu uma gama de compostos de diferenças mais radicais do que as mostradas pelos Bridgestone utilizados até o ano passado. A idéia é tornar o uso dos pneus verdadeiras incógnitas para times e pilotos, com compostos que tenham virtudes e defeitos bem pronunciados, os quais deverão ser utilizados na medida correta para se obter a melhor performance. E, como os carros atualmente são projetados “de baixo para cima”, é a partir dos pneus que eles são concebidos. Então torna-se premente verificar se os monopostos estão sabendo lidar com a nova borracha que terão de utilizar. Do melhor aproveitamento deste binômio pneus-chassis estará a chave para o sucesso nesta temporada. E tome voltas na pista: durante os 3 dias em Valência, a Pirelli disponibilizou nada menos do que 30 jogos de pneus para cada time experimentar à vontade. E os pilotos trataram de andar tudo o que fosse possível em cada dia...
            É preciso também aprender a utilizar um novo recurso que estará à disposição dos pilotos este ano: a asa “móvel”. Um dispositivo que permitirá reduzir em alguns graus de inclinação o aerofólio traseiro, permitindo ao carro alcançar maior velocidade quando de seu uso em reta, para tentar uma ultrapassagem. Os pilotos e equipes precisarão saber manejar com eficiência mais uma série de botões no volante do carro, para utilizar a engenhoca adequadamente, se bem que o que preocupa mais mesmo é a regra dúbia de quando o piloto poderá ou não utilizar o sistema, que na minha opinião, deveria ser de uso livre por parte do piloto, da mesma maneira que o KERS. Sim, o sistema de aproveitamento de energia está de volta à categoria, depois de um uso por parte das escuderias em 2009. Mais desenvolvido, e adotado por quase todos os times (a Lotus já avisou que não deve ter o dispositivo, pelo menos inicialmente), poderá ser um bom trunfo na tentativa de ultrapassagens. A idéia de se aproveitar a enorme força gerada pelos freios é boa, e o desenvolvimento do sistema deverá gerar tecnologia que poderá ser aplicada futuramente aos carros de rua, na tentativa de torná-los mais limpos e menos poluentes.
            Os testes também são fundamentais para se descobrir se tudo o que se projetou nas telas dos sistemas de informática e estudos dos túneis de vento irão corresponder à realidade das situações. Por mais que os simuladores e túneis de vento estejam avançados, é ao ar livre, em um autódromo de verdade, em situação “real”, que se pode aferir se os dados fornecidos pelos mais modernos sistemas de informática que cada equipe dispõe estão corretos, ou se a escuderia cometeu burrada na hora de interpretar as informações. Por enquanto, não há “simulador” melhor do que um autódromo de verdade, e nesta semana, todos os times estiveram presentes no circuito Ricardo Tormo, próximo de Valência, para testar a fundo seus novos monopostos. Quase todos já dispunham de seus modelos 2011, embora alguns ainda tenham treinado com modelos híbridos, enquanto os novos carros não ficam prontos. E os primeiros testes, a grosso modo, não servem muito para nenhuma conclusão, pois os times fizeram primeiramente checagens de sistemas, e verificação de seus novos dispositivos, como o KERS e a nova asa traseira móvel. Tudo isso e mais o estudo do comportamento dos pneus, fossem em condições de corrida, ou sprints curtos. Nenhum parâmetro pode deixar de ser investigado.
            Já se evidencia, contudo, que alguns times precisam encontrar melhor confiabilidade para seus carros. A Mercedes mostrou uma certa fragilidade, o que comprometeu parte do dia de testes de seus dois pilotos. Até certo ponto, algo natural em se tratando de novos carros, mas deve-se estar atento de que outros carros, como o novo RB07, da campeã Red Bull, andou praticamente todos os dias sem sofrer nenhum problema em seus sistemas. Ainda é cedo para afirmar que o time austríaco é o franco favorito, assim como não se pode dizer que a Mercedes não conseguirá resolver seu problema de confiabiliade. Na verdade, todos querem mesmo é que os problemas surjam logo de cara, para que possam resolvê-los agora, e não ter de solucionar a encrenca durante as corridas, onde a restrição dos testes pode comprometer os resultados. Não seria novidade também levar a condição de fiabilidade logo ao limite, para se ver onde o carro começa a se mostrar fiável. São inúmeras variáveis que podem ser analisadas e aplicadas, e os times, claro, não divulgam de que modo andaram colocando seus bólidos na pista. O segredo, mais do que nunca, é a alma do negócio. Por essas e outras, ainda não se pode tirar nenhuma conclusão muito relevante desta primeira sessão de testes. Talvez a partir da semana que vem, quando se iniciam outros testes, desta vez em Jerez de La Fronteira, possamos começar a ver alguns dados mais plausíveis.
            Nestes testes, é hora também de conferir o desempenho dos novos contratados. Na Williams e Sauber, Pastor Maldonado e Sérgio Perez tiveram seus primeiros contatos com as máquinas que irão pilotar em suas estréias na F-1. Paul Di Resta na Force Índia, e Narain Karthikeyan na Hispania, tiveram suas primeiras voltas como titulares de seus novos times. A Hispania, aliás, teve sua segunda sessão de testes, e a primeira de uma pré-temporada, já que no ano passado, a escuderia praticamente terminou de montar seus carros no box do circuito de Sakhir, no Bahrein, com seus pilotos indo para a pista literalmente às cegas, sem saber como o carro sequer se comportaria, fosse treino ou corrida.
            Foi interessante ver o “festival” de apresentações dos novos modelos 2011 em Valência. Até agora, dos novos carros, a Mercedes ficou com o melhor visual. A Lotus manteve a cor verde e amarela já utilizados no ano passado, enquanto a Renault simplesmente não agradou muito com o visual preto e dourado como deveria. Red Bull e Toro Rosso, não fossem as declarações que se tratam de novos modelos, muita gente nem notaria, pois o visual de pintura é praticamente o mesmo, e dá a sensação de que os carros não apresentam novidades patentes. Na Sauber, bom ver o time envergar patrocinadores novamente, algo que deu uma certa preocupação na Williams, que está com o carro mais limpo de que há memória na história da escuderia inglesa. A Ferrari é um caso à parte, com seu visual “rosso”. McLaren, Virgin e Force Índia ostentam as mesmas pinturas, mesmo com carros híbridos. E a Hispania, com o carro todo “limpo”, não remete a nada, sinceramente.
            Mas o tempo não pára. Se a primeira sessão de testes terminou, o trabalho das escuderias agora segue a todo vapor. Hoje a McLaren mostra o seu novo carro 2011, e semana que vem a Virgin deve apresentar seu novo monoposto. Para em seguida todo mundo voltar novamente a pista e mandar bala no acelerador. Começou uma corrida contra o tempo nesta pré-temporada, e cada minuto é precioso. Então, todos para a pista...

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