sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O FUTURO DO BRASIL NA F-1

 
            Salvo imprevistos de última hora, o Brasil terá apenas 2 representantes no grid do campeonato de F-1 deste ano: Rubens Barrichello (Williams) e Felipe Massa (Ferrari). Lucas Di Grassi perdeu a parada na Virgin e Bruno Senna, por sua vez, por não ser o “queridinho” de Colin Kolles, perdeu seu lugar na Hispania. Até o presente momento, ambos ainda estão estudando o que fazer de suas carreiras este ano. E para 2012, as perspectivas não são muito animadoras: Barrichello pode se aposentar, encerrando uma carreira que até o momento é de duração recorde de um piloto na categoria, ou pode continuar, talvez por mais uma temporada, talvez no máximo mais duas. E Felipe Massa? Muitos já dão como certa sua saída da Ferrari ao fim do campeonato deste ano, seja lá qual for a performance do brasileiro na equipe. O motivo seria a falta de espaço e perspectiva com o time italiano, que sofreram um belo baque ano passado. E para onde Massa iria? Teria lugar em outro time? Vai depender unicamente dele. Se fizer um bom campeonato, ainda que não supere Alonso, contará pontos para cavar uma vaga em outro time, mas talvez não uma equipe de ponta, uma vez que, no momento, há nomes mais cotados que poderiam estar disponíveis. Bruno Senna e Lucas Di Grassi sem dúvida tiveram muito para aprender em 2010, apesar dos carros problemáticos que tiveram em suas mãos, mas isso infelizmente não contará muito para ambos em uma possível nova vaga na categoria a curto prazo.
            A tendência então é ficarmos sem um piloto brasileiro no curto prazo na principal categoria mundial do automobilismo, o que poderia ser catastrófico, embora não fosse o fim do mundo, exatamente. Catastrófico porque, desde que passamos a vencer provas na categoria, no início dos anos 1970, com Émerson Fittipaldi, e conquistamos com ele, Nélson Piquet e Ayrton Senna, nada menos do que 8 títulos mundiais, o Brasil passou a ser visto também como país dos pilotos da F-1. Em um momento em que nós, o “país do futebol”, envergava um jejum que durava mais de 20 anos sem título nas Copas do Mundo (fomos tri em 1970, e só em 1994 voltamos a levantar o caneco, coincidentemente depois que perdemos Senna e nosso “favoritismo” na F-1), o automobilismo tornou-se o “segundo” esporte nacional. E como era a F-1, os torcedores passaram a ver meio que somente essa categoria.
            Boa parte dessa visão “monopolista” de uma categoria automobilística tem a ver com a TV Globo, que desde o início da década de 1980, é a retransmissora “oficial” no país da categoria, e sendo a maior rede do país, não foi difícil convergir os fãs do automobilismo para a categoria. Nem mesmo a mais competitiva e equilibrada F-Indy, na qual Émerson fez sua carreira renascer tirou o olho dos brasileiros da F-1. O título de Émerson em 1989, quando ainda ganhou a Indy500, fez balançar um pouco os torcedores, e apesar de mostrar que podíamos brilhar em outras categorias, não abalou o “monopólio” de atenção da F-1 nos fãs. Por essas e outras, mesmo o título de Raul Boesel no Mundial de Marcas em 1987 pouca repercussão teve nos fãs nacionais, com algumas exceções. E porque repercutiria? No mesmo ano, Nélson Piquet tornava-se tricampeão na F-1. Estávamos rumando para o “topo” das estatísticas de vencedores na categoria. Àquela época, apenas Juan Manuel Fangio era mais “campeão”, tendo 5 títulos. Com Piquet e Senna, tudo indicava que a F-1 ficaria dividida entre o Brasil e o “resto do mundo”.
            A década de 1990 tratou de jogar um balde de água fria na torcida nacional. Senna foi tri em 1991, e sem ter o melhor carro, passava dificuldades para novamente ser campeão. Quando pensava ter dado a volta por cima, infelizmente o destino foi cruel com ele. E nossos demais representantes na categoria, apesar do talento, não tinham o aporte necessário para vencer, sem um “padrinho”, as dificuldades que passariam a se acumular a partir dali. De 94 a 99, viramos coadjuvantes. Apenas em 2000, com Barrichello na Ferrari, voltamos a ter esperança, por finalmente termos um piloto em um time campeão. Ledo engano: A Ferrari era dominada por Michael Schumacher, que nunca permitiu sequer haver disputa entre ambos no time. Além do maior talento do alemão, o time jogava contra o brasileiro, que não tinha a desenvoltura de um Piquet ou Senna para reverter a situação. Com Felipe Massa, a situação foi ligeiramente diferente, mas também decepcionante: na única vez que pode efetivamente disputar o título, infelizmente perdeu. Barrichello também não conseguiu aproveitar a chance da BrawnGP, em 2009.
            Os brasileiros, antes disputados pelos times, agora não despertam tanta cobiça. Infelizmente, um ponto no qual nossos pilotos atualmente são muito vulneráveis é o fator financeiro. Com a debandada das montadoras na crise econômica mundial, muitos times perderam seu principal aporte financeiro, e voltou a velha “praga” dos pilotos “pagantes”, que precisam levar um polpudo patrocínio para conseguir uma vaga em algum time. Isso sempre existiu na maior parte da história da categoria, o problema é que agora os custos estão mais altos do que nunca, e quantias que antes davam para conseguir um cockpit mediano, agora nem dá para começar a conversar com o pior time do grid. Di Grassi tinha patrocinadores pessoais, mas não teve como levantar o dinheiro exigido pelo time, que optou pelo belga Jérôme D’Ambrosio, que trouve um patrocínio muito maior, apesar do brasileiro ser um piloto muito mais técnico e talentoso, lapidado pelo programa de pilotos da Renault há pouco tempo atrás. No caso de Bruno Senna a situação a situação é idêntica: os patrocínios do piloto foram considerados insuficientes para garantir seu lugar, e ainda pesou contra ele a atitude cretina de Collin Kolles, que simplesmente não simpatizou com o brasileiro (e para quem se lembra, Kolles foi demitido da Force Índia, onde só sabia tumultuar o ambiente entre os pilotos). A segunda vaga da Hispania está em “leilão”, e quem pagar mais leva. Infelizmente, os brasileiros estão sem cacife financeiro nessa disputa, se bem que no caso desta equipe, o lugar não vale o dinheiro gasto, e não falo da questão da performance ruim, mas da falta de ambiente e organização do time. A Minardi, que sempre foi pobre, tinha paixão pela velocidade e idealismo...
            Em um momento onde nossa economia segue firme, as empresas nacionais que poderiam apoiar pilotos brasileiros até na F-1 simplesmente sumiram do mapa. Senna tinha patrocínio do Banco Nacional, que o acompanhou em todos os seus anos de glória. Barrichello chegou a ter apoio da Arisco e Pepsi. Pedro Paulo Diniz contava com o grupo Pão de Açúcar para facilitar alguns contatos. Eram patrocínios fortes, que hoje praticamente inexistem para nossos pilotos tentarem vaga na F-1, pelo menos na quantia necessária, embora tenhamos empresas, e até estatais, como a Petrobrás, com capacidade para isso. Na Venezuela, terra de um pseuditador, vemos a petrolífera local apoiar um piloto local e até patrocinar um time na F-1, enquanto nós, com uma economia muito mais poderosa, ficamos sem nenhuma atitude similar.
            Sem dúvida alguma, o futuro dos brasileiros na F-1 vai ficar preocupante. E, sem pilotos na categoria, vai ser interessante ver como a Globo cativará os fãs. Nos últimos 10 anos, sempre foi a falsa expectativa de lutar pelo título, com nosso representantes na Ferrari. E depois? Galvão Bueno diz que se aposenta como narrador na próxima Copa, em 2014. Será que ele durará até lá na F-1, se a Globo, por algum imprevisto, desistir da empreitada em virtude de uma possível ausência de representantes nacionais?
            Sem dúvida, algo para ir pensando com calma...

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto - bom.
Não somos vitimas do sistema não - o que falta hoje ao Brasil são pilotos fenômenos que surgem de época em época e de país para pais.
Fangio, Farina, Lauda, Clark, Villenuve (pai), Emerson, Pace, Peterson, Stewart, Piquet(pai), Prost, Senna, Schumacker, Alonso, Hamilton, Vetel - esses são fenômenos - o resto foram bons e não tão bons pilotos, mas coadjuvantes....aguardemos um novo brasileiro-fenômeno. Abração - Edson Gomes